Capítulo 4

110 17 112
                                    

Abri meus olhos como se apenas tivesse piscado, mas agora estava em meu quarto e já era noite novamente.

Levantei agitada e a empregada, que estava entrando com uma bandeja, derrubou o metal no chão assustada. Ela arregalou os olhos quando me viu e não percebeu que eu já tinha notado sua presença.

— Preciso avisar a todos — ela saiu sussurrando para si.

Franzi o cenho. Aquela era uma reação um tanto quanto inesperada.

— Poderia ter morrido, Helene — a voz furiosa de Kardama chamou minha atenção para o canto mal iluminado perto da janela.

— Kardama, você ainda está aqui.

— É claro que sim. Onde mais eu estaria?! — seu tom de voz irritado não recuou por sequer um segundo.

— Por quanto tempo dormi? — Preferi ignorar sua raiva.

— Cinco dias, o que é pouco tempo considerando a escala de energia que você gastou. Isso significa que está ficando mais forte.

— Isso é bom — minha voz soou como um suspiro e apoiei meu corpo na cabeceira.

— Não, Helene. Por cinco dias não sabíamos se você acordaria — ele continuou irritado.

— Todos teriam morrido se eu não fizesse nada. — Revirei meus olhos.

— Eles também teriam morrido se você tivesse feito algo e estivesse morta agora.

— Porque você... — Minha acusação foi interrompida pela entrada de Nair no quarto.

Ela estava agitada e sequer bateu na porta antes de correr para me abraçar. Continuei encarando o rei sombrio com os olhos estreitos.

— Você está viva, filha — minha mãe disse sem desatar o nó de seu abraço apertado enquanto chorava inconsolável.

Minha raiva do rei sombrio dissipou rapidamente e foi substituída por um aperto no peito ao perceber o quanto aqueles dias deveriam ter sido difíceis para mamãe.

Aos poucos retribui ao abraço, então mergulhei minha cabeça em seu ombro como já não fazia desde quando era uma criança e comecei a chorar também.

— Eu sinto muito.

— Eu estava explicando para a sua filha que ela não deveria arriscar a própria vida nesse momento — Kardama disse com um tom de voz manso que nunca tinha usado antes.

Aquele...

— Isso é verdade, Helene — Nair se afastou para concordar enquanto limpava o rosto das lágrimas.

— Todos morreriam, mãe!

— Se você morresse, todos morreriam de qualquer forma, porque não teriam uma salvadora para quando a profecia se cumprisse — o rei sombrio continuou dissimulado.

Inclinei meu rosto para encará-lo com raiva e vi o sorriso de canto ladino que ele tentou esconder.

— Ele está certo, Helene. Não vale a pena se arriscar nesse momento.

Respirei fundo.

— Eu agradeço pela preocupação de vocês, mas se os argians morrerem, eu não vou ter o que proteger quando a profecia se cumprir — expliquei para mamãe.

— Os itzans, nossos filhos, seus pais, a si mesma... — Kardama começou a fazer uma lista enquanto levantava um dedo de cada vez.

— Kardama... — bufei, então balancei a cabeça para afastar minha raiva. — Não temos filhos.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora