Uma Dama Intrigante

נכתב על ידי Carolinadeblond

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Livro 1 de Glórias e Paixões; Em 1891, Vincent e Melissa acabam de se casar depois de uma série de acontecime... עוד

Capítulo 2 - Coincidências
Capítulo 3 - Perfeita Desculpa
Capítulo 4 - Preocupações Mais Terrenas
Capítulo 5 - Final Desastroso

Capítulo 1 - Querida

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נכתב על ידי Carolinadeblond

Londres, 1891

Um dos casarões mais bonitos da cidade estava cheio, com pouco mais de cento e poucos convidados, com uma orquestra animada, composta por meia dúzia de músicos talentosos de Paris. Tocavam uma balada, de composição italiana, causando um certo descontentamento naquele maçante de pessoas agitadas, dispostas a dançar para esquecerem do vento gelado de outono que entrava pelas oito janelas do grande salão de baile.

Os anfitriões estavam em cantos separados. Frederic Jorsden conversava com amigos da sua idade, da faculdade de Direito, debatendo algo não muito interessante sobre política. Logo, o assunto passou a serem cavalos, o que deixou o grupo tão animado chamando a atenção de outra roda de conversa. Nela, estava Camille Jorsden, sua esposa, que olhará com certa desaprovação o motivo de tanto animação ao ser falar sobre animais de quatro patas competindo para chegarem em primeiro lugar. Aquilo, para ela, era crueldade, já para o marido, diversão.

Ignorou-os, bebericando mais e mais da sua taça de cristal, preenchida por champanhe por um criado fiel que ficava ao lado da patroa. O tema ali, entre Camille e outras esposas de nobres importantes, como o marido, era moda. Uma amiga dela estava animada em estar sendo nomeada como inspiração de estilo para as senhoras sociedade, quando outra se vangloriava de ter joias. Em sua opinião, Camille acreditava que ambas eram importantes, mas muito mais importantes eram o conjunto em si.

Bebeu mais até que lhe chamou a atenção para o verdadeiro fenômeno da festa.

— Querida, — Camille falou mais alto que devido, mas só os mais próximos se importam, visto que a música ganhava outro tom. A pista de dança ganhava mais casais e Camille se desviou deles para alcançar sua concunhada. — está gostando da festa?

Melissa virou-se de frente para Camille, forçando um sorriso amarelo na boca.

— Muito, Camie. — respondeu educadamente. Não queria ser rude com a anfitriã e chefe da família na frente de todos. — Muitíssimo obrigada.

— Não há de quê. — ela sorriu de volta, levemente embriagada de champanhe (e sabe-se lá de outra coisa também). Camille voltou ao seu grupo de amigas, satisfeita com a breve conversa que tivera, desviando de garçons e outros da sua frente. Chegou lá, mas não sem antes catar outra coisa para beber e quase bater no moço que levava as bandejas com copos sujos.

Melissa riu com as amigas. Ali, era sincera. Também estava bebendo, mas não ao nível de Camille. Deu-lhe os braços para as duas amigas a sua volta e voltaram lentamente para a mesa reservada aos seus amigos.

— Coitada, Sissa. — Selina começou a dizendo antes mesmo de sentar-se. Ela ajeitou com cuidado para não amassar o cetim delicado do seu vestido azul claro, antes de afundar-se na cadeira com estofado fofo nas costas. — Me diga, é sério que eles não se dão bem?

Melissa olhou para Camille e depois para Frederic. O irmão mais velho do marido era fechado e reservado, sem dar trela para conversas bobas, principalmente aquelas que envolviam assuntos tão íntimos quanto aos do coração. Camille, no que lhe respeita, era adepta a dar aberturas, um tanto desnecessárias sob o olhar crítico e retraído de Melissa — nada que fosse comparado a Frederic, mesmo assim isso nunca teve resultado entre as duas, que pouco convivam, apesar de compartilharem o mesmo sobrenome.

— Acho que sim. — respondeu, encarando as duas amigas. Liliane estava mais distante, distraída ao olhar o canto que um grupo de rapazes jovens conversava. Melissa então se voltou a Selina. — Mas eu nunca tive a chance de me aproximar. Eles são... — Melissa suspirou, sabendo que era pecado julgar pelas aparências. — estranhos.

Selina riu e pegou sua bolsa de mão, tirando dali uma carteira de cigarros e um isqueiro, com um adesivo da própria empresa colado na embalagem.

— E quem não é, Melissa? — ela se levantou, brincando com o isqueiro entre os dedos. — Eu vou fumar ali, rapidinho. Alguém me acompanha?

— Não, obrigada, querida. — suspirou Melissa, já entediada com a situação.

Liliane não respondeu, somente se levantou, colocando o vestido verde claro no lugar, abaixando as mangas para o lugar onde deveriam ficar. Pegou um espelhinho de bolso, guardado na bolsa, e sorriu, verificando a maquiagem.

— Estou bonita? — perguntou as amigas. Melissa e Selina concordaram, mesmo sem entender o motivo. — Desejem-me sorte, meninas.

Selina apoiou as mãos na cadeira vazia ao lado de Melissa, que ria ao ver Liliane indo em direção ao grupo de rapazes, com passos confiantes e atitude mais ainda. Ela olhou para o lado e quando percebeu, estava sozinha. Viu a sombra de Selina, identificada pelo vestido, atravessando alguns homens conversando na saída do salão, e depois olhou ao redor.

O marido estava a olhando de longe, chamando-a através de gestos discretos para ela ir até ele e se apresentar aos homens com quem trabalhava. Melissa não gostava de curadores de arte, embora tenha se casado com um. Os rapazes, desde os mais jovens aos velhos, do Museu Britânico da área de arte renascentista eram entediantes e muito mal humorados, principalmente quando se confundia Michelangelo com Donatello. Fez um sinal para Vincent que ficaria por ali, sentada e esperando alguns dos amigos se aproximarem.

Na verdade, preferia ficar sozinha ali. Ficou brincando com o garfo, encarando a comida a frente, sem o menor apetite. A música que a orquestra ganhava força e as damas mais jovens pareciam desesperadas em conseguir uma dança, principalmente quando os músicos franceses começaram com o ritmo do cancã.

Melissa era uma antissocial por opção. Sua verdadeira natureza era muito dúbia para ser realmente revelada. Alguns dias queria agito, diversão e namoro, outros só um pouco de conchego, silêncio e o cheirinho da sua cadela de estimação, Roxie. A saudade bateu no peito. Tudo da sua casa parecia perfeito agora, até mesmo o quadro horrível que Vincent comprou em um leilão, acreditando que a morte do pintor o valorizaria. Ela se apoiou na mesa, terminando o champanhe da taça. Assim que viu o garçom passando, pediu por vinho branco.

A desculpa daquela reunião fora da temporada tinha sido justamente seu aniversário, mas curiosamente ninguém se deu o favor a cumprimenta-la. Muitos conhecidos e familiares de Vincent já tinham o feito, através de ligações e cartões. A sua família e o pouco que eram seus amigos foram convidados para uma reunião discreta que aconteceu no apartamento de dois andares de Melissa e Vincent, no dia do seu aniversário de vinte e dois anos. Ela aproveitará muito mais, sentindo uma imensa vontade de abandonar tudo aquilo em volta e voltar para casa.

Desistiu da ideia só de pensar que seu marido estava aproveitando bastante. Vincent ria alto com os colegas de trabalho, bebendo o terceiro copo de uísque. Ele comemorava desde terça-feira quando recebeu a promoção vindo do próprio diretor. A partir de agora tornaria supervisor da coleção permanente de arte italiana renascentista, algo que tinha estudado e lutado para conseguir nos últimos sete anos. Sua viagem de graduação na Itália servirá que mais garantir algumas boas amantes a datar de agora.

— Por que eu só perco, Sissa? — William assustou Melissa ao sentar-se bruscamente na sua frente. Estava com um bafo de cigarro e o colarinho todo desbotado. Melissa o arrumou antes que ele continuasse. — Você viu? Você viu os dois? — ela olhou na direção que ele apontava com a própria cabeça. Mesmo bêbado, preferia manter a discrição. Enxergou de longe Liliane aos risos com Anthony Leighton, primo de Vincent. — Eu só me ferro nessa coisa chamada amor.

— Pare de ser dramático, homem. — Melissa bateu contra seu ombro. William, embora fosse um cientista com honras e muitas graduações, não se recusava a recorrer os métodos mais dramáticos que a emoção humana podia ter. — Foi burro e acabou por perder Lily. Quem mandou ser tão...

— Então, ela pode ter dois pretendentes e eu não? — William a cortou, indignado com a justificativa de Melissa. Ele deu os ombros, revirando também os olhos. — Odeio. Odeio esse seus feminismos que me deixam sozinho.

— Você é muito grande para fazer birra, Will. — ela se virou a ele de frente, levantando a sua cabeça, depois de ter caído na própria derrota. — Melhor aceitar nossos feminismos, homem.

Ele bufou alto, roubando o copo de vinho de Melissa. Mesmo levando um tapa por isso, ele continuou e preferiu ficar ali, sentado ao lado dela, comendo a refeição servida, que começava a esfriar.

— Sem fome? — perguntou ao perceber o prato intacto dela.

Melissa assentiu, pensando em como fugir dos porquês que William a jogaria. Surpreendentemente, ele aceitou quieto e roubou a costela dali, com o olhar curioso do garçom que enchia o copo dos dois.

— Will, — a voz de Selina surgiu atrás dos dois. Ele se virou, respondendo com um aham, antes de Melissa também olhar o que estava acontecendo. — Levante-se. Está perdendo a aposta.

— Já perdi a tempos, minha cara. — William se levantou. Quando Selina assentiu com a cabeça, ele pegou a taça da mesa.

— Que aposta? — Melissa chamou atenção dos dois, bebendo um pouco mais com curiosidade.

— A de sempre, Sissa. — respondeu Selina. Melissa concordou com os ombros, refrescada a memória. Não demorou muito para que Selina e William saíssem dali de perto e sumissem no meio de mulheres e homens tão parecidos.

A aposta de Selina e William era uma tradição em bailes massacrantes como aqueles. Os dois disputavam em número de conquistas. No fim da noite, quem tinha o maior número de cartões de visita¹ nas mãos, ganhava o que quiser do outro. Na última vez, William perdera e foi obrigada a levar Selina em uma de suas convenções científicas.

Melissa pensou que seria melhor começar a comer antes que alguém começasse a levantar hipóteses. Assim que ela encheu a boca com as primeiras colheradas, Vincent sentou-se do seu lado:

— Eu adoro meu trabalho, Missy! — ele parecia tão animado, que Melissa sorriu, mesmo com a boca meio cheia. Ele riu e continuou: — Nicolas está me ajudando com tudo. Vai ser tão bom. — Melissa sabia onde Vincent estava querendo chegar com a conversa. — É o momento que eu aguardava.

— Não podemos falar sobre isso depois? — ela limpou os lábios, com cuidado para não tirar o rouge, mas também querendo se livrar da sujeira do molho da costela.

Vincent respirou fundo, sabia o que significava aquilo. Melissa desviou rapidamente o olhar dele, tomando a lucidez nos pensamentos. Uma dor fina e aguda passou pela extensão do corpo, que infelizmente já conhecia.

— Enfim, por que não dançamos? A música está animada agora. — ele sugeriu, procurando por seu rosto. Encontrou-o quando ela retomou a coragem para encará-lo, cansada do tédio.

— Vin, nós não podemos ir embora? — perguntou manhosa, usando toda sua doçura para convencer o marido. — Eu prometo que te faço o mais homem mais feliz da noite se sairmos agora.

— Irresistível, amor. — selou um rápido selinho nos lábios da esposa, rindo. — Seria falta de educação com Camille, com meu irmão... — Vincent ficou preocupado ao ver o desinteresse no rosto de Melissa. — Camille me disse que reservou uma valsa para nós dois há meia noite.

— Meia noite? Eu vou fazer o que até lá? — ela cruzou os braços, afundando na cadeira. — Por que ninguém perguntou para mim, a aniversariante, se eu queria uma festa dessas, Vincent? — percebeu que falava mais alto que o devido e ficou ruborizada. Não queria ser a ingrata, mas também nem conseguia diminuir o tamanho da frustação.

— Nobres, — respondeu brevemente. — são superficiais. Meu irmão arrumou isso aqui para mostrar a riqueza, reunir uma penca de possíveis parceiros de negócios e você caiu como a perfeita desculpa.

Melissa esbraveceu-se e levantou do lugar, largando de vez a refeição que tentava tomar com paciência. Estendeu a mão a Vincent, que respondeu com uma feição confusa, e disse:

— Vou fumar. Empreste-me os teus.

— Se fuma que nem eu, por que não arranja logo uma carteira? — ele procurou os cigarros no bolso interno do paletó. Encontro-os com facilidade e entregou na mão da esposa, junto ao isqueiro. Vincent, ao contrário de Selina, guardava o isqueiro em uma embalagem mais decorada, gravada com o brasão da família Jorsden.

— Os seus são mais gostosos. — disse com um sorriso bobo no rosto.

Antes de caminhar para fora do salão, Vincent lhe agarrou pelo braço.

— Falando em gostoso, tomarei a proposta de ser o homem mais feliz, assim que sairmos.

Ela se desvencilhou do marido com um riso frouxo e antes de ir para longe, disse:

— Foi uma promoção relâmpago, querido.

—•—•—•—•—•—•—•—•


¹ cartões de visita, ou calling cards em inglês, eram parte da etiqueta da sociedade vitoriana. Seguindo suas próprias regras, indicavam o nome, status e endereço/telefone da pessoa. Foi usado até a 1° Guerra Mundial quando caiu em declínio.

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