Capítulo único

Beginne am Anfang
                                    


"A culpa não é tua, nunca foi." Eu queria ter respondido você, meu bem. Mas o destino foi mais rápido. Tão rápido quando os giros que o veículo dava em torno de si mesmo. Estávamos capotando, era isso? Senti pedaços não identificados por mim passarem perto de meu rosto, outros machucarem minha pele. Os balanços de meu corpo faziam minha coluna doer em níveis absurdos. Meus braços começaram a perder força mas não permitir soltar o corpo que carrega a personalidade que eu tanto amo, o corpo que eu tanto amo, o homem que eu tanto amo. Nada no mundo mudou e nem mudará isso. Seus erros, seus detalhes, sua voz, seu jeito carinhoso de me acordar, o gosto amargo de seu café forte, o perfume que você ama usar, o jeito que mexe no meu cabelo até eu dormir, a sua eficiente maneira de fazer bebês dormirem, o cuidado que tens com sua mãe, o seu olhar que diz em silêncio que vai ficar tudo bem. O seu 'eu' inteiro. Sem tirar nem por. É tudo o que eu preciso.

Simplesmente e unicamente; Você.

Mas, como eu disse anteriormente, o destino prega peças na gente. E ele me tirou você. Ele tirou você de mim. Eu nunca vou aceitar isso.

Hoje, faz um ano que você se foi. Contra a sua vontade, eu sei. O que mais dói é ver que o mundo continuou sem você. Mas eu sei que você está comigo o tempo todo, isso me deixa tranquila. Depois de te conhecer, eu soube que não estava mais sozinha, e acredito nisso mesmo depois que você se foi.

Hoje, eu entendo o que você quis dizer e te impediram. Você pediu desculpas por ter me machucado tanto. Você sabia que ia morrer. Você tinha me dito que estava se sentindo estranho e estava mais carinhoso, eu notei. Mas acredita que eu pensei que você, na verdade, tinha conhecido alguém por quem estava se interessando? Quando você só estava aproveitando seu ultimo dia na Terra, seu último dia entre nós. Você disse aos nossos amigos que os amava, mas não disse pra mim. Não naquele dia, não em palavras. Você me deixou os momentos que vivemos, os conselhos que me deu, as cartas românticas e engraçadas que deixava no meu armário todo dia, os abraços que acolheram e calaram meus mais dolorosos choros. Você me deixou os seus lados, que me mostrou com receio no começo, mas nunca com medo. Deixou-me a confiança que teve em mim, me deixou suas coisas mais preciosas e...

E me deixou um último presente e uma última carta.

Abri a porta do meu armário com uma dor enorme na cabeça e um aperto imensurável no coração, pois sabia que não teria mais suas cartas. E eu estava enganada. Passei quase um mês sem ir ao colégio, por isso demorei tanto pra ler, me desculpa. Mas eu li. Li cada palavra, entendi cada frase e chorei sentada no chão do corredor movimentado da escola onde nos conhecemos, lembrando mais uma vez dos momentos bons que tivemos. Chorei mais uma vez, reli mais uma vez, lembrei mais uma vez. E faria e farei de novo quantas vezes for preciso. Se te ter de novo é impossível, então irei me segurar no que for.

E ali, com uma caligrafia que mostrava o quão tremula sua mão devia estar enquanto escrevia, tinha o que eu não ouvi em seu último dia.

"E eu te amo tanto que é impossível quantificar. Tanto que me doí saber que não demos certo juntos do jeito que eu queria. Tanto que te ver todos os dias, como sou privilegiado de ver, é suficiente para fazer-me sorrir. Tanto que lembrar a sua existência me faz dormir tranquilo e acordar em paz. Tanto que mesmo o caos ao meu redor não me impede de ver o brilho dos seus olhos quando digo isso. E lembrar que você me ama tanto quanto eu te amo faz tudo ter um sentido. Eu me sinto vivo quando estou contigo e é onde eu sempre vou estar, ao seu lado. Mesmo que não possa me ver, estarei lá.

Com amor,

Seu amor."


Contornei meu corpo com meus próprios braços lembrando dos teus e soube o quão inútil seria tentar suprir a sua falta.

Hoje, as lembranças de tudo que se relacionam a você não são mais tão dolorosas quanto há um ano, mas a sua falta é inegável. Você era nossa liga. Tanto que nós três passamos um tempo estranhos. Estar reunidos sem você é tão estranho que quase nos tornamos estranhos uns para os outros. Mas sabemos que essa seria a ultima coisa que deveríamos fazer por sua causa. Não seria nem justo nem coincidível. Então sentamos, conversamos, choramos e, mais uma vez, lembramos.

É tão triste saber que tudo que podemos fazer é lembrar, mas analisar os muitos momentos bons que tivemos, vangloriar-nos de suas muitas vitórias, admirar suas muitas qualidades, desejando que cada uma dessas coisas não tivessem um número exato agora era lindo de ver, porque mesmo que sua história tenha tido um fim, o seu legado não.

Me arrependo todos os dias por não ter te entendido naquele dia, por ter sido rude, por não termos nos beijado como merecíamos. Me arrependo amargamente por ter feito você pensar que não demos certo e que não daríamos, mas aos poucos estou aprendendo a te deixar ir, mesmo que no fundo eu não queira, eu sei que é preciso. Não quero seguir sem você, mas não tem como te trazer de volta pra mim, então preciso superar. Eu nunca deixei e nunca deixarei de te amar, você sabe. Mas cada vez que lembro que você não está aqui para que eu te ame como você merece e me sinto triste e só. Então minha rotina é reler sua carta e chorar lembrando de você e de como éramos felizes.

Mas não se vive de passado, então todos os dias, eu levanto da minha cama; vou trabalhar, almoço com a sua mãe, dou os remédios delas e às vezes até choro com ela; saiu com alguns amigos, faço novos; descubro uma musica nova e estudo ela no caminho de volta pra casa; leio um capitulo inteiro do livro da semana; cozinho algo novo; faço exercícios físicos; danço uma coreografia nova.

Era isso que você fazia, certo?



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Que final, ein! Eu que escrevi ainda não superei, espero que você faça isso melhor que eu. 

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