para todas as mulheres moldadas pela violência
os seios d(a) guerra
escondem helena de tróia
os lábios d(a) guerra
gargarejam marina ginesta
cortejam lyudmila pavlichenko
dissolvem joana d’arc
decoram o livro de judite
aleluia
às mulheres que mataram por nós
que morreram por nós
ela levantou a pele flácida de
uma menina de 7 anos
“olhe,” ela disse
“não tem carne. apenas pele.”
ventres gasificados
vozes assombradas em casas cinzas
casas de pó
meninas
seus maridos pais irmãos juram horácios
amamentam crianças fantasmas
vidas que não morrem, não vivem
mazelas sociais
feridas que não sangram que não doem
bombas que não explodem canhões que não atingem
criações fantasma
suas tripas arrancadas de dentro para fora
vítimas de um deus que as quer vivas
resta terra barro
pulmão cheio de catarro
mantas manchadas de safira
rubi intenso brilha nas pupilas dilatadas destas mulheres sem nome sem rosto
não querem — não quero
já basta de personagens secundários
quero ser a espada de judite
o crânio de atena
quero ser rainha ginga
cânticos de guerra
onde não choro pelos cantos
artistas tecerão meus dentes em tapetes persas:
cuidado para não se cortarem
nos caninos afiados de minhas bisas
contarei minhas histórias psicografadas em estrias e celulites
guiando-me por mapas em minhas varizes onde constam todos os naufrágios em que me afoguei
cortarei a cabeça um por um guerra por guerra filho por filho — os vingo!
seremos livres!
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anomia // poesia (ii)
Poésiepoesia para quem cultiva ideias de liberdade e cultua pessoas de mármore sobre a luz do luar de uma cidade qualquer. (C) ITMEANSWAR, art on the cover "2 rats" (2017), by redbubble.com/people/emstao