O lugar estava cheio.
A música que tocava — uma versão de jazz instrumental de Shiny Happy People — chegava a ser abafada pelo burburinho das pessoas felizes rindo.
No meio de toda aquela gente, ela estava só, entediadamente entretida com o gelo que derretia no copo.
Admirava a bebida sendo lentamente diluída, até o momento em que os cubos submersos pela própria liquefação ficaram muito pequenos para suportar o peso dos que estavam por cima.
O movimento das pedras desmoronando no copo fez com que ela despertasse de seu transe.
Olhou rapidamente as horas em seu celular.
Aproveitou que estava com ele em mãos e abriu a câmera frontal para conferir a maquiagem.
Foi quando notou, olhando por cima do aparelho, que um rapaz lhe observava do outro canto do salão.
Ela evitou o contato direto de olhares.
Pelo decorrer do tempo, as intenções daquele varão eram naturalmente previsíveis — e quais outras poderiam ser?
Ela disse para si mesma que não estava querendo aquilo.
Não ali, nem naquela noite.
É claro que, no fundo, ela queria.
Queria muito.
Mas não poderia se render assim, de maneira tão fácil, à sua vontade.
Chegava a ser uma questão de orgulho e honra: para acontecer, no mínimo, teria que valer muito à pena — e ela sabia que não seria o caso.
Achou que havia despistado o sujeito, até o momento em que percebeu que ele caminhava em sua direção.
Por mais que fosse algo típico de se acontecer naquele tipo de estabelecimento, à medida que a distância entre eles diminuía, a tensão aumentava em sua mente e estômago.
Com toda sua experiência e prática, aquele indivíduo tinha a convicção de que estava diante de uma mulher vulnerável.
Ele sabia muito bem que maquiagens escondem as imperfeições da pele, mas não camuflam o ímpeto do desejo de donzelas como aquela.
Ela olhou para o lado, fingindo que não o via, enquanto apertava o copo de vidro suado que, por pouco, não escorregou de suas trêmulas e delicadas mãos.
A mulher se assustou e sentiu sua face sardenta avermelhar.
Será que alguém viu?
Será que a cena foi tão patética quanto pareceu?
Aceitou sem resistências o fato de que o desconhecido certamente havia testemunhado sua presepada.
Àquela altura, também já não havia dúvidas: ele realmente vinha em seu encontro; ela realmente era o seu alvo.
O espaço entre ambos praticamente já não existia quando, sem saída, ela esvaziou o peito e tentou enchê-lo de autocontrole e confiança.
Em vão.
Com apenas três palavras, o rapaz de paletó e camisa impecavelmente branca foi capaz de fazê-la mudar de ideia:
— Deseja sobremesa, senhora?
A mulher não conseguiu resistir e, escolhendo a opção que acreditou ser a menos danosa, pediu um pudim de leite ao garçom.