O assédio de Aziz: todo homem já cometeu, toda mulher já sofreu

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É justamente por estar tão próximo da gente e 'aceito' no dia a dia que ele incomoda e dá tanto pano pra manga.

"Foi de longe a pior experiência que eu já tive com um homem". Foi assim queuma fotógrafa de 23 anos descreveu seu encontro com Aziz Ansari ao site Babe. A jovem se sentiu assediada pelo ator e aproveitou movimentos como o#MeToo e o #TimesUp para denunciar o caso. O comediante, em contrapartida, alegou não ter percebido que a moça estava se sentindo desconfortável. O caso deu muito pano pra manga. Foi assédio ou foi só um encontro ruim? Por que a mulher não foi embora antes, se não estava curtindo as investidas do cara?Pode Aziz, que se declara feminista, assediar alguém sem ter consciência disso? Não achar que foi assédio te coloca automaticamente a favor do homem e contra a mulher? Isso não contribui de alguma forma para a cultura do estupro?  

 Foi assédio ou foi só um encontro ruim? Por que a mulher não foi embora antes, se não estava curtindo as investidas do cara?Pode Aziz, que se declara feminista, assediar alguém sem ter consciência disso? Não achar que foi assédio te coloca automa...

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 Antes de tudo, respira. Ter questionamentos do tipo não é errado. Inclusive, apesar de ter surgido de um episódio bastante delicado, o debate é importante para todos nós, homens e mulheres. Micheli Nunes, jornalista especializada em cinema, concorda. "O caso de Aziz não é um dos mais graves e gráficos revelados recentemente, mas é um dos mais importantes a serem discutidos, por três motivos: (1) porque é uma conduta muito mais recorrente do que as pessoas pensam, (2) porque é um comportamento comum entre homens 'bonzinhos', que se dizem feministas e aliados, e (3) porque tem muita gente que acha que esse tipo comportamento não merece ser exposto ou criticado", escreveu em texto publicado em sua página do Storia. 

Para complementar ainda mais o debate – e te ajudar a esclarecer algumas questões -  quatro mulheres incríveis foram convidadas para opinar sobre o caso Aziz: Ana Paula Braga e Marina Ruzzi, advogadas do escritório Braga e Ruzzi Advogadas, especializado no direito das mulheres, Nana Soares, jornalista com blog homônimo no Estadão e fundadora do podcast Pop Don't Preach, e Sheylli Caleffi, produtora de conteúdo e administradora do grupo público para vítimas de estupro chamado "As Incríveis Mulheres Que Vão Morrer Duas Vezes".

1. FOI ASSÉDIO OU NÃO?
As margens para discussão são grandes. Sheylli acredita que tenha sido assédio: "forçar sexo não é certo, apesar de comum. Aziz a encurralou em uma situação. Mas como foi uma situação considerada comum, muita gente defende, até porque tem medo de ter feito a mesma coisa, no caso do homem, e de ter vivido a mesma coisa, no caso da mulher". Nana, em entretanto, acha que o comportamento foi inapropriado, mas não chegou a ser criminoso. "Como em qualquer debate sobre casos de abuso e violência contra a mulher, as perguntas são sempre voltadas para o comportamento da menina, não do menino. É sempre a mulher que tem que explicar como agiu", reflete. As advogadas Ana Paula e Marina ainda afirmam que, no caso de Aziz, o crime mais próximo que poderia ser encontrado na lei brasileira é o de estupro, mas dificilmente a fotógrafa conseguiria registrar uma denúncia legal por falta de provas. Para chegar a uma conclusão, basta refletir sobre as seguintes palavras levantadas por Sheylli: "um abuso ou um assédio sexual é quando uma das pessoas acredita que a outra precisa fazer o que ela quer e impõe isso a ela" – mesmo que sem perceber.

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