Era uma Vez em Veneza

.12.
E

ntramos no bordel pouco depois de escurecer. Eu, Blaise e Seamus. Eu só havia ido até ali à noite uma vez na vida; e acompanhado, apenas quando Anna viera comigo no carnaval. Pansy pedira para que eu viesse àquela hora, pois queria conversar mais sobre como eu deveria provocar Harry.
O lugar ainda não estava muito cheio. Eu vi Daphne e Astoria dançando no palco, rindo e se divertindo, enquanto alguém tocava o piano e a harpa. Havia alguns homens no bar do salão, e outros nas mesas, conversando em pequenos grupos. Pansy dizia que muitos negócios importantes sobre Veneza eram discutidos entre as paredes daquela casa de prazeres.
Blaise e Seamus olhavam tudo com curiosidade e interesse, principalmente para as garotas e mulheres com menos roupa do que a moda veneziana habitual.
"Uau, esse lugar é fantástico!" Blaise falou com os olhos brilhando. Ele parecia mesmo bastante deslumbrado.
"Você nunca esteve em um bordel antes?" Seamus perguntou perplexo. Ele estava com vinte e um anos e sempre se fazia de 'experimentado'. Blaise deu de ombros sem parecer, porém, constrangido por nunca ter ido a um lugar como aquele.
"Estou agora!" Ele sorriu abertamente e abriu os braços. "Então vamos aproveitar!"
Fomos até o bar e Blaise pediu bebida para nós três. Eu peguei a minha e olhei ao redor, mas não vi Pansy; ela deveria aparecer em breve. Blaise e Seamus enveredaram por uma conversa sobre mulheres, decotes e conquistas – aparentemente, Blaise adorava mulheres mais velhas –, mas eu fiquei apenas sentado, observando o ambiente, vendo a maneira como os cortesãos balançavam mais o quadril ao caminhar, ou exalavam uma confiança soberba em sua capacidade de agradar com o corpo.
"Achou alguém do seu interesse?" Alguém sussurrou no meu ouvido e pulei de susto. Andrej sorriu e acomodou-se no banco ao meu lado. "Está pensando no que não deve? Para estar tão ressabiado..." Ele passou o dedo pela minha nuca e riu quando afastei rapidamente sua mão, com o rosto corado.
"Onde está Pansy?" Perguntei, e ele deu de ombros.
"Deve estar lá em cima, mas já deve descer." Andrej pediu um copo de bebida também ao barman e, depois de beber uns goles, olhou para mim mais detidamente. "Você está tentando seduzir Potter, então?"
"Fale baixo!" Rosnei, olhando para o lado, mas Blaise e Seamus pareciam entretidos demais em sua própria conversa. Suspirei e relaxei. "Ele quer me mandar embora de Veneza."
Os olhos de Andrej cresceram pelo susto.
"Por quê?" Perguntou, e detectei aflição em seu tom.
"Para estudar. Ele quer que eu conheça o mundo." Falei com desdém, torcendo o lábio e tomando um gole da bebida. Desceu queimando, mas tentei não demonstrar minha fraqueza para o álcool.
Andrej ficou em silêncio por um momento.
"Ele está certo..." Falou lentamente, e eu o encarei exasperado e irritado por ele concordar com a ideia. "Eu gostaria de ter uma oportunidade dessas também."
"Então vá você no meu lugar." Fiz uma careta emburrada, mas ela desapareceu quando Andrej segurou meu rosto e mirou-me profundamente.
"Vou sentir sua falta." Ele sussurrou com sinceridade. E então se inclinou e tocou meus lábios gentilmente contra os dele. O toque foi tão suave e delicado que eu mal poderia chamá-lo de beijo. Ele se afastou com um sorriso sincero. "Boa sorte em conquistar o seu amor."
Andrej se afastou e foi para o palco, dançar junto com Daphne e Astoria. Os três faziam um ótimo trio, eu descobria apenas agora, depois de quatro anos.
"Impressão minha ou aquele rapaz acabou de te beijar?" Blaise perguntou arrancando-me de meus devaneios.
Eu o ignorei porque vi Pansy se aproximando de onde estávamos. Ela tinha os cabelos negros soltos e o rosto marcado por maquiagem, os lábios rubros, os olhos delineados; seu corpete era apertado e alto, e os braços estavam escondidos por luvas finas e pretas que alcançavam o meio dos braços. Ela era absolutamente linda, e o retrato da autoconfiança e do despudor.
