AFRODITE

29 | deusa afrodite é um maldito clichê

Qual é, Keanu, sua outra mãe está nos abandonando para ficar com outra garota!

Nah. Isso é ridículo. Ela está indo visitar o próprio pai, então desfaz essa cara amarrada. Sério, Soraya.

— Que sorriso medonho... — É o que Simone diz diante do meu esforço descomunal para expressar alegria.

Diante do óbvio fracasso, eu deixo o ar escapar sonoramente e relaxo meu corpo contra o encosto do sofá, já deitando minha cabeça para trás.

— Vai logo embora... me deixe aqui sozinha com nosso filho, sem saber se vamos sobreviver um fim de semana sem você. Vá, Simone. Nos abandone de uma vez!

Com os olhos fechados e o pedido dramático jogado no ar, eu logo ouço a gargalhada gostosa da mulher que tenho a sorte de chamar de namorada, e meu corpo reage automaticamente quando, de surpresa, ela senta em meu colo e apoia suas mãos em meus ombros antes de me dar um longo e demorado selinho. E assim, fácil, meu drama morre e minhas mãos viajam à sua cintura.

— Quando eu voltar te pago aquele oral que foi adiado. Tá bom? — Ela me promete, então.

Preguiçosamente eu abro meus olhos para encontrar seu rosto ainda perto do meu, e eu gravo cada detalhezinho já tão bem memorizado.

O nariz grande que é assombrosamente adorável, os olhos redondos e expressivos, a boca com o desenho mais perfeito já visto, as bochechas salientes e a testa exposta, já que seu cabelo está preso em um rabo de cavalo.

Linda. Meu Deus.

Eu te amo, porra.

O que digo, no entanto, é:

— Pague com juros. Aliás... eu fodo sua boca. Vamos combinar assim.

— Como minha Soraya preferir.

Eu mantenho minha cabeça deitada no encosto, os olhos em seu rosto, e suas palavras me fazem voltar atrás. Então:

— Não. Esquece isso. Vai ser como você preferir, Simone.

Ela parece pega de surpresa, então usa os primeiros segundos para não dar nenhuma resposta além de piscar, para no final me abençoar com um sorriso quase imperceptível no canto dos lábios.

Antes de efetivamente dizer algo, sua bunda vibra em meu colo, o que me faz suspirar frustrada, e obriga Simone a se levantar, tirando o celular do bolso.

— Hora de ir para a rodoviária. — Anuncia, então.

Eu assinto. Batidas são dadas na porta logo depois.

Quando Simone vai até ela, eu contenho um resmungo inconformado ao precisar ver Sofia com sua mochila rasgada nas costas.

— Bom dia. Vamos? — Então, seus olhos pousam em mim. — Espera. O que a patricinha está fazendo aqui? Ela também vai?

Bem que eu queria, carrapata. Bem que eu queria...

— Ela vai ficar pra cuidar do Keanu. — Simone explica. Sofia ergue as sobrancelhas em desdém.

— Simone, é um cacto. Ele sobrevive a coisas piores que um fim de semana sem uma cuidadora.

— Não é um cacto. É o Keanu. E nós somos mães dele, não cuidadoras. Me respeita, carrapata.

Ela revira os olhos. É claro que revira.

— Vocês se merecem mesmo. Duas idiotas.

— So... — Simone resmunga. Por um segundo, me pergunto por que ela está reclamando comigo, mas aí percebo que é a outra So.