HELLISH • jjk x pjm

De vantepeach

123K 15.3K 22.7K

Park Jimin, um rebelde sem causa cansado de viver na aba dos pais endinheirados e na mesmice de sempre, decid... Mais

Avisos
|01| whisky roubado e bala de menta
|02| sinal de confiança
|03| em seus lençóis
|04| seus olhos dizem
[05] revelações, calmantes e garrafas de Baileys
[06] banho de milkshake e blusão do itachi
[08] crepúsculo x deadpool
[09] vulnerável
[10] coloque suas mãos em mim
[11] efêmero
[12] campânulas para você
[13] na arte e na vida
[14] mercúrio retrógrado que se dane
[15] leva um trevinho!
[16] seja o meu erro
[17] nossa paixão é lilás
[18] rosa é a cor mais bonita
[19] no topo do mundo
[20] não vá embora
[21] cabelos descoloridos e prédios abandonados
[22] desejo e reparação
[23] corra por mim
[24] meu coração ama amar o seu

[07] encontramos amor num lugar sem esperança

4.2K 691 1K
De vantepeach

Eu acho que, quando aceitei jantar com esse bando de marmanjo acreditando que me sentiria deslocado, não cogitei que talvez conhecesse apenas a pontinha do iceberg de suas personalidades.

Acontece que, agora, enchendo a cara de soju e bibimbap feito na hora, observo Namjoon levemente alterado rindo feito um verdadeiro idiota para Yoongi, que está completamente bêbado. Os dois já fizeram as piores piadas possíveis, já riram de absolutamente tudo e isso me deixa completamente confortável.

Eu me sinto bem com pessoas dissimuladas.

Jungkook continua com sua postura séria, o que é engraçado considerando o fato de sua camiseta estampar um personagem de Naruto, e eu juro que só queria que esse homem saísse desse estado tão costumeiro por alguns minutos.

Gostaria de saber como é vê-lo se divertindo, rindo alto, gargalhando à ponto de se jogar no banco e deixar a cabeça inclinar para trás, completamente tomado pela diversão. Gostaria de vê-lo dançando e escorregando de meia pelo piso liso do apartamento, ou quem sabe até usando o controle remoto de microfone num karaokê improvisado.

Por que eu gostaria de presenciar todas essas coisas?

Nem eu sei, para ser sincero.

E eu já avisei como Yoongi se encontra bêbado? Sério, esse cara é uma figura. Meu chefe é realmente um baixinho desgramado de foda.

A forma como Namjoon o encara todo sem jeito como se ele fosse seu mundo também me deixa meio desconcertado, porque bem, acho que ele realmente é e eu jamais terei isso sendo como sou.

Quem aguentaria tanto tempo com o garoto problema? Mas sério, tudo bem, esse tipo de assunto costumava me abalar muito mais. Agora só aceito que sou melhor trepando e esquecendo do que me apaixonando porque jamais seria recíproco.

E aí, entorpecido por esse sentimento autodepreciativo que em momento algum desejei cultivar, estico minha mão até a última latinha de cerveja na mesa, mas sinto o desprazer de participar de uma daquelas cenas apelativas de filmes melosos onde os personagens principais encostam a pontinha dos dedos sem querer, no mesmo lugar e no momento exato. É ridículo.

Porque essa não é uma história romântica.

E a mão que acaba esbarrando na minha é a de Jungkook, o cara mais distante possível.

Quando observa tal cena, ele avisa: — Nem vem, a última é minha!

E eu, birrento feito uma criança, não demoro a rebater:

— Ah, qual é? Eu trabalhei o dia todo feito um camelo! Não acha que mereço?

— Mas que miséria é essa? Peça outra, Joon-ah! — É Yoongi quem pede, mole e sonolento, sorrindo sozinho enquanto tenta fazer um sinal desajeitado para o garçom. — Vamos encher o bucho do Jungkook de cerveja barata porque ele é rico e não conhece o lado bom da vida e de Jimin porque agora ele é um trabalhador.

— Trabalhador tatuado. — Acrescento, sorrindo.

— Tatuado. Muito trabalhador mesmo.

— O maior trabalhador que vocês já viram. — Digo, tão leve e confortável nesse ambiente totalmente novo que sinto meu corpo relaxando gradativamente em segundos. Enquanto isso, Namjoon apoia os cotovelos na mesa e repousa o rosto nas mãos, nos encarando com um sorriso sereno como se estivesse se divertindo verdadeiramente com nossa embriaguez e empolgação exagerada.

Em resposta à isso, sentindo meu coração todo acelerado por essa recepção calorosa e inesperada, resolvo procurar pela figura de Jungkook bem rápido, só para ter certeza de que ele está numa boa com minha presença aqui, mas meu coração dá um solavanco completamente incompreendido quando me deparo com seus olhos redondos e brilhantes já direcionados à mim.

Ele se assusta também, então pigarreamos juntos e disfarçamos esse momento aleatório e vergonhoso enquanto Namjoon e Yoongi deixam sorrisos cheios de segundas intenções escaparem.

— Garçom? — Yoongi chama um pouco alto, fazendo algumas pessoas nos encararem enquanto seu namorado finge não conhece-lo.

A dinâmica desse casal me deixa meio bobo, confesso.

Um completamente dissimulado, baixinho nervoso, às vezes é doce mas não assume. O outro, do tamanho de uma geladeira, mais sério e centrado, mas quando quer se derrete todo encarando seu mundo. Olhando assim, infelizmente, parece até duas pessoas que eu conheço...

Evito pensar muito nisso, ouvindo Yoongi pedir mais duas latas de cerveja ao garçom com a voz toda embargada, mas percebo que por algum motivo desconhecido Jeon se comunica silenciosamente com Namjoon. Meio surpreso, ele gesticula mostrando para o próprio celular com o visor iluminado, em seguida ouço o mais velho dizer:

— Eu não acredito!

— No que, meu amor? — Com a voz engraçada e agitada, meu chefe levanta o questionamento ao namorado, se apoiando todo no corpo alheio.

Entretanto, nesse meio tempo, quem responde é Jungkook, quando desliza a mão grande pelo cabelo e o puxa para trás tortuosamente, dizendo:

— Ele está voltando.

Como sou curioso e não estou entendendo nada, sussurro confuso: — Ele?

Mas é Yoongi quem apressa essa resposta quando grita:

— Ele quem, caralho?

— Taehyung. Taehyung está voltando de viagem. Literalmente voltando. Está vindo pra cá agorinha mesmo, disse que está morrendo de saudades.

Oh, lembro-me desse nome...

Certo! O amigo de Jungkook. Talvez ele tenha falado uma ou duas frases sobre o garoto algum dia desses, mas não foi algo que realmente me importei.

Agora, quase fazendo parte desse grupo meio inusitado de amigos, sinto-me curioso e animado para saber mais sobre o tal Taehyung.

Óbvio que o pensamento que martela minha cabeça é: será que ele é gato?

Porque bem, todos sabem que sou um pouco sem vergonha e que dar uns amassos não mata ninguém. Carne nova no pedaço e eu já estou assim, todo especulador tentando encarar a foto do garoto no aplicativo de mensagens no celular de Jungkook.

Ele percebe, óbvio, sempre tão atento à tudo.

— Que foi, hein? O que você quer ver aqui? — Diz meio bruto, impaciente.

— Esse seu amigo, por acaso ele...

— Nem vem, Park!

— Qual é? Só quero saber se ele é solteiro, fica com homens e é bonito. — Disparo de uma vez e sou agraciado com a risada gostosa de Namjoon, que responde por Jeon:

— Solteiro, provavelmente pansexual e gato. Tipo, muito gato mesmo, entende? Taehyung possui uma beleza descomunal.

Não sei por qual motivo Jungkook começa a se remexer desconfortável nesse maldito banco, mas logo recolhe o celular até escondê-lo no bolso dianteiro, emburrado. Uma atitude atípica, devo dizer, mas não me intriga muito porque sinceramente não estou interessado nele no momento. Meu alvo é outro.

Acabo sorrindo, droga, sou um filho da mãe mesmo.

Só que para cortar o meu barato e insistir no assunto, Jungkook junta toda uma marra e diz:

— Como se ele fosse se interessar por você.

O choque ao ouvir isso é grande. Não por ser algo ofensivo, afinal eu e Jeon amamos nos bicar o tempo todo, e sim porque é totalmente aleatório. Digo, por que diabos esse cara que costuma ser tão centrado está demonstrando essa manha e birra do nada?

— Eu me interessaria pelo Jimin. — Para piorar a situação esquisita, é Namjoon quem responde.

E como finalização da sessão "vamos envergonhar Park Jimin do nada", Yoongi completa:

— Eu também.

Certo. Temos quatro pessoas nessa mesa. Dois namorados se interessam por mim. A terceira pessoa quase trepou comigo. Podemos juntar todo mundo num apartamento e ver o que acontece.

Brincadeira, juro.

Todo o respeito pelo casal — mesmo sabendo que dei em cima de Kim Namjoon descaradamente quando o conheci. Acontece, né?

Nenhum respeito por Jungkook. Pouco me importa sua existência. Birrento do caramba.

Dou uma longa golada na cerveja trincando, respondendo como bom sem vergonha que sou:

— Já que todos se interessam por mim, que tal se marcamos uma surub...— Sou interrompido por um empurrão certeiro de Jungkook, então observo os dois à nossa frente segurando o riso e respondo chateado: — Que foi, caralho?

— Quem foi que disse que eu me interesso por você?

Toda a sua pose é quebrada drasticamente quando Kim responde de prontidão:

— É meio óbvio.

Não tenho tempo para ponderar sobre essa informação, afinal uma quinta voz se faz presente, tão grave e gostosa de ouvir que me assusto:

— O que é meio óbvio?

Quando me viro para trás, dou de cara com um dos homens mais bonitos que já vi em toda a minha vida.

E então, para sanar minha dúvida, Yoongi se levanta atrapalhado e o abraça, gritando para todo o restaurante: — Taehyung!

Oh, então é ele o famoso.

E nossa, o quão sortuda é a pessoa que beija essa boca?

Deus, só tenho um pedido...

Tudo bem que desde que pisei em Seul fiz pedidos demais a uma entidade divina que nem sei se acredito, mas sério, dessa vez eu juro que é o último pedido.

Eu nunca te pedi nada (disse o que pediu inúmeros milagres desde que botou os pés aqui).

— Céus, Yoongi-ssi! Já está bêbado? — Certo, agora, além de tudo, constato o óbvio: Taehyung é uma pessoa extremamente simpática e gentil. — E você, Joon? Tudo bem? Eu acabei de deixar minhas coisas em casa e ia aproveitar para descansar mas queria muito ver vocês. Jungkook, vem cá! Quero te dar um abraço e... Oh! — E esse é o momento em que nossos olhos se encontram, eu forço uma pose de galã e o ouço dizer: — Você eu não conheço!

Uma surra de simpatia bem na cara de Jeon Jungkook. Espero que ele aprenda.

Atrevido como gosto de ser, não perco a oportunidade:

— Park Jimin, vinte e três anos e novo morador do apartamento do seu amigo aqui.

— Do Jungkook? Você é algum amigo dele que eu não conheço?

Sério e concentrado, respondo: — Na verdade ele é meu papai de açúcar...

Jeon imediatamente tapa minha boca, atordoado como em todos os momentos em que faço essa brincadeira, me fazendo rir contra sua palma quente enquanto todos os outros meninos riem também. E aí, para provoca-lo ainda mais — esse é realmente meu novo hobby favorito —, atrevo-me a mordiscar seus dedos tão próximos dos meus lábios, ouvindo:

— Ai, filho da puta! — Ao puxar sua mão com rapidez para checar se deixei rastros da mordida e provavelmente porque doeu, Jeon me encara incrédulo e eu faço cara de piedade, afinal amo desnortear esse homem.

— Vou dizer uma coisa, seja lá o que você for desse aí, já gostei de você. — Taehyung faz essa recepção calorosa enquanto se senta ao meu lado no banco, todo cheio de uma intimidade que não temos, mas que também não me incomoda.

— Também sou funcionário da sorveteria do Yoongi.

— Sério?

— Sim. E sou tatuado. — Ressalto, sempre bom lembrar. — Um trabalhador tatuado.

É assim que a gente se sente quando consegue o primeiro emprego? Quero dizer para deus e o mundo que finalmente possuo uma obrigação, e que desejo crescer aos poucos através dela. Acrescentar que sou tatuado é só um charme, vai que rola, né...

Só que Jeon ama me desanimar, por isso diz quase à ponto de revirar os olhos:

— Ninguém quer saber disso, Park.

— Sério? Você parecia bem interessado quando me tatuou, Jungkook-ah. — Touché, meus amigos. O bonitão quase se engasga quando Taehyung levanta as sobrancelhas, deixa um sorriso de canto cheio de malícia se abrir e pergunta:

— Jungkook tatuou você?

— Oh, sim, quer ver?

A cara que Jungkook faz nesse momento é impagável. Ele é o único ser humano que me viu seminu após essa gracinha que ele chama de tatuagem, então de duas uma:

Ou ele está com ciúmes desse posto, ou ele só quer implicar mesmo.

O que é mais válido, afinal não teria motivo algum para Jeon sentir justamente ciúmes ou algo do tipo.

Sorridente, Taehyung responde: — Eu adoraria.

E é nesse momento que Yoongi deita o rosto nas mãos apoiadas nas mesas, nos encarando com uma espécie de carinha maléfica enquanto seu namorado ao lado faz o mesmo. Acho que eles estão gostando dessa nova novela mexicana que criei, então me aproveito disso porque gosto de chamar atenção.

— Quer ir ao banheiro comigo? É que sabe, eu teria que tirar a camisa para te mostrar...

Bingo!

Jungkook suspira alto, irritado, e isso me causa cento e cinquenta sensações deliciosas ao mesmo tempo. Vê-lo bravinho dessa forma é o que me mantém vivo no momento, juro.

— Taehyung, não caia nas garras desse aí.

— O que você quer dizer com isso, Jeon? — Meu questionamento sai meio atrapalhado, acho que são esses goles gigantescos que vou dando aos poucos na cerveja.

— Quero dizer exatamente o que você ouviu, Park.

Mas, ao me aproximar e rodear o dedo indicador pela gola da sua camiseta bem devagarinho, sou atentado quando encerro o assunto:

— Não é porque você já caiu nas minhas garras que seu amigo não pode fazer o mesmo.

Céus, o semblante dos outros três nesse momento...

Ah, deveria ser filmado. Sério, está muito engraçado mesmo.

Yoongi grita um "uou!" altíssimo fazendo com que o estabelecimento todo nos encare, Namjoon pressiona as têmporas com um pouco de vergonha e Taehyung morde o lábio inferior em meio a um quase sorriso completamente animado com esse nosso lance estranho e incompreendido.

— Eu vou te trancar para fora de casa. — Jeon dispara.

— Não se eu chegar antes.

— Vou salgar sua comida.

— Vou botar pó descolorante no seu shampoo.

— Vou jogar algum bicho peçonhento na sua cama enquanto dorme.

— Vou encher a garrafa de água que leva para a faculdade com o whisky-quase-roubado.

— Vou te empurrar da escada quando menos imaginar.

— Vou...— Dessa vez sou interrompido quando, num misto entre rir e se preocupar, Namjoon diz:

— Mas que porra vocês estão fazendo?

E olha, meu amigo, nem eu sei.

— Devemos nos preocupar com um possível homicídio? — É Yoongi quem acrescenta.

E eu respondo firme: — Sim, eu quero matar seu amigo.

E Jeon obviamente não deixa barato, completando:

— É totalmente recíproco.

— Tae, quer beber? Está com fome? — Namjoon dispara tentando quebrar esse clima que criamos, mas também parece verdadeiramente preocupado com o amigo que acabou de chegar de viagem.

— Quero encher a bunda de cachaça e comer bibimbap com vocês.

— Seu pedido é uma ordem. — Yoongi responde, fazendo aquele lance de chamar a atenção de todo o restaurante enquanto tenta chamar o garçom.

Nos minutos seguintes aprecio a forma como Taehyung come bem, e beber então nem se fala.

Eles emendam muitos assuntos, mas como não sou íntimo do grupo, acabo ficando quieto. Entretanto, devo afirmar que de maneira alguma eles fazem com que eu me sinta deslocado, e eu aprecio isso verdadeiramente.

Por exemplo, enquanto Yoongi e Taehyung conversam sobre um acontecimento de meses atrás, ambos me oferecem mais cerveja, perguntam se estou satisfeito ou se quero mais alguma coisa.

Eu deveria sentir vergonha, eu sei, não é legal ser bancado pelos outros. O problema é que eles fazem isso com tanta gentileza e eu acabo aceitando outra cerveja, finalmente entrando nos assuntos.

No fim, quando já conseguimos fazer uma pirâmide com as latinhas de cerveja e até mesmo Taehyung que chegou depois já está meio grogue, eles dividem a conta porque decidiram sair para tomar um ar depois daqui. O que eu me pergunto é: como vou fazer para acordar cedo amanhã? Sério, eu já estou sem energias, cansado, bêbado, todo fodido.

E eles continuam alegres, Yoongi não para de falar e Taehyung quer até sair para dançar. Será que a gente se acostuma com a vida de assalariado? Será que mais pra frente vou conseguir conciliar a vida de trabalhador com a de baladeiro que eu sempre fui?

Não importa, estamos na fila do caixa e isso é meio humilhante. Digo, eles estão rindo e pouco se importando com o fato de eu ter comigo e bebido às suas custas, mas por algum motivo me sinto incomodado. Será que isso é um pouco de vergonha na cara? Eu nunca tive antes, mas odiei.

Namjoon e Taehyung estão à nossa frente, conversando e rindo enquanto Yoongi tenta fingir sobriedade e participar do assunto, e Jungkook parece se entreter com algo em seu celular.

Entretanto, quando nossa vez no caixa chega e os meninos se dividem para acertar tudo, a embriaguez ou quem sabe o mínimo de senso presente em mim me fazem realizar uma ação meio involuntária.

Atrás de Jungkook, minha destra procura pela barra de sua camisa longa, então eu a seguro e puxo um pouquinho, não para machucá-lo e sim para chamar sua atenção. Exatamente como fiz naquela cafeteria no dia em que passei mal.

Não sei por qual motivo sinto que tenho intimidade para toca-lo em momentos de fragilidade, mas quando vejo já estou fazendo.

E quando ele me olha, não sei o que dizer.

Continuo encarando seus olhos redondos e brilhantes mas palavra alguma sai da minha boca. Jungkook se mostra tão paciente que nem parece o cara que eu estava ameaçando atear fogo — de brincadeira, claro — minutos antes.

O seu grande problema é ser silencioso, compreensivo na maior parte dos momentos, observador. Acho que, mesmo com minha ausência de palavras, ele entende o que quero dizer.

Por isso, tranquilo, responde:

— Fique tranquilo.

E eu sei que ele se refere ao dinheiro, porque sabe que não tenho como pagar.

Mas eu continuo o encarando, atordoado, sensível por causa do álcool e também por causa da cintilância dos seus olhos. Nunca vi olhos assim.

Jungkook é todo grande, concentrado, usa roupas caras e bonitas e passa essa imagem toda sistemática, mas seus olhos...

É como se fosse outra pessoa.

Quando ele toca minha mão, até chego a pensar que, por alguns poucos segundos, sua intenção seja a de compartilhar calor enquanto ousa me tocar.

Mas logo em seguida acordo para a realidade, porque ele só tocou minha mão para tirá-la de seu corpo.

Estou meio tonto, principalmente quando todos eles se juntam para realizar o pagamento e fico um pouco para trás. Talvez depois disso eles fiquem com um pouco de raiva de mim, do tipo "ah, poxa, então vamos ter que bancar esse marmanjo?" e eu me encolho meio arrependido por ter vindo.

Mas, ao contrário do que imagino em minha cabeça, sou recebido por um abraço de lado de Yoongi já completamente embriagado, que diz animado:

— Bem vindo, Jimin-ah! Você foi muito bem hoje, estamos felizes por isso.

E eu automaticamente sinto vontade de chorar.

Óbvio que não faço isso, pareceria emocionado demais, mas é que ninguém nunca me elogiou antes.

Isso é realmente importante, e está realmente acontecendo, principalmente quando vejo Namjoon ao seu lado mostrando o polegar em sinal de apoio, e Taehyung gruda no meu outro lado.

Acho que na verdade estamos todos bêbados, por isso essa emoção toda, mas não deixa de ser acolhedor.

O único que permanece longe é Jeon, mas eu entendo, acho que no fundo ele me odeia. Imagina só ter que acomodar um estranho em sua casa, dividir seus amigos e ainda pagar seu jantar?

Eu também me odiaria.

Só que esse peso se alivia quando Yoongi diz alto já na rua: — Fighting, Jimin!

E Namjoon completa: — Fighting!

Talvez eu finalmente tenha um lar.

Por mais que seja temporário, por mais que tudo seja cíclico e que em breve estarei longe daqui, finalmente. Finalmente tenho um lar.

🍀🍀🍀

Não sei ao certo o que entender desses passos desgovernados que Yoongi faz na praça enquanto uns moleques ao lado estrondam ASAP Rocky em uma caixa de som pequena.

É engraçado, mesmo relativamente longe do nosso banco, eles riem e se divertem com a malemolência de Yoongi, que logo é acompanhado por Taehyung dançando ainda pior, caindo de bêbado.

E então tem Namjoon, destruindo sua pose de macho inabalável enquanto sorri todo bobo filmando com o celular seu namorado e seu amigo se divertindo, e eu numa ponta do banco enquanto Jungkook se acomoda na outra, bem longe de mim.

Agora pelo menos ele ri dos outros, porque gosto do seu sorriso e meu grande sonho momentâneo é ouvi-lo dando uma gargalhada daquelas.

Só deixo de olha-lo quando começa a ficar esquisito, voltando meu olhar para os meninos.

Eles se tornam a sensação da praça, muitos olham de longe e parecem se divertir. Tenho uma concepção diferente da dos que acreditam que eles estão passando vergonha. Eles estão é sendo felizes, isso sim. Por isso sorrio, gosto daqui.

Gosto de sentir esse vento fresco bagunçando meus fios de cabelo enquanto o álcool me deixa todo mole, e gosto também dessa música desconhecida que me faz querer levantar e me divertir tanto quanto eles.

E é o que eu faço.

Não por livre e espontânea vontade, mas sim porque Taehyung puxa a minha mão e quando vejo já estou flutuando no chão que parece se mover.

Malditas cervejas.

Quando We Found Love da Rihanna começa a tocar eu mal acredito. Era uma das minhas músicas preferidas do momento, por mais que quase ninguém mais ouça isso hoje em dia. Nós cantamos alto, formando um coral improvisado que diverte ainda mais os meninos animados ao lado.

— It's the way I'm feeling I just can't deny — Tae canta alto, erguendo as mãos — but I've gotta let it go...

E então finalmente chega na frase marcante do refrão, e até mesmo os garotos ao lado cantam. Eu me sinto tão livre que rodopio devagarinho, olhando para o céu, sentindo meu cabelo voando e minhas pernas moles feito gelatina.

Enquanto os outros passam essa vergonha gostosa eu simplesmente me fecho em meu mundo, completamente inerte.

Sei que alguns consideram besteira ou até mesmo meio cafona acreditar em destino, universo e todas essas coisas, mas como bom apreciador da ideia de que tudo acontece quanto tem que acontecer, agracio-me com essa sensação deliciosa de que, mesmo com os perrengues e as desilusões, estou exatamente onde tenho que estar, no momento exato, com as pessoas ideais.

E isso acrescentado à música que gosto é maravilhoso.

Entretanto, preso nesse mundo só meu e me sentindo finalmente liberto, não percebi o óbvio. Fiquei tão maravilhado com a sensação de me ter pela primeira vez, que não percebi a melhor sensação de todas: a de Jungkook me admirando em segredo com seus olhos tão únicos.

Quando percebo, vou cessando meus passos aos poucos, até criar esse novo universo em que só eu e ele existimos aqui, um encarando o outro, os dois tomados pela embriaguez. Ele está bem menos alterado que eu, mas ainda assim parece perdido ao me olhar dessa forma. Como se fosse inevitável.

Então, como se essa situação não pudesse ficar ainda mais preocupante, eu sorrio fraco, piscando meus olhos lentamente enquanto observo o cantinho da sua boca se curvando num sorriso pequeno e quase inexistente, mas que enche meu peito com essa alegria nada costumeira.

Sei que estender minha mão e chama-lo para dançar conosco é algo muito fora de cogitação, ele não faria isso, mas vontade não falta da minha parte.

Mas como quero retribuir o que ele vem fazendo por mim e sou insistente, decido retornar ao banco, sentando-me ao seu lado, bem mais perto do que da última vez. E aí, empurrando meu ombro direito contra o seu esquerdo numa provocação, digo:

— O grandão não sabe dançar?

Ele ri nasalado, respondendo: — E se eu não souber?

— Todos sabem dançar, Jungkook. É só se deixar levar pela música.

— Você estava parecendo um sem noção dançando, senhor todos-sabem-dançar. — Eu sei que é pura provocação, consigo ver pelo seu semblante. Por isso resolvo atacar também:

— E você parecia bem interessado.

Ele pigarreia meio sem graça, o que me deixa extasiado. Já disse que adoro ver esse homem desse jeitinho? Adoro quebrar a seriedade dele.

— Quem disse?

— Eu disse, Jungkook-ah. — Jogo meu corpo um pouco para cima do dele por puro tormento, só que dessa vez ele não reclama ou algo do tipo.

— Você está bêbado — ele diz o óbvio. — Como vai acordar amanhã, hm?

— Não sei, mas eu vou. — Aproveito para retirar meus olhos dele, fitando a imensidão distante enquanto respiro fundo. — Eu vou cumprir minhas obrigações, Jungkook. Eu prometo.

Agora é ele quem me encara, tão sereno quanto à brisa gostosa que balança seus fios escuros, um pouco inerte em algum pensamento que desconheço.

Sei que as pessoas sempre tiveram dificuldade em me levar à sério, e sinceramente até eu teria. Mas por alguma razão desconhecida, aqui onde estou e com essas pessoas, quero ser levado à serio. A grande verdade é que eu nunca fui cercado por muitas pessoas, sempre fui mais solitário e supri tudo isso com momentos carnais.

Só que agora, mesmo ainda sendo muito cedo para dizer isso, acho que talvez tenha pessoas ao meu redor, e talvez elas possam gostar de mim e me admirar futuramente. E de todas elas, infelizmente, a que mais bato na tecla é Jungkook.

Não sei o motivo, e provavelmente não descobrirei.

A grande verdade é que ele me instiga e me deixa completamente fora da minha zona de conforto, me desafia e me acolhe mesmo sem perceber.

É quando ele se aproxima e limpa o milkshake que jogaram grosseiramente em mim, e ainda faz uma brincadeira provocante tentando mudar meu humor porque sabe que me sinto triste. É quando ele me chama para comer fora mesmo sabendo que minha renda é nula nesse momento, mas mesmo assim me paga comida e bebida como se tivéssemos algum vínculo. Ele tenta disfarçar, mas não adianta.

E de duas uma: ou Jungkook é um ser humano muito empático e sente pena de mim, ou ele provavelmente ficou cegamente apaixonado pelo meu pau — novamente, perdão pelo palavreado mas ainda não encontrei uma palavra que se encaixe melhor aqui — assim como fiquei pelo dele.

Digo, não é como se eu lembrasse de muitas coisas sobre aquele dia aleatório em que quase transamos, mas sei que ele faz gostoso porque só de olha-lo já me sinto profundamente fodido.

E inesperadamente, no meio desses devaneios sem pé nem cabeça, ouço sua voz relutar um pouco antes de dizer baixo:

— Você está indo bem.

Eu mal consigo acreditar, porque bem, ele está bem ao meu lado e me elogiando dessa forma.

Isso é inusitado, mas também pode ser o álcool, por isso tento não pensar muito à respeito. Abalado, respondo:

— Eu só arrumei briga e tomei um banho de milkshake logo no primeiro dia. Só.

— Quando chegar em casa, lave esse cabelo. — Eu paro, pisco os olhos inúmeras vezes e engulo a saliva de um jeito que desce rasgando. Casa. Ele não disse "minha casa", ele simplesmente soltou de uma forma íntima e gostosa de se ouvir e isso me deixa um pouco atormentado.

Como resposta automática do meu cérebro tentando processar isso e minha personalidade difícil, resolvo implicar quando respondo:

— Lavo se eu quiser.

Só que é Jeon Jungkook, e ele não deixa barato:

— Parece que gozaram no seu cabelo, Jimin. — É o que o safado me diz, finalmente me encarando e alternando o olhar até meus fios grudentos do milkshake jogado anteriormente.

E nós explodimos em risada um segundo depois.

— Quem gozou onde? — Yoongi questiona intrometido, se aproximando.

Eu rio logo em seguida porque não sei qual é o nível de amizade desses quatro, mas meu chefe adorável se joga no colo de Jungkook, abraçando-o forçadamente. Namjoon não demonstra qualquer preocupação ou possível ciúmes, apenas sorri tranquilo enquanto admira seu namorado.

— Falando em orgasmos...— Yoongi tenta iniciar, mas é rebatido por Jeon:

— Yoongi, não.

— Sim! Vamos falar disso sim.

— Nem vem.

— Qual foi a última vez que você teve um? É por isso que está sempre sério desse jeito. — Finjo não prestar muita atenção em sua fala, mas é quase impossível porque ele se encontra todo hiperativo no colo do homem ao meu lado. — Vamos arrumar alguém para você.

E como se não bastasse Yoongi, Taehyung entra no assunto também, afirmando:

— Como se Jungkook precisasse disso. Sempre teve quem queria nos pés, flerta com meio mundo.

Por mais que seja uma afirmação tranquila e eles estejam calmos e sorrindo, algo me incomoda.

Então Jeon flerta com todos? Por que não flerta comigo? Digo, não que eu queira algo do tipo, longe disso, mas... Ah, tanto faz. Não ligo.

Cruzo os braços sem nem ao menos perceber, respirando fundo enquanto tento não ouvir a conversa deles. Mas é impossível, principalmente quando Yoongi solta de uma vez:

— Vocês estão morando juntos, né? Isso é suspeito.

E Jungkook, bancando o sonso, rebate:

— O que exatamente é suspeito, Min Yoongi?

— Dois homens como vocês morando juntos e sozinhos? Tudo é suspeito!

Como quero atazanar Jungkook, resolvo que não, não vou fingir que não estou prestando atenção. Estou prestando sim, e muita. Por isso faço questão de arrumar minha postura, dizendo:

— É Jeon, tudo é suspeito. — Uma das minhas sobrancelhas se ergue um pouco assim que Jungkook me encara meio incrédulo, então me dou por vencido. Se consegui atormentar esse homem, então consegui meu objetivo do dia.

Só que, por algum motivo, dessa vez ele resolve entrar no jogo, provocando:

— É, Jimin? Então me diz. O que é suspeito?

Que tal o fato de você ter me levado para a cama logo no primeiro dia? Cínico do inferno.

Ou que tal os banhos que você toma e sai desfilando só de toalha pela casa como se fosse minha obrigação resistir? E as malditas tatuagens espalhadas pelo seu corpo? É quase um pecado me pedir resistência.

— Não finja que não sabe. — É o que respondo.

— Cacete, que tensão é essa? — Taehyung diz segurando um sorriso safado. — Estou em dúvida se vocês querem se agarrar ou se matar agora mesmo.

E eu respondo, caro novo amigo.

Os dois. Talvez eu queira fazer os dois com Jeon Jungkook.

Nos minutos seguintes, depois de rir de mais algumas besteiras aleatórias, resolvemos ir embora porque o dia seguinte será cheio.

Na despedida dou um grande abraço em Yoongi, o mesmo chefe esquentadinho que tentou me auxiliar o dia todo no serviço. Tudo isso, meus amigos, é a mais pura consequência da embriaguez. Nós nos abraçamos como se fôssemos grandes amigos, depois faço o mesmo com Namjoon, sussurrando baixo em seu ouvido:

— Foi mal pelo whisky, cara. — Sim, eu ainda me lembro desse incidente maldito.

Sorrindo incrédulo com minha sinceridade, ele diz tranquilo: — Tudo bem, pelo menos você pagou no fim.

— Acho que foi a última coisa que paguei com o dinheiro dos meus pais. O maldito whisky-quase-roubado.

— Então faça bom proveito dele, certo? Mas não hoje, hoje você precisa descansar.

— Não vai rolar, eu sou um fracote para bebidas e Jungkook é pior ainda.

— Nem sei do que estão falando, mas ouvi sobre bebidas e creio que a solução seja fazermos verdade ou desafio para resolver isso. — Taehyung se intromete, animado. — Qualquer dia desses, topam?

Sou o primeiro a topar, principalmente se isso significar um jogo cheio de provocações porque descobri adorar torrar a paciência de Jungkook e quero muito dar uns beijinhos nesse seu amigo.

Yoongi e Namjoon assentem animados também, e Jeon dá de ombros, mostrando-se neutro.

Depois disso nós realmente vamos embora, e preciso admitir que estou quase capotando de sono. Quando chegamos no prédio, entretanto, preciso tentar me manter acordado porque estou sozinho num elevador com Jungkook e se adormecer aqui ele provavelmente me deixará jogado às traças.

Inquieto enquanto encara a porta à nossa frente, ele diz baixinho: — É estranho...

— O que é estranho?

— Eu costumava voltar sozinho.

— Oh. — É tudo que deixo escapar, um pouco sem graça sem nem ao menos saber o motivo. — E agora você volta com um pobre trabalhador embriagado.

Ele sorri, irônico, dizendo por fim:

— É o momento da minha vida.

E eu não me sinto ofendido ou algo do tipo, afinal não seria a primeira vez. Nós nos provocamos tanto que isso vem se tornando comum, nem soa mais como ofensa.

— Pelo menos não cheguei a prostituição. Sou oficialmente uma pessoa extremamente comum, com um trabalho comum e uma vida comum.

É nesse momento que Jungkook me encara devagarinho, seus olhos parecem mais brilhantes e sua boca se entreabre e fecha mais de uma vez como se houvesse algum impedimento em sua fala. Só que não há, e ele finalmente diz o que tem que dizer.

— Você com certeza não é uma pessoa comum.

Sem saber como processar essa sua fala e se devo levá-la para um lado positivo ou negativo, pergunto:

— O que isso quer dizer?

Só que a porta do elevador se abre, e Jeon apenas retorna para a realidade, piscando os olhos antes de sair desse transe que sempre entramos quando estamos próximos assim. Ele sai desfilando como de costume, só que sou insistente, e resolvo atazanar.

— O que quis dizer, Jungkook? — Insisto, quase pulando em suas costas enquanto o sigo pelo longo corredor. — Vai, diz, diz!

Ele continua me ignorando, mas sei que é por pura provocação.

— Não vai dizer, é?

Agora corro à tempo de parar bem na frente do seu corpo, sorrindo travesso quando seus passos precisam cessar e seus olhos procuram pelos meus novamente. Eu pouso a palma da minha mão em seu peito, um pouco nervoso, piscando lentamente minhas pálpebras que pesam como toneladas por causa do sono e do álcool.

Não sei quanto tempo passamos assim, como se o mundo lá fora não existisse, e isso também me deixa meio apavorado. É a primeira vez em que sinto esse turbilhão de coisas indefinidas se formando dentro de mim, como se fosse incontrolável. E é.

Ele me olha cheio de pose, poucos centímetros mais alto que eu, e então deixa escapar sua confissão final, e é ela que me abala por completo:

— Nem todos conseguem encontrar um Park Jimin por aí.

— E isso é bom ou ruim? — Eu pergunto, imóvel, lento e atrevido. Minha mão ainda toca sua camiseta, mas o tecido é tão fino que consigo sentir a rigidez do seu tronco.

E eu faço carinho.

Mas oras, o golpe final é dele, e não meu, porque ele simplesmente solta: — Isso ainda vou descobrir.

E então se descola do meu toque, levando consigo o calor gostoso que se estabeleceu nesses poucos segundos de contato.

Continuo aqui, parado no meio do nada, confuso e cheio de sensações novas enquanto Jungkook entra em seu apartamento e deixa uma fresta da porta aberta para que eu possa entrar também.

E eu fico aqui, todo perdido.

Perco tanto tempo parado em crise existencial que quando entro e tranco tudo consigo ouvir o barulho do chuveiro. Só que ele deixou a porta aberta. A maldita porta está aberta, e Jeon no banho.

Não sou bobo nem nada, confesso, e é por isso que vou caminhando aos poucos, devagarinho, me perguntando qual o motivo de tal atrevimento da sua parte.

Conforme o som da água caindo vai ficando mais alto, entretanto, vou perdendo essa pose toda porque o nervosismo toma conta de cada pedacinho da minha existência. Qual é? É Jeon Jungkook, pelado, tomando banho bem perto de mim, e com a porta aberta. Por qual razão ele faria isso? Por puro esquecimento? Certo, duvido muito.

Quase perto, quase...

Meus pés parecem flutuar, talvez deveria ter bebido menos cerveja e ter me concentrado mais no fato de que amanhã bem cedo preciso estar acordado.

Quase lá...

E se eu desistir agora? Não seria melhor dar meia volta e esperar na sala? E se ele acabar concluindo que sou um tarado? Porque bem, eu sou, todos sabem, mas não desse tipo de tarado. Eu jamais ultrapassaria um limite seu, só que essa porta aberta me intriga, não temos intimidade para tanto.

E tudo bem pensar "ah, vocês dois são homens, qual o problema?" e eu digo qual é. O problema é a atração gigantesca que sinto por ele, que ultrapassa todos os limites possíveis e atinge a estratosfera. Não é como ver um amigo pelado, ou sei lá...

Só que já estou aqui, e não tenho intenção de voltar. Irei além, porque seguindo minha teoria inusitada, é isso que ele quer.

Minhas pernas me guiam enquanto me perco nessa sensação gostosa de perigo e embriaguez, mas é no exato momento em que meus dígitos seguram o batente da porta que todo o meu corpo amolece.

Jeon, de costas, desliza a mão grande pelos fios compridos do cabelo, jogando-os para trás num topete molhado, então aproveito para me deliciar com a imagem dos músculos das suas costas e tríceps, com a cintura covardemente fina e as coxas grossas. A bunda empinada completamente exposta à mim, do jeitinho que fantasiei secretamente.

Meus olhos piscam pesadamente, minha boca abre devagarinho e sou entorpecido por todo esse conjunto de imagens que me deixa resfolegante.

Eu o quero tanto e me assusto com esse pensamento, pois nem sequer pedi por ele.

A quentura que percorre meu corpo é a mesma que faz com que minhas pernas vacilem, trombando vergonhosamente com a porta, fazendo com que ele pergunte, mesmo sem se virar de frente para mim:

— É você? — E isso termina de comprovar que sim, ele estava me esperando e isso foi tudo planejado.

Covarde maldito.

Tento não gaguejar ao dizer: — E quem mais seria?

Entretanto, em meio à esses quase suspiros que solto todo agitado com tudo isso, minha voz acaba saindo mais fragilizada do que o esperado.

— E o que está fazendo aqui?

Cínico. Ele é tão cínico que ao mesmo tempo em que me derreto e me afogo nessa sensação avassaladora que é deseja-lo, quero do fundo do coração praguejar e soltar uns quinze palavrões diferentes.

— Eu...— Antes que possa me entregar de vez, resolvo atiçar. Como eu digo, brincar comigo é muito difícil, afinal sempre resolvo rebater. Por isso respiro fundo e jogo meus fios para trás, encarando-o intensamente por mais que nossos olhos não estejam de fato conectados. — Eu vim escovar os dentes.

Talvez ele esteja entendendo claramente minha provocação, por isso vai virando o corpo lentamente de lado para conseguir me olhar, curvando o cantinho dos lábios num sorriso contido, reforçando minha teoria pela milésima vez.

Ele está gostando.

Ele gosta de se expor assim pra mim, e eu adoro admirar seu corpo em segredo. Bem, agora isso não é mais tão secreto assim, principalmente quando me encosto na pia e com pose desço meus olhos por toda a extensão das suas coxas definidas, mordendo o lábio inferior enquanto seu olhar se fixa em mim.

Sorrindo, sempre sorrindo. Gosto de desestabiliza-lo assim porque sei que é seu grande desejo. Se ele queria plateia para esse showzinho desinibido, conseguiu.

Só que dessa vez não disfarço, nem ao menos tento.

Encaro as tatuagens que marcam sua pele, a tinta tão escura e bonita percorrendo a pele clara, as entradas do fim do seu abdômen e seu rosto perdido no meu. Ele parece tão confuso quanto eu, mas não menos curioso. É estranho pensar que isso está acontecendo em uma semana, e que provavelmente teremos mais alguns meses juntos.

Isso se não acabarmos cometendo um homicídio.

Mas, diante desses acontecimentos e dessa sua exposição gratuita que tanto admiro, acho que o máximo que poderia acontecer, sinceramente, é ele parar na minha cama ou vice-versa.

— Não conseguiu esperar, Jimin? — Jeon questiona, segurando o riso safado que tanto quer escapar.

