-Luke? Ei, Lu? - Sakurai transpira entusiasmo. Hoje à noite a minha família se encontrará com a dela. Claro também com a Família Lupei, a segunda mais importante e poderosa, em termos políticos e sociais, e a Família Kinoshita, sua subordinada.
A Família Sakurai é subordinada dos Wolfgang, assim como os Kinoshita são para os Lupei.
A verdade é que a Família Lupei tem ramos familiares mais intrincados do que as raízes de um carvalho, então eles tem diversas famílias subordinadas, a Kinoshita é só uma delas, porém, a principal.
O objetivo da reunião, Sakurai só descobrirá quando chegar lá. E provavelmente se sentirá traída ou injustiçada. Mas, não é como se eu realmente me importasse com o que ela pensa ou sente. Ela não passa de uma colega de trabalho.
-Luuuuuke? - ela repete. A ignoro. Tento fazer meu trabalho, estou cheio de papelada para prencher. Estou prestes a pegar um papel referente a um contrato com o conglomerado Müller, quando ela apoia os cotovelos em cima do papel, me encarando com olhos enormes cheios de expectativa, como se esperasse algo de mim. - Luke, quanto ao jantar hoje, por que convidar a família Kinoshita? Eu quero dizer, se fosse uma reunião da trindade seria tudo bem, mas é só um jantar pra confraternizar certo? Por que uma família servil iria pra um jantar desses, né? -
- Você parece ter se esquecido que a sua própria família é uma família servil. - Aponto o óbvio fato, tentando fazê-la entender que sua família é apenas uma família subordinada. Ela não será nada além disso. - Tire seus cotovelos da mesa, e vá embora, está me atrapalhando. - Vejo sua expressão ficar carrancuda, mas ela logo põe um sorriso no rosto, e sai pela porta. Me reclino na cadeira, e giro, ficando de frente para a janela de vidro que ocupa a metade superior da parede inteira. Suspiro.
Esta noite.
Esta noite será quando tudo vai mudar.
Esta noite vou conhecer o meu possível futuro esposo.
Eu não poderia jamais, me casar com um ômega normal, ou com uma beta comum. Tinha que ser ele. Ele era o único que poderia passar adiante meus genes, e quem sabe amenizá-los.
Um ômega com uma ancestralidade complicada. O primeiro a nascer ômega depois de quatro gerações só de alfas, ele é neto e bisneto de alfas, filho de um alfa lúpus sangue puro com um ômega lúpus.
Sua linhagem sanguínea é tão pura que seus feromônios chegam a sufocar alfas recessivos quase até a morte, fazer alfas fracos ou comuns desmaiarem, causar paralisia em alfas fortes, e incapacitar os sangue-puro.
Ele é forte o suficiente para aguentar meu rut, e dar à luz um filho para minha família.
Esse é o único objetivo que temos nesse noivado.
Mas nossos motivos são ligeiramente diferentes. Ele precisa dessa união pra assegurar seu posto definitivo como herdeiro e futuro líder da família, pois sendo um ômega, há muitos obstáculos no seu caminho, eu imagino; eu no entanto, preciso urgentemente de um filho, um herdeiro para me livrar de preocupações, nenhum outro ômega seria capaz de suportar meu rut.
Eu já tentei, diversas vezes. As betas não engravidam de forma nenhuma, os ômegas recessivos e ômegas comuns acabam perdendo o bebê, sem conseguir levar a gravidez adiante; uma mulher alfa ou um ômega lúpus ficam extremamente debilitados durante a gravidez, não suportando mais e pedem aborto. Como ninguém consegue aguentar meu rut, todas as gestações foram in vitro.
Não obstante, somos úteis um ao outro, de forma que essas diferenças quase que nada importam. Eu só quero um herdeiro. Ele só quer seu posto.
Não envolve amor.
Nem apreço.
E não é como se tivéssemos escolha de qualquer maneira.
Chamo Sakurai de volta ao escritório para lhe dar da algumas instruções, e aproveito a oportunidade para novamente mencionar o jantar.
-Bom, vejo você às oito em ponto na sala de jantar da mansão. Fique apresentável, mas não se arrume demais. - Digo à ela e acrescento mentalmente;
O centro das atenções esta noite não será você de qualquer forma.
-Certo, entendi - ela responde, parece meio desanimada, porém ainda tem um lampejo de esperança no olhar.
Não quero dar a ela nenhuma expectativa, ou qualquer tipo de permissão para impor intimidade comigo. Nos conhecemos desde sempre, mas não preciso disso na nossa relação.
Nunca houve interesse amoroso ou sexual da minha parte para com ela.
Ela vai embora finamente, espero que não entre de novo. Hora de atacar a papelada. Ouço o tic tac do relógio na parede, contínuamente, hipnotizante.
Tic tac, tic tac, tic tac
Tic tac
Tic Tac
Tic
Tac
T
I
C
T
A
C
-----------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------
-Senhor, está na hora de ir, o expediente está quase no fim.
Não me dei conta que o tempo havia passado, estava em piloto automático o tempo todo. É hora de partir.
Me levanto da cadeira sentindo meus ossos estalarem, olho meu relógio de pulso.
Está quase na hora de conhecer a pessoa com que vou passar a eternidade. Pelo menos pelos próximos 5 anos. Desço pelo elevador, tentando não esbarrar em ninguém, cuidado desnecessário, há literalmente um caminho aberto pra mim no meio da multidão.
Isso é desconfortável.
Vou tentar não pensar muito em tudo, o futuro de uma geração inteira está prestes a ser decidido, não tenho tempo pra perder.
Desço de elevador até o estacionamento, onde encontro o meu carro. Dirijo pra fora e admiro a paisagem da cidade ao anoitecer, o céu está lindo, as nuvens são pedaços esticados de algodão fininho.
Isso é agradável.
Depois de mais ou menos vinte minutos de estrada chego aos portões de famigerada mansão Wolfgang.
Minha outra madrasta está na porta, esperando. Ela é uma beta, mãe do meu meio irmão mais novo. Por mais estranho que seja, meu pai recebeu autorização do tribunal para ter duas esposas. Circunstâncias únicas.
-Lucian. - Ela fala com um sorriso leve no rosto, mas consigo ver a preocupação na forma como suas sobrancelhas estão levemente franzidas. Seus olhos castanhos estão levemente vermelhos e brilhantes. Ela deve ter estado chorando. Me dirijo a ela com um abraço e beijo o topo de sua cabeça, seus cabelos castanhos são os mais brilhantes do mundo. Mesmo que já estejam ficando precocemente grisalhos.
-Mamãe. - sussurro. - Calma, vai dar tudo certo, não se preocupe. - ela me abraça forte de volta, tentando parecer calma, mas posso sentir seu corpo tremer ligeiramente.
-Eu não sei como deveria reagir, meu filho. - ela fala, a voz quebrada - É a sua vida em jogo aqui! Eu queria que você pudesse viver uma vida normal, sair por aí com seus amigos, falar banalidades, não lidar com esse tipo de pressão. - ela fala sem pausas, já deixando escapar algumas lágrimas, a voz instável.
-Não precisa ser tão dramática. - tento fazer o clima ficar mais leve - Não é como se eu estivesse indo pra guerra. - lhe falo calmemente, ainda sem soltá-la.
Minha madrasta? Melhor dizer: minha mãe. Só conheci ela, ela me deu tudo que eu precisei, sempre. Minha pobre e sentimental mãe, sempre tão preocupada. Tão frágil em sua baixa estatura, em suas mãos cheias de cicatrizes pela vez em que não permitiu que meu pai bêbado jogasse uma garrafa de vinho quebrada em mim. Ao mesmo tempo tão forte em suportar tantas provações e tantas perdas.
Faça isso por ela.
Isso é por ela.
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
Oi, autora aqui. Não tenho justificativas pro meu sumiço além da porra de um cronograma estudantil de merda. Duas provas nos dois últimos dias da semana? Teste de matemática no meio? Fala sério, mas desculpinha, tá? Enfim, muitas coisas serão reveladas sobre a família Wolfgang e seus mistérios. Por quê o Pai de Lucian tem duas esposas? Quem são os irmãos dele? Quais foram as provações que sua mãe teve de enfrentar? Quem foi sua mãe biológica? Tudo isso você verá no próximo capítulo de "Globo repórter", digo, "amor não é necessário" kkkk