Margot

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-Fiquem com suas vidinhas, seus moleques! – gritou Margot aos seus colegas de faculdade, enquanto chorava – especialmente você, Júlio, seu grande cafajeste!

A garota jamais poderia imaginar que seu namorado a estava traindo com sua melhor amiga, Clara, enquanto fingia fidelidade.

"Não é o que você está pensando" dizia Júlio, enquanto olhava para a pele morena, olhos castanhos cheios de lágrimas e para a expressão de sua namorada traída, sem ter como explicar aquela cena vergonhosa.

O rapaz havia sido pego em flagrante, dando um beijo cinematográfico em Clara! Na verdade, nem mesmo Zeus teria como escapar de uma situação como aquela.

Pensando bem, tudo estava na cara desde o início, com todos aqueles presentes e passeios de Júlio, bem típicos de quem esconde uma traição, mas nada daquilo importava, nem mesmo o fato de Clara (de quem Margot era amiga desde o ensino médio) ser "a outra", afinal de contas, nada poderia ser feito para remediar a questão.

Por isso Margot correu até a garagem de sua casa, sem olhar para trás, decidida a fugir daquele mundinho que lhe trouxera tamanho sofrimento.

Após cobrir o rosto e enxugar um pouco as lágrimas, Margot abriu a garagem e removeu um grande pano amarelado de cima de um objeto grande que, graças a luz daquele dia abençoado, revelou seu valor, tal como o ouro de Atahualpa...

Uma Tour Glide FLT 1980.

A moto havia pertencido ao pai que, em sua juventude, fora chefe de um grupo de motoqueiros de estradas (época que, aliás, o homem lembrava-se com saudade).

Margot costumava consertar aquele motor com seu falecido pai, mas precisou terminar o serviço quando este veio a falecer, no ano anterior, vitimado pela guerra.

Após pegar um pequeno rádio prateado (que o pai costumava chamar de "pratinha") e o celular, Margot colocou seu capacete, encheu o tanque da Tour Glide FLT, montou-a como uma verdadeira Amazona e ligou a potente máquina, partindo com ela para a estrada, sem jamais olhar para trás.

"Me desculpe, papai, você não ia gostar de ver sua menininha fugir assim", disse a garota, enquanto tentava segurar as lágrimas por baixo do capacete vermelho.

A estrada devia estar bastante quente, pois era possível ver miragens no asfalto, porém, aquilo tudo, de alguma forma, trazia ao coração de Margot a sensação de liberdade.

Sim! Ela estava longe de suas falsas amigas, namorado traidor, fuxicos cruéis dos colegas de classe e até dos olhares piedosos da mãe.

Aquela garota, de pele morena como o ébano do Oriente, olhos castanhos e lágrimas que escorriam pelo capacete, jamais seria feita de boba de novo! Nunca mais voltaria àquela faculdade ou para sua casa (onde, devesse dizer, a garota se sentia perdida sem os conselhos do pai).

Qual era o destino? Para onde ela iria? Nem o vento saberia dizer, talvez sendo esse o motivo que lhe levava a soprar com força naquela moça, como se tentasse impedi-la de se afastar demais de seu lar.

Conforme o tempo passava, já era possível ver rochas e terrenos vazios, sem demarcação, como se costuma encontrar na imensidão das estradas, mas Margot se sentia como uma águia, cruzando o céu do asfalto, com um sorriso de confiança no rosto, apesar de ainda haver algumas lágrimas.

Diminuindo um pouco a velocidade do veículo, a garota ligou o "pratinha" e começou a ouvir a emissora favorita de seu pai, tentando esquecer do beijo babado de Júlio e Clara.

"Senhoras e senhores", disse o locutor, "fiquemos agora com as notícias. À seguir, teremos uma apresentação musical e nosso 'quadro dos apaixonados'".

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