O desafio de se aceitar

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Minha época de escola foi sofrida, foi bem na época que faziam vídeo todo ano das meninas mais feias, que qualquer coisa era motivo zoação. Eu sempre aparecia nesses vídeos por ser muito magrinha, de cabelo curto, e os dentes separados, as meninas com quem eu andava já tinha aquele corpão que chamava atenção de qualquer menino de ensino fundamental, engraçado que toda vez que eu assistia ao filme DUFF, eu me identificava com a menina que era a "feia" do trio.

Tinha vezes que eu chorava para minha irmã, por que eu queria ter aquele corpão, às vezes eu ia para escola com duas leggings para ter mais bunda, para alguém notar que eu existia, até minhas pernas ficarem roxas, por não ter sangue suficiente correndo, e eu pesquisar na internet que se eu continuasse fazendo isso eu ficaria sem pernas, resolvi que seria melhor eu ficar sem ser notada do que sem perna.

Minha meta era ter o corpo das minhas amigas, me comparava, alisava o cabelo, usava regata para realçar meus seios, e eu só tinha apenas onze anos, você enxerga a gravidade disso? A preocupação que eu deveria ter, era apenas brincar, e estudar.

Mas o padrão e a forma de como eu era excluída desse meio, fazia com que eu me comparasse tanto a ponto de me machucar, e ter crises existenciais.
Vou te contar duas situações, que hoje me fazem refletir ao ponto de me encantar como eu conquistei o meu amor próprio e me aceitei do jeito que eu sou. Olha na época do meu fundamental, eu gostava muito de um menininho, vamos dar o nome dele de Pedro, que me fazia rir demais, e ele falava bastante comigo e com as minhas amigas.

Uma delas contou pra ele que eu gostava dele, e o mesmo mandou aqueles bilhetinhos que todo mundo conhece, escrito em um pedaço de folha de caderno com aquela frase "aceita namorar comigo?", eu não sabia o que fazer quando recebi, corri para o banheiro e contei para minha amiga, ela super deu apoio e começamos "namorar", o que basicamente era dividir o lanche e andar mão dadas.

No final do mês, o mesmo bilhetinho que eu recebi dele, estava escrito outra frase "Não gosto mais de você", um termino bem simples e fácil, alguns dias depois ele estava andando de mãos de dadas com a menina corpuda da sala, que justamente era minha amiga, claro que não foi só isso para se tornar uma decepção mas a forma que ele falou quando fui confronta-lo foi difícil de aceitar e escutar – Você é muito feia, eu só namorei você porque sua amiga pediu, se não eu nem teria olhado para você. – Sim, isso foram palavras de um menino de dez anos, que me causou inúmeras sessões de terapia.

Meu processo de aceitação, de amor-próprio foi demorado, eu ainda estou nesse processo. Nesses primeiros três meses houve recaídas de choros, de arranhões no corpo, crises de ansiedade e maratonei todos os filmes para que eu pudesse sentar e chorar que nem um bebê.

E me fez lembrar de um menino que eu conheci, o Lucas, me chamou para sair, ir tomar um sorvete, as sorveterias não tinham fechado. Aceitei o convite e se você me perguntar se eu me arrependo? Com toda certeza. A gente foi no Mc Donalds do Shopping Raposo, ele escolheu uma mesa perto do restaurante que vende pizzas não me recordo o nome, e não vou fazer publicidade dele.

Estava indo tudo muito bem, ele falava das ambições dele, e eu super atenciosa, atenta em cada fala dele, porem a alegria dessa escritora mirim dura pouco, aquele ser humano fala — Você é nota sete, por que eu gosto de menina com cabelo liso, e você não tem — A minha reação foi muito espontânea e logo soltei — Hm, ok, é melhor eu ir embora então você não é alto, e eu sou maior que você — Saí de lá com a maior elegância possível, e bloqueei ele em tudo, até  hoje não entendo o motivo dele ter falado algo tão idiota.

Eu sai de lá, dando tantas gargalhadas que se fosse em tempos atras estaria despedaçada, chorando, com crise de ansiedade porque ele me deu nota sete, quem se importa com a nota que ele me deu? O meu narcisista acredita que eu sou nota mil, e vai continuar sendo assim!

Conselho de uma pessoa que não sabe dar conselhos é:

É realmente difícil ser você mesma, amar a si mesma é um desafio diário, principalmente nesse mundo em que o outro sempre parece ser mais interessante que você.

É insuportavelmente difícil gostar por completo do que você vê ao se olhar no espelho. Se amar e aceitar-se é um desafio em um mundo cheio de pessoas que constantemente se comparam com as outras, e eu posso falar com toda certeza, porque em meio a pandemia essas comparações aumentaram 99,9%.

É preciso que eu e você insista nesse amor próprio, no carinho e no cuidado consigo mesma, aprender a amar as nossas diferenças, e colocar em nossas cabeças que não somos perfeitas. E isso faz com que sejamos interessantes, buscar a cada dia ser o seu melhor.

Amores na pandemia Where stories live. Discover now