"Por todos os deuses," Ouvi Blaise ofegar ao meu lado. "quem é ela?" Os olhos dele brilharam de admiração e encanto em direção à Pansy. Eu ri disso.
"Draco, meu bem, você veio." Pansy falou assim que parou perto de nós. Mesmo com o salto alto, ela er a mais baixa de nós três, e recordei a época em que eu precisava erguer os olhos para ver-lhe o rosto. Ela acariciou meus cabelos e sorriu. "E trouxe alguns amigos?"
"Essa é Pansy Parkinson, Blaise. É a dona do lugar." Falei.
Blaise imediatamente segurou a mão de Pansy e se inclinou para beijá-la.
"Senhorita Parkinson, é um prazer imenso conhecê-la." Ele garantiu galanteador, erguendo o rosto e sorrindo insinuante. Revirei os olhos, lembrando que Blaise gostava de mulheres mais velhas. Pansy era quatorze anos mais velha do que ele, mas Blaise parecia não ver problema algum.
"E esse é Blaise Zabini, e aquele Seamus Finnigan." Apresentei, vendo os dois se empertigarem rapidamente.
"Aproveitem a noite, senhores. É um prazer tê-los por aqui. Sintam-se em casa e não se acanhem em me procurar caso tenham qualquer dúvida." Pansy declarou, com uma piscadela.
"Farei isso." Disse Blaise. Ele só faltava babar em cima de Pansy.
"Draco, venha comigo, tem algo que quero lhe dar de presente." Pansy falou, enlaçando meu braço e me levando até a saleta atrás das escadas onde ela havia me levado ao me encontrar chorando à sua porta há tanto tempo atrás. "Sente-se." Ela pediu assim que entramos.
Sentei em uma poltrona e observei enquanto ela deslizava as mãos por uma estante de livros perto da lareira. Quando ela encontrou o que queria, pegou o livro e estendeu-o para mim. Olhei o título e ergui uma sobrancelha, desconfiado.
"Ars Amatoria, de Ovídio." Peguei o livro e olhei a capa e contracapa.
"A arte de amar." Pansy traduziu o título que estava em latim. "É um livro maravilhoso, sobre arte da sedução, escrito em versos." Ela riu, divertida. "Talvez um dos motivos por que Ovídio foi banido de Roma pelo imperador Augusto."
Corei um pouco enquanto folheava o livro.
"Sempre mando meus querubins lerem essa joia preciosa." Pansy falou com louvor.
"Eu não sou um de seus querubins." Murmurei. Ela chamava quem trabalhava no bordel de querubins; Pansy tinha uma preocupação bastante maternal com todos eles.
"Mas quer fazer o mesmo que todos eles fazem." Pansy gargalhou ondulando os cabelos como um manto negro e brilhante. Ela pegou minha mão e voltou a me levar de volta ao bordel. "Olhe para eles. Eles sabem o que querem e o que precisam fazer. Digo-lhe, Draco, que confiança é a alma do negócio. Você precisa acredita em si mesmo. Acredite que é belo, charmoso, sedutor e irresistível, e então os outros acreditarão também. Mas nunca os deixe saber que você sabe disso." Ela me olhou e acariciou minha bochecha. "Inocência também combina com você. Aconteça o que acontecer, você não deve deixar que Harry saiba o que você está fazendo. Tudo deve ser propositalmente casual, sutil e despreocupado. Você não percebe sua própria beleza, não repara em seus gestos provocantes, e sequer imagina o efeito que eles causam nos outros. É assim que deve ser, e é assim que você destrói o auto-controle de qualquer um."
"Certo..." Disse duvidoso, segurando com força o livro contra meu peito. "Mas anteontem, as uvas, elas não funcionaram. Harry saiu correndo da sala de estar porque se lembrou de um compromisso urgente e-"
Parei ao ouvir a risada de Pansy.
"Draco, isso é ótimo! É claro que funcionou! Ele correu porque ficou excitado!"
"O quê?" Meus olhos se arregalaram e meu rosto queimou com a possibilidade. Meu coração começou a bater como se Harry estivesse naquele momento na minha frente, excitado por minha causa.
Pansy balançou a cabeça, com um olhar que me chamava de ingênuo e inocente. Fiz uma careta consternada.
"Venha, querido, temos muito que conversar."

Era uma vez em veneza Where stories live. Discover now