Linha do Equador

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Sinopse: Um dia de tensão traz à tona sentimentos que Lindbergh tentou por muito tempo esquecer.

[Essa história cita ataques de ansiedade e um atentado com armas de fogo, embora ninguém fique ferido]

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Assim que ouviu o alarme soar, o corpo de Lindbergh enrijeceu.

Sabia que não era um teste. A equipe de emergência do Senado costumava passar e-mails periódicos com os horários dos treinamentos de evacuação a serem realizados, e ele sempre anotava as datas em seu calendário - sabia que os treinamentos eram importantes e não queria atrapalhar o trabalho da segurança com reuniões marcadas em horários inoportunos.

Então, quando ouviu o alarme, sabia que algo tinha acontecido de verdade.

O que foi confirmado pela entrada de Josué, um dos responsáveis pela segurança do andar, em seu gabinete.

"Tiros", disse ele, simplesmente. Lindbergh gelou.

Já tinha mandado o restante de sua equipe para casa; pouca coisa acontecia após o almoço da sexta-feira, por isso, costumava liberar o time às 13h. Um alívio, ao menos - quando Josué apareceu para buscá-lo, não tinha com quem se preocupar além de si mesmo.

Bem, isso não era de todo verdade.

"Gleisi?", perguntou ele, enquanto era retirado de sua sala. Não sabia se Josué entenderia o quão importante era para ele saber se a também senadora Gleisi Hoffmann estava segura.

O segurança não respondeu, apenas continuou puxando Lindbergh pelos corredores do Senado.

O caos era absurdo, parecia um cenário de filme pós-apocalíptico. Pessoas corriam em todas as direções, gritando, assustadas, e Lindbergh se sentiu sortudo por ter alguém o guiando, mesmo que não soubesse ainda para onde estava sendo levado.

Ouviu o barulho de dois tiros e sentiu os olhos encherem de lágrimas de aflição. Precisava saber onde ela estava.

"Aqui", disse o senador, tentando se desvencilhar do segurança assim que avistou a porta para o gabinete de sua ex-namorada.

"Não", o segurança o puxou de volta, "Minha responsabilidade é com você"

Cada um dos seguranças de cada pavimento tinha um senador para cuidar. Não ia adiantar pedir, implorar, suplicar. O treinamento deles era muito claro - em caso de emergência, cada um tinha um parlamentar pelo qual ficaria responsável, e era somente aquele parlamentar designado que importava.

Lindbergh nunca havia passado por nada assim e não sabia o que fazer. Os colegas passavam por ele correndo, sem rumo, parecendo borrões. Tentava identificar alguém, mas tudo aconteceu rápido demais. Em questão de segundos, foi levado de seu gabinete até um corredor estreito atrás da porta de entrada de um dos banheiros femininos. Sem entender, virou-se para Josué, que apenas o incentivou a continuar andando. Ao final do corredor, que mal dava para passar uma pessoa, havia uma parede preta. Lindbergh, confuso e atordoado pelos tiros e gritos que ainda ouvia, bateu na parede em frustração.

A parede imediatamente moveu-se, revelando uma porta. Josué o empurrou para dentro e Lindbergh de repente viu-se em uma sala grande, sofisticada, cheia de rostos conhecidos.

"Um quarto do pânico", disse Josué. "Quando acontece alguma coisa, a gente traz todos vocês para cá".

'Todos vocês' eram os senadores. Lindbergh olhou em volta e constatou que aquele 'quarto do pânico' não era nada mais que um grande gabinete sem janelas, com sofás, poltronas, televisão e uma longa mesa com algumas cadeiras. O local já estava cheio, vários parlamentares conversando entre si e em seus celulares, aflitos com a situação.

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