Por trás das sombras - Elizab...

By mariafernandadsn

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Esse livro não é de minha autoria, mas é o meu preferido, então resolvi postar aqui para vocês se apaixonarem... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Epílogo
Vamos conversar
Vamos conversar

Capítulo 4

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By mariafernandadsn

Matá-la?


Hermione tentou respirar enquanto Melaphor olhava em sua direção. Ela gostaria de dizer tanto àquele homem horrível quanto ao conde que morrer não fazia parte de seu desejo.


Nem nada desse tipo.


Mas suspeitava que nenhum dos dois se sensibilizaria com sua sorte, já que pareciam inimigos declarados.


Bem, antes que qualquer morte ocorresse, ela pediria licença e sumiria dali.


Olhando para seus sapatos arruinados, com os joelhos tremendo sem parar, Hermione deu um passo e tropeçou na arma que o conde tivera em suas mãos, a besta.


Rockhurst se voltou ao ouvir o ruído, e ela ficou imóvel.


- Que tipo de truque é esse, Melaphor?


- O quê? Você não enxerga a moça? - Um sorriso maldoso surgiu nos lábios dele. - Ora, ora, não é que esta é uma agra¬dável surpresa? Venha aqui, doçura - ele chamou. - Fale com o Paratus. Mostre-se a ele.


Hermione sacudiu a cabeça. Seus olhares se encontraram, e ela sentiu uma espécie de letargia hipnótica invadindo suas veias, afastando-lhe os medos.


Venha para mim, a voz murmurou em seu ouvido. Não vou machucar você, criança.


Ela levantou o pé involuntariamente. Não conseguia des¬viar o olhar de Melaphor. A criatura a estava controlando como se ela fosse uma marionete.


- Venha para mim - ele disse. - Eu lhe mostrarei um reino que você jamais imaginou existir.


O pé de Hermione se moveu novamente, mas parou ao pisar na besta. Agora sentia dor.


- Acabe logo com esse jogo, Melaphor - disse Rockhurst. - Temos um assunto a resolver, e ele será resolvido.


- Oh, não até que eu tenha descoberto quem é sua charmo¬sa acompanhante.


Um arrepio percorreu a espinha de Hermione, mas ela não ousou levantar o olhar, mantendo-o fixo na arma.


O anel vibrava em seu dedo. Pegue a besta. Pegue-a.


Não que ela quisesse dar ouvidos ao mesmo anel que a colo¬cara naquela terrível situação. Não que estivesse acostumada a conversar com jóias,


Mas naquele momento decidiu que deveria escutar o anel. Pelo menos daquela vez.


Pegou a besta e a posicionou corretamente. Apesar de nunca ter atirado com uma arma daquelas, sabia usar um arco e fle¬cha. Parecia fácil. Já havia uma flecha pronta para ser atirada. Levantou a besta, sem apontar para um alvo em particular.


- Ora, ora, menina - murmurou Melaphor. - Você pode machucar alguém com isso.


Hermione estremeceu, mas continuou segurando a besta.


- Ela parece bastante capaz de lutar... não que eu me impor¬te com isso em uma mulher. - Melaphor sacudiu os cabelos para trás, e Hermione pôde ver que suas orelhas eram pontudas como as de um elfo. - Mais alguma coisa que temos em comum, não é, Paratus?


- Que diabos... - Rockhurst olhou para o espaço vazio onde sua arma caíra.


Qualquer coisa que você segure, ou use, será igualmente invisível, Quince tinha dito.


E era o que estava acontecendo com a arma do conde.


- Você não consegue mesmo ver a moça, não é? - Melaphor perguntou, fixando o olhar em Hermione. - Vamos, gatinha, apareça. O Paratus parece incapaz de desfrutar sua beleza. - Ele cheirou o ar. - Deveria ser capaz, já que você é humana, mas como conseguiu se tornar invisível para a sua raça?


E então os olhos dele se detiveram na mão de Hermione. Mais especificamente, no anel de Charlotte.


Dizer que a criatura ficara boquiaberta era pouco.


- Por tudo o que há de sagrado... - ele balbuciou. - Oh, venha comigo. Esqueça o que eu disse antes, estava ape¬nas provocando nosso amigo aqui. Nunca iria machucar você. Não, penso que a farei rainha do meu reino. Uma rainha de todos os reinos, se vier comigo.


- Não acredite nele - Rockhurst gritou sem se voltar. - O que for que tenha que ele deseja pegar, ele a matará no momento em que a obtiver.


- Não acredite no Paratus, doçura. Pelo menos eu posso vê-la e admirar sua rara beleza.


Hermione cometeu o erro de olhar para Melaphor, e a besta subitamente ficou pesada demais. Mas então o poder do anel a envolveu, e ela conseguiu desviar o olhar, a força retornando. Segurou a arma, pronta para atirar.


- Ora, então a gatinha tem garras... - Melaphor sorriu.


- Droga, estou ficando cansado disso tudo. - Rockhurst ergueu a espada, apontou-a para Melaphor, e então para o ponto onde Hermione estava. - Vamos acabar com isto de um modo ou de outro.


- Ah, o que há com você, lorde Paratus? Sempre a morte antes do prazer. Podemos compartilhar a moça - ele ofereceu. - Estou me sentindo generoso esta noite.


- Não quero nada com você nem com sua raça. Melaphor deu de ombros,


- Então mate a moça primeiro.


- Talvez eu mate.


Hermione ficou sem saber o que fazer.


- Mas e se ela for da sua raça? Isso seria um terrível erro, não? Violar o seu código. Não pode derrubar ninguém de sua espécie. Não é assim que funciona?


Agora era o conde que voltava a olhar para o espaço onde Hermione se encontrava.


- Eu não ficaria tão perturbado, Paratus. Creio que ela vai decidir este assunto por nós. Quer apostar em quem, ela vai atirar? Com a besta ficando cada vez mais pesada em seus bra¬ços... ah, e ela está tremendo também! Pode até ser que termine por matar qualquer um de nós.


De fato, o peso da arma começava a ficar insuportável. E aquele Melaphor a distraindo...


- Droga, atire logo! - Rockhurst ordenou. - Seja em mim ou nesse bastardo, mas acabe com isso.


Deus, ele estava pedindo que ela... Hermione sacudiu a cabeça, incapaz de falar.


- Isso, gatinha. Não quer me matar - Melaphor falou com voz sedutora.


- Mate esse demônio, sua tola! - Rockhurst gritou, posi¬cionando a espada na direção dela. - Por tudo o que há de sagrado, mate-o, ou devolva minha arma para que eu possa fazer isso.


Aquele era o momento que Melaphor esperava. Com Rockhurst distraído, ele se atirou para a frente, seus dentes se alongando como os de um lobo, o brilho de seus olhos tornando-se escuro como sangue.


- Não! - Hermione gritou, mirando-o e puxando o arco.


A flecha varou o ar, mortal, Hermione não teve tempo de se equilibrar depois do esforço de usar a besta e viu-se caindo no chão.


Ouviu-se um tremendo estrondo, um grito soou na noite, e então um raio de luz pareceu envolver a viela inteira.


Caindo para trás, Hermione bateu a cabeça e mergulhou na mesma escuridão que envolvia a viela, e no silêncio que se seguiu.


- Que diabos aconteceu? - perguntou Rockhurst, enquan¬to tateava com a espada o lugar onde deveria estar o portal por onde passara Melaphor.


A flecha atingira o ombro do bastardo, levando-o de volta a seu mundo.


Depois de alguns instantes do mais absoluto silêncio, Rockhurst olhou para Rowan.


- O que pensa disso tudo?


O olhar do cão era fácil de ler.


- Sim, como pensei. Eu deveria ter escutado você antes, meu amigo. Alguém estava nos seguindo. Uma mulher, se eu for acreditar em Melaphor.


Ele se voltou e viu a besta caída perto dos degraus.


- Então devo presumir que você não teve intenção de ati¬rar em mim? - ele indagou. Quando ninguém respondeu, Rockhurst não sabia se deveria ficar irritado ou sentir-se um idiota por estar falando com as sombras.


- Então não fala comigo, mas não pode ter ido longe.


Procurou localizar alguma coisa que denunciasse a presen¬ça dela. Mas nada aconteceu a não ser o silêncio na viela e os sons vindos do bordel.


Rockhurst empertigou-se. O vento. Era isso. Ele aspirou o ar e sentiu o perfume.


O perfume dela.


O que significava que ela ainda estava ali. E bem perto deles.


- Onde ela está, garoto? - ele perguntou ao cão. - Mostre-me.


Ele poderia jurar que o cão sorria enquanto trotava em dire¬ção às escadas. Baixou a cabeça e farejou uma área vazia.


Rockhurst o seguiu e ajoelhou-se ao lado dele. Sua mão imediatamente deslizou pelas curvas suaves de uma mulher.


Um seio, para ser mais exato. Um seio perfeito, quente, farto.


Afastou a mão imediatamente e olhou para Rowan,


- Deveria ter, me avisado antes de me levar a fazer boba¬gens, amigo.


Cuidadosamente, ele aproximou a mão, dessa vez com mais cautela.


Seus dedos percorreram o vestido de seda, cheio de fitas e bordados, a gola elegante e as mangas curtas, depois chegou ao braço e encontrou uma luva em uma das mãos, mas não achou a outra.


Ele já despira um bom número de mulheres no escuro para saber quando estava com uma dama bem-vestida. E aquela era jovem, por causa da pele delicada e macia, do corpo recém-desabrochado. As mãos lisas indicavam que jamais havia feito algo além de calçar suas luvas.


Olhou o espaço diante dele e pôde imaginar a mulher que tinha ali.


Uma debutante de Mayfair. Sentou-se nos calcanhares e sacudiu a cabeça. O que ela estava fazendo ali? No Dials?


E invisível?


Não, ele estava enganado. Não podia ser uma debutante. Apesar de Melaphor ter afirmado que ela era humana, isso não era verdade. Mas ao tocá-la mais uma vez, e sua mão nova¬mente roçar nos seios fartos, uma onda de desejo percorreu seu corpo.


Controle-se, Rockhurst...


Rowan latiu baixinho, como se tivesse a habilidade de ler os pensamentos do dono.


- É necessário - ele disse ao enorme cão enquanto continuava sua busca - que descubramos quem ela é.


O cachorro não parecia tão convencido quanto o dono tentava aparentar.


Examinou o pescoço, o pulso, os lábios, e o calor de sua res¬piração, baixa, porém firme, provocou os dedos dele.


Ela está viva.


Esse pensamento o deixou aliviado.


- Você está machucada? - perguntou, sem obter resposta. Ela continuava imóvel e silenciosa. - Oh, que diabos vamos fazer agora com ela?


Rowan olhou para a outra extremidade da viela, onde certamente Tibbets devia ter deixado a carruagem esperan¬do. Certamente o cão tinha os pensamentos voltados para um osso que a cozinheira lhe teria reservado.


Bem, havia um voto para deixar a moça ali. E Rockhurst estava inclinado a fazer exatamente isso, se não fosse o fato de que a moça lhe salvara a vida... por assim dizer.


Por outro lado, se ela não estivesse ali, talvez ele tivesse conseguido acabar com Melaphor de uma vez por todas.


Mas ela o salvara, ou pelo menos ele esperava que ela tivesse pretendido fazer exatamente isso, e não que tivesse atirado na direção errada.


- Bem, erro ou não, suponho que teremos de descobrir quem você é - ele disse, começando a reunir suas coisas e Coloca-las de volta na sacola de couro. Depois de vestir o paletó e pendurar a bolsa no ombro, inclinou-se para pegar a jovem.


Grunhiu com o esforço.


- Ela pode ser uma beleza, mas não é magrinha não - ele brincou com Rowan.


Não que ele não gostasse de mulheres com curvas e seios fartos.


A imagem daqueles seios o provocou novamente, e ele afastou o corpo da moça para não ficar encostado ao seu.


Assobiou para Rowan, e estava para deixar a viela, quando alguma coisa a seus pés lhe chamou a atenção. Abaixou-se e pegou uma luva, que parecia fazer par com a que a jovem usava em uma das mãos. Enfiou-a no bolso do paletó.


- Vamos, garoto. O dia está quase raiando, e eu tenho um for¬te desejo de ver o amanhecer no conforto da minha própria cama.



Hermione acordou e levou as mãos à cabeça.


Oh, céus... que torpor! Exatamente como quando se tomava muito vinho... ou depois de ouvir um dos sermões matrimoniais da mãe.


Mas então as imagens da noite vieram à sua mente. E ela se lembrou.


A explosão de luzes na viela.


O olhar vermelho de Melaphor.


E o conde. Alto e forte, a camisa modelando seus músculos. A espada na mão, depois virando-se para ela...


Hermione tentou se lembrar do resto. Ele se virara para ela com uma espada na mão e um olhar assassino.


O conde de Rockhurst tinha tentado matá-la!


Arregalou os olhos e procurou se erguer, somente para se encontrar sobre o banco de trás da carruagem. O banco do lacaio.


A carruagem de Rockhurst, para ser mais exata. O conde não estava muito distante dela, aliás. E atrás dele, estava Rowan. Para desespero de Hermione, o cão olhava diretamente para ela.


Percebeu que estavam na área de Berkeley Square, encaminhando-se para... Ele a estava levando para casa.


Mas então olhou para o céu, onde os primeiros vestígios do dia começavam a aparecer.


O sol estava para nascer! Suspirou, aliviada que o pesade¬lo da noite estivesse para terminar. Isso até que uma lembrança lhe veio à mente.


Do pôr do sol ao amanhecer...


Justamente naquele momento, a carruagem tomou um cami¬nho oposto ao de sua casa.


Estava indo para Hanover Square. Para a casa do conde.


E quando o sol nascesse, o que não demoraria nem uma hora para acontecer, ela se tornaria visível. E o pior, estaria arruinada.


O que India havia dito um dia? Sobre o porão da casa do conde? Céus, e se a amiga estivesse dizendo a verdade e o conde tivesse um harém no porão?


Depois do que vira nas últimas horas, tudo era possível!


Na curva seguinte, havia uma carroça pesada à frente, e o conde puxou as rédeas, praticamente parando.


Hermione olhou para o céu e viu que aquela era a sua chance. Hora de escapar.


Rowan a observou pular, mas não fez nada. Felizmente. Talvez o cão estivesse contente por se ver livre dela.


Sem olhar para trás, Hermione começou a correr em direção a Berkeley Square.


Nunca mais, ela disse a si mesma. Nunca mais seguiria o conde à noite. Ora, quase tinha sido morta por conta de sua pequena aventura.


Conseguiu voltar para casa, onde havia uma chave pendura¬da em um vaso junto à entrada dos criados. Seu irmão Griffin tinha o hábito de chegar nas horas mais inusitadas e arranjara aquela chave.


Hermione nunca tivera oportunidade, ou necessidade, de usá-la antes, mas agora agradecia aos céus o fato de seu irmão ser um boêmio.


Entrou e subiu para seu quarto, deitando-se imediatamente, mesmo que o sol já tivesse aparecido. Exausta, não se impor¬tou em olhar se havia voltado a ser visível, porque adormeceu, completamente exausta e com um único pensamento na cabeça:


Nunca mais.



- Mary! Mary! Droga, onde você está? - Rockhurst entrou como um tufão na casa da prima, a uma inesperada hora da manhã. - Mary, onde diabos está você?


Não se dera o trabalho de bater na porta. Era como se esti¬vesse sendo perseguido pelos cães do inferno.


- Estou aqui! - ela gritou da biblioteca. - E pare com esses berros ou papai vai pensar que a casa pegou fogo e chamar os bombeiros de novo.


Rockhurst abriu as portas duplas e entrou na sala. Jogou sobre a escrivaninha a luva, que não havia largado desde o momento em que descobrira que sua Sombra havia deixado a carruagem.


Não realmente a sua sombra, Rockhurst reconheceu. Mas aonde diabos a moça tinha ido? Quando ele descobrira que ela sumira, havia dado voltas e mais voltas por toda Mayfair com Rowan tentando farejar o cheiro dela. E se a moça tivesse des¬maiado de novo? Ou se estivesse mais machucada do que ele pensara? Olhou para a única pista que possuía da identidade dela.


Sua luva. Uma peça elegante e charmosa, que o intrigava de um modo como nunca antes julgara possível.


Além do mais, havia outras razões para encontrá-la. Ela lhe salvara a vida, e por isso sentia-se responsável pela jovem.


Percebeu que a prima o olhava, espantada.


- Bem, pode me dizer ou não? - ele perguntou.


- Dizer o quê? - Mary tirou os óculos e os colocou sobre a escrivaninha.


Ele olhou para baixo e percebeu que ainda não tirara a mão de sobre a luva.


- Pode me dizer de onde veio isso?


Mary sentou-se direito, colocou os óculos e examinou a luva.


- Suponho que tenha vindo da mão de uma mulher. Rockhurst praguejou.


- Quem fez a luva?


Mary olhou outra vez para a peça, com uma ruga na testa.


- Perdeu outra aposta, Rockhurst? - Deu uma boa olha¬da no primo. - Ainda não esteve em sua casa. Ora, parece um verdadeiro demônio, primo.


Ele passou a mão pelo rosto sem barbear.


- Claro que não estive em casa. Estou tentando encontrá-la. - Ele apontou para a luva. Suspirou e começou a andar pela sala.


- Muito intrigante - Mary disse, levantando-se e bloquean¬do a passagem do primo. - A quem andou procurando?


- A dona dessa luva. Mary cruzou os braços.


- Ora, ora, eu gostaria de conhecê-la. Nunca vi você atrás de uma mulher.


- Não estou atrás de uma mulher, Mary. Preciso saber a quem a luva pertence. - Havia um tom de desespero em sua voz, algo completamente não familiar.


De repente, Mary empalideceu:


- Você não... Não é uma daquelas doidinhas do Almack's de ontem à noite? Foi isso? Você arruinou alguma inocente?


- Maldição, Mary, não é nada disso!


- Então por que não me conta tudo?


- Bem, eu contaria, se você parasse de fazer tantas per¬guntas. - Ele passou as mãos pelos cabelos. - Ela pode estar ferida - ele confessou.


Mary deu um passo para trás.


- Rockhurst, o que está dizendo? Você não... Ele sacudiu a cabeça com veemência.


- Não, não foi culpa minha. E mesmo que tenha sido, ela não... não...


- Não o quê?


- Não é alguém como nós. Mary olhou para a luva.


- Oh, Deus...


- Pelo menos, eu acho que não é. Isto deteve Mary.


- Não sabe dizer se ela é ou não é humana?


Ele sacudiu a cabeça.


- Não, não pude vê-la. Um feitiço, ou coisa assim. Ela estava invisível. Melaphor podia vê-la, mas eu não...


- Melaphor? O que ele tem a ver com tudo isso?


- Ela atirou em Melaphor. A dona da luva. Rockhurst não tinha mais dúvidas. Estava enlouquecendo.


- Diga que ela o matou.


- Infelizmente, não. Embora a flecha tenha passado bem perto do coração, e a força do impacto o levado embora.


- Você selou o portal.


Ele meneou a cabeça, confirmando. Mary suspirou e sacudiu a cabeça.


- Isto é um problema. Não apenas uma garota, mas... mas... - Ela baixou a voz. - Então é como você temeu? Melaphor é quem está causando as mortes no Dials?


- Aparentemente, sim.


- Aparentemente? - Mary pegou Rockhurst pelo braço e o levou até a lareira, fazendo-o sentar-se na cadeira de seu pai.


- O que aconteceu, primo? Conte-me tudo.


- Eu fui até Dials ontem à noite.


- Depois do Almack's? - Ela sorriu levemente. - Você sabe como viver.


- Muito divertido. Bem, Cappon me mandou um bilhete dizendo que havia alguém abrindo as portas.


Enquanto Rockhurst relatava todos os acontecimentos da noite anterior, o calor do fogo foi acalmando seus músculos cansados. Era bom compartilhar com Mary o que acontecera na véspera, porque a prima era a única a saber de seus segredos.


Para a sociedade londrina, ele era o conde de Rockhurst. Mas para o submundo das sombras, ele era o Paratus, um título que herdara de seus ancestrais.


Semper Paratus. "Sempre preparado".


E assim tinha sido por trinta gerações de Rockhursts. Eles tinham a obrigação de proteger Londres. Além do título e da fortuna, herdavam força no corpo e espírito, assim como inte¬ligência superior aos outros homens. Esses dons haviam protegido, embora nem sempre, os condes de seus inimigos, de Melaphor em particular.


Os séculos haviam passado, Londres e seus habitantes haviam mudado, e, com eles, a velha mágica sumira, e todo o mal era agora considerado nada mais do que lenda. Mesmo o Paratus tinha sido esquecido e apenas catalogado com as velhas histó-rias, um mito que não tinha lugar no mundo moderno.


Exceto para Rockhurst, que nascera convicto de que deveria cumprir a obrigação da família de proteger Londres. E assim seria até o dia em que morresse.


- E tem pistas de quem ela possa ser? - Mary perguntou. - A moça da luva.


Rockhurst jamais se esqueceria do calor da pele da jovem. Mas não poderia ir apalpando os seios das garotas de Londres em busca de quem procurava. Mesmo um homem com a reputa¬ção dele não podia fazer isso.


- Não. Tenho apenas a luva. Mary sentou-se e suspirou.


- Não é muito. Porque só de ver você e Melaphor, a pobre moça não vai querer ser encontrada nunca. - Mary inclinou-se e examinou a luva. - E você diz que ela estava invisível?


- Sim, embora Rowan pudesse vê-la, assim como Melaphor. Ele disse que era bastante bonita.


- Claro que ele devia achá-la bonita. - Mary levantou-se e ajustou os óculos, seu olhar examinando as prateleiras de cima de sua valiosa biblioteca. - Invisibilidade não é uma coisa que possa ser feita por qualquer um. É um feitiço perigoso.


- Perigoso?


- Sim, perigoso. Ou ela é uma deles, ou estava usando o anel.


- O anel?


- Você sabe - ela disse, olhando em volta e baixando a voz. O anel.


- O anel de Milton? - Agora era a vez de Rockhurst debochar. - Deve estar brincando. Aquele anel é um mito, nada mais do que uma velha história para manter os tolos cheios de sonhos.


- Eu não seria tão cética. Alguns dizem o mesmo sobre o Paratus. Talvez tenha ouvido a história? De um nobre que passa as noites vasculhando os piores cantos de Londres...


Ele ergueu a mão para fazê-la parar.


- Está bem. Digamos que o anel de Milton não seja um mito, como é que de repente ele apareceu? E dando o poder da invisibilidade. - Ele sacudiu a cabeça e a olhou firme. - Que tipo de moça iria desejar me seguir?


Mary riu.


- Dada a sua reputação por escândalos, estou surpresa que apenas uma jovem o tenha seguido para dentro da noite.


Rockhurst não achou graça.


- Se for o anel de Milton, então como eu...


- Oh, bom Deus! - Mary subitamente exclamou, dando as costas para a estante de livros. - Você precisa encontrar essa moça.


- Por quê?


- Se você conseguir pegar o anel de Milton, poderá terminar sua missão - ela murmurou.


Rockhurst cocou a cabeça, porque jurava, que devia ter ouvido mal.


- Poderia fazer o quê?


- Encerrar o seu trabalho. Deixar de ser o Paratus.


Ele se levantou. Encerrar sua missão? Isso era inadmissível.


- Eu não poderia fazer isso. Então não haveria ninguém para...


- Você teria simplesmente de desejar que as portas fossem fechadas. Para sempre.


Para sempre? Ele estaria livre.


Enquanto Rockhurst tentava imaginar como seria, Mary continuou falando:


- ...claro, Cricks teria mais informações sobre isso, mas as possibilidades são inacreditáveis.


Oh, sem dúvida seria muito mais do que isso.



- Oh, Minny, aí está você! - lady Walbrook excla¬mou quando Hermione entrou na sala de refeições. - Está se sentindo melhor?


Hermione fez um gesto afirmativo com a cabeça,


- Estou recuperada.


Parou, indecisa, ainda não muito animada com o que aconteceria agora. A mãe começaria novamente a trabalhar em sua campanha.


A de casá-la.


Agora que Sebastian tinha se casado, a condessa estava determinada a ver Hermione casada com o marido perfeito.


- Lorde Hustings mandou flores. Logo cedo. Um homem tão atencioso! É uma pena que seja tão aborrecido.


Hermione estranhou o comentário da mãe. Ora, a condessa não estava mais fazendo campanha a favor de lorde Hustings?


A mãe colocou outro torrão de açúcar no chá e olhou para a filha.


- Venha se sentar. Nessa posição vai estragar sua postura.


Hermione obedeceu à mãe e tomou seu lugar, ainda um pou¬co relutante. Aceitou, porém, que Fenwick lhe servisse um farto café da manhã. Sua vida virara de pernas para o ar, mas o estô¬mago parecia estar em ordem. O mesmo ela não podia dizer do vestido cor de capuchino e dos sapatos.


Ou de suas luvas novas! Hermione parou de comer para se lamentar do estrago. Pelo menos salvara uma delas. A outra... bem, iria passar o resto de seus dias no Dials, porque ela não tinha intenção de voltar lá, não importava que fosse o seu par de luvas favorito.


Talvez monsieur Bédard pudesse fazer um novo par. Isso se ela conseguisse que Sebastian lhe adiantasse uma porção da próxima mesada.


- Bem, parece que está se sentindo melhor - a mãe notou. - Deve procurar não ficar assim cada vez que o conde estiver por perto. Eu não faria isso, Minny.


- Posso lhe assegurar, mamãe, isso não vai acontecer de novo. - Tudo o que ela teria de fazer era se lembrar do con¬de vestido apenas com sua camisa e calções. A visão de seu corpo magnífico tinha sido o suficiente para gerar um tipo de problema diferente dentro dela.


- Espero que não. - A condessa fez sinal para Fenwick servir-lhe mais presunto. - Porque penso que você deveria tentar conquistar o homem.


Infelizmente, Hermione tinha acabado de encher a boca com um grande gole de chá, que terminou se espalhando pela toalha da mesa.


- A senhora quer que eu faça o quê?


- Que conquiste Rockhurst - a mãe disse no mesmo tom de voz que diria "açúcar ou creme?" ou "por favor, me passe a torrada". A condessa olhou para a filha. - Ele é rico demais e realmente um belo espécime de homem. Se metade dos rumores sobre ele for verdadeira, ele fará de você uma esposa satisfeita.


- Mamãe!


O rosto de Hermione ficou vermelho como a geleia de moran¬go que estava no pote diante dela. Não importava o fato de que ela estivera com o mesmo pensamento minutos antes, mas realmente, a mãe tinha dito aquilo? Em voz alta?


- Bem, não me olhe desse jeito! Tenho mais experiência do que você nesses assuntos, e posso lhe dizer que um homem que teve uma vida meio desregrada se torna o marido ideal.


- Mas a senhora sempre o considerou o pior dos libertinos.


- O que de moral pode faltar a Rockhurst, ele compensa com sua riqueza. E agora que está inclinado a se casar...


- Não creio que o conde tenha intenção de...


- Claro que ele pretende se casar. Isso ficou claro no Almack's. Ou ele ficou louco, como o resto de seus parentes destrambelhados - a condessa declarou -, ou ele pretende se casar. Prefiro pensar que ele se inspirou na felicidade de Sebastian e Charlotte.


Hermione ficou inclinada a dizer para a mãe que ela não estava longe da verdade.


O conde era louco.


Mas a condessa já tinha uma opinião formada. Passara a noi¬te e a manhã planejando o futuro de Hermione como a condes¬sa de Rockhurst. Hermione decidiu tomar seu café da manhã e planejar uma rota de fuga. Se a mãe fosse persistente demais, como parecia ser, ela poderia se reunir ao pai em alguma ilha distante no Pacífico.


Longe de sua mãe. Longe dele.


Longe do conde de Rockhurst. De seus olhos azuis, de seu corpo musculoso...


Viola e Griffin entraram na sala, sentaram-se em seus lugares, sorriram para Hermione e começaram a tomar o café da manhã.


Hermione, por sua vez, começou a achar que tudo tinha gosto de areia. Se porque, resolvera não se interessar mais pelo conde, ou porque isso parecia bem mais difícil do que ela supusera, ela não sabia. Naturalmente curiosa, ela não podia deixar de querer saber a resposta para mil e uma perguntas diferentes.


Primeiro, por que Melaphor chamara o conde de Paratus? E por que lorde Rockhurst achava que era seu dever proteger os moradores de Dials de tais criaturas?


Oh, céus, ela entrara em algo além de suas forças!


- Penso que a produção de algumas cenas da peça de Shakespeare, A Tempestade, poderia fornecer o cenário perfeito para o namoro - a mãe estava dizendo. - Uma representação teatral, com o conde presente, poderia favorecê-la, Hermione.


Griffin e Viola se voltaram curiosos para a mãe.


Uma representação teatral? Com o conde?


A mãe queria convidar o conde de Rockhurst para uma representação de teatro amador?


Hermione mordeu os lábios trêmulos. Talvez ela pudesse induzir Rockhurst a atirar nela na próxima vez que ambos esti¬vessem em circunstâncias lamentáveis;


Não que ela pretendesse segui-lo novamente...


- A Tempestade é a peça perfeita - lady Walbrook conti¬nuou, sem saber dos pensamentos da filha. - Rockhurst seria Próspero, não acham?


Griffin começou a tomar seu café da manhã em uma veloci¬dade inacreditável, e pelo seu olhar, estava pronto para tomar a primeira carruagem para cair fora dali.


Hermione tinha até medo de fazer a pergunta.


- E a senhora quer que eu interprete Miranda?


- Oh, céus, não, querida criança! Você não teria cenas com Rockhurst. Quero que interprete Caliban.


Hermione sacudiu a cabeça, certa de ter ouvido errado o que a mãe dissera.


- A senhora quer que eu interprete um monstro?


- Claro, minha querida. O conde certamente verá sua beleza brilhar através do mais terrível dos personagens.


Isso se ele não me matar primeiro.


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