• prólogo •

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• I'm lonely, but I'm good •

Era o primeiro dia do curso de inglês e Carol estava empolgada, porém um pouco apreensiva. Quando se tratava de estudos, para ela costumava ser só a parte da empolgação, mas esse curso era diferente. Ela já sabia inglês, era muito boa em entender, ler e até mesmo escrever – o seu problema era falar. A questão é que esse era justamente o foco daquelas aulas: conversação.

Carol havia protelado bastante a decisão de se matricular no cursinho relâmpago, com duração de seis meses. Havia sido uma indicação do colega de faculdade, Ulisses, que já tinha feito e gostado muito. Ela sabia que seria importante para sua vida profissional, seu principal foco e também basicamente o único motivo de ter sequer cogitado o curso. Apesar de cursar fisioterapia, Carol já tinha percebido que o seu futuro estava na vida acadêmica, que envolvia pesquisas e estudo (sua parte favorita), mas também aulas, palestras, congressos... E oportunidades incríveis de crescimento no exterior. Mas para consegui-las, era essencial que ela melhorasse sua pronúncia no inglês. Além disso, seria bom desenvolver um pouco mais a sua capacidade de falar em público, que também não era das melhores.

A verdade é que qualquer coisa que envolvesse interações interpessoais não era o seu forte. Carol era introvertida, além de ser tímida desde que se entendia por gente. Nunca teve muita facilidade para fazer amigos, nem mesmo quando era criança, e honestamente aprendeu também a não fazer muita questão. Ela se acostumou a ser sozinha no mundo. Talvez por ter crescido vendo sua mãe sempre sendo uma mulher independente, sem amarras e raízes. Inclusive a falta de amarras se estendia à própria filha, tanto que havia emancipado Carol aos 16 anos para trabalhar fora, deixando-a morando só desde então. Esther ainda pagava as contas e as duas mantinham contato por videochamadas, mas considerando que aquele foi o exemplo que teve, era compreensível seu estilo de vida mais recluso. Os colegas de faculdade Wanda e Ulisses eram as pessoas mais próximas que ela tinha, e ainda assim eram relações extremamente rasas e focadas nos estudos: a garota conseguia ser ainda mais introvertida que Carol, chegando a ter uma leve aversão à pessoas no geral; e Ulisses, ao contrário das duas, parecia ter uma vida social fora da universidade. Considerando tudo isso e a sua própria personalidade um pouco mais fechada, Carol realmente não sentia que levava jeito pra manter conversas longas e interessantes, muito menos para falar em público. Os seminários da faculdade eram uma tortura, por exemplo. E por mais que ela sentisse que estava melhorando um pouquinho com o tempo, esperava que o curso de inglês focado em conversação fosse ajudar não só no domínio do idioma, mas também na sua timidez. Se pretendia lecionar um dia, que era uma das suas opções, seria essencial que melhorasse nesse aspecto.

E ela esperava mesmo que desse certo, pois todas as tentativas de sua mãe para melhorar seu jeito retraído durante sua infância – como o curso de teatro e o coral da escola – haviam dado errado e sido experiências que ela havia detestado, então essa era meio que sua última esperança. Se não desse certo, talvez ela devesse descartar a carreira de professora de vez.

Com isso mente, respirou fundo uma última vez antes de finalmente entrar na sala, esperando que as respostas para o seu futuro estivessem do outro lado da porta.


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• I'm bitter, but I swear I'm fine •

Natália havia sido a primeira a chegar no curso de inglês. Não só por empolgação, mas também por nervosismo. Ela normalmente não era uma pessoa muito pontual, quem dirá adiantada, mas a ansiedade havia levado a melhor dessa vez.

Essa era sua primeira experiência indo a uma aula... Sozinha. Completamente sozinha, sem conhecer ninguém. Isso porque desde o seu primeiro dia na escola, ela sempre estava acompanhada do seu irmão gêmeo. Bruno. Assunto delicado.

• still reserved for me • Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum