— Alteza? A senhora jura? – repetiu o idoso.

— Oi? – disse a princesa distraidamente. – Sim, juro sim. – Ela não se lembraria de ter feito o juramento, com sua cabeça fazendo cálculos de provisões para a longa viagem.

— Então, pelos poderes a mim concedidos pela Grande Flor e pelos deuses, eu a coroou Ravenna Firenze, a Primeira de seu Nome, Rainha de Therissa, a Leal! – ele terminou pousando a coroa de rubis, diamantes e safiras na cabeça da jovem. Todos que estavam no cômodo fizeram uma longa reverência e a nova regente ergueu-se do trono e desceu altivamente as escadas, caminhando de forma compassada até a varanda onde todo o povo aguardava a aparição de Ravenna. A única coisa que ela se lembraria seria de como a coroa parecia pesar uma tonelada.

Assim que se viu livre de todos os presentes na coroação e trancada em seus novos aposentos, a nova rainha se despiu de suas vestes e, trajando apenas sua camisa de tecido fino que usava para dormir, se pôs a caminhar pelo cômodo separando mentalmente o que precisaria levar consigo.

— Talvez seria bom levar um escudeiro comigo... Mas quem seria bom e confiante o suficiente? Teríamos que partir de noite para não sermos impedidos também... E tampouco poderemos levar muitas coisas conosco...

Quando era noite Ravenna já tinha preparado tudo que seria necessário.

E descartara o escudeiro. Quem em sã consciência a acompanharia para onde ela iria?

Antes dos raios da alvorada surgirem no horizonte um vulto negro pode ser avistado deixando os perímetros do castelo real, mas àquela hora, quem estaria acordado para ouvir o galope? A amazona afastou-se silenciosamente de sua casa e atravessou a vila. Não havia viva alma durante o trajeto, apesar de já sentir o cheiro do pão fresco sendo preparado pelo padeiro.

Ela precisava sair naquela hora. Se acordasse minutos depois os conselheiros já estariam de pé e aí sim seria impossível sair. Como nova regente, ela precisaria realizar audiências, assinar decretos... e isso apenas a atrasaria. Então, a única coisa que os velhos conselheiros encontrariam ao adentrarem em seus aposentos seria um simples decreto, escrito às pressas, que estabelecia um poder maior ao conselho, por tempo determinado. Uma vez que ela tivesse voltado – de preferência com Aura ao seu lado – tudo voltaria ao normal. Caso não voltasse... bem, ela queria ser otimista.

Cada dia que ela não sabia onde a irmã estava, mais sofria. As Terras Desconhecidas eram um tiro no escuro; não havia garantia nenhuma que elas estariam lá. Ravenna apenas torcia que Titania estivesse tão desesperada que iria para aquele lugar desolado.

Havia um motivo para ninguém ir até aquela massa cinzenta do mapa, do outro lado do oceano. Séculos atrás, havia um povo próspero que vivia ali, mas sua ganância pelo poder e sua tentativa de serem cada vez mais poderosos enfureceu as deusas-mães, que começaram a envenenar a terra daquele povo. Com o tempo nada mais crescia, os animais começaram a cair mortos e, finalmente, as pessoas começaram a ficar doentes. No final tudo o que sobrou foi uma terra infértil e deserta, em que ninguém entrava e quem o fazia não sobrevivia aos gases que o chão agora lançava de tempos em tempos. Um vulcão ativo mantinha o medo da região intacto: ninguém seria doido de habitar um lugar que a qualquer momento poderia ser coberto por lava fumegante.

Porém, Titania era uma estudiosa de magia relacionada ao fogo; ela sabia controlá-lo facilmente com apenas alguns movimentos de seus pulsos, então um vulcão poderia ser até um desafio, mas nada impossível para a primogênita. Bem, pelo menos essa era a aposta de Ravenna.

A jovem cavalgou até a margem da floresta onde a Grande Flor residia. Toda a sua extensão estava levemente mais escura por conta da penumbra antes do nascer do sol. Mas precisava entrar ali.

As Três Irmãs #ContestLettersحيث تعيش القصص. اكتشف الآن