Michael estava encostado na parede da sala de Claudia de olhos fechados, pensando no que estava fazendo ali, e não em casa, aproveitando seu último dia livre com a filha.
Mas não conseguia ficar sabendo que uma pessoa precisava de ajuda, e simplesmente lhe virar as costas e seguir em frente.
- Oi! - A voz dela o tirou do seu devaneio. - Tudo bem? - Perguntou olhando para os lados.
- Oi! Tudo bem! Estava te esperando para ver no que você precisava de ajuda. - Disse sério.
- Pensei que tinha ido atrás do Artur. - Disse abrindo a porta.
E ele acompanhou-a, mas não respondeu nada. E parou surpreso, não era exatamente o que ele esperava da sala de uma mulher jovem. A sala estava exatamente como a dona Rute havia deixado.
- E ele não vai ficar enciumado por você ficar aqui e me ajudar? - Perguntou seca.
Ele ficou parado olhando para ela, sem entender de imediato o que ela estava falando. E caiu na gargalhada.
- Você está pensando que somos um casal? Só por que nos viu na pizzaria sozinhos? - Perguntou cético, e ela ficou corada.
- Me desculpa! Isso foi ridículo! - Disse constrangida. - Hoje em dia é meio complicado, principalmente no meio de pessoas tão modernas como o Artur.
- É verdade! E não se preocupe, está tudo bem! Mas eu te garanto, que apesar de ele ser muito moderno, eu não faço tipo dele. - Disse sorrindo. - E aí, ainda precisa de ajuda?
- Bem, eu havia pensado em mudar o arquivo de lugar, e a mesa também. - Disse sem jeito, e ele analisou o arquivo, e assobiou.
- Acho que vamos precisar de ajuda! - Disse pegando o celular, e escreveu uma mensagem.
"Você pode me dar uma mãozinha? Se não estiver muito ocupado! Se estiver ocupado, por favor, me avisa." - Enviou a mensagem.
"Ainda está na escola?".
"Sim. Na sala da coordenação pedagógica".
"Estou chegando".
Claudia ficou ali parada, sem saber o que fazer, imaginando para quem ele estaria mandando mensagem.
- "Provavelmente uma esposa, um homem como este com certeza é casado." - Pensou inquieta com o rumo dos seus pensamentos.
- Vamos esvaziar esse arquivo. - Disse Michael já começando a tirar as coisas.
Tiraram todas as coisas do arquivo, e estavam tirando as coisas da mesa, quando bateram na porta, e uma cabeça apareceu.
- Bom dia! Foi daqui que pediram a ajuda de um homem forte e bonitão? - Perguntou sorrindo, e entrou com sacolas da panificadora.
- Forte e bonitão eu não sei, mas convencido! - Exclamou Michael. - Trouxe o que de lanche? - O recém-chegado colocou as sacolas em cima da mesa.
- Suco de laranja, café e pão na chapa. - Michael o encarou.
- Sério! Que você trouxe pão com manteiga para o lanche da chefe da sua esposa? - Claudia olhava de um para o outro.
- Aprendi a lição; se você esqueceu da última nova contratada, eu não esqueci. E não tenho culpa se vocês são esfomeados por pão. A propósito, cadê o Artur? - Mudou de assunto, e olhou na direção de Claudia. - Oh, me desculpa! Não costumo ser sem modos, como meu amigo aqui! Eu sou Eduardo. - Apresentou-se sorrindo, estendendo a mão.
- Sou Claudia. - Respondeu, apertando-lhe a mão.
- Espero que você goste do lanche. O meu amigo aqui, está reclamando do pão na chapa, mas é o preferido dos três mosqueteiros. - Disse jogando um guardanapo em Michael.
- Fique o senhor sabendo, que o Artur foi embora, hoje ele estava extremamente mal humorado. - Disse mudando o tom da voz, e franzindo a sobrancelha.
Claudia olhava de um para o outro, confusa. Eles arrumaram o lanche na mesa e não paravam de conversar.
- "Amigos de longa data, com certeza!" - Pensou triste. Ela não tinha amigos, com exceção do Marcelo, ela não tinha mais nenhum amigo, nem as próprias irmãs eram suas amigas.
Sentou no sofá olhando para os dois, e se perguntando, por que era tão esquisita que não conseguia nem mesmo ter amigos. Até as pessoas que ajudavam-na ela conseguia manter longe.
- Oi! - Disse Victória da porta sorrindo.
Claudia ficou sem jeito, praticamente correra da outra ao sair da sala da diretora.
- Oi, amor! - Disse Eduardo todo sorridente, indo ao seu encontro.
- E aí, tudo bem?
- Sim. Tudo bem. - Respondeu sorrindo, beijando-o.
Claudia abaixou a cabeça, constrangida com tanta demonstração de carinho; não que ela não presenciasse cenas românticas entre casais apaixonados, os pais eram imensamente carinhosos um com o outro, e apaixonados.
Levantou o olhar ainda constrangida, e deu com o Michael olhando para ela, sentiu o sangue esquentar no rosto.
- Não fique constrangida com os dois, eles são sempre assim. - Explicou sorrindo. - Ei vocês dois, temos trabalho, e vocês estão deixando a Claudia constrangida.
Os dois se afastaram, o que a deixou ainda mais comstrangida.
- Foi mal, Claudia! - Disse Victória se desculpando.
- Tudo... Tudo bem, não se preocupem. - Respondeu, mas Victoria já não prestava atenção no que ela falava, observava ao seu redor.
- Caramba, Mike! Pensei que você fosse ajudar! Não fazer mais bagunça! - Exclamou rindo.
- Engraçadinha! - Disse ele no mesmo tom.
Claudia olhava aquelas pessoas, se perguntando o que significava tudo aquilo.
- Me desculpa, por esses dois. Eles são assim mesmo, sem modos, mas são inofensivos. - Disse Victória, se aproximando dela.
- Pronto! A mesa está posta, podemos lanchar? Precisamos arrumar a bagunça que o Mike fez. - Brincou Eduardo.
- Nossa! Tal esposa, tal esposo! - Disse sorrindo. - Claudia por favor, se aproxime, assim vamos pensar que você não está apreciando a nossa companhia. - Disse encarando-a.
Ela se perdeu mais uma vez naquele olhar negro, e brilhante.
Ele por uma fração mínima de segundo, teve a impressão de um leve brilho naqueles olhos esmeralda, mas passou tão rápido! Que pareceu ilusão.
- Claro que ela não está apreciando a nossa companhia, nós estamos literalmente invandindo o espaço dela. - Disse Victória puxando-a, para à mesa.
- Garantimos a você, que só vamos arrumar a sua sala, e batemos em retirada. - Disse Michael, fitando-a, sério.
Ela abaixou a cabeça constrangida, o que estava acontecendo? De repente todo mundo era gentil e simpático com ela? Ela não merecia tanta atenção!
- Michael agradeça pelo alimento. - Disse Eduardo.
- "Sério isso?" - Pensou intrigada. Observando que os três fecharam os olhos. Fechou os seus também.
- "Obrigado, Senhor por este lanche que meu amigo tão carinhosamente nos trouxe; que este seja um lanche que nos satisfaça fisicamente e não nos faça mal. Que assim como buscamos o alimento físico, também buscamos o alimento espiritual. Abençoe-nos para que continuemos amigos-irmãos, e que sempre nos respeitemos, que a nossa colega, Claudia seja bem vinda, e que ela se sinta em paz no nosso meio, em nome de Jesus, amém." - Orou Michael.
- Amém! Claudia vou te alertar sobre a minha doce esposa e seus dois amigos, Mike e Artur. Não espere jamais por eles para comer, principalmente se for pão, porque você corre o sério risco de ficar sem. - Brincou Eduardo.
- Para com isso amor! O que a Claudia vai pensar dos colegas dela? - Disse Victória sorrindo. - Mas ele tem razão em relação ao pão, nós amamos pão, principalmente quando é pão com queijo coalho.
- Por isso eu não trouxe pão com queijo. - Disse Eduardo se servindo.
Claudia sentia-se estranha lanchando com pessoas que não conhecia, e no entanto a deixavam tão à vontade. E seu coração estranhamente, estava alegre por estar ali, com aquelas pessoas que não tinham nada haver com ela.
Ao que indicava eram mais pessoas adoradoras de Deus, de repente pareceu-lhe que para onde se virava lá tinha alguém para falar desse Deus que para eles era tão extraordinário. Era estranho, mas ela estava feliz, como não se recordava de algum dia já ter estado, e relaxou.
- "Vida nova. Emoções novas!" - Pensou sorrindo.
Michael olhava para ela, bem no momento em que ela sorriu, e ele sentiu em seu coração, que aquele sorriso era verdadeiro, e não meios sorrisos, como ela dera, desde que eles adentraram naquela sala.
Ela levantou o olhar, e ele ainda a olhava, e seus olhos não estavam mais duros e sem vida; seus olhos brilhavam como a mais rara joia de esmeralda. E ele sorriu para ela, e para sua completa alegria, ela sorriu de volta, aquecendo seu coração.
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Michael e Eduardo, fizeram as mudanças dos móveis de lugar, e os três deram vários palpites para Claudia, e no final da arrumação, a sala era outra, aconchegante, confortante, e moderna.
- "Agora sim combina com ela, jovem e vibrante." - Pensou Michael com meio sorriso.
- Nossa ficou maravilhoso! - Disse Claudia encantada. - Muito obrigada a vocês, eu não sei o que eu faria sem vocês.
- Ah, eu sei! - Exclamou Eduardo. - Teria deixado a sua sala, como você queria. Mas foi uma honra, ajuda-la, pois agora está mais com a sua cara!
- Está mesmo querida! Você vai ser feliz aqui, eu tenho fé, e faremos um excelente trabalho por essas crianças. - Disse Victória. - E não se preocupe com a dona Benta, ela é severa, mas é uma excelente pessoa, você vai ver.
- É mesmo! Principalmente quando ela resolve agir como sua mãe. - Lembrou Eduardo sarcástico, e a esposa deu-lhe uma cotovelada.
- Vamos embora, ou a Claudia vai pensar que os colegas dela são bem mais loucos do que ela pensava. - Disse Victória puxando o esposo para a porta.
- Quem disse, que ela não já está pensando assim? - Perguntou Michael, pegando a bolsa de Claudia, e entregando a ela. Victória só olhou para o esposo e sorriu.
Saíram os quatro juntos da escola.
- Mike, o que você vai fazer pra curtir sua tarde livre com a Katie? - Perguntou Eduardo.
- "Katie? Quem será katie? Uma esposa certamente." - Pensou frustrada e triste.
- Não sei, não pensei em nada. Por quê? - Perguntou curioso.
- Estamos pensando em ir à praia, vamos? - Convidou Eduardo.
- E você Claudia, vamos? - Convidou Victória.
- Ah, não sei! Mas acho melhor não, deixa para a próxima. - Respondeu tímida, e os três se olharam.
Michael ficou triste, ao ver seu olhar vazio outra vez. Mas não fazia ideia do que havia acontecido para que ela abaixasse a guarda anteriormente, e sorrisse daquela maneira, se ele pudesse faria com ela sorrisse sempre.
- Se você mudar de ideia, me liga! - Disse Victória, passando lhe um cartão.
Ela pegou o cartão sem graça, e colocou-o na bolsa. Despediram-se no estacionamento, cada um dirigiu para o seu carro, e Claudia foi para a sua moto.
Michael ao vê-la na moto, surpreendeu-se, com certeza jamais passou por sua cabeça, que ela pilotasse uma moto; e ele sorriu consigo mesmo, era bom se sentir assim novamente. Querendo conhecer alguém e querendo ser conhecido por este alguém. E com um sorriso bobo, entrou no carro.
- "Obrigado, Senhor por está manhã! Não sei o que está brotando aqui no meu coração, mas eu sei que o Senhor está no controle da minha vida, como tem sido até hoje, prepare-me Senhor, para o que vem por aí. Eu te amo Senhor, e não te desapontarei, leve a mim e os meus amigos em paz para casa. E Senhor, seja lá qual for o motivo da tristeza da Claudia, seja o Senhor a cuidar dela, para que a tristeza a abandone, e ela sorria mais. Abençoe a cada um de nós neste ano letivo que se inicia." - Pensou suspirando e foi embora para casa, a sua princesa estava lhe aguardando.
Continua...