E eu, após jogar tudo pelos ares, principalmente minha decência, respondo:

— Me diz você, Jungkook-ah. — Reforço essa voz mais suave justamente em seu nome, sorrindo leve, batendo as unhas no mármore da pia. — Precisou vir tomar banho assim, tão rápido? Poxa, acho que você acabou esquecendo a porta aberta...

E é por isso que, mesmo detestando esse homem em alguns momentos, nos damos bem em outros.

Eu e ele, farinha do mesmo saco.

Os dois se encarando desse jeito sem vergonha, e vale lembrar que ele está simplesmente sem roupa alguma, de lado, todo molhado enquanto me olha dessa forma. Nós criamos esse ambiente gostoso de provocações, e cada vez concluo ainda mais que não, não quero sair.

E respondendo sobre a porta, ele fala baixinho e sem um pingo de vergonha: — É, eu esqueci...

Esqueceu é o caralho.

E graças a deus que esqueceu. Deus, se você existe, desculpa colocar seu nome nisso.

— Você deveria ser mais atento então. — Provoco, deixando esse sorriso lento escapar enquanto minhas sobrancelhas erguem um pouco em sinal de ameaça.

— Deveria?

— Hum, não sei...— Agora me aproximo um pouco mais do boxe, mas não perto o suficiente para que ele enlouqueça e me puxe para debaixo dessa chuveiro. E não, eu não reclamaria caso fizesse.

Mantenho meus braços cruzados, a cabeça erguida e uma dominância sorrateira.

Mordisco meu lábio, deixo um suspiro entregue escapar e nego com a cabeça, finalmente dizendo para que ele possa saber que estou ciente do seu joguinho:

— Você é baixo, Jungkook.

Agora sim nossa atmosfera de tensão sexual se expande, Jeon finalmente vira de frente e faço um esforço descomunal para não descer os olhos até a zona de perigo. É sério, estou realmente me esforçando. É quase impossível não espiar.

O que ele faz é piscar um dos olhos, abrindo o sorriso que não mostra os dentes, o que, de certa forma, deixa seu semblante um pouco adorável.

E eu estou chamando o tinhoso de fofo. É isso que minha vida se tornou.

Só que dessa vez Jungkook resolve revidar, o que geralmente só faz quando já está em seu limite de paciência com minhas brincadeiras.

— Você deveria tomar também, sabe? Trabalhou o dia todo. — Jeon finalmente desliga o maldito chuveiro, abre o boxe e alcança a toalha que deixou ali perto. Ele a enrola nos quadris lentamente numa espécie de tortura que me faz querer soca-lo, só que aí dá seu golpe final: — Eu até te chamaria para entrar aqui e tomar comigo, mas já acabei.

E depois de um sorriso, passa por mim esbanjando esse cheiro gostoso de sabonete e banho tomado, raspando seu ombro esquerdo no meu direito, desfilando com essas malditas costas largas com gotículas de água escorrendo.

Pai eterno, que tentação...

Ele ainda não entendeu com quem está mexendo. Destemido e sem um pingo de vergonha na cara, resolvo rebater, esperando que ele saia por completo do banheiro para puxar a porta até que esteja totalmente fechada, colocando meu rosto para fora, dizendo com uma feição repleta de sarcasmo:

— Que pena, Jungkook. Quem sabe no próximo eu não te chamo, hm? — Agora sim fecho a porta, trancando-a, me encostando na madeira fria enquanto um sorriso escapa dos meus lábios.

Não sei por qual razão desconhecida do universo estou assim, tão eufórico, tão assustado. Estou sorrindo para o nada, e tudo piora quando minha destra se direciona até meu coração, sentindo-o bater tão desregulado.

Isso nunca aconteceu, nunquinha mesmo. A imagem de Jungkook nu retorna, assim como seu riso sádico e suas pernas bonitas caminhando em minha direção. Sua audácia, sua acidez se mesclando com esse pequeno lado brincalhão ainda tão desconhecido por mim. Sua língua doce, gélida, e as lembranças tão apagadas daquela noite em que nos enroscamos embaixo dos lençóis negros.

Jungkook, Jungkook, Jungkook...

Seu nome não sai da minha cabeça.

Seu toque firme, sua brusquidão, seu jeito adorável de mandar que eu me foda e vá para o quinto dos infernos minutos antes de me pagar comida e oferecer um teto quente e seguro.

É fogo, meus amigos. É fogo lidar com esse homem porque eu mal o conheço. Não sei seus gostos, desconheço por completo sua personalidade, não entendo sua seriedade.

Somos tão diferentes e eu sinceramente não sei o que foi essa sua atuação minutos atrás.

Nesses poucos dias em que passamos juntos, ele nunca agiu assim. Sempre ficou na dele, centrado, no máximo soltou alguma provocação ou algo do tipo. O que Jungkook está sentindo ou pretendendo fazer eu não sei, mas espero que saiba que não está sozinho.

Agora é questão de honra derrubar cada um dos seus muros, desafia-lo até que me implore.

E no fim das contas, que mal tem isso?

Foi ele quem pediu.

| | |

oioioi

espero que todos estejam bem 💜

queria agradecer pela leitura/votos/comentários e dizer que jaja teremos uma tag pra fic e aí vocês poderão comentar sobre ela no tt!

nos vemos em breve ✨

Continue lendo

Você também vai gostar

2.3M 231K 42
[Concluida.] Jeon Jungkook um alfa muito famoso e renomado dono de uma empresa de Games se acha o fodão por nunca ter se apaixonado por ninguém, mas...
5.2M 439K 61
[Concluida.] Jeon Jungkook sempre foi um alfa arrogante, agressivo e impiedoso. Todos temiam a ira do rei lúpus. Jeon nunca havia se envolvido de fo...
2.9M 387K 33
《 onde jungkook precisa das mãozinhas de jimin para ajudá-lo a cuidar de sua filha 》 © airjimin, 2017 plágio é crime. #1 em jikook (14.12.201...
2.1M 269K 47
barulhos estranhos eram sempre ouvidos no quarto ou lado do de Jungkook. Quando criança seus pais sempre o mandava ficar longe daquele cômodo e ele o...