Capítulo 3

105 15 36
                                    

De repente, eu estava nas ruínas de Seith, uma aldeia próxima a um vulcão extinto que outrora entrou em erupção e destruiu tudo. Agora, restavam apenas pedras para mostrar a história distante.

Eu conhecia aquele local. Durante a guerra, já havia cruzado aquele território antes, mas sabia que não ficava sequer um pouco perto de Aruna. Então, também tive a certeza de que não estava acordada. Outro sonho lúcido.

Olhei em volta para procurar minha projeção subconsciente do rei das sombras, mas estava sozinha naquela paisagem cinzenta de um dia nublado. Cinzas caíam do céu como pequenos flocos de neve, sem sequer rastro de onde vinham.

De certa forma, estar completamente sozinha era um alívio. Eu não precisava continuar fingindo ser forte ou que sabia o que estava fazendo.

Inspirei a maior quantidade de ar que consegui, então gritei profundamente, desabafando tudo o que estava guardado antes de começar a chorar.

Meu pai não estava ao meu lado, tal como Kardama. Eu sentia que era incapaz de governar sozinha, indo contra tudo para o que me preparei por toda a vida.

— Até seus sonhos precisam ser tão dramáticos? — Kardama perguntou de repente, olhando em volta.

Kardama, não. A versão dele que meu subconsciente criou.

— Você poderia ser um pouco mais carinhoso e compreensivo do que o Kardama verdadeiro — reclamei irritada, ignorando a inundação de lágrimas que escorriam em meu rosto.

Ele riu.

— Mais carinhoso e compreensivo do que o verdadeiro Kardama? Não acho que seja possível — a projeção do rei disse com sarcasmo, então voltou à seriedade. — Por que está chorando aqui?

— Pareceu uma boa oportunidade, já que eu estou completamente sozinha.

Kardama suspirou.

— Não. Eu quero saber o motivo do choro, Helene.

— Os magos responsáveis pelo escudo do castelo descobriram que ele foi enfraquecido pelo interior, com magia negra. Isso quer dizer que temos um traidor. E isso me fez descobrir que eu não sou a governante que todos pensam. Não sei o que fazer. Tenho baseado todas as minhas decisões em pensar no que meu pai faria no meu lugar, mas nunca o vi lidar com nada sequer parecido e estou perdida — comecei a resmungar, andando de um lado para o outro. — Mas você já deveria saber disso, porque é uma versão criada pela minha...

Parei de falar e arregalei meus olhos. Então encarei o rei sombrio, que agora estava com um sorriso astuto estampado em seu rosto.

— Quando ia me contar que está invadindo meus sonhos? — perguntei com raiva.

— Eu não ia — ele deu de ombros.

Antes que eu pudesse começar a reclamar, ele emendou.

— Por que não escreveu para contar sobre o traidor?

Encolhi meus ombros e olhei em volta.

— Não quero que você deixe Senka sem um rei para vir me ajudar. Eu deveria saber o que fazer.

Seu sorriso agora era malicioso.

— Parece que o tempo distante já a fez esquecer que eu não ajudo se você não implorar e tiver uma ótima recompensa em mente, princesa.

Abri um sorriso genuíno.

— Pensei que isso tinha ficado no passado, invasor de sonhos.

— Eu posso perdoar seu engano.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Where stories live. Discover now