xliii. FILHAS DAS GUERRAS

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ara todas as mulheres moldadas pela violência

os seios d(a) guerra

escondem helena de tróia

os lábios d(a) guerra

gargarejam marina ginesta

cortejam lyudmila pavlichenko

dissolvem joana d’arc

decoram o livro de judite

aleluia

às mulheres que mataram por nós

que morreram por nós

ela levantou a pele flácida de

uma menina de 7 anos

“olhe,” ela disse

“não tem carne. apenas pele.”

ventres gasificados

vozes assombradas em casas cinzas

casas de pó

meninas

seus maridos pais irmãos juram horácios

amamentam crianças fantasmas

vidas que não morrem, não vivem

mazelas sociais

feridas que não sangram que não doem

bombas que não explodem canhões que não atingem

criações fantasma

suas tripas arrancadas de dentro para fora

vítimas de um deus que as quer vivas

resta terra barro

pulmão cheio de catarro

mantas manchadas de safira

rubi intenso brilha nas pupilas dilatadas destas mulheres sem nome sem rosto

não querem — não quero

já basta de personagens secundários

quero ser a espada de judite

o crânio de atena

quero ser rainha ginga

cânticos de guerra

onde não choro pelos cantos

artistas tecerão meus dentes em tapetes persas:

cuidado para não se cortarem

nos caninos afiados de minhas bisas

contarei minhas histórias psicografadas em estrias e celulites

guiando-me por mapas em minhas varizes onde constam todos os naufrágios em que me afoguei

cortarei a cabeça um por um guerra por guerra filho por filho — os vingo!

seremos livres!

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⏰ Dernière mise à jour : Aug 05, 2019 ⏰

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anomia // poesia (ii)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant