Martha começou a esfregar a grelha novamente.

─ Sou uma criada da Sra. Medlock. ─ disse resolutamente.

─ E ela, do Sr. Craven, mas minha função aqui é fazê o trabalho de uma ama e cuidá um pouco de ocê. Mas ocê não precisará de muitos cuidados.

─ Quem vai me vestir? ─ Mary inquiriu.

Martha soergueu-se sobre seus calcanhares outra vez e olhou assustada. Em seu espanto, falou, usando um acentuado sotaque de Yorkshire.

Ocê num pode se vestí? ─ disse ela.

─ O que você disse? Não entendo sua linguagem. ─ disse Mary.

─ Eh! Esqueci. ─ disse Martha. ─ A Sra. Medlock disse que eu teria que ser cuidadosa ou ocê não entenderia o que eu digo.

Eu disse: você não pode pôr suas próprias roupas?

─ Não. ─ respondeu Mary, muito indignada. ─ Nunca fiz isso em minha vida. Minha ama me vestia, é claro.

─ Bem... ─ disse Martha. ─ ...evidentemente que, por menos consciente que ela fosse, foi uma imprudência da parte dela, pois está na hora de a senhorita aprender. Quando era mais jovem, não lhe ensinaram, mas vai ser bom que cuide um pouco de si mesma. Minha mãe sempre dizia que não conseguia entendê como os filhos das pessoas importantes não se tornavam totalmente tolos, já que eram lavados, vestidos e acompanhados em passeios por suas amas, como se fossem cachorrinhos!

─ Na Índia é diferente. ─ disse a Sra. Mary com desdém. Ela mal podia suportar aquilo.

Mas, de qualquer forma, Martha não se submeteu.

─ Eh! Posso ver que é diferente. ─ respondeu ela com compreensão. ─ Atrevo-me a dizer que deve ser porque há muitos negros lá, em vez de brancos respeitáveis. Quando ouvi dizer que ocê estava vindo da Índia, pensei que fosse uma negra também.

Mary soergueu-se furiosa na cama.

─ O quê?! ─ disse ela. ─ O quê?! Você pensou que eu fosse uma nativa. Você... você, filha de um porco!

Martha olhou para ela assustada.

─ Quem é ocê para dar nomes? ─ disse Martha. ─ Não precisa ficar tão irritada. Essa não é a maneira correta para uma jovem senhorita se expressar. Não tenho nada contra os negros. Quando se lê sobre eles nos folhetos, são sempre muito religiosos. Sempre se lê que um negro é um ser humano e um irmão. Nunca vi um negro e senti até um prazê em pensá que ia ver um deles de perto.

Quando entrei para acendê sua lareira nesta manhã, aproximei-me de sua cama e recuei a coberta com cuidado para olhá para você.

E lá estava ocê, "desapontadamente", mais branca do que eu. É uma pena que grite tanto.

Mary nem sequer tentou controlar sua raiva e humilhação.

─ Você pensou que eu era uma nativa! Você se atreveu! Você não sabe nada sobre nativos! Eles não são pessoas, são criados que se curvam diante de você. Você não sabe nada sobre a Índia. Você não sabe nada sobre qualquer coisa!

Estava com tanta raiva e sentia-se tão desamparada diante do simples olhar assustado da garota que, de certo modo, a fez sentir-se, de repente, muito sozinha e distante de tudo que entendia e de todos que a entendiam. Então, afundou a própria face nos travesseiros e irrompeu em um forte soluço. Soluçou tão desenfreadamente, que até Martha, a mais bem humorada de Yorkshire, ficou um pouco amedrontada e muito penalizada por ela. Tanto que foi até a cama e se inclinou sobre a menininha.

O jardim secreto (1911)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن