Limbo

1. Wonder

“E se fôssemos todos iguais?
Haveria sentido em todos os nomes?
Tudo retrata diferentes quadros, eu me pergunto
E se apenas dissermos a verdade?
Será que nossas vidas seriam mais suaves?
Talvez um mundo melhor esteja em tranquilidade, eu me pergunto
Você acha que ainda há uma chance?
Que as pessoas possam cantar e dançar
Quem está aqui para liderar o caminho ou quem quer fazer isso?
Eu me pergunto”
( Wonder- The Rose)

Dezembro 2017.

Finalmente os anos escolares haviam chegado ao fim, se encerrando as noites em claro estudando para as provas, os trabalhos em grupos geradores de conflitos, as lágrimas e o desespero em achar que iria reprovar, tudo estava ficando para trás. Um capítulo estava se encerrando e levando consigo não apenas as coisas ruins, mas também as coisas boas que Minho havia construído ao lado de seus amigos.

Ficava para trás as tardes de ensaios na carragem dos Bangs, as noites que não conseguia dormir e dirigia até a loja de conveniência da cidade para matar o tempo e encontrar com o namorado que também devia estar em uma péssima noite de sono. Naquela pequena cidade ficaria o Minho baterista para dar espaço para outra versão do garoto.

- Você tem certeza que vai fazer isso?- Chan estava apenas com seu namorado na garagem da casa de seus pais, os demais garotos haviam ido embora após ver que a discussão entre o casal estava ficando cada vez mais calorosa.

- QUE OUTRA OPÇÃO EU TENHO, CHRISTOPHER?- Minho completamente impaciente esbravejava gesticulando com as mãos no ar.

- CHRISTOPHER?- Chan esbravejou indignado. - Você quer ir embora, deixar a banda... - engoliu seco segurando suas lágrimas. - Você quer me deixar e ainda se acha no direito de ficar bravo?

- EU NÃO QUERO DEIXAR NADA NEM NINGUÉM, VOCÊ É QUEM ESTÁ DIFICULTANDO AS COISAS. - Minho estava gritando, o que fazia a situação ficar ainda pior. Chan odiava quando gritavam com ele, preferia mil vezes vários tapas em seu rosto do que alterassem o tom de voz consigo, e Minho o namorava a bastante tempo para saber bem desse fato sobre o mais velho.

Minho tinha que ir embora, era o que havia combinado com seus pais; ficaria na banda durante todo o período de ensino médio, mas após largaria tudo para entrar na faculdade. Não é como se ele vivesse em pé de guerra com seus pais, longe disso, seus pais sempre foram seus melhores amigos, comemorando a cada conquista e lhe consolando a cada perca, mas as coisas mudavam de figura quando o assunto era o sonho do garoto de trabalhar com música.

A mãe professora e o pai dentista desejavam que o filho seguisse uma carreira estável, que lhe pudesse verdadeiramente garantir um futuro promissor e por isso não pensaram duas vezes antes de juntar todas as economias para patrocinar a mudança do menino para a Austrália, assim que receberam a carta de aprovação da Universidade de Sydney para estudar medicina veterinária com bolsa integral durante todo o curso.

Minho só não contava que durante o ensino médio se apaixonaria profundamente por Bang Chan, seu melhor amigo e um dos guitarristas da banda, com quem teria iniciado um namoro repleto de promessas e juras de amor e se recusava a aceitar aquela submissão de Minho aos desejos dos pais, deixando os próprios sonhos de lado para perseguir um futuro ainda mais incerto e desconhecido do que sua carreira na música.

Chan estava exausto, aquela discussão estava durando por mais de ano e já havia usado todos os argumentos que poderia utilizar para o convencer e nada adiantou. Era isso, ele ia jogar a toalha, se render e aceitar que havia perdido aquela guerra.

Após se sentar no sofá surrado e ficar longos minutos no mais profundo silêncio encarando a caixa de pizza vazia jogada no chão, Chan olhou para o namorado que dedilhava o baixo apoiado na mesa de bilhar.