Quando em Vegas

بواسطة MariaFernandaRibeir2

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Julia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos cl... المزيد

Alerta de gatilho+ aviso aos leitores
Dedicatória
Prólogo
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Epílogo
Brianna e Harvey contam sua história
Contato

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بواسطة MariaFernandaRibeir2

Dustin

— Se você não ficar quieta, vai borrar tudo.

Ela abre um olho e eu quase enfio a caneta no olho dela. Olho feio para ela, que olha ainda mais feio para mim.

— Se você for demorar tanto, não precisa fazer nada. Tempo é algo que não tenho.

São sete horas da manhã. Dormi por três, porque a minha noiva me ligou de Los Angeles para saber como estava o processo, e já era tarde aqui, e aí discutimos por quase duas horas e aqui estou eu agora, lidando com uma Julia sem cafeína. Ela é muito mais tranquila assim, ainda que deixe claro que não gosta de mim na expressão corporal.

— Não se mexa. Um trabalho bem-feito precisa de cautela, Julia. Não posso rabiscar sua cara e deixar você ir, como um juiz levaria a sério a sua mentira assim? — brinco, mas ela finge que vai me dar um chute na canela e eu quase enfio a caneta no ouvido dela desviando do suposto ataque.

Xingo entredentes, respirando pelo nariz para me controlar.

— Você tem que parar de fingir que vai me atacar quando brinco.

— Brincadeira é uma coisa, ofensa é outra. Guarda essa para a vida, isso gera processo. E de fato eu preciso estar apresentável na frente do juiz, o que me faz perguntar a mim mesma que merda você está fazendo na minha cara mexendo nela há tanto tempo.

— Faz só cinco minutos que estou te maquiando, mulher.

Ela bufa mais uma vez. Termino o trabalho e ela suspira.

— Até que valeu a pena perder minutos preciosos da minha vida, mas você acha mesmo que laranja é uma cor séria?

Aponto a blusa dela.

— É a única cor que não vai gritar com a blusa. Fiz moda, escute o que estou falando.

Um sorrisinho aparece no rosto dela. O máximo que consegue a essa hora da manhã, percebo.

— Eu até poderia ficar com você, mas é melhor não. Tenho muito mais o que fazer da vida.

Ergo as duas sobrancelhas, balançando a cabeça consternado comigo mesmo por ter me casado com ela. Dentre todas as pessoas maiores de vinte e um do mundo, tinha que ser justo ela.

— Você é como um coala, sabia?

— Ownt, obrigada. É estranho ser comparada a um ser que dorme tanto, mas eles são fofinhos.

— Não, você é como um coala no som que ele faz. Intolerável.

— Sim? Pois eu não consigo acreditar que coalas fazem qualquer coisa que não seja fofinha, então vou continuar levando como um elogio.

Pego meu celular no bolso e coloco num vídeo do som de um coala. Ela me xinga por colocar algo tão barulhento, e eu mostro que é o som de um coala. Ela sorri.

— Eles não são fofinhos? Me lisonjeia que você pense em mim o suficiente para saber me comparar a um Coala.

Eu não penso, é o que tenho vontade de dizer, mas ela saberia que estou mentindo. E para não ter que explicar como penso nela - me entregando o divórcio assinado, depois sumindo da minha vida - só termino a maquiagem. Ela sorri ao se encarar no espelho.

— Julia, eu queria falar com você sobre um negócio. Meu relações públicas me ligou ontem à noite dizendo que não pode conter a notícia de que nos casamos por muito tempo mais.

— E?

— E que, se não contarmos, alguém vai descobrir, o que vai ser pior. Eu não dormi nada essa noite tentando pensar em algo a fazer depois da Nara achar ruim a perspectiva mais positiva, que é a mídia toda saber de nós.

— Dustin, não há um nós. E eu já disse que não. Se eu morrer por causa disso, ninguém, e eu repito, ninguém vai sentir falta minha por mais que alguns dias, dos que vão saber. Você deve pensar que tenho os meus sócios, e tenho mesmo, mas eles vão superar logo. Não é que eu quero que alguma pessoa sofra, mas se ninguém lembrar de mim, então toda a minha família será esquecida logo. E eu não posso fazer isso com o meu pai. Eu disse a ele que ia fazer o nosso sobrenome ser algo bom novamente, e não posso fazer isso morta.

— Por que você precisaria fazer seu sobrenome ser bom novamente? Quem é o seu pai?

— Se você ainda não descobriu, não espere que seja eu a contar.

— Você está me dando medo, Julia.

— O medo te protege. É bom ter medo.

Não sei se ela diz isso para me confortar, mas se for, não funciona, porque percebo que ela própria não tem medo.

Julia

Eu menti para o Dustin sobre a razão da maquiagem, disse que era para um julgamento. Menti também aos meus sócios, como sempre. Na minha profissão, mentir pode significar uma derrota, mas na minha vida, mentir significa manter o que importa sobre controle. Não me orgulho nem um pouco disso. Graças ao Dustin na minha casa, não pude ir de carro, porque ele notaria meu sumiço por um dia e meio. Pouso em Lincoln, Nebraska e já vou direto para o presídio da cidade. Meu pai já está me esperando, segundo o agente. Caminho até lá, a personificação da derrota.

Ajudar tantas pessoas e não poder ajudar o meu pai é estarrecedor. Ele recusa a minha ajuda, diz que está ali para me proteger, mas caramba, eu já sou adulta, não preciso da proteção dele.

— Filha. — ele sorri ao me ver — Você não veio na última visita.

— É, eu tive uns problemas. — um de um e qualquer número mais alto que eu, cabelo castanho e que me odeia tanto quanto odeio ele principalmente. Definitivamente um problema.

— Sim? E o que foi?

É estranho ter a preocupação dele. Quando o visitei pela primeira vez, aos dezoito anos, ele chorou ao ver que eu estava bem. Fazia treze anos que não nos víamos. E a cada visita que dou, cada vez que ele vê que eu continuo bem, ele ganha mais motivos para ficar. E eu o odeio por isso. Mas tenho uma lista de prioridades, e o que sinto pelo meu pai pela primeira vez em muito tempo não está em primeiro lugar.

— Me casei com um cara que não gosta de mim. Eu também não gosto dele. — acrescento, antes que ele fale algo — Mas estamos presos nisso por pelo menos um ano. E ele tem uma noiva, então tudo é pior que o imaginado.

Não digo que ele é famoso hoje. Não. Se eu disser que ele é famoso, o Terry vai querer que eu faça algo maior para cuidar de mim, e não tenho tempo para fazer algo maior. Tudo está sob controle por enquanto, não há por que preocupar ele com isso.

— Hm. Vegas, né? Não sei o que a sua mãe te ensinou sobre essa cidade, mas aparentemente ela falhou se você acabou nisso. Julia, não há muito o que fazer. Se vocês querem um divórcio, terão que esperar pelo divórcio. Se você tiver que conviver com ele, então tente ser amiga dele. — faço careta e ele sorri — Sei que você já tem aqueles dois advogados e as garotas deles como seus amigos, mas você precisa de um amigo mais... presente. Já que você evita relações sociais.

Evito relações sociais porque, se alguém das pessoas que colocaram ele aqui descobrir alguma informação sobre mim, não haverá ninguém para convencê-lo que passar o resto da vida na prisão é miserável. Ele nunca sairá sabendo que pode me colocar em risco.

Ficamos em silêncio, e eu tento pensar em algo a dizer para mudar de assunto, mas ele o faz por mim.

— Há um garoto novo aqui. — diz, e ganha minha atenção — É realmente um garoto, não tem muito mais de vinte anos, e disse que está preso injustamente. Eu acredito nele. Ele é da Alemanha, tem um sotaque muito forte e sofre por isso aqui dentro. Vou passar o seu contato para ele, tire ele daqui, está bem?

— Por que eu faria isso por ele antes de fazer por você? — é egoísta, eu sei, mas cada nova pessoa que tiro da prisão me faz pensar nele. E cada uma dessas pessoas me faz pensar em quão inútil sou ao conseguir convencer juizes, e não conseguir convencer o meu próprio pai que a liberdade é incrível.

— Porque ele precisa disso mais que eu.

Dói na minha alma ouvir isso. Ele pode não precisar da liberdade, mas eu preciso que ele esteja livre para estar comigo em muitos momentos. Já houveram vários em que eu precisei, e agora com essa coisa do Dustin há um monte de monstros arranhando a porta e eu sei que eles vão estourar e invadir. É só uma questão de tempo.

Digo a ele que verei com o garoto, um tal de Peter, o que posso fazer para ajudá-lo a sair. E só faço isso porque nunca antes o Terry me pediu algo parecido. Se pediu por este garoto, então ele deve ser algum tipo de Santo ou coisa do tipo, e a minha moralidade fala mais alto que o sentimentalismo. Me despeço dele lutando contra as lágrimas, porque a cada mês que passa as provas que tenho por ele passam a valer menos, e daqui algum tempo nada será possível mais.

Chego em casa exausta, como sempre fico ao visita-lo, e por isso esqueço que há um Dustin sob o meu teto.

— Aonde você foi que sumiu o dia todo?

Balanço a cabeça.

— Lugar nenhum. Você vai fazer comida ou posso pedir?

— Tem torta no forno. Julia, nem seus sócios sabem para onde você foi, se foi fazer algo ilegal...

Abro um sorriso grande.

— Me deixa muito animada saber que você ainda acha que faço coisas ilegais. Dá uma sensação de que estou falando com uma parede, e este é um argumento muito bom para usar com um juiz de divórcio.

Ele esfrega a nuca, cansado, e suspira, admitindo.

— Fiquei preocupado.

— Estou bem, não estou? Ótima, na verdade. Pode despreocupar.

— Mulher, de uma distância de cem metros dá pra ver que você esteve chorando. Você tem alguma dívida com alguém? É um criminoso, não é? Você usava drogas na faculdade e não conseguiu pagar. — sugere, e para a sorte dele sei que é brincadeira.

Aponto para ele.

— Exatamente! Como você descobriu!? Porque é claro que eu passei a faculdade inteira estudando crimes, para ao mesmo tempo me envolver com eles. Você tem uma mente incrível, Dustin, já pensou em usá-la para assumir sua genialidade?

— Já, mas de que adianta assumir a minha genialidade se não consigo nem fazer você dizer o que fez o dia todo ou por que esteve chorando?

— Estive chorando porque este mundo é uma grande bola de merda.

— E você só descobriu isso agora? Uau, parabéns pela falta de noção. — mostro os dentes, e ele fica curioso. — O que te fez chorar por isso agora?

— Há tanta gente ruim solta por aí, com tantas provas e ninguém faz nada, mas na hora de acusar inocentes e destruir famílias a decisão é rápida e unânime. Odeio isso.

Me jogo no sofá, exausta disso tudo. Ele senta ao meu lado, muito mais próximo que é normal para alguém que deveria ficar do outro lado da sala.

— Que tal você ser mais específica?

— Não quero ser mais específica. Não preciso ser, todos deveriam ter os mesmos direitos. E é um verdadeiro chute na minha bunda estudar a lei, comprar todos os livros mais atualizados delas... e para quê? Para ver pessoas que não deveriam nem ser acusadas sendo presas? Para ouvir você dizer que o meu trabalho é soltar a escória do mundo? Estou cansada, só isso.

Sei que pareço cansada... não, sei que pareço uma miniatura de um monstro de filme de terror. Vi minha maquiagem borrada no espelho do elevador, sei que a minha roupa está desalinhada e que a blusa por baixo do paletó já perdeu três botões, e que o meu cabelo já está espetado de tanto passar a mão. Não era necessário dizer para ele saber, mas admitir sempre causa uma leveza.

Imagino que seja uma parcela do que um culpado sente quando admite o que fez após um processo longo, como aconteceu há um tempo. Eu fiquei tão irritada, mas agora me sinto como ele. Sem a parte de não colocar a minha bunda para ver o Sol por mais que alguns minutos, claro.

— Me desculpa por dizer que o seu trabalho é isso, mas ei. Relaxa. Você está, hm, ajudando pessoas. E pode respirar enquanto faz isso. Você viaja para os lugares, conhece eles, não é incrível isso? Vá a Vegas novamente quando puder, se quer uma dica minha. Visite as coisas naturais de Nevada, aproveite a cidade, você é jovem, não aja como se tivesse setenta anos. Ah, e em Vegas, se possível, se case com outra pessoa, assim o juiz analisará a bigamia e concederá o divórcio mais rápido. Além de eu poder ganhar uma pensão pelo trauma, coitado de mim.

Empurro ele com o ombro.

— Você é um babaca, sabia?

— Ah, Julia, se você queria me contar isso em primeira mão, chegou vinte e três atrasada.

Aproveito a proximidade e descanso a cabeça no ombro dele. Não foi de todo ruim me casar com ele. Agora tenho alguém para chamar de babaca sem que magoe, afinal ele faz o mesmo comigo. É, acho que pode ter valido algo essa confusão em que nos metemos. E se não tiver valido, pelo menos ele compra o almoço para mim.

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