A separação

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Não era novidade para ninguém, nem para a Magali – nossa velha, lenta e fiel jabuti -, que meu casamento já era. As constantes traições do Beto, agora aliadas à sua falta de capacidade de trazer dinheiro para casa, fez com que nosso tesão sumisse num movimento calmo, constante, como o andar da Magali. A cada passo da tartaruga pela sala, uma chama de brasa ia apagando dentro de mim. Meus desejos por outros homens havia sido intenso por anos, mas naquele momento, de noites em claro, entre pensamentos e desilusões, até o tesão pelo Carlinhos – o psicólogo novo da clínica – minguou.

Algumas conversas com Beto, sempre com minha iniciativa, lógico, sobre nosso mau casamento e a possível separação, apareceriam. Beto, de início brincava com o tema, como uma criança mimada, mas, aos poucos, foi vendo que o assunto era sério e precisava tomar mais atenção nas minhas reclamações. Bom, não preciso ir muito longe, vocês todas já podem imaginar no que deu: depois da décima oitava namorada escondida do Beto e três meses de condomínio atrasado, fora a escola que já não sabia mais com arranjar desculpas pela falta de pagamento, coloquei o marmanjo mimado para fora de casa. Até aí foi fácil: uma boa conversa com o as crianças, um telefonema para minha mãe e o papo com a Dolores – nossa empregada há anos.

- Não precisa me explicar nada, dona Suzi. Pela sua cara, o jeito que o seu Beto saiu e como estava esta casa, sei que separaram. Pode contar comigo, para o que der e vier. Caso a senhora me queira ainda, lógico!

Abracei a pernambucana, de dez anos conosco, dei um beijo naquela cara que parecia um pirulito de chocolate e acenei que sim. Sim, queria e precisava contar com ela. Um sopro de angústia passou por detrás da minha orelha esquerda, perguntado como pagaria ela, já que o desgraçado do incompetente do Beto, possivelmente, não iria pagar pensão alguma.

PRIMEIRO ERRO

Responsável desde criança, não iria cair nas baladas e deixar as contas de casa e as crianças ao largo. Não, isso não! Me tranquei no quarto, todas as noites, acompanhada, ora pelos livros da pós-graduação, ora pelas insistentes visitas das crianças pela noite. As mensagens das descasadas amigas bombardeavam meu Iphone. "Não amiga, hoje não estou com dor de cabeça. Não amiga, hoje não, preciso ajudar a Simone com matemática". Tudo mentira, não queria era sair mesmo. A desculpa para elas era tão esfarrapada quanto as que dava para mim. Dica, amigas leitoras, nunca deixe um bofe passar na sua frente sem agarra-lo, mesmo que seja no primeiro dia de separação e que seu bafo delate sua cara de recém descasada. Ponha qualquer bala de menta na boca e beije o gajo. 

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⏰ Last updated: Oct 30, 2018 ⏰

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SEPAREI, E AGORA?Where stories live. Discover now