Capítulo 7: Pântano

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– Não chegamos antes que acendessem as fogueiras – resmungou Carter ao seu lado. Lohkar já sobre o lombo do cavalo. – Da próxima vez mande esperarem – gritou para Elawan.

    Quando ele se virou, o olhar do lorde induzia o silêncio. A humana desviou.

– Fomos abençoados com a colheita deste ano, milorde. – Alguém gritou quando passavam.

– Que Nínive lhes proteja – desejou-lhes uma mulher da varanda.

– Que ela os coloque em minha cama.

    Fora um macho do povo silvestre que falara.

Lohkar ficou vermelho.

– Lorde Kanht terá justiça, milorde? – perguntou outro.

      O amigo assentiu com a cabeça num tom solene.

     O sorriso de Elawan não lhe chegou aos olhos. Era zombeteiro quando convinha ser, mas aqueles olhos não se deixavam mentir, eram capazes de atormentar homens feitos e feras. Um índigo que podia sustentar de tal modo que Lohkar chegou a acreditar ver as almas que o encaravam. Lembrou da vez, quando uma versão jovem de lorde Moullen debochou de Elawan numa caçada para ganhar sorrisos da rainha, solteira na época. O que começou com o intento de se mostrar corajoso, terminou com o homem caindo do cavalo em uma ribeira. O feérico nada fez além de encarar o nobre por uma coleção de minutos mais parecendo ser feito de pedra, até muito depois das risadas terem cessado. Até a manhã anterior, lorde humano não ousava encontrar o olhar inabalável do feérico.

     A sua frente, a tengu parecia finalmente despertar. A garota esfarrapada olhava para os lados como se estivesse cercada por um formigueiro, as cabeças passando sem lhe dar atenção, mas ela, claramente incomodada. Aquilo satisfez Lohkar.

– Humanos e feéricos? – questionou a cativa.

– E também kapas e duendes. – Elawan tinha voz ausente. – Queria dizer que as fronteiras são apenas políticas e não sociais; não se deixe enganar tão fácil.

    Awen, mesmo Liffey, estava longe de ser o ideal. Mas ainda era deles, todos ali lutaram para fazer dela seu lar. Sorel e Elawan mais que qualquer um. O amigo fez Kara engolir a própria provocação em praticamente exilá-lo nos limites do território. Em menos de meio século, Liffey fora de um grande pântano à quarta maior cidade do continente.

     Lohkar sentiu se espalhar o eco frio que brotava do seu peito, se justapondo ao crepitar das fogueiras em pontos chave do floco de neve. Conhecia aquelas ruas, mas não pertencia a elas, tampouco o contrário.

 Conhecia aquelas ruas, mas não pertencia a elas, tampouco o contrário

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(Liffey)

     Estavam seguindo pelo Corredor das Tecelãs, um túnel com estrelas rubras atadas a véus, quando uma voz os alcançou. A princípio, Lohkar não distinguiu quem era o macho com um garoto sobre os ombros largos. O menino se elevava acima da multidão, mas não quem o erguia. Foi a espada que a criança humana brincava que o feérico primeiro reconheceu. Anglarita. Os tons do cabo variando do amarelo ao anil, como se tivessem sidos jogados no metal por acidente. O guarda mão eram asas membranosas e a cabeça de wyvern estava esculpida no cabo, olhos de granada. Tenno era exatamente assim, irreverente e temível, como sua arma.

Entre Damas e EspadasWhere stories live. Discover now