Camila Brench
— Veste essa — Victor joga uma peça de roupa preta na minha direção e eu agarro no ar.
Estico a roupa para ver. Fico horizada, é um vestido preto com algumas partes transparente e extremamente cavado no decote, pelo tamanho provavelmente vai até as minhas coxas...
— Victor esse vestido não tampa nada! — reclamo fazendo careta enquanto ainda olho-o.
— Você vai usar esse top por baixo dele, Cams — ele me joga a outra peça.
— O que é isso? Um sutiã? — reclamo mais uma vez, olhando para o top preto na minha mão de renda.
— Cams, essas roupas nem se comparam com as de Lauren. Ela já se vestiu pior — rebate rindo da minha reação.
Victor fez o grande favor de ir em uma loja que minha irmã costumava frequentar e comprou algumas peças de roupa para usar hoje a noite. Porém todas elas são revelativas, não estou acostumada a me vestir assim, nunca me imaginei usando nada do tipo. A neve ainda caí lá fora e mesmo com o casaco que eu vou usar por cima e a meia calça preta, sei que vou me sentir como se estivesse nua.
— E o casaco preto vai combinar com as meias — assegura.
Encaro aquele pedaço de pano nas minhas mãos novamente, prestes a reclamar de novo na sua frente.
— Vou... vou me vestir — aviso tentado me controlar.
Entro no banheiro e fecho a porta, tiro todas as minhas roupas confortáveis e quentes. Visto tudo que Victor comprou e a impressão que adquiro é que tudo ficou menor, respiro fundo antes de abrir a porta. Me sinto desconfortável demais.
— Ficou muito bom — elogia pela segunda vez tentando suavizar minha tenção — Pode tirar suas mãos tampando o vestido, Camila. Você não tá pelada.
Fico de frente para o espelho do quarto tirando meus braços apertando o tecido enquanto olho meu reflexo. É como se eu olhasse para uma estranha, ela tem as mesmas características que as minhas, porém não é eu. Quase dou risada me sentindo uma maluca, porque eu tenho certeza que sou eu, mas algo dentro de mim diz que não.
Essa estranha é igual a Lauren.
— Victor esse vestido é curto demais! — tento puxá-lo mais para baixo — e esse top-sutiã é muito pequeno — reclamo.
O vestido é liso e preto, o caimento dele ficou muito bom no meu corpo, seu comprimento é basicamente um pouco a baixo da minha bunda - o deixando a mostra se caso eu agachar. A parte de cima é transparente e aberta deixando o top a mