Uma vez começada a batalha, ainda que estejas ganhando, se continuar
por muito tempo, desanimará a tuas tropas e embotará tua espada. Se
estás sitiando uma cidade, esgotarás tuas forças. se manténs teu
exército durante muito tempo em campanha, teus mantimentos se
esgotarão.
As armai são instrumentos de má sorte; empregá-las por muito tempo
produzirá calamidades. Como se tem dito: "Os que a ferro matam, a ferro
morrem." Quando tuas tropas estão desanimadas, tua espada embotada,
esgotadas estão tuas forças e teus mantimentos são escassos, até os
teus se aproveitarão de tua debilidade para sublevar- se. Então, ainda
que tenhas conselheiros sábios, ao final não poderás fazer que as coisas
saiam bem.
Por cauda disso, tem-se ouvido falar de operações militares que são
torpes e repentinas, porém nunca se viu nenhum especialista na arte da
guerra que mantivesse a campanha por muito tempo. Nunca é benéfico
para um país deixar que uma operação militar se prolongue por muito
tempo. Como se diz comumente, seja rápido como o trovão que retumba antes
de que tenhas podido tapar os ouvidos, veloz como o relâmpago que
brilha antes de haver podido piscar.
Portanto, os que não são totalmente conscientes da desvantagem de
servir-se das armais não podem ser totalmente conscientes das
vantagens de utilizá-las.
Os que utilizam os meios militares com perícia não ativam suas tropas
duas vezes, nem proporcionam alimentos em três ocasiões, com um
mesmo objetivo.
Isto quer dizer que não se deve mobilizar ao povo mais de uma vez por
campanha, e que imediatamente depois de alcançar a vitória não se
deve regressar ao próprio pais para fazer uma segunda mobilização. A
principio isto significa proporcionar alimentos (para as próprias tropas),
porém depois se tiram os alimentos ao inimigo.
Se ao invés de tomar os mantimentos e armas de teu próprio país,
retirares do teu inimigo, estarás bem abastecido de armas e provisões.
Quando um pais empobrece por causa das operações militares, isso se
deve ao transporte de provisões de um lugar distante. Se as transportas
desde um lugar distante, o povo empobrecerá.
Os que habitam próximo de onde está o exército podem vender suas
colheitas a preços elevados, porém se acaba deste modo o bem-estar da
maioria da população.
Quando se transportam as provisões muito longe, ocorre ruína por causa
do alto custo. Nos mercados próximos ao exército, os preços das
mercadorias aumentam. Portanto, as longas campanhas militares
constituem uma ferida para o país.
Quando se esgotam os recursos, os impostos se arrecadam sob
pressão. Quando o poder e os recursos se tenham esgotado, arruina- se
o próprio pais. O povo é privado de grande parte de seus produtos,
enquanto os gastos do governo para armamentos se elevam.
Os habitantes constituem base de um país, os alimentos são a felicidade
do povo. O príncipe deve respeitar este fato e ser sóbrio e austero em
seus gastos públicos. Em conseqüência, um general inteligente luta por desprover o inimigo de
seus alimentos. Cada porção de alimentos tomados ao inimigo equivale a
vinte que te forneces a ti mesmo.
Assim, pois, o que arrasa o inimigo é a imprudência e a motivação dos
teus em fazer desaparecer os benefícios dos adversários.
Quando recompensas teus homens com os benefícios que ostentavam
os adversários eles lutarão com iniciativa própria, e assim poderás tomar
o poder e a influência que tinha o inimigo. É por isto que se diz que onde
há grandes recompensas há homens valentes.
Por conseguinte, em batalha de carros, recompensa primeiro o que
tomar ao menos dez carros.
Se recompensas a todo mundo, não haverá suficiente para todos; assim,
pois, oferece uma recompensa a um soldado para animar a todos os
demais. Troca suas cores (dos soldados inimigos feitos prisioneiros),
utilize-os misturados aos teus. Trata bem os soldados e presta-lhes
atenção. Os soldados prisioneiros devem ser bem tratados, para
conseguir que no futuro lutem para ti. A isto se chama vencer o
adversário e incrementar por acréscimo em tuas próprias forças.
Se utilizas o inimigo para derrotar o inimigo, serás poderoso em qualquer
lugar aonde fores.
Assim, pois, o mais importante em uma operação militar é a vitória e não
a persistência. Esta última não é benéfica. Um exército é como o fogo: se
não o apagas, se consumirá por si mesmo.
Portanto, sabemos que o que está à cabeça do exército está a cargo das
vidas dos habitantes e da segurança da nação.
Sobre as proposições da vitória e a derrota.
Como regra geral, é melhor conservar a um inimigo intato que destrui-lo.
Captura seus soldados para conquistá-los e dominas seus chefes.
Um General dizia: "Pratica as artes marciais, calcula a força de teus
adversários, faz que percam seu ânimo e direção, de maneira que ainda
estando intato o exército inimigo, fique imprestável: isto é ganhar sem
violência. Se destruíres o exército inimigo e matares seus generais, assaltas suas defesas disparando, reúnes uma multidão e usurpas um
território, tudo isto é ganhar pela força."
Por isto, os que ganham todas as batalhas não são realmente
profissionais; os que conseguem que se rendam impotentes os exércitos
alheios sem lutar, são os melhores mestres do Arte da Guerra.
Os guerreiros superiores atacam enquanto os inimigos estão projetando
seus planos. Logo desfazem suas alianças.
Por isso, um grande imperador dizia: "O que luta pela vitória frente a
espadas nuas não é um bom general." A pior tática é atacar uma cidade.
Assediar, encurralar uma cidade só se leva a cabo como último recurso.
Emprega não menos de três meses em preparar teus artefatos e outros
três para coordenar os recursos para teu assedio. Nunca se deve atacar
por cólera e com pressa. é aconselhável tomar-se tempo na planificação
e coordenação do plano.
Portanto, um verdadeiro mestre das artes marciais vence outras forças
inimigas sem batalha, conquista outras cidades sem assediá-las e destroi
outros exércitos sem empregar muito tempo.
Um mestre experiente nas artes marciais desfaz os planos dos inimigos,
estropia suas relações e alianças, corta os mantimentos ou bloqueia seu
caminho, vencendo mediante estas táticas sem necessidade de lutar.
É imprescindível lutar contra todas as fações inimigas para obter uma
vitória completa, de maneira que seu exército não fique aquartelado e o
beneficio seja total. Esta é a lei do assédio estratégico.
A vitória completa se produz quando o exército não luta, a cidade não é
assediada, a destruição não se prolonga durante muito tempo, e em cada
caso o inimigo é vencido pelo emprego da estratégia.
Assim, pois, a regra da utilização da força é a seguinte: se tuas forças
são dez vezes superiores às do adversário, cerca-o; se são cinco vezes
superiores, ataque-o; se são duas vezes superiores, divide- o.
Se tuas forças são iguais em número, luta se te é possível. Se tuas
forças são inferiores, mantenha-te continuamente em guarda, pois a
menor falha te acarretaria as piores conseqüências. Trata de manter- te ao abrigo e evita o quanto possível um enfrentamento aberto com ele; a
prudência e a firmeza de um pequeno número de pessoas podem chegar
a cansar e a dominar inclusive numerosos exércitos.
Este conselho se aplica nos casos em que todos os fatores são
equivalentes. Se tuas forças estão em ordem enquanto que as do inimigo
estão imersas no caos, se tu e tuas forças estão com ânimo e eles
desmoralizados, então, mesmo que sejam mais numerosos, podes entrar
em batalha. Se teus soldados, tuas forças, tua estratégia e teu valor são
menores que as de teu adversário, então deves retirar-te e buscar uma
saída.
Em conseqüência, se o bando menor é obstinado, cai prisioneiro do
bando maior.
Isto quer dizer que se um pequeno exército não faz uma valoração
adequada de seu poder e se atreve a se tornar inimigo de uma grande
potência, por muito que sua defesa seja firme, inevitavelmente se
converterá em conquistado. "Se não podes ser forte, porém tampouco
sabes ser débil, serás derrotado." Os generais são servidores do Povo.
Quando seu serviço é completo, o Povo é forte. Quando seu serviço é
defeituoso, o Povo é débil.
Assim, pois, existem três maneiras pelas quais um Príncipe leva o
exército ao desastre. Quando um Príncipe, ignorando as ações, ordena
avançar a seus exércitos ou retirar-se quando não devem fazê-lo; a isto
se chama imobilizar o exército. Quando um Príncipe ignora os assuntos
militares, porém compartilha em pé de igualdade o mando do exército, os
soldados acabam confusos. Quando o Príncipe ignora como levar a cabo
as manobras militares, porém compartilha por igual sua direção, os
soldados estão vacilantes. Uma vez que os exércitos estão confusos e
vacilantes, iniciam os problemas procedentes dos adversários. A isto se
chama perder a vitória por transtornar o aspecto militar.
Se tentas utilizar os métodos de um governo civil para dirigir uma
operação militar, a operação será confusa.
Triunfam aqueles que:
• Sabem quando lutar e quando não.
• Sabem discernir quando utilizar muitas ou poucas tropas. • Possuem tropas cujas categorias superiores e inferiores tem o
mesmo objetivo.
• Enfrentam com preparativos os inimigos desprevenidos.
• Tem generais competentes e não limitados por seus governos
civis.
• Estas cinco são as maneiras de conhecer o futuro vencedor.
Falar que o Príncipe seja o que dá as ordens em tudo é como o General
solicitar permissão ao Príncipe para poder apagar um fogo: quando for
autorizado, já não restam senão cinzas.
Se conheces os demais e te conheces a ti mesmo, nem em cem batalhas
correrás perigo; se não conheces os demais, porém te conheces a ti
mesmo, perderás uma batalha e ganharás outra; se não conheces a os
demais nem te conheces a ti mesmo, correrás perigo em cada batalha.