UNKNOWN - Jikook | Mpreg

By evy_amaze

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Park Jimin, um jovem pintor de vinte e seis anos, descobre que está à espera do seu primeiro bebê. Ele vê o s... More

Apresentação e avisos
Como o bebê poderá nascer?
|1| Você será papai
|2| sozinho
|3| Um estranho legal
|4| amigos
|5| Desconhecido
|6| Você está lindo
|7| Me desculpa
|8| Novas chances
|9| Acho que estou ferrado
|10| Qual o gênero do bebê?
|11| A verdade por trás do desespero
|12| Pedido
|13| Mochi
|14| Acontecimentos
|15| Tempo certo
|16| Calmaria
|17| Nascimentos e encontros
|18| Último tão esperado mês
|19| Seja bem-vindo ao mundo
|20| Primeiros momentos
|21| Momentos em família
|22| Pensamentos
|23| Quando o clima esquenta
|24| Laços incríveis
|25| Nossos cantinhos
Choro e alegria *
A exposição *
Amor em diversas formas*
Rotinas ou não*
Almoço entre amigos*
Ficar longe é ruim *
Vidas, carreira e reencontros *
Eu sou você, você sou eu *
Fluindo*
Mudanças*
Descobertas e Despedidas*
Vai passar*
Em pedaços *
Reconstrução *
Amor e amizade*
Busan*
Escolhas*
Progresso*
Proteção *
Saudade*
Meu corpo, teu corpo*
Coração puro*
Uma dura infância - Especial Yugyeom*
Reinícios e inícios*
O fim de uma espera, a chegada de dois anjos - Esp. Seokjin *
Ciúmes?*
Coração acelerado*
Duas vidas*
Testes*
Resultados*
Orgulho e amor*
Alegrias e Términos*
Família maior*
Fortes amizades*
Crises escondidas*
Enfim o fim*
Famílias e Hormônios*
Corpos bagunçados*
Inseguranças e temor*
Estrelas e arco-íris*
Feliz aniversário*
Destinos e bebês*
Uma nova e pequena vida. - Esp. Taehyung*
Outra vez?*
Chegadas*
Presentes*
Transformando-se*
Juntos?*
Vivências*
Para sempre - parte 1*
Para sempre - parte 2*
OFFSPRING | Spin-off
|As crianças|
|Destinos|
|Fuga|
|Festa|
|Bolinhos|
|Resposta|
|Ensinos|
|Em conjunto|
|O Primeiro amor|
|Eu e você|
|Para sempre|
Feliz Caos! - Especial de natal
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O último adeus*

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By evy_amaze

JIMIN

Mesmo sabendo que um dia a vida acabará, ninguém nunca está pronto para sentir a verdadeira dor da perda.

E eu estou sentindo-a agora, novamente.

Meu pai.

Perdi-o há quinze anos. Perdi-o há um dia.

Após anos fantasiando como seria se um dia eu pudesse novamente senti-lo e abraçá-lo, eu pude. E agora não poderei mais.

Receber a notícia de seu estado de saúde, vê-lo sobre uma cama hospitalar, e nem sequer ouvir novamente sua voz, fez meu coração se partir mais do que qualquer fez se partiu, mas eu fui forte.

Eu esqueci, por mim e por ele, todos os quinze anos, para apenas viver alguns dias, os últimos, bem ao lado dele.

Foram nove dias.

Nove dias em que eu pude falar sobre tudo, e contar sobre tudo para ele.

Eu via em seu rosto paralisado, e cheio de marca de tudo o que lhe havia acontecido, o quanto ele gostava de me ouvir, e após anos, eu pude descansar e entender que tinha o meu pai comigo.

Eu não cheguei a odiá-lo, mas jurei que não o amaria novamente. Mas a verdade é que por mais que tenha doído, e demorado, meu amor por ele nunca acabou, apenas havia adormecido sobre a camada da dor de se sentir abandonado, e só agora havia ressurgido.

Foram poucos dias, mas pude contar tudo o que estava me fazendo bem hoje, e isso consistiu em desabafos sobre Jiwan, Jungkook e arte, minhas três paixões.

Meus três amores.

Meu pai sorria toda vez em que eu me empolgava ao falar sobre eles, mas eu percebia seu esforço para estar ㅡ ao menos parecendo bem enquanto estava ali.

Jun-ho, o meu irmão mais novo, me contava sempre quando saia daquele quarto, o verdadeiro estado dele.

Heejin também, ela era envergonhada, talvez achasse que eu realmente a odiasse, mas sempre fazia questão de me contar o que estava de fato acontecendo.

Meu pai estava morrendo há muito tempo.

Eu esperava que algo já o acontecesse, estava ciente disso, só não esperava que fosse algo tão rápido, que não me desse a chance de passar mais um tempo com ele.

Receber a notícia de sua morte logo de manhã, fez todo o meu dia morrer também.

Talvez fosse uma coisa de que a vida gostasse de me fazer sentir. Dor.

Eu estava sentindo dor em meu coração novamente, mas essa era pior, maior, e não iria sumir nunca mais, porque era a perda.

A perda do meu pai.

Agradeci por ter Jungkook ao meu lado para me segurar e amparar, pois, tenho certeza que sem ele, eu já teria desabado.

Foram horas negando aquela notícia, enquanto me encolhia cada vez mais sobre a cama.

Minha mãe logo chegou, e veio ao meu encontro.

Após anos eu chorei em seu colo.

Ela não chorou, é uma mulher forte, sabe se controlar, mas como a boa mãe que sempre foi, me amparou, e limpou minhas lágrimas por horas, até que eu tive que enfim aceitar.

Jun-ho ligou para mim na manhã seguinte, e me explicou tudo sobre o funeral.

Eu teria pouco tempo para dar meu adeus, mas faria como eu achasse que ele queria que acontecesse, ao lado de Jun-ho, Yuna, e minha família.

Então, foi com o dia cinza para mim, que acordei cedo, tomei um banho longo e quente, e fui à busca do terno preto que usaria aquela manhã, e que havia sido separado a noite anterior por Jungkook.

O observei ainda no cabide no canto, e antes de vesti-lo, sentei-me no chão, encarando a roupa.

Era isso.

O último adeus.

Era estranho pensar que após anos, eu enfim havia encontrado meu pai, e como um sopro, o perdi novamente. Observar aquela roupa me fez sentir uma dor profunda, que é não vê-lo mais.

Encolhido ali, eu chorei quieto, mas não em silêncio, fazendo assim Jungkook vir até a mim, e ainda sonolento, e com o semblante claramente triste e preocupado, me abraçando em silêncio, e apenas me acalentando, fazendo com que eu chorasse um pouco em seus braços.

ㅡ Você quer ajuda? ㅡ ele perguntou baixo, ainda me prendendo. Eu apenas assinto, e sinto-o me erguer devagar. ㅡ Quer deitar um pouco? ㅡ nego.

ㅡ Eu preciso me arrumar. ㅡ falei baixo, buscando os braços deles, rodeando meu corpo para que me abraçasse. ㅡ me ajuda com a roupa, por favor...

Jungkook assente, deixando um beijo em minha testa, e me pondo sentado sobre o banco de apoio que havia ali, e ajoelhado a minha frente, deixou beijos castos sobre meu joelho, apenas para me passar a mensagem muda de que estava ali, comigo.

Sem anúncios, ele foi até uma das gavetas, buscou uma cueca minha, e retornou. Com minha ajuda, passou por minhas pernas, com todo o cuidado do mundo, e apenas me ergui, colocando-a enfim.

ㅡ Eu te amo tanto, minha vida. ㅡ ele disse ainda baixo, logo após que me pus de pé, colocando assim minha calça. ㅡ se precisar de algo, por favor, me diga. Você sabe que estou ao teu lado, uh? ㅡ tocou meu rosto. Assenti e sorri fraco, encostando minha cabeça em seu peito assim que fechou minha calça.

ㅡ Deite um pouco. ㅡ pediu. ㅡ irei tomar um banho, e para me arrumar também. Depois você veste a camisa.

ㅡ só mais um pouco. ㅡ pedi ainda encostado em seu peito. Jungkook rodeou os braços em torno de meus ombros, e daquele jeito, ficamos por minutos.

Ele foi, e talvez sempre será a pessoa que me acalma.

Talvez seja esse um dos feitos do amor recíproco. Nos sentimos bem ao lado de quem sabemos que amamos e somos amados.

Não demoramos muito por saber que naquele evento havia horário. Deitei a cama como Jeon me pediu, e tentei descansar um pouco minha mente que só teimava em retornar a imagem antiga, e boa de meu pai ainda são, e ainda bem, comigo.

Jungkook tomou seu banho, não demorando muito no feito, e logo retornou. Encolhido, o observei procurar por sua roupa íntima, logo a vestindo, e ponto sua calça social.

Enquanto buscava nossas camisas, ele me olhou com seu jeitinho curioso e cuidadoso, e sentou ao meu lado.

ㅡ Sua mãe está vindo. ㅡ avisou. ㅡ ela nos ajudará com Jiwan, mas preciso ir acordá-lo.

ㅡ tudo bem... ㅡ disse assentindo. ㅡ pode ir.

ㅡ Vá comer algo. Não pode sair com o estômago vazio.

ㅡ Não tenho fome, Kook. Se não se importa, ficarei aqui um pouco, e logo vou. Tudo bem?

Jungkook suspirou, erguendo a mão e acariciando meu rosto, e por fim assentiu.

ㅡ Tudo bem... Como quiser.

Com um beijo em minha testa, ele se despediu, e foi para o quarto de Jiwan.

Ainda encolhido, suspirei, e busquei meu celular.

Havia algumas mensagens. De meus amigos, familiares por parte de Jungkook, e de meu irmão. Jun-ho havia me mandado suas primeiras mensagens, e infelizmente, nelas tinham o endereço e local do funeral.

Respondendo algumas, e deixando outras para depois, me ergui, ouvindo o chorinho baixo de Jiwan e a voz de Jungkook. Caminhei ainda sem camisa para o quarto ao lado, e os encontrei lá.

Jungkook estava com Jiwan enrolado em uma toalha, o balançando. Enquanto Jiwan chorava e ele procurava por roupas com apenas uma mão livre.

ㅡ Me deixa com ele. ㅡ pedi me aproximando. Jungkook me olhou pelo breve susto com minha voz, e me entregou o bebê.

Sentei sobre a cadeira ali, e no mesmo instante Jiwan parou com o choro. Sorri para ele, vendo o rostinho vermelho e observador, me encarando.

Poderia ser estranho, contando que vejo meu filho todos os dias, mas sentia falta de um momento assim, mais íntimo com ele.

Jungkook veio até nós, carregando uma fralda, e roupas.

ㅡ Eu troco. ㅡ pedi, ficando de pé, e buscando tudo de sua mão.

Talvez Jungkook tenha entendido que, no momento, aquilo era o que eu queria e precisava fazer com meu filho.

ㅡ Você é um bom pai, Jimin. ㅡ ele falou parando ao meu lado.

Não sei ao certo o porquê ele disse isso, mas sorri assentindo, levando minha atenção logo em seguida para Jiwan, iniciando tudo que havia de fazer.

ㅡ Você também, Jungkook. Você é, e tenho certeza que sempre será.

Ele me abraçou, deixando um selar em minha nuca, mas logo se afastou ao ouvir a campainha tocar.

A espera pela minha mãe, não causou estranheza, então ele apenas caminhou até a sala, me deixando a sós com Jiwan.

O bebê agora mordia suas mãozinhas, e vez ou outra sorria me olhando. Enquanto prendia a fralda, vi-o dar um de seus sorrisos, e aquilo fez meu coração pulsar forte.

Vesti a calça que Jungkook havia separado para ele. E coloquei-o sentado, para pôr a blusa.

ㅡ Eu nunca vou te deixar. Eu prometo. ㅡ disse olhando bem de pertinho aqueles olhinhos escuros me encarar.

Jiwan não entende nada disso, sequer sabe que hoje é um dia triste, porém como Jungkook uma vez me disse, é como se o bebê sentisse nossos corações, então é quando o vejo erguer os braços a mim, querendo colo, que sorrio sentindo novamente meu coração pulsar forte.

Ele é o que tenho de melhor, e a cada segundo que se passa, meu amor aumenta. Jiwan é uma cura nossa, isso é certo, e é como se entendesse isso, que sinto as mãos pequenas me apertarem na bochecha, logo tentando morder ㅡ ou beijar o local, deixando tudo sujo por baba, me fazendo ri com os sons que eram soltos.

ㅡ Isso são beijos? ㅡ pergunto o afastando um pouco, e vendo um fio longo de baba de minha bochecha a ele.

Jiwan novamente sorri, e desta vez fecha os olhinhos, formando duas pequenas linhas, e em seguida, solta uma risada alta.

Eu apenas o abraço forte, nem ligando para a sujeita que está em meu rosto, aspirando ao cheirinho bom de seus cabelos longos, e sentindo a calma que aquilo proporcionava a meu corpo.

É depois de nosso breve momento junto, fortalecendo nosso laço que finalizo de pôr sua roupa, e penteio os fios.

Com ele arrumado, eu caminho e vou até à sala.

Lá, minha mãe está sentada sobre o sofá, e Jungkook na cozinha, espremendo algumas laranjas para fazer suco.

ㅡ Bom dia, chimmy. ㅡ ela diz, ficando de pé.

ㅡ Bom dia, mamãe. ㅡ falo indo até seus braços erguidos, e sinto-me acolhido junto à Jiwan ali.

ㅡ Kook me disse que você estava tendo um tempinho com Jiwan, então decidi deixá-los a sós. ㅡ assenti sorrindo fraco, e entregando-a Jiwan ㅡ Como se sente?

ㅡ Estranho. ㅡ falo. ㅡ é estranho saber que demorou tudo isso, para agora acabar de uma vez por toda.

ㅡ eu te entendo. ㅡ ela suspira.

ㅡ Jimin-ah... ㅡ Jungkook chama. Olho-o e vejo pondo o suco que havia acabado de fazer em um copo.

Não é preciso ser dito mais nada, para que eu entenda que ele insiste em que eu coma aquilo mesmo estando sem fome.

Busco um copo, fazendo rir, e vejo-o caminhar rápido em direção a nosso quarto, talvez para enfim pôr sua camisa, e assim cobrir seu tronco nu, já que minha mãe está aqui.

ㅡ Você irá? ㅡ pergunto caminhando até a sala, e tomando do suco.

ㅡ Irei. Jung-su foi uma pessoa boa e importante para nós... Seria desumano de minha parte não prestar o último adeus.

ㅡ Você é tão maravilhosa, mãe... ㅡ digo, sentando ao seu lado. ㅡ Seu coração é invejável.

ㅡ O seu coração é idêntico ao meu, meu anjo. ㅡ ela diz rindo a mim.

Sorrio, e vejo-a tocar Jiwan, logo iniciando alguns carinhos no bebê.

ㅡ Vá se trocar. Eu fico com ele. ㅡ ela diz olhando Jiwan. Bebo todo o suco em questão de segundos, e assinto. Deixo um beijo sobre a testa dela, sentindo uma necessidade absurda de demonstrar o quanto ela me faz bem, e caminho até o quarto, antes deixando copo sobre a bancada.

Caminho logo chegando ao quarto, encontrando Jungkook vestindo sua roupa, e assim sou notado.

Em silêncio, busco minha camisa sobre a cama, e visto-a. Ele continua a me olhar, mas não é como se precisasse falar algo para que eu entendesse que sim, ele estava totalmente preocupado me olhando.

ㅡ Eu estou bem, Kook. ㅡ digo de costas, terminando de abotoar minha camisa. Ouço-o suspirar, mas nada é dito.

Quando me viro, vejo-o caminhar até nosso closet, e de lá, traz meu terno.

Ele não vestiria um, mas eu fiz questão de vestir. Talvez fosse falar algo, não sabia ao certo, mas, no fundo, eu queria falar.

Queria poder demonstrar um pouco do que senti durante toda a minha vida, o que por mais que eu tentasse esconder, sempre foi bastante aparente.

Após me vestir, com a ajuda de Jungkook ㅡ mesmo não sendo mais necessária, e vi, mais uma vez no dia, seu carinho a mim em toques, carinhos e sorrisos.

Saímos juntos, e encontramos com minha mãe e Jiwan novamente na sala.

Em silêncio, recolhemos nossas coisas, e caminhamos até o carro.

Jungkook iria dirigir, minha mãe sentou ao seu lado, e eu sentei-me atrás junto à Jiwan. O caminho até a igreja onde iriam acontecer as homenagens foi breve, e logo estávamos parados em frente.

Jun-ho estava parado a frente. Vestia um terno também, e seus olhos prendiam-se ao chão, totalmente cabisbaixo ao lado de nossa irmã, Yuna, que mesmo jovem, entendia o que acontecia ali, e não parecia tão abalada, pois no final, eles já esperavam que aquilo uma hora fosse acontecer, não era novidade.

ㅡ Hyung, oi. ㅡ ele disse assim que descemos do carro e caminhamos até a entrada. ㅡ Jungkook. Noona. ㅡ cumprimentou os demais. ㅡ Já iremos começar, hyung. ㅡ disse a mim. ㅡ estou apenas tomando um ar, é estranho ficar lá e encarar aquele caixão preto.

Assenti, sentindo a mão de Jungkook repousar em minha cintura.

ㅡ Irei cumprimentar Heejin junto a Sun noona. Te espero lá dentro.

Assenti novamente, sorrindo fraco para ele, apenas lhe dando a resposta, e novamente Jun-ho o cumprimentou com um reverenciar junto a minha mãe.

ㅡ Não imaginei que sua mãe viesse. Eu pensei que ela não gostasse do papai. ㅡ Jun-ho comentou caminhando até um canto. Segui-o, e encostei-me a um dos pilares dali.

ㅡ Não. Nem eu, nem ela temos ódio de nada, Jun-ho. O papai fez o que fez, mas teve seus motivos. No fim, estamos bem, e ele parece ter vivido bem, isso que importa.

ㅡ Sabe, hyung, ele sempre falou bem de você. Sempre. ㅡ Observei o rosto de Jun-ho. Ele encarava a frente, de modo pensativo, e sorria. ㅡ Ele nos contou o que fez, Nunca escondeu... Mamãe se envergonhava, mas ele disse que não pôde fazer muito. Apenas se lamentava por não estar próximo a você. Disso ele se envergonhava.

ㅡ Você que viveu e conviveu com ele, por que ele nunca me atendeu quando ligava? ㅡ perguntei diretamente, não demorando em nada. ㅡ Eu nunca entendi isso, sabe. Talvez eu entenda agora que ele nunca foi nos visitar porque se envergonhava do que havia feito, mas ele nunca ligou, e nunca me atendeu, eu o perdoaria sem sequer pensar, a saudade que senti foi ainda pior do que ele fez conosco.

ㅡ Ele me disse uma vez que te prometeu uma ligação, mas que nunca ligou... Sinto muito por isso, hyung.

Neguei dando de ombros, mas relembrar aquilo me doeu tanto que eu senti meu corpo temer ao entrar naquele lugar, vendo a realidade bem a minha frente.

Eu nunca recebi uma ligação. E nunca irei receber.

ㅡ Sabe, hyung, eu não sei te responder nada disso... Mas sei que quando o papai deixou a sua mãe, a minha já estava grávida.

ㅡ É, eu soube depois. Eu sempre quis conhecer vocês, mas como disse, ele nunca me atendia.

ㅡ Você o perdoa por isso? ㅡ olhou para mim. Senti o peso da pergunta, mas não demorei em assentir, porque no fim eu sempre perdoava aquele em que meu coração nutria amor. ㅡ Talvez eu não o perdoasse. Ele deixou uma família para construir outra... Isso me soa muito errado.

ㅡ Ei. ㅡ chamei-o, e vi erguer o olhar. ㅡ Nada está destruído, Jun-ho. Somos irmãos. Eu, você, e Yuna... Você é minha família, então talvez ele tenha destruído corações, mas a família ainda está de pé.

ㅡ Isso foi algo que sempre o orgulhou, hyung. Você fala de modo bonito, parece ter um coração bem bonito também. O papai sempre te elogiou muito.

Eu sorri aquele momento, e neguei a vontade que tive de apenas abraçar o garoto. Suspirei, sentindo-me muito cansado, e apenas ergui minha mão para tocá-lo sobre o ombro.

ㅡ Vamos lá?

ㅡ Obrigado, hyung. Obrigado por perdoá-lo. Talvez ele não dissesse, mas não te ter, era o fardo que o enchia de remorso e culpa. Aquele dia, no hospital, eu vi o papai abrir os olhos, e mover-se mesmo que pouco, porque era como se, enfim, ele estivesse em paz.

Suspirei novamente, e encarando-o agora de frente enquanto segurava seu ombro com minha destra, puxei-o para um abraço.

Jun-ho não se surpreendeu com meu ato, talvez estivesse à espera de algo, e apenas me apertou de volta.

Aquilo me soava estranho, mas era bom. Afaguei-o nas costas, e com mais um aperto, me afastei para encará-lo.

ㅡ Somos uma família agora, ok?

Jun-ho assentiu, sorrindo, e fazendo-me prestar ainda mais atenção em seu semblante familiar e em como suas sobrancelhas franziam iguais às dele quando ria.

ㅡ Obrigado. ㅡ ele disse por fim, passando sua mão por meu ombro, deixando duas tapinhas ali. ㅡ meu irmão...

Após minutos ali, entramos, e cumprimentando algumas poucas pessoas, sentei-me junto a Jungkook e nossa família.

ㅡ Jimin-ah, Heejin disse que se você quisesse e se sentisse à vontade, poderia subir e falar algumas palavras.

Olhei para Jungkook, e prestei atenção em cada uma das palavras. Em seguida, olhei para minha mãe. Ela tinha a pontinha do nariz vermelha, evidência de um provável choro quieto, mas sorria, enquanto assentia e segurava Jiwan em seu colo.

ㅡ Vá. ㅡ ela disse.

Olhei adiante e pela primeira vez, ao lado de uma foto bonita dele, percebi o caixão fechado.

Não era nada típico de nosso país fazer algo assim, mas uma cerimônia mais íntima, e que nos proporcionasse uma última despedida com ainda seu corpo, foi o que sua esposa optou, então apenas concordamos.

A capela era pequena, em tons marrons, e estávamos sentados bem próximos de onde ele estava e de onde aconteceriam as homenagens.

Em um impulso impensado, pus-me de pé, e dando apenas cinco passos, parei ao lado da caixa.

Incerto, e em silêncio, toquei a superfície, e como se fosse instantâneo, uma corrente me acertou, arrepiando-me por inteiro, apenas me fazendo enfim perceber tudo.

Meus dedos correram por entre a planície, tocando o material duro e como se fosse em seu rosto, um carinho foi deixado ali.

Eu não conseguia ter palavras para dizer-lhe aquele momento, então apenas me inclinei devagar, e deixei um beijo demorado sobre.

Meu coração se apertou em meu peito, mas estranhamente sorri, dizendo em minha mente que ele podia ficar tranquilo, que o amava e que tudo estava bem.

Quando retornei, Jungkook procurou minha mão, e deixando um beijo sobre o dorso, acariciou com seus dedos.

Quando enfim tudo começou, ouvi atentamente as palavras ditas a ele.

Um a um de seus poucos amigos foram à frente, e em choros e palavras bonitas, se despediram.

Heejin também foi, e Jun-ho apenas a acalentou, o que parecia surtir efeito, a mulher estava em prantos.

Quando por fim, ela saiu, o silêncio veio, e como se fosse um convite, eu respirei fundo, e me ergui, caminhando até a frente, e tomando a atenção dos que estavam ali.

Pouco mais de trinta pessoas, Jungkook e minha mãe, me olharam.

Novamente, meus olhos foram ao caixão ao lado, e meus dedos tocaram a superfície. Meu coração se apertou, e minha garganta secou. Engoli em seco, fechando os olhos e vendo-o sorrir para mim, em seus últimos dias.

ㅡ Muitos aqui não me conhecem, mas Jung-su é meu pai... ㅡ disse e assim olhei adiante. ㅡ eu não pude conviver muito com ele, mas, o pouco, me foi suficiente. ㅡ sorri fraco, voltando o olhar a caixa escura. ㅡ Eu amei-o e irei amar até o fim de meus dias, porque é assim que um filho ama, e é assim que um filho deve ser amado. Jung-su, meu pai, me amou em seus últimos dias, e sou grato a ele. Muito do que poderia falar aqui, já foi dito a todos, e assim, nos resta somente o adeus. Jung-su com certeza foi um homem bom. Ele foi um homem bom por doze anos para mim, e foi por nove dias. ㅡ sorri e ouvindo os passos, senti Jun-ho parar a meu lado, enlaçando meu ombro, atribuindo minhas palavras a si. ㅡ Ele me deu a vida. ㅡ falei ainda olhando para ele. ㅡ Ele me deu irmãos. ㅡ suspirei e senti os dedos de Jun-ho apertar-me devagar. ㅡ Obrigado pai. ㅡ Falei em um sussurro.

ㅡ Obrigado pai. ㅡ Jun-ho falou ao lado.

Sorri olhando para meu irmão, e ainda junto a ele, abaixei-me novamente, deixando um beijo sobre a madeira, me despedindo.

ㅡ Eu te amo...

Em silêncio, senti um abraço frouxo de meu irmão, e logo voltei ao meu lugar, entrelaçando novamente os dedos ao de Jeon, e apenas ouvindo as palavras finais que davam ao encerramento.

Tenho orgulho de você.

Apenas sorri, e encostei-me ao ombro de Jungkook, ouvindo confirmar mais uma vez o que havia dito, e sentindo um beijo ser deixado sobre minha testa.

ㅡ Obrigado por estar comigo nessa. ㅡ falei baixo, apenas para que ele ouvisse.

ㅡ Estarei com você em tudo, chimmy.

Nada mais foi preciso ser dito para que meu coração bagunçado, se aquietasse um pouco.

A cerimônia chegou ao fim, e a hora que ninguém gostava havia chegado.

Caminhando quieto ao lado de Jun-ho, segurando uma das alças do caixão, fomos até o grande gramado logo atrás, onde ficava situado o cemitério.

Era um lugar bonito, parecia calmo, e com certeza organizado.

Com a ajuda dos que estavam ali prestando seu papel, Meu pai foi deixado sobre a pedra, e apenas dando o último ㅡ e definitivo adeus, o vimos descer.

Foi doloroso vê-lo lá, e doeu ainda mais quando, por fim, selaram a cova, deixando-o abaixo de uma enorme placa de concreto.

Como se já se acostumasse com o feito, um a um dos que antes estavam juntos a nós, foram saindo. O lugar foi ficando vazio, e apenas os que eram próximos a ele ficaram.

Vi Heejin ainda chorando, se aproximou de minha mãe, que chorava contida e disfarçadamente, enquanto balançava o bebê. Ela apenas sorriu, e surpreendentemente, minha mãe retribuiu. Aquilo serviu como um passe para que a mulher reaproximasse ainda mais da ex-melhor amiga, e amparasse-a e fosse amparada pela dor da perda.

Caminharam ao lado. Yuna foi junto, deixando-me apenas com Jungkook e Jun-ho encarando o túmulo lacrado e enfeitado por flores e faixas.

ㅡ Você quer um minuto? ㅡ Jungkook perguntou baixo. Apenas assinto, sentindo-o novamente deixar um beijo em minha testa, e logo seguir pelo mesmo caminho que minha mãe havia ido.

ㅡ Hyung. ㅡ Jun-ho chama. Ergo meu olhar, e vejo-o parar ao meu lado. ㅡ eu prometi que te entregaria isso. ㅡ Olho para suas mãos, e percebo o pequeno papel dobrado ali. Busco em silêncio, e vejo Jun-ho se afastar. ㅡ se despeça dele... Nos vemos depois.

E seguindo o mesmo caminho que os outros, ele se vai, me deixando a sós em frente ao túmulo, segurando aquilo.

Eu espero que todos não estejam mais próximos, e me livrando da pose, caio em um choro dolorido e quieto, apoiando minhas mãos sobre a grama, apenas para sentar-me sobre, apoiando minhas costas onde agora meu pai descansava.

ㅡ Por que me deixou isso, pai? ㅡ pergunto com a voz trêmula. Meus olhos se fecham inconsciente, e meus lábios tremulam, agora me deixando completamente entregue à dor. ㅡ Eu acabei de te encontrar... ㅡ lamento sozinho.

Minhas pernas se juntam ao meu peito, e como o garotinho que fui quando o vi pela última vez, há quinze anos, eu me encolhi, desejando sentir o abraço forte dele.

Busquei meu celular em meu bolso, e enxugando as lagrimas soltas, funguei e busquei a música que sempre ouvíamos quando ele colocava sua vitrola antiga para rodar, e sentávamos no meio da sala.

ㅡ O senhor lembra, certo? ㅡ sorri dando play. O som logo ecoou pelo lugar vazio, e encostando minha cabeça novamente no concreto frio, fechei meus olhos, tocando com calma a grama verde, cantando baixo. Apertei com mais forças os olhos, comprimindo os lábios, e não conseguindo segurar mais as lágrimas que teimavam em cair. Com a voz rouca, continuei a cantar cada pequena palavra, lembrando-me e até o ouvindo cantar em minha mente, sorrindo como antes fazia, enquanto mudava a voz para cantar. Funguei alto, suspirando o cheiro das flores deixadas ali, ouvindo nada mais que a canção reproduzida no aparelho, sentindo-me despedaçar com o último verso, que, agora, doía muito cantar sozinho.

Ouvindo novamente o silêncio, permaneci de olhos fechados, sentindo o maldito cheiro das flores deixadas ali em sua homenagem.

Foram minutos afins, apenas quieto me despedindo e encharcando-me em lágrimas, segurando o papel em que sabia conter mais palavras dolorosas, e optando por lê-las depois.

Quando me ergui, toquei a pedra, e apenas caminhei, sem olhar para trás, ou cairia, tinha certeza.

Jungkook estava sentado em frente à capela, junto a minha mãe e Jiwan, e parecia aflito. Quando me viu, apenas endireitou a postura, e me esperou, como se soubesse que, de fato, eu iria para seus braços.

E foi ali, que mais uma ㅡ dentre tantas vezes, eu chorei novamente.

Com o afago calmo dele em meus cabelos, e de minha mãe em minhas costas, forcei-me a conter tudo ali, e fungando e secando meu rosto úmido, olhei apenas para ver Jun-ho e Yuna ao longe, acenando em despedida, e seguindo devagar de volta ao carro em que viemos.

Jungkook foi quem ajeitou Jiwan na cadeirinha e minha mãe que foi junto a ele. Sentei-me ao seu lado, e apoiei a cabeça na janela.

Detestava parecer melancólico, mas ali, não era como se tivesse culpa alguma. E com todo o respeito que tem a mim, Kook e minha mãe ficaram quietos, apenas me deixando ainda mais quieto.

Em casa, cansado, Jungkook aceitou a ajuda de minha mãe com o bebê, e eu apenas fui direto para debaixo do chuveiro, me lavar, e quem sabe se livrar do cheiro maldito das flores que pareciam ter impregnado em meu nariz.

Encolhido sobre o lençol e segurando o papel, percebi Jungkook entrar ao quarto, e como sempre, me olhar com seu jeitinho cuidadoso de sempre. Sorri, e vi-o caminhar até o banheiro, logo tomando um rápido banho, para assim, me fazer companhia, e me deixar em conforto mais uma vez em seus braços.

ㅡ Mamãe já foi? ㅡ perguntei ainda olhando o papel. Ele assentiu, me pondo sobre seu braço.

ㅡ E Jiwan dormiu rápido, estava cansado. ㅡ assenti, me esticando um pouco para deixar um beijo em seu queixo.

ㅡ pode ler isso para mim?

ㅡ tem certeza? ㅡ ele pergunta me olhando. Assinto e entrego-o o papel. ㅡ tudo bem.

Não é preciso que levantemos, ou sentemos para que isso seja feito. Não. Jungkook apenas desdobra o papel, e me mostra as letras totalmente organizadas, e aquilo faz meu coração acelerar, porque é a letra do meu pai.

"Para meu filho. Jimin.

Não quero que chore, pois, a ligar as circunstâncias que esse pequeno papel chegou a suas mãos, eu já não estou mais dentre as pessoas no mundo, mas não chore. Sorria, você sempre ficou muito bonito sorrindo.

Meu pequeno Jimin, gostaria de me desculpar por todo esse tempo.

Errei contigo, e isso me faz pensar no quão ruim fui, mas, por favor, não se culpe de nada.

Há alguns anos, eu fiz algo ruim com você e com Sun-young, e isso me envergonhará até meus últimos dias.

Espero que me desculpe por tudo, e se te fiz chorar, perdão, eu não pensei naquele tempo.

Gostaria que soubesse que você sempre foi meu orgulho, e todas às vezes que notícias sobre você, ou sua carreira, apareciam, eu só conseguia pensar em como Sun-young fez um bom trabalho em te criar, e em como você se tornou uma boa pessoa, talentoso e muito bonito.

Jimin, meu filho, desculpe-me não poder te aplaudir de perto, mas saiba que sempre te aplaudi, porque você é incrível.

Eu te amo meu filho."

Jungkook finalizou ali, e eu não conseguia dizer ao certo o que sentia dentro de mim. Antes que pudesse me entender, ele continuou.

"Quinze anos passados."

ㅡ Esta parte parece ter sido escrita recentemente. ㅡ ele diz. Inclino-me para olhar e de fato parece. A cor da tinta usada na primeira parece um pouco antiga, e no final, fresca. ㅡ Acho que essa parte ele dedicou depois do reencontro de vocês. ㅡ ele diz, presto ainda mais atenção aquilo, sentindo-me agora prestes a despencar de um penhasco. ㅡ Tem certeza que quer que eu leia?

Assinto, e espero que continue.

ㅡ Tudo bem.

"Te reencontrar me fez feliz, sua família é muito linda, meu filho, parabéns. Saiba que agora, estou bem, estou indo em paz porque sei que estará bem enquanto estiver aqui no mundo, e que viverá feliz ao lado dos que te ama verdadeiramente. Eu te amei verdadeiramente, meu filho, e continuarei a te amar durante a eternidade.

Fique bem."

Jungkook pausou a fala, e olhei-o à espera de algo a mais. Ele continuou a ler, mas em silêncio, e depois apenas dobrou a carta, e sorriu.

seja feliz, como sempre sonhou. Você merece.

Busquei o papel agora dobrado de suas mãos, e sentei-me sobre a cama, encarando-o.

A sensação dentro de mim era de ainda tristeza, mas no fim, talvez, eu me sentisse bem em saber que ele estivesse bem em seu último momento.

ㅡ Está tudo bem? ㅡ Jungkook também senta, e se aproxima mais de mim. Assenti, ainda olhando o papel, e suspirei.

ㅡ Acho que está tudo bem sim. ㅡ digo.

ㅡ Durma um pouco, tudo bem? Vai te fazer bem.

Olhei para Jungkook, vendo-o sorri, e encostei meu rosto em seu ombro. Os dedos subiram por meu braço, e repousaram em meu rosto. Um carinho lento foi iniciado, enquanto o silêncio prevalecia e a calma se expandia.

Daquele jeito, ficamos por algum tempo, e sobre os carinhos dele, descansei.

Não me sentia no fundo do poço. Não. Talvez eu já estivesse aprendendo a lidar melhor com a dor da perda, e aquilo viesse a ser mais costumeira a vida, mas me sentia extremamente cansado, e receber os carinhos calmos dele, ali, me fez sentir um pouco de paz.

Jungkook me ninou naquela noite.

Embalou-me em seus braços como já havia feito por vezes, mas me passou novamente a sua força, e unicamente, a sua paz.

Perder sempre foi, e será difícil, mas é assim que tudo sempre acaba, e o que cabe é apenas aceitar.

Aceitar que dias melhores virão, e foi pensando nisso, que enfim dormir.

Dormir sentindo-me uma bagunça, mas com a certeza que no dia seguinte um terço de mim, estaria um pouco mais arrumado.

Não porque tudo já havia passado, mas porque é assim que é.

No dia seguinte tudo sempre se ajeita um pouco.

Continua...

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