Capítulo 1

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Eram nove horas da noite quando o som do piano vindo da casa ao lado começou a ser tocado suavemente, ecoando por meu pequeno e tanto bagunçado quarto, por causa da janela aberta.

Fechei meus olhos lentamente, desfrutando da bela melodia que instalava-se ao redor e parecia anestesiar meu corpo aos poucos.

Eu não conhecia o novo morador da casa 409, mas seja lá quem fosse, um fato era simplesmente inegável sobre ele: seu talento com a música.

Meu vizinho certamente deveria ser apaixonado pelo que fazia. E eu era apaixonada por isso.

Só não compreendia porque ao invés de mostrar tal maravilha ao mundo, ele apenas desfrutasse dessa benção consigo mesmo, às escondidas.

Recordava-me da primeira vez que escutei o piano. Eu estava saindo de casa às escondidas, quando fui abri a janela e a calma melodia me pegou.

A partir disso, comecei a ouvi-lo mais e mais, sempre que a oportunidade surgia.

Era mágico. O jeito como ele era tão claro em suas melodias. E era fácil saber como estava se sentindo. O que ele desejava transmitir.

Quando estava muito triste, tocava músicas lentas e melancólicas. Fáceis de se memorizar e sem muita prática. Quando estava feliz, toda a lentidão virava uma habilidade indescritível e ele acelerava seus movimentos, dedos transpassando pelo teclado com uma precisão sem igual. Eu pedia o ar só de ouvir. E arrepiava todo meu corpo.

— Mas hoje você está triste — falei, notando a melodia parar na metade.

Meu vizinho nunca fazia isso. Parar seu piano tão bruscamente assim no mínimo, esquisito. Então por que tão de repente?

Levantando da cama, caminhei até a janela. A brisa gelada invadiu meu rosto e tremi um pouco, pondo as mãos em volta do meu corpo.

— O que está havendo? Você por acaso foi dormir? — perguntei para mim mesma, confusa. Sua janela estava aberta, mas as luzes do quarto completamente alagadas.

Entediada, passei alguns minutos em frente à janela. Queria ter certeza que não ia mais tocar.

E já estava quase desistindo e indo para cama, quando uma sombra surgiu no escuro. Era um garoto.

Caminhando distraído até a janela, na sua mão esquerda havia uma garrafa de sono pela metade.

Ele está bem, Amélia. Vá dormir.

Apesar de murmurado tais palavras mentalmente, não moço meu corpo. Na verdade, continua ali, como uma estátua, observando-o.

Fechando um pouco meus olhos para ser capaz de enxergar melhor aquela escuridão, percebi quando apoiou o soju no piano. Então me surpreendi.

— Ele não vai... — comecei a dizer, enquanto o garoto levantava sua camiseta e arrancava-a do corpo, jogando-a em algum local não visto por mim. — É, ele estava.

Seu corpo era bonito e fiquei espantada ao vê-lo sem camisa. Entretanto, aquele frio na barriga, qual deveria sumir minutos depois, apenas aumentou quanto seus olhos cruzaram-se com os meus enquanto o pianista caçava algo ao redor da sala.

Quis fugir, mas não o fiz.

E ele caminhou até a janela, ficando alguns segundos parado, me olhando.

Imaginei que fosse questão de segundos até ele me dar um sinal de desprezo e fechar a janela, para nunca mais nos vermos. Para minha surpresa. mas o pianista sorriu.

Mas quem em plena consciência sorria para uma estranha?

— Ele está sendo simpático? — eu perguntei, perto da janela, assim como ele.

Os lábios alegres eram encantadores e os castanhos, intensos. Soou como uma provocação, mas sorri de volta, querendo agir como uma pessoa simpática. Então ele piscou.

— Definitivamente, eu podia ter dormido sem essa — falei ao me afastar da janela, envergonhada.

Que tipo de personalidade era essa?

E principalmente, quem era ele?

Touch for me ❄ Choi YoungjaeWhere stories live. Discover now