As vezes fico pensando se minha vida séria diferente se minha mãe estivesse aqui, se as coisas teriam sido melhores. Pode ser bobagem, mas alimento está esperança, de que na verdade ele nunca nos odiou apenas não sabia lidar com a dor de perder a mulher que ele mais amou.
Solto um riso discreto.
Ainda tento o justificar, procurar um jeito de parecer que ele não era ruim, que no fundo nós amava. Queria isso, seu amor, sua aprovação, seu orgulho. Bem agora não terei mais, estou de baixo de um sol escaldante, o céu está limpo, lindo não demostrando em nada o fato de estarmos em o enterro de meu pai, ele morreu em um confronto com o reino inimigo, salvando a vida do rei, sendo agora contado como um grande homem. Minha irmã gêmea clara chora do meu lado, ela sempre foi mais sensível que eu, sempre desmaiando e vomitando em nossos treinamentos, nunca deixei meu pai a torturar, tão pouco nosso avô, falava que passaria por ela, e eles permitiam, bem só uma vez que não, no dia que matei meu avô, ele iria abusar dela e queria que eu assistisse, dizia que o amor era uma fraqueza, então o matei, nós tínhamos apenas 12 anos, e quando viemos para o castelo ficar com meu pai tudo piorou, os treinamentos mais intensos, e ele ainda nos levava para guerra para matar, homens, mulheres, criança ou bebês, não interessava quem era eu devia matar e caso chorasse teria de ficar 2 dias na masmorra, nua e sem comida. Fiz um acordo com meu pai, faria tudo que ele quisesse, desde que ele deixasse minha irmã ser apenas uma dama normal da alta sociedade, ele a princípio recusou, mas quando viu que minha irmã não conseguia ver sangue sem desmaiar prefiriu aceitar, e apartir daí a usava para me fazer resistir, sempre falando que se perdesse ele resolveria com ela, passei 2 anos na guerra, uma criança respeitada por todos os soldados, e até temida, tinham aqueles que diziam que eu era um demônio, enganoso, com um rosto inocente só que mortal, eu não sorria desde que sai da casa de meu avô, minha vida se resumia em morte e destruição, aí meu pai morreu, confesso que estava perto, poderia ter impedido, mas não quis, queria ver o que aconteceria, e bem o óbvio aconteceu, ele morreu salvando o rei. Agora no enterro dele o rei está aqui, nós prometendo que irá cuidar de nós, que a partir de hoje seremos sua filhas adotivas.
Não sei exatamente o que o futuro me reserva, talvez consiga recuperar minha infância perdida, voltar a ser uma menina delicada e inocente, mas eu sei que não vai acontecer, fiz muitas coisas ruins para uma garota der apenas 14 anos, meu passado não apenas me condena como me persegue, me concentrarei em protejer minha irmã, e tentar ao menos lutar por algum bem, se existe mesmo um deus acima de nós, peço-lhe perdão pelas vidas que ceifei, e peço que me de a oportunidade de redenção.
- vamos meninas, sei que hoje é um dia difícil para vocês, e que a dor de perder um pai é destrutiva, mas sejam fortes, eu garantirei que daqui para frente sejam felizes minhas filhas.
No fim do sua pequena e melancólica fala, ele nos guiou para carruagem, para irmos em direção a nossa nova casa, eu pelo menos a minha, já que minha irmã morava lá desde que eu fui para guerra com meu pai.
O rei era um bom homem, diria que é também um tanto inocente, sempre achei fofo uma pessoa que conseguiu conservar a pureza de seu coração neste mundo cruel, ou talvez não seja tão cruel para algumas pessoas.
A carruagem não ia muito rápido, e a carruagem estava em silêncio, minha irmã me abracava buscando consolo, sinceramente não sei porque todo esse drama, nosso pai nunca foi um pai de verdade, apenas um tirado que tinha prazer com nossa dor.
Amo minha irmã, apesar de não demonstrar com palavras, ou contato físico, eu faria tudo por ela, matava e morria. Ela é a versão que eu sempre quis ser, boa e pura de coração. Eu fiz de tudo para que ela permanece assim, e agora sem nosso carcereiro acredito que não necessitará mais de minha proteção.
Sinceramente não sei o que esperar, não sei como vai ser daqui para frente e até quando conseguirei manter o monstro que meu pai criou dentro de mim, mas sinto algo que a muito tempo estava adormecido, esperança, esperança de que agora finalmente vou ser livre
