Hu Long abriu os olhos depois de três longos dias inconsciente e adormecido profundamente. Durante esse tempo, Fai Chen nem sequer saiu por um minuto de seu lado, apenas ficando em silêncio, meditando e esperando ansiosamente que o jovem assassino ficasse bem. Foi a primeira vez que o cultivador tinha presenciado algo daquele tipo em sua vida. Nunca poderia ter imaginado o que um feromônio de raposa causaria no corpo humano e realmente era algo que ninguém, nem mesmo a pessoa mais resistente do mundo, conseguiria suportar.
Quando Fai Chen escutou movimentos mais bruscos, virou seu corpo para a região onde Hu Long descansava e imediatamente levou sua mão ao rosto do jovem, que ainda estava deitado, mas dessa vez com seus olhos bem abertos. Mesmo o cultivador não enxergando graças a venda já colocada, o outro olhava para o mais alto, tentando entender o que o deixou tão preocupado com sua saúde.
"Cegueta, eu dormi?", as primeiras palavras que Fai Chen escutou, depois de três dias sem ouvir algo sair da boca do jovem, deixaram-no muito mais do que satisfeito, mesmo ele continuando a chamá-lo de Cegueta.
"Sim. Como você se sente? Está doendo algum lugar?"
"Por que eu estaria com dor em algum lugar?"
"Eu passei energia espiritual para seu corpo. Você não se lembra?", Fai Chen o questionou, um tanto surpreso por essas perguntas saírem da boca de Hu Long que, aparentemente, estava confuso sobre tudo o que havia acontecido desde o acidente com a raposa.
"A última coisa que consigo lembrar... É de um nevoeiro. Eu te puxei para uma caverna e depois disso tive o sonho mais satisfatório de todos os tempos, com todo respeito", o jovem assassino respondeu, rindo de leve enquanto movia seu corpo para se sentar ao lado do cultivador, que não expressava nada além de uma grande preocupação em seu rosto. "Não me chame de pervertido, mas sonhei que uma Hulijing apareceu, espalhou um tipo de feromônio nos ares, só que eu, como um bom homem, protegi o pobre cultivador inocente das garras do prazer."
"Hu Zhuang..."
"Espera, eu não terminei!", ele continuou, completamente empolgado para contar. "Depois que eu fui envenenado, você me ajudou a acabar com toda a tesão do meu corpo! No caso, você me beijou. Foi emocionante, parecia muito real."
Fai Chen mordeu os lábios, pensando no que deveria ser feito em uma situação como essa. Se ele optasse por omitir, Hu Long jamais saberia sobre o beijo. Por outro lado, se ele dissesse a verdade, o outro jovem iria perturbá-lo ainda mais e dizer gracinhas que os ouvidos do cultivador não aguentariam escutar por tamanha vergonha.
"Um sonho peculiar", o cultivador respondeu, escolhendo omitir a verdade e ter um pouco de paz em seu coração.
"Cegueta... Você vai mentir para mim? O meu beijo é tão ruim assim?", Hu Long falou com uma voz manhosa, deixando claro o que havia feito. O assassino tinha mentido para Fai Chen que havia "sonhado" com o acidente para observar e analisar o que o cultivador faria com aquele dado. Fai Chen caiu perfeitamente em sua armadilha.
O cultivador, com medo de suas próprias reações, levantou-se do chão e começou a andar para fora da caverna, deixando para trás o assassino com suas ideias mirabolantes. Obviamente, essa distância teve como resultado mais perseguições de Hu Long. Em poucos segundos, o jovem já estava ao lado do mais alto e rindo.
"Não precisa ter vergonha, Cegueta. Eu sei que é tentador."
"Somente lhe beijei para salvar a sua sanidade", Fai Chen respondeu um pouco frio, tentando deixar evidente que não queria tocar nesse assunto.
"Esse foi o melhor jeito de passar energia espiritual, certo? Podemos fazer novamente? Oh... Ai... Estou com tanta dor... Cegueta, me ajude!"
Hu Long iniciou uma série de dramas corporais na tentativa de fazer o cultivador perder a linha e ir até ele, porém Fai Chen sabia se controlar.
Até certo limite.
"Hu Zhuang, pare com isso. Eu lhe digo a verdade. Eu apenas quis ajudar, até porque você estava naquela situação delicada... Por minha causa."
"E eu agradeço por isso. Mas não sabia que para me ajudar teria que sentar no meu colo."
"Era o único jeito e você me puxou."
"Eu te puxei? Vai continuar mentindo? Eu me lembro de tudo e quem tomou a atitude de sentar no meu colo foi você."
"Novamente, era o único jeito."
"Cegueta, quando você sentou no meu colo, por acaso sentiu o meu..."
"Deseja que eu corte sua língua?", o cultivador parou de andar, virando-se para o assassino e apertando a bainha de sua espada com o intuito de mostrar ao jovem que estava perdendo sua paciência com as frases chulas.
