Aflita, fui até a janela e avistei o homem do lado de fora. Ricardo era jovem, mas os longos anos de bebedeira sem fim o deixavam num estado cada vez mais deprimente.

As roupas desalinhadas e sujas, os cabelos desgrenhados e a maldita garrafa de cerveja nas mãos acusavam qual era o estado mental do meu senhorio.

— Senhor, me ajude — clamei temerosa e fechando as cortinas e voltei para a segurança das minhas cobertas protegendo Mabel contra meu corpo.

Os gritos de Ricardo aumentaram a ponto dos cachorros da vizinhança começarem a latir enfurecidos. Ele me xingava de todos os palavrões possíveis e me mandava pagar o aluguel a qualquer custo. Foi inevitável cair em prantos pensando no quão terrível era minha condição naquele instante.

Compadece-te de mim, ó Deus segundo a multidão das tuas misericordias  — citei o versículo para o meu próprio consolo ao mesmo tempo que secava as lágrimas escorrendo.

Ricardo foi ficando cada vez mais irado com minha recusa em atendê-lo e me assustou quando passou chutar a porta da cozinha buscando um meio de entrar na casa.

Temendo pela segurança da minha filha, coloquei-a no berço e fui em busca de resolver a situação cordialmente. Sequei meu rosto, vesti roupas decentes e caminhei apressada até o foco da confusão.

Ao acender as luzes do cômodo tomei um susto ao contemplar como a porta de metal separando-me de Ricardo estava amassada tendo o vidro da parte superior trincado prestes a quebrar-se completamente.

— Ah, então você não está surda? — o homem perguntou com escárnio ao ver a movimentação do lado interno. — Abra logo isso e vamos resolver nossas pendências.

— Você está bêbado Ricardo. Espere até amanhã e faremos um novo acordo — propus, tentando me manter calma diante da situação.

"Senhor não o deixe nos fazer mal" orei por socorro.

Ricardo recusou minha proposta mostrando toda sua ira ao chutar a porta mais uma vez. — Quero meu dinheiro agora, sua infeliz!

O homem progredia com seu propósito de entrar e o meu medo também só crescia, por isso, ameacei: — Vou chamar a polícia, Ricardo. Saia daqui!

— Chama! — instigou gritando — Você vai acabar presa pelo tanto que me deve.

Sem pensar duas vezes peguei meu celular e nele disquei rapidamente o número da emergência. Eu estava prestes a iniciar a chamada apertando o botão verde quando o desastre aconteceu. Num último golpe violento, Ricardo conseguiu arrombar a porta.

Meu primeiro instinto foi correr desesperada para entrada do quarto e impedi-lo de chegar perto da Mabel.

Inicialmente, o homem não se importou com minha presença ali. Tomado pela fúria, ele derrubou a mesinha de madeira a sua frente e foi direto aos armários tirando todos os copos e pratos de vidro para lança-los ao chão.

— Ricardo, por favor...

— Cala a boca! — ele gritava ferozmente enquanto o barulho do quebrar de vidro me deixava ensurdecida. — Você deve esconder dinheiro, não é, vagabunda? Eu vou achar!

— Não há nada aí, Ricardo — as lágrimas escorriam dos meus olhos ao contemplar tamanha maldade. — Por favor, pare com isso.

Ele lançou um olhar assustador em minha direção, deixando-me apavorada. — Parar? Eu não vou sair daqui sem meu dinheiro.

— Ricardo, você tem filhos. Eu não podia deixar minha bebê passar fome só para te pagar. Por favor, compreenda — supliquei tentando despertar nele alguma compaixão.

Minhas palavras deixaram tudo pior. Ricardo se aproximou de um jeito intimidador e concluiu: — Está aí dentro, não é? — Eu apenas balacei a cabeça negativamente, sentindo o corpo todo tremendo freneticamente. — Sai da minha frente agora.

— Eu não tenho nada — informei com a voz fraca e inconstante. — Mas, prometo, eu vou pagar.

— Sai! — ele deu mais um passo em minha direção.

— N-não.

Sem pensar duas vezes, ele usou a força e acertou uma cotovelada em meu rosto. O impacto foi forte o suficiente para me derrubar no chão.

A adrenalina pulsava em minhas veias e só de pensar no monstro perto da minha filha recuperei as energias sobrenaturalmente. Fui ágil. Peguei um dos copos intactos no armário e lancei contra as costas de Ricardo usando toda a minha força. A embriaguez o fez perder o equilíbrio por alguns segundos e eu obtive vantagem. Consegui correr até o berço e chegar a Mabel antes dele. Enrolei a bebê na manta, peguei uma das bolsas contendo os pertences mais importantes e declarei antes de sair em direção a rua: — Pode ficar com todo dinheiro que encontrar, mas nos deixe em paz.

Toda a confusão gerou grande movimentação na rua. Minha aparição inesperada levou aos curiosos de plantão a perguntarem o que estava acontecendo lá dentro. Não respondi a ninguém. Engoli todas as lágrimas e me mantive forte por aquela a quem eu carregava nos braços.

Enquanto eu andava sem saber qual rumo seguiria a partir daquele instante minha mente fez questão de mostrar minha condição de desamparo. Somente Deus poderia me ajudar.

Nota da Autora:

Gente, sei que estou demorando pra postar os capítulos dessa história, mas confiem em mim, o negócio vai sair! Estou com a rotina um pouco apertada, mas Deus tem me dado forças. Por isso, peço, mais uma vez, paciência 😁🤗






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