A escala subsequente Capítulo 1-

Onde tudo começa

Abro a janela, pulo-a, logo em seguida já pego a comida e jogo para os cachorros, a escala subsequente de uma rotina, os mesmos latidos altos e o vizinho aparando a grama, ah, maldito vizinho.
     O sol começa a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa enquanto eu me preparo para o próximo capítulo da minha noite. Observo os carros passando lá embaixo, as luzes começando a se acender nas casas ao redor. É engraçado como, mesmo em meio à repetição dos dias, pequenos detalhes como esse podem trazer um senso de familiaridade. Suspiro, fechando a janela e voltando para dentro, pronta para enfrentar mais uma noite que parece se desenrolar exatamente como a anterior.    
O silêncio nunca foi um medo, ah nele algum conforto, me viro para a luz da lua, perdida em meus pensamentos, quando vejo o horário, já são 23:00 e eu ainda não me organizei para outro dia (procrastinação).

  Rapidamente abro os olhos, meio confusa, já era outro dia, como de costume, vou ao banheiro tirar a água dos joelhos, limpo meu rosto, e começo meu "ritual" fútil para tentar me sentir melhor comigo mesma, faço meu café e me preparo para a aula, a van já chegou, hora de partir.        
  Enquanto a van me leva para mais um dia de rotina, observo as ruas passando pela janela, cada esquina familiar, os mesmos rostos indo para o trabalho, estudantes a caminho da escola. A sensação de que estou presa em um ciclo interminável começa a pesar em mim. As palavras dos professores na aula se misturam com meus pensamentos, e eu luto para me manter focada.

Ao longo do dia, a monotonia persiste. As conversas são repetitivas, as tarefas se assemelham umas às outras, e parece que estou navegando em águas paradas. A luz do sol invade a sala de aula, lembrando-me de que o mundo lá fora continua em movimento, enquanto eu me sinto estagnada. E quando percebo..
-Marie, Marie, você está bem?
Eu fiz de novo, fiquei presa em minhas ideias, focada, parada que preocupei as pessoas que estão a minha volta. A ansiedade fica maior, fico ofegante, e gaguejando digo
sim, só estava pensando em algo
Eu realmente queria contar o que penso, mas, como falar de um jeito que eu não pareça uma idiota?

Logo, volto para minha rotina, paço pela cantina, a troca de olhares com uma pessoa que não ligo é extensa,
mas porque  ele está me olhando todos os dias?
Penso para mim mesma, pois, a quem mais contaria?
Eu não consigo me misturar direito, por mais que tente parecer feliz e alegre, uma hora a máscara cai e canso de fingir ser alguém que não sou para agradar os outros. Eu poderia escrever ou até mesmo dizer que não me importo com a opinião dos outros e sou auto suficiente, mas na verdade não, eu tento aparentar isso, mas lá no fundo eu sei que eu me importo com os elogios ou críticas, e quem disser algum dia que não se importa estará mentindo.

Volto para a casa, me deparo comigo mesma sorrindo para meu melhor amigo, meu gato chamado Anúbis, ronronando e se esfregando no meio de minhas pernas, deitando no meu colo, e percebo que ele provavelmente seria a única entidade viva que não me julgaria e que me ama incondicionalmente, enquanto compartilhamos momentos de tranquilidade juntos.
Seu peludo e macio corpo é um constante lembrete de que, mesmo nos momentos mais difíceis, há sempre um refúgio de aceitação e carinho. As noites passadas com Anúbis envolto em meus braços trazem um conforto silencioso, como se nossas almas estivessem sintonizadas em uma harmonia única. Ele não se importa com as imperfeições que eu vejo em mim mesma, apenas deseja estar perto, trocando afeto e construindo um vínculo inquebrável. Cada ronronar parece um eco suave de que, independentemente das voltas que a vida possa tomar, nossa amizade permanecerá constante, um farol de luz em meio à escuridão. Anúbis, meu fiel companheiro, continua a ser meu porto seguro, onde posso ser verdadeiramente eu mesma sem medo de julgamento. Finalmente algo que eu me sinta bem.