"Já disse uma vez que minha língua é preciosa demais para ser cortada", uma sequência de risos baixos foi ouvida. Aquela risada era o ponto fraco de Fai Chen. Ele soltou a bainha da espada e suspirou levemente, voltando a sua pose natural. "Cegueta, mas agora falando sério, por quanto tempo eu dormi?"
"Três dias."
"Espera, eu fiquei três dias dormindo e você... Continuou ao meu lado?", o assassino perguntou, pegando no mesmo momento a mão do cultivador e apertando-a. "Você não comeu?"
"Não. Eu consigo manter meu corpo bem apenas com meditação", Fai Chen sorriu, mas não sabia se era por causa da preocupação do jovem ou do ato carinhoso vindo dele em sua mão.
"Puta merda, você devia ter comido alguma coisa", o jovem assassino retrucou, um pouco enfezado, mas não deixando que as emoções de preocupação o tomassem. "Tenho uma ideia, se eu não me engano, estamos na área da floresta sob o domínio de um dos clãs mais baixos. Acho que não haverá problemas se irmos até a pequena cidade RiChu para comermos algo."
"Hu Zhuang, nós não temos dinheiro..."
"E desde quando isso é um problema?"
Fai Chen inclinou o rosto, confuso pela sua frase tão direta a respeito do pagamento pela futura comida. Porém, assim que chegaram na cidade RiChu, suas dúvidas foram esclarecidas.
Hu Long entrou em um estabelecimento pequeno que continha diversos tipos de jogos de apostas e o mesmo conseguia ganhar em absolutamente todos. Era extraordinário esse lado do jovem assassino, que conseguiu se sair tão bem ao ponto de deixar senhores jogadores admirados e alguns extremamente irados por perderem tão facilmente seu dinheiro para um jovem qualquer.
"Percebeu, Cegueta? Consegui juntar a quantia necessária para comermos uma boa refeição esta noite. Está orgulhoso?", Hu Long perguntou, pegando dois potinhos de frango cozido, sentando-se no mesmo banco onde estava Fai Chen.
"Certo. Estou admirado. Como conseguiu ganhar de todos?"
"Anos de prática. Gostaria que eu ensinasse?"
"Hum... Não me parece uma má ideia."
"Não mesmo. Porém, não será gratuito. Quero meu pagamento. "
"Como assim?", Fai Chen o indagou, achando graça naquela conversa entre eles, que fluía tão bem.
Assim que a pergunta foi exposta, Hu Long abriu um sorriso malicioso e aproximou seu rosto de Fai Chen, para que o cultivador sentisse sua respiração bem próxima a dele. Além disso, a mão direita do jovem assassino foi diretamente para o rosto do cultivador, movendo com seus dedos finos uma mecha de cabelo do mesmo para trás, deixando um ar mais carinhoso no ambiente entre eles.
"Poderia me passar energia espiritual daquele jeito?"
"Você está brincando comigo?", Fai Chen soltou uma risada nervosa e tímida, afastando-se um pouco de Hu Long com o intuito de afastar também essa inquietação que fazia seu coração acelerar.
Fai Chen preferia que seu coração estivesse acelerando por causa de um infarto, não por sentimentos.
"Claro que estou", Hu Long riu, distanciando seu corpo também do outro. Para não deixar um clima estranho entre eles, o assassino decidiu mudar de assunto. "Cegueta, você sabia da existência daquelas raposas?"
"Um pouco. Por quê? "
"Estava pensando... Uma grande parte das raposas poderosas, que podem tomar a forma humana, foram extintas por um grande líder, mas os espíritos de Hulijing ainda habitam esse mundo. É fascinante o poder de bestas espirituais! Não acha?"
Os dois homens continuaram a conversar enquanto comiam o frango cozido comprado. Hu Long disse a Fai Chen tudo o que conhecia sobre as diversas lendas das Hulijing e como um líder poderoso conseguiu exterminar um clã inteiro das mesmas. Em nenhum momento da história, Hu Long mostrou sentimentos majestosos por esse líder não nomeado, por outro lado o assassino tinha uma opinião bem diferente da maioria da população a respeito dos yaomos que conseguem tomar forma humana. Se eles conseguiram, foi por bastante trabalho e esforço para viver entre os seres humanos, que conseguem ter uma vida muito melhor do que a deles, muito inferior.
Após finalizarem a refeição, no final do dia voltaram para a trilha da floresta. O Sol ainda estava se pondo, então o clima entre as árvores era ainda agradável. Porém, Fai Chen começou a sentir de leve um vento gelado, deixando claro que o tempo mudaria em poucas horas.
"Precisamos procurar um abrigo, Hu Zhuang", o cultivador mencionou, esperando a resposta do outro homem.
"Concordo, esse vento gelado é uma merda", o assassino começou a olhar ao redor e não muito distante conseguiu ver, mesmo não tendo uma confirmação certa, uma fumaça. Havia uma cabana por perto. "Cegueta, acho que achei uma cabana, venha comigo."
Hu Long pegou pela segunda vez no dia a mão de Fai Chen. O cultivador agradeceu aos deuses por estarem caminhando pela mudança do céu claro para o escuro, pois assim era menos provável que o assassino conseguisse ver a reação dele ao ser pego daquela maneira tão delicada.
Suas orelhas queimavam.
Em alguns minutos, ambos já entravam na pequena cabana perdida na floresta e diversas vozes foram escutadas por Fai Chen dentro da mesma.
"Vocês também são viajantes?", uma voz feminina perguntou de uma maneira calma e sossegada, como se tivesse acabado de acordar.
"Exatamente. Podemos ficar aqui? ", o cultivador respondeu com uma pergunta, continuando a agir educadamente com a mulher que estava próxima.
"Essa cabana não é minha! Foi feita na verdade para viajantes cansados! Então, claro!"
Fai Chen abriu um sorriso, agradecendo pelo ato generoso. Hu Long não sabia ser educado, então apenas ficou calado enquanto o cultivador dialogava com a mulher, que devia ter por volta de uns 20 anos. De qualquer maneira, a presença dela para o assassino era indiferente. O que ele se preocupava era se o seu companheiro de viagem estaria bem e mais quente graças a fogueira acesa no meio da cabana.
"Querem ouvir uma história?", uma voz mais velha foi ouvida, chamando a atenção tanto de Hu Long quanto de Fai Chen.
"SIM, SENHOR! EU QUERO! EU QUERO! ", em seguida, diversas vozes juvenis foram aparecendo e Fai Chen já tinha uma ideia de que estava cercado por jovens e por, talvez, apenas um sábio senhor contador de histórias.
"Então, está certo. Contarei a vocês a história de um homem temido por muitos! No clã Hong, existia um assassino que servia as ordens do Jovem Mestre Hong. Se Hong Shaoran pedisse a execução de qualquer um, o Assassino de Olhos Sanguinários não deixava nem sequer uma única parte da alma viva. Ele destroçava e sem medo das consequências", o contador de histórias começou a mencionar, deixando Fai Chen intrigado, mas Hu Long um pouco perturbado, por estar ouvindo uma parte de sua história saindo da boca de um ser humano aleatório.
"Ele sempre foi fiel ao Jovem Mestre Hong?", um dos garotos perguntou, querendo saber mais a respeito.
"Muitos dizem que ele era tão fiel que deixou seu coração nas mãos de Hong Shaoran antes de partir para longe do clã", assim que o cultivador mencionou essa parte totalmente equivocada da história, Hu Long soltou um riso próximo a Fai Chen, fazendo com que o cultivador risse um pouco também.
"Então, quer dizer que o Assassino de Olhos Sanguinários era um corta-manga?", o mesmo jovem questionou novamente, fazendo com que os outros rapazes do local começassem a cochichar.
"Não há dúvidas sobre isso!", o contador soltou uma risada baixa, começando a gerar outro assunto entre os jovens.
Enquanto isso, Hu Long virou seu rosto para o cultivador, que se segurava para não soltar risadas mais altas. Aos olhos do assassino, parecia que Fai Chen estava se divertindo com aquilo e por mais que a parte do "coração ser dado a Hong Shaoran" fosse completamente um equívoco, Hu Long gostou de observar o homem ao seu lado rindo da situação desastrosa que estava a imagem do Assassino de Olhos Sanguinários.
"Senhor, tem outra história?", uma das pessoas levantou a voz e perguntou, mostrando uma certa ansiedade.
"Outra história? Deixe-me ver... Bem, recentemente soube de uma história de um misterioso cultivador demoníaco que habitava também o clã Hong, porém, a história é bem pesada, jovens", o contador mencionou mostrando uma certa preocupação, mas que na verdade era tremendamente falsa, pois adoraria contar a todos o que descobriu.
"Conte para nós", todos disseram em conjunto.
"Está certo! Vocês já ouviram falar do Machado Branco? "
A partir do momento que Fai Chen ouviu esse nome, arrepiou-se completamente interessado em ouvir a história. Por outro lado, Hu Long arregalou os olhos e seu coração quebrou-se imediatamente quando ouviu esse título.
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Observações:
- Corta-Manga: Essa expressão surgiu durante a Dinastia Han (cerca de 200 a.C), quando o imperador Ai de Han e o guerreiro Dong Xian tiveram um relacionamento. De acordo com a lenda, dizem que, em uma noite, Dong Xian adormeceu nos braços do imperador e quando o imperador tinha que deixá-lo, ele preferiu cortar a manga de sua própria roupa do que acordar o rapaz. Corta-manga, então, passou a ser usado como um sinônimo de homem homossexual.
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- ale yang on -
Consegui publicar mais cedo! Esse capítulo foi mais engraçadinho. Sinceramente, eu adorei escrever o Hu Long com um jeito manhoso para cima do Fai Chen, é muito adorável. Espero que tenham gostado e estejam preparados para a história (uma parte) sobre o Machado Branco.
Até sexta-feira!