Capitulo 1 - Invasão

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O sol quente continuava vivo mesmo no final do dia, mesmo aquela brisa refrescante não trazia muito alivio no calor infernal. A noite era minha hora preferida, pois sempre fazia calor aonde eu morava. Nada me dava mais prazer do que dizer adeus para aquela bola de fogo gigantesca.

"Acho que amanhã vai chover." Meu irmão diz ao meu lado, levando a lata de cerveja a boca.

"Ótimo!"

"Não, não é ótimo." Seus olhos tão escuros encontram os meus. "Odeio fazer entrega na chuva. Essa gente adora pedir comida quando está chovendo. Até parece que eles não se importam com motoboys."

Solto uma risada. "Ninguém se importa com motoboys."

Ele finge surpresa. "Nem minha própria irmã? Céus, que homem sofredor eu sou!"

Roubo a lata de sua mão, dando um gole no liquido, agora morno. Tinha um gosto forte, não era uma das minhas bebidas favoritas, mas eu não odiava. "Você não vai trabalhar mais tarde? Por que está bebendo?"

"Uma lata de cerveja não vai me deixar bêbado."

"Irresponsável."

"Como se eu fosse um exemplo a ser seguido!"

"Você é meu irmão!"

"Isso eu não sei, sou muito mais bonito que você."

Ele ri e eu reviro os olhos. Caio era meu irmão, meio irmão. Nós tínhamos pais diferentes. Caio era diferente de mim, sua pele era mais escura, seus cachos mais finos, ele era mais alto e atlético que eu. Entretanto, se você olhasse bem de perto, podia ver aquelas sardas em seu rosto negro. As sardas que maquiagem nenhuma conseguia esconder. As sardas que cobriam o corpo de qualquer um que compartilhasse os genes de minha mãe.

Caio tinha sorte, sua pele escura disfarçava as manchas, já eu não tinha tanta sorte. E minha mãe menos ainda. A mulher era tão pálida que qualquer contato com o sol somente piorava as sardas.

E falando no diabo, ela aparece. Baixinha, menor que eu, porem com um olhar penetrante que a dava a cara de alguém desequilibrado. Sua barriga já protuberante, mostrando o terceiro mês de vida do meu novo irmão. O olhar cansado da mulher me observa.

"Margarida, vá buscar a neném na escola."

"Okay? Você ta legal?"

"Nem um pouco." Ela se aproxima de nós dois, roubando a lata da mão de Caio. "Os enjoos estão me matando."

Ela dá um gole na cerveja, fazendo o queixo de Caio cair.

"Mulher você perdeu a cabeça?" Ele toma a lata da mão dela.

"Ah, relaxa Caio." Ela dá um tapa no ombro dele. "Olha o quanto eu bebi na gravidez de sua irmã e olha para ela. Um gênio!

Caio faz alguma piada, e a mãe ri. Eu somente respiro fundo, focando no quintal do vizinho. No pequeno cão dormindo na grama tão mais verde que a nossa. Que inveja.

Eu era a primeira da família a fazer faculdade. Aquilo criava expectativas enormes em cima de mim. Eu sabia que ter um diploma era o mesmo que aprender letra cursiva hoje em dia, ainda assim eu me comprometi com aquilo.

Não que eu estava sendo totalmente forçada (sim eu estava), mas eu tive algumas opções e psicologia era a única coisa que me despertou interesse. Entretanto, ver minha mãe e meu irmão trabalhando tão duro para suster aquela vida com míseros luxos fazia eu me sentir uma completa inútil.

"Margarida? MARGARIDA!" A mulher olha para mim, preocupada por um momento.

"Sim?! Quer algo do mercado?"

Romance AlienígenaWhere stories live. Discover now