Seguir a luz

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Seu primeiro pensamento o leva a acreditar que não há outro lugar no mundo em que queira estar.

Saber que está ali, que toda a árdua produção o levara àquele momento, é algo impensável.

Mas ele pensa, porque está destinado a isto.

É um calor inumano, puro, natural.

Estar ali é como flutuar no infinito, mantendo a sensação única de leveza e perfeição.

Divino.

Mas então vem aquele sentimento de mundo.

Ele sente a angústia, a dor, a indiferença, o medo, e, às vezes, a morte.

Mas também sente o contentamento descontente, o sentimento inexplicável que só ela conhece, a sensação de ser o ser mais importante do mundo para alguém.

Ele é capaz de sentir tudo, até os mais secretos ânimos.

E, então, vem a tão esperada evolução.

Alguns chamam de milagre, outros perpetuação.

A verdade é que ele quer estar ali para sempre, não importa como o chamem.

Ele se apega ao toque úmido e, aos poucos, sem perceber, começa a entender que aquele toque é o poder.

Ele ouve aquele som.

É um som que não agrada a todos e, talvez, só vá agradar a ele, mas ainda assim acha que é o som mais maravilhoso que poderia existir.

Existem outros sons, mas nenhum soa como aquele.

É como se estivesse dentro de sua própria mente.

Quase como se fosse feito para acalmá-lo.

Ah, se ele pudesse sorrir agora!

Incontáveis segundos se passam, mas ele nunca os conta até que percebe que algo está mudando.

Uma necessidade incontrolável de se mover, o que vai além do impulso nas paredes quentes, tão familiares, que o cercam.

Em pouco tempo, ele se move tanto que custa a perceber a angústia que ela sente.

Ele não quer que ela sofra.

Tampouco quer que as coisas mudem.

Mas elas mudam, e de repente, a escuridão firme e segura desaparece, dando espaço ao brilho assustador do fim do túnel.

Não, ninguém jamais quer seguir a luz no fim do túnel.

Mas segue assim mesmo, porque isto faz parte de algo que nem mesmo ele, em toda a sua pureza e perfeição, pode compreender.

Mais do que o frio que vem com a luz, ele sente a enorme vontade de se agarrar a alguma coisa.

E faria qualquer coisa para ficar.

Mas eles cortam seus laços físicos e tudo o que ele consegue fazer é gritar, com todas as suas forças.

E se apegar à tênue escuridão que seus olhos ainda lhe permitem desfrutar.

Ele não precisa ver para saber que um novo e, ao mesmo tempo, familiar, toque encontra seus sentidos.

De uma forma diferente, ele sente a calma voltar.

Não é perfeita, pois agora aquele sentimento de mundo desapareceu, restando apenas o seu próprio.

Mas ele ainda sente aquele amor, que brota da sua respiração.

Ele nem mesmo sabe como se chama aquilo que, no futuro, ele tanto vai amar, mas já sabe o que é um sorriso, mesmo de olhos fechados.

Ainda sente a falta daquele calor de antes, mas o novo é melhor do que nenhum.

Ele descobre alguns detalhes a respeito de sua nova vida, mas nada importa, desde que possa sentir aquele calor.

Não existe a lei do desapego onde ele está agora.

E não existirá, por um bom tempo, se ela puder evitar.

E, por mais estranho que possa parecer, ele descobrirá, em breve, que para ela, não só o seu sorriso, mas também o som que ele pode emitir, será o mais importante de todo o universo.

No fundo, ela também sabe que nunca ninguém se sentiu tão bem com o som da sua voz.

Mas ela vai sofrer.

Às vezes sozinha.

Às vezes com ele.

E tudo porque, para ela, o desapego jamais irá chegar.

Não quando isso significar desapegar-se de algo ligado a ele, seu pedacinho de céu.

E este é o sentimento de alguém que nunca foi mãe.

Como poderia saber?

É o sentimento de alguém que é filho e, inevitavelmente, viveu tudo isto.

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⏰ Última atualização: Mar 09, 2015 ⏰

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