Sangue Real [✓]

By TalitaPC

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Alicia Dolohov viveu a vida toda em Cérnia, um dos dez reinos de Régnes. Sua vida era comum, como a de qualqu... More

Epigrafe
Prólogo
DreamCast - Parte Um
DreamCast - Parte Dois
DreamCast - Parte três
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Papo sério
Capítulo 24
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Uma espiadinha nas redes...
Capítulo 30

Capítulo 25

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By TalitaPC

Estava concentrada na atividade da aula de línguas, que por sorte era em alemão, então consegui responder com facilidade. Primeiro a professora falou sobre variações de gírias, usando os capítulos do livro que pediu que lêssemos anteriormente, para depois passar a atividade que fazíamos agora.

Mordi a ponta do lápis e olhei de canto para Frederick, sentado na fileira do lado, duas carteiras à frente. Desde o final de semana em que ficou sabendo do meu envolvimento com Jordan, suas investidas ficaram ainda mais nítidas.

Sempre que possível Fred ocupava o lugar ao meu lado no horário das refeições, quando estávamos na sala de convivência achava alguma desculpa para me incluir no que falava enquanto tocava rapidamente meu braço. Luiza estava por perto na maioria das vezes e nunca parecia contente com aquilo.

Teminei a atividade e assinei meu nome. Ajeitei os materiais e levantei, indo entregar à professora Savanna.

Saí da sala e guardei tudo no armário. Peguei o celular e conferi as mensagens. Respondi tia Leila, depois o grupo com meus amigos de Cérnia e por fim Jordan.

Na noite do pub não rolou nada a mais, apenas demos um selinho demorado na hora em que nos despedimos. Acredito que a presença de Frederick tenha interferido. Porém, n aterça-feira foi diferente, depois da aula complementar, nós demos uma volta pela Escola e o levei para conhecer a  Penélope. Nós estávamos saindo do estábulo quando Jordan segurou minha cintura, puxando para mais perto, antes de me beijar. Foi arriscado, afinal poderíamos ter sido vistos por algum segurança.

— Vamos almoçar? — Vaiola chamou.

Eu estava parada no hall, terminando de responder à mensagem de Jordan. Ele tentaria vir no dia do show, mas não podia dar certeza, pois, tinha uma sessão de fotos em outro reino e não sabia se voltaria a tempo. 

Guardei o celular novamente no bolso da saia e sorri para Vaiola, engatando nossos braços. Nós seguimos juntas ao refeitório, nos servimos e sentamos à mesa.

Caleb tocou a mão de Vaiola assim que ela sentou ao seu lado. Na noite seguinte ao pub ela chamou eu e Piter para conversarmos e nos contou que havia ficado com Caleb. Obviamente fiquei feliz e a incentivei, afinal se era para eu deixar as coisas acontecerem, ela também podia fazer isso.

Revirei os olhos assim que Fred sentou ao meu lado no banco. Continuei comendo com calma, até mesmo quando Luiza ocupou o lugar à nossa frente. Por sorte o assunto era animado,então não houve nenhuma deixa para Frederick abusar da sorte, por hora.

Quando terminamos o almoço, subi ao quarto. Hoje era dia de aula complementar de defesa pessoal, então precisava trocar o uniforme.

Entrei e por algum milagre Michely não estava. Peguei a legging e o top, vestindo-os rapidamente.Calcei os tênis esportivos e amarrei o cabelo. Peguei a garrafa de água e desci ao hall, saindo do internato. Vi Ximena atravessando o pátio e corri para alcançá-la.

— Hey. — sorriu quando me viu.

Continuamos andando juntas em direção ao anexo. Entramos na sala e sentamos ao redor do tatame, logo o professor Elliot chegou, nos cumprimentando.

Ele avisou que hoje todos os alunos iriam praticar ao mesmo tempo, pois faríamos um golpe novo, tanto de ataque, quanto de defesa. Elliot demonstrou algumas vezes, antes de pedir para nos posicionarmos em fileiras, com uma distância razoável entre cada aluno.

Já tínhamos usado algumas ferramentas em algumas aulas como, aparelhos de choque, cassetetes, bastões retráteis, entre outros. Hoje nós não usaríamos nada além do nosso próprio corpo, segundo o professor, a agilidade e movimento preciso eram as únicas coisas que precisaríamos.

...

Quando a aula terminou e fomos dispensados, avisei Ximena que ficaria no anexo, pois precisava ensaiar para o show. Pablo me esperava na sala de música, onde combinamos de nos encontrar. A apresentação seria em dois dias, então estava ensaiando muito desde o início da semana.

— Cheguei. — anunciei entrando na sala.

Pablo estava mexendo na aparelhagem de música.

— Oi, cheguei agora também. — deu de ombros.

Peguei o pedestal e ajeitei o microfone. Dei umas batidinhas, testando.

— Você deve estar enjoado já... — comentei.

Pablo deu uma risada baixa e negou com a cabeça.

— Pronta? — sorriu.

Assenti e pigarrei baixo. Alguns segundos depois a batida da música começou, então esperei o momento certo e me aproximei do microfone.

Sorri com a segunda voz em timbre metalizado que Pablo colocou no refrão. Fechei os olhos enquanto cantava, mexendo os braços e quadris no ritmo da música. Olhei para Pablo, que balançava a cabeça e cantava a letra com vontade, como se fosse ele quem estivesse se preparando para apresentá-la.

Neguei com a cabeça, mas entrei na mesma vibe, fazendo uma dança improvisada enquanto ainda cantava. Apontei em sua direção quando chegou novamente a parte do refrão e juntos nós o cantamos com toda vontade.

Dei risada quando a música terminou. Pablo sorriu abertamente e fez um sinal positivo com a mão.

O show era no sábado, por isso hoje ensaiamos além do normal e só paramos quando Piter ligou para Pablo, já que ele não tinha respondido suas mensagens. Só então percebi que já era hora do jantar.

— Desculpe, perdi a hora completamente. — fiz uma careta.

Pablo e eu andávamos apressados em direção a Escola.

— Não foi culpa sua, também me perdi na hora. — tranquilizou.

Nós entramos no refeitório e nos servimos, seguindo até a mesa já ocupada pelos nossos amigos. Dei um sorriso amarelo assim que vi a cara nada amigável de Piter.

— Você pediu meu boy emprestado, mas está abusando. — acusou apontando o indicador em minha direção.

— Eu sei, desculpe. — fiz um bico.

Pablo revirou os olhos e deu uma risada baixa, colocando a mão sobre o ombro de Piter.

— Vou chamar Jordan para passar o dia comigo. — Piter revidou, levantando levemente o queixo.

— Pode chamar. — dei de ombros.

Piter bufou baixo e fez um sinal de desdém com a mão, voltando a comer. Neguei com a cabeça, deixando-o de lado.

Ele estava meio ansioso, pois o semestre terminaria em algumas semanas e queria fazer o pedido oficial de namoro a Pablo antes disso. A questão é que Piter não se decidia quanto ao que fazer, já tinha comprado as alianças em uma das vezes que voltou ao seu reino e estavam guardadas na gaveta de meias, segundo Piter: esperando o momento certo.

Quando terminamos o jantar nós fomos até a sala de convivência. Estava cansada, mas queria passar algum tempo com meus amigos, então fiquei apenas observando-os enquanto eles jogavam sinuca. Sorri quando Vaiola e Caleb formaram uma dupla, contra Piter e Frederick.

— AE! — comemorei quando Vaiola encaçapou duas bolas seguidas.

Estava revezando a torcida, afinal eram meus dois amigos, um contra o outro.

— Arrasou! — aplaudi quando Piter acertou uma das bolas.

Fiquei ali até que meus olhos não aguentassem mais, cada piscada já era um cochilo. Vaiola tentou me convencer a continuar mais um pouco, mas estava realmente com sono.

— Posso acompanhar você! — Frederick se dispôs.

— Não precisa, — neguei com a cabeça — Você está no meio do jogo. Nós nos vemos amanhã.

Me despedi de todos com um aceno geral e antes que Fred conseguisse contestar já saia da sala de convivência enquanto tentava reprimir um bocejo.

Praguejei baixo quando esbarrei em alguém, com sono demais para conseguir me equilibrar, cambaleando alguns passos.

— Cuidado. — ouvi a voz masculina.

Levantei o rosto, encontrando o olhar meio assustado de Nicholas. Ele segurava meus cotovelos, sustentando boa parte do peso, impedindo que caísse no chão.

— Nicholas. — sorri.

Talvez estivesse meio aérea por causa do sono e por isso fiquei encarando-o alguns segundos, apenas sorrindo de forma boba. Por algum motivo estava realmente feliz em vê-lo.

— Realmente, precisamos mesmo parar de nos encontrar assim. — ponderou.

Dei risada e assenti. Nicholas ainda me segurava, então ajeitei melhor a postura, tentando me equilibrar e consequentemente recuperar a dignidade, já que acabei de quase cair de bunda no chão.Nicholas esperou gentilmente até que estivesse suficientemente firme e então devagar soltou meus braços. Ele me observava com a testa franzida.

— Estou bem. — afirmei.

Ainda parecendo receoso Nicholas assentiu e deu um passo para trás, afinal estávamos bem próximos. Não que estivesse reclamando, longe disso. Nós nunca tivemos um contato físico maior, isso podia ser por vários motivos como, pelo fato de a maioria das vezes nos encontrarmos aqui na Escola, ou seja, zero possibilidades. E quando nos encontrávamos fora, no centro do reino, por exemplo, eu sempre estava acompanhada, ou ele. Isso me fez lembrar da mulher loira com que já tinha o visto algumas vezes e senti uma pontada de ciúmes, pois isso queria dizer que ela o conhecia bem.

Está doida Alicia, para com isso! Pensei, piscando algumas vezes, tentando clarear a mente.

— Você parece cansada. — inclinou levemente a cabeça.

— É, estou. — reprimi mais um bocejo.

— Devia descansar, afinal sábado é um dia importante, não é? — sorriu levemente.

— Nem fale. — suspirei baixo.

— Vai se sair bem. — afirmou, sorrindo mais abertamente — Tenho certeza.

Mordi o lábio e o encarei em silêncio por alguns segundos. Queria ter a mesma confiança que as pessoas têm em mim, mas às vezes é difícil.

— Você vai estar no show? — sussurrei.

Não sei se saber que Nicholas viriam me deixava animada ou ainda mais nervosa, afinal podia passar vergonha na apresentação e aí ele assistiria.

Esse pensamento me fez questionar porque era tão importante a opinião de Nicholas. Porque ele parecia ter tanta relevância se não éramos amigos, minimamente íntimos ou qualquer outra coisa. Até o momento não conhecia muito sobre ele, só algumas pontas soltas que não conseguia fazer completo sentido, e mesmo assim não sentia receios quando estávamos juntos. Era uma sensação estranha de conforto.

— Você quer que eu venha? — encarou meus olhos.

Senti o coração falhar uma batida, para voltar a bater de forma acelerada. Sim, eu queria, bastante na verdade, mas não podia falar isso sem parecer idiota.

— É só uma competição boba... Uma besteira. — desdenhei — Você deve ter planos melhores.

— Não é besteira se é importante para você. — negou com a cabeça.

Mordi o lábio inferior, colocando o cabelo atrás da orelha para disfarçar o constrangimento com suas palavras.

— Preciso ir ou vou acabar caindo de sono... De novo. — brinquei, mas não duvidava de que pudesse acontecer.

Nicholas deu uma risada baixa e pegou minha mão, afagando-a rapidamente com o polegar, antes de levá-la aos lábios e beijar o dorso.

— Até Alicia. — sorriu discretamente, soltando minha mão gentilmente.

— Até Nicholas. — acenei.

Virei e com passos cuidadosos segui pelo hall, subindo os degraus da escada devagar. Pelo canto do olho notei que Nicholas permanecia parado, provavelmente esperando que tivesse subido em segurança, sem rolar escada abaixo.

Segui pelo corredor em direção ao quarto, agora bocejando livremente. No momento só queria minha cama, deixaria para pensar amanhã sobre a conversa recente.

Hoje era o final de semana em que teríamos atividade extracurricular, mas por causa do show de talentos foi adiado.

Como esperado, a grande maioria dos alunos não retornou ao seu reino, pois ou participariam, ou queriam assistir. Pelo que Vaiola comentou quando o show foi anunciado, era algo já característico da Escola e acontecia em todos os semestres, por isso essa comoção toda.

Michely tinha se prontificado em ajudar a me arrumar. Tentei contestar, mas ela insistiu tanto que acabei cedendo. As apresentações iniciariam no começo da noite, então combinamos de nos encontrarmos à tarde, assim daria tempo de aproveitar um pouco do dia, que por algum milagre estava ensolarado.

Acordei mais tarde do que o habitual e acabei tomando café na cozinha do internato. Vaiola havia avisado que nosso grupo de amigos estava reunido no gramado perto do pátio, aproveitando o sol, então depois de satisfeita lavei a pouca louça que usei e fui encontrá-los.

— Preparada? — Ximena questionou assim que me aproximei.

— Nervosa. — sentei ao seu lado na toalha xadrez.

Acenei cumprimentando todos e cruzei as pernas, me ajeitando de forma confortável. Piter estava com a cabeça deitada no colo de Pablo e usava óculos escuros não me permitiam saber se ele tirava um cochilo, então cutuquei sua perna, ouvindo seu resmungo enquanto batia levemente em minha mão.

Vaiola falava animada sobre algo que não tinha conseguido entender ainda, por ter chegado no meio do assunto. Caleb estava ao seu lado, com uma das mãos em sua coxa, em óbvio sinal de intimidade.

— É sério! — Vaiola afirmou quando Piter pareceu não acreditar no que ela dizia.

Se não fosse os dois implicando um com o outro, algo não estava certo. Revirei os olhos e peguei um dos vários biscoitos que alguém levou e deixou em um pote no meio da roda que havíamos formado ali no gramado. Mordisquei enquanto fechava os olhos e aproveitava o sol que passava por entre os galhos da árvore, deixando que me aquecesse.

Nós ficamos conversando durante a manhã toda, em algum momento outros alunos se juntaram a nós, incluindo Laisa, Judy e Jasmine. Os príncipes gêmeos de Monroll estavam ali também e descobri que eram familiares de Jasmine, primos de algum grau distante, por parte da mãe dela, a rainha Eleonor.

Os gêmeos eram agradáveis e nada mesquinhos ou esnobes, mesmo sendo da realeza. Jasmine também não estava tão mau humorada como sempre, não sei por qual motivo, mas agradecia, pois não queria me estressar hoje.

A observei de canto de olho. Nós estávamos quase uma em frente a outra, o que fazia com que cruzássemos o olhar de vez em quando. Notei que Jasmine mexia no celular, trocando mensagens com alguém, nitidamente importante, já que às vezes sorria levemente. Será que Jasmine tinha um namorado? Quem seria corajoso de conviver com sua personalidade inconstante.

Quando era o horário do almoço nós todos seguimos juntos ao refeitório. Vaiola engatou nossos braços, como sempre.

Jasmine e os gêmeos se serviram e foram até a mesa destinada à realeza, enquanto nós sentamos na mesma de sempre. Comemos tranquilamente. Eu tentava distrair a mente, para não pensar que em algumas horas estaria cantando em frente a várias pessoas.

Nós terminamos o almoço e saímos do refeitório, indo em direção a sala de convivência. Ximena se despediu dizendo que iria ensaiar um pouco, para a apresentação. Aproveitei a deixa e avisei que iria subir, relaxar antes de começar a me arrumar.

Meus amigos desejaram boa sorte, pois provavelmente não nos veríamos antes do show. Nós que participaríamos iriamos nos reunir atrás do palco, para irmos sendo chamados de lá. O show aconteceria no anfiteatro da Escola, que era gigantesco.

Entrei no quarto e tirei o all star, chutando-o para algum canto. Deitei na cama e encarei o teto, respirando fundo algumas vezes. Peguei o celular e coloquei os fones de ouvido, selecionando a música que cantaria. Queria ouvi-la algumas vezes, por mais que já tivesse decorado e soubesse cantar de trás para frente.

Estava distraída, agora em pé na frente do espelho, usando uma escova como microfone. O celular tocava a música enquanto ensaiava alguns passos para a apresentação. Não tinha planejado nenhuma coreografia, queria que a letra fosse o principal, mas agora estava me arrependendo disso. Quem sabe uns passos de dança teriam colocado mais atitude na apresentação.

Tarde demais Alicia. Pensei, revirando os olhos.

Ouvi alguém bater à porta e autorizei a entrada, sabendo que pelo horário seria Michely.

— Oi. — sorriu.

— Pontual. — pisquei com um olho só.

Parei a música e conferi as mensagens no celular, sorrindo ao ver a no grupo com Sansa e Ryan. Tinha conversado com eles por horas ontem à noite, em chamada de vídeo. Era sempre muito bom falar com eles, tinha aquele sentimento de nostalgia, que trazia uma sensação de quente no coração.

— Vou tomar banho. — avisei.

Michely assentiu e andei em direção ao banheiro, tirando a roupa e jogando no cesto. Liguei o chuveiro e tomei um banho demorado, passando shampoo no cabelo duas vezes. Quando estava terminando, fechei os olhos e deixei a água cair sobre meus ombros, relaxando os músculos tensos.

Quando estava satisfeita vesti o roupão e voltei ao quarto. Michely mexia na penteadeira e sorriu levemente indicando a cadeira.

— Vamos começar pela maquiagem e o cabelo? —sugeriu arqueando uma sobrancelha.

— Vamos. — concordei.

Andei até a penteadeira e sentei. Peguei o celular e pesquisei a imagem que tinha separado como referência para a maquiagem e o cabelo. Não queria nada muito chamativo, porém precisava fazer algo mais elaborado. Michely garantiu que conseguiria me ajudar, então deixei a imagem aberta sobre a penteadeira enquanto ela trabalhava.

Michely esfumou as pálpebras dos meus olhos com sombra cor preta e um tom de marrom meio metalizado, e devo confessar que ficou bom. Depois passamos máscaras de cílios, blush e apenas um gloss nos lábios.

— Ficou ótimo. — elogiei encarando meu reflexo no espelho da penteadeira.

— Eu disse para confiar... — piscou com um olho só.

Dei uma risada enquanto ela pegava o babyliss. Meu cabelo já tinha secado completamente, então começamos a fazer as ondas, no final Michely passou os dedos, desfazendo os cachos para que ficasse apenas ondulado.

Quando estava pronta peguei o vestido que havia separado para o show. Não era muito chique, mas um dos melhores que trouxe, na verdade, era o mesmo que usei na formatura da escola em Cérnia. Tia Leila o comprou de presente e fez uma surpresa. Não tinha uma roupa tão elaborada e durante todo o processo de preparo para o show não me preocupei com esse detalhe.

Encarei o vestido em tom de vermelho vivido. O decote era quadrado e no meio do busto ligeiramente arredondado havia a costura que fazia um drapeado. As mangas eram levemente bufantes, nada exagerado. Não era muito comprido, indo até a metade das minhas coxas.

Michely me ajudou com o vestido, fechando o zíper nas costas. Percebi que ela olhava ao redor, provavelmente procurando pelos meus sapatos. Até tinha pensado em pedir um salto emprestado a Vaiola ou Ximena, mas tinha quase certeza que cairia assim que tentasse dar dois passos, muito menos ficar em pé na frente de várias pessoas e quem sabe arriscar alguns passos de dança.

Olhei para meu all star jogado no canto perto da cama. Ouvi a risada baixa da Michely enquanto ia buscá-los. Sentei na cama, agradecendo quando ela entregou os tênis.

Calcei o par e assim que estava pronta fui conferir o resultado no espelho. Coloquei apenas um colar pequeno com pingente de coração, anel e brincos pequenos de argola.

Peguei o celular e vi que faltavam quinze minutos para o horário combinado de estar no anfiteatro.

— Preciso ir! — avisei.

— Boa sorte. — Michely tocou meu braço, gentilmente.

Coloquei a mão sobre a sua, apertando-a levemente.

— Obrigada pela ajuda. — sorri abertamente — Espero te ver lá.

Tinha convidado Michely para ir ao show. Ela alegou não achar adequado e deu outras várias justificativas, mas no fim disse que pensaria sobre o assunto. Michely havia vindo até a escola em pleno sábado, então merecia se divertir um pouco.

Me despedi e saí do quarto. Cruzei com alguns alunos e os cumprimentei com um discreto sorriso. Estava descendo as escadas quando vi a garota no hall.

— Ximena! — chamei sua atenção.

— Oi! — sorriu — Você está um arraso!

— Posso dizer o mesmo. — pisquei com um olho só.

Ximena usava uma blusa azul marinho com alguns detalhes de aplicações de pedraria no decote. Saia de cintura alta, com um cinto preto e sapatos de sapateado. Sabia que Ximena faria um número de dança e havia ensaiado bastante.

— É normal achar que o coração vai sair pela boca? — questionou enquanto saíamos do internato.

Dei uma risada baixa e toquei seu ombro, afagando-o, tentando tranquilizá-la. Por incrível que pareça, estava mais calma agora do que hoje cedo, quando acordei e lembrei que era o dia do show. Sabia que essa era uma chance única. Em Cérnia não teria essas oportunidades, mas aqui na Escola Real muita coisa podia acontecer. Querendo ou não um mundo novo se abriu assim que recebi aquela carta de admissão.

Como foi pedido nós seguimos direto à parte de trás do palco do anfiteatro, onde tinha alguns sofás e uma mesa grande com um espelho na frente. Poderia até ser considerada uma espécie de camarim, ou algo do gênero.

Alguns alunos já estavam ali, inclusive Luiza, que sorriu e acenou discretamente. Por sorte ela não veio até nós, pois eu não estava afim de ser simpática e ignorar os seus olhares nada amigáveis.

Luiza andava agindo como se fossemos inimigas, ou algo do gênero, o que para mim era uma tremenda burrice. Nenhum garoto valia tanto a ponto de criar rivalidade feminina. Além de que, ela e Frederick nunca tiveram algo sério realmente, então era um ciúme irracional da cabeça dela.

Olhei ao redor e reparei nos alunos espalhados por ali, conversando entre si, outros ensaiando alguns passos, pequenos sussurros de cantorias, entre outros. Tinha uma garota perto da escada que levava ao palco e ela não parecia nada bem. Notei sua respiração meio acelerada e antes que conseguisse pensar em alguma coisa a vi sair correndo em direção à porta do banheiro.

— Olá pessoal! — ouvi a voz da orientadora Joana — Estou passando para desejar boa sorte a todos. Fiquem tranquilos e façam uma bela apresentação. — sorriu levemente — As apresentações ocorrerão na mesma ordem dos nomes expostos na lista de aprovados.

Lembrei que o meu era um dos últimos e suspirei baixo sentando em uma das poltronas. Ainda bem que eram apenas vinte e cinco participantes, então não demoraria tanto assim. Joana se despediu e seguiu em direção a escada que levava ao palco, sumindo pela cortina.

Alguns minutos passaram até que de trás do palco nós ouvimos a introdução feita pela diretora Analise, depois a breve explicação de como ocorreria o show para então começar a chamar os participantes.

Em certo momento Ximena pediu que tirasse fotos suas, para postar nas redes sociais e aproveitei para tirar algumas minhas, afinal não era sempre que estava produzida. Escolhi uma que gostei mais e postei com a hashtag que estavam usando. Aproveitei para ver as publicações já feitas e curti algumas, comentando outras.

...

Respirei fundo ao perceber que faltavam apenas três garotas antes de mim. Ximena já tinha se apresentado. Nunca vi sapateado de perto e era sensacional. O som que o sapato fazia ao entrar em contato com o chão de madeira era diferente e até mágico. Já Luiza dançou balé, seus passos eram precisos e seguros.

Quem também já tinha tido o momento de brilhar era Jasmine, que fez uma apresentação digna de ser vista em qualquer canal de tv. Havia luzes piscando conforme o ritmo da música e até uma coreografia. Com certeza estaria entre as melhores apresentações da noite.

Combinei com Pablo de que quando entrasse no palco para me apresentar, ele também subiria e se posicionaria atrás da mesa cheia de aparelhagens. Sua ajuda era mais do que essencial.

— Alicia Dolohov. — Analise chamou.

Imediatamente senti um frio no estômago e o coração acelerar levemente. Engoli em seco e subi os degraus que davam acesso ao palco. As fileiras de poltronas haviam sido retiradas, não sei para onde, e agora todo o espaço estaria vazio se não fosse pela plateia repleta de alunos. A Escola praticamente inteira estava ali, o que gerava certa pressão.

Chegou a hora! Pensei enquanto me posicionava atrás do pedestal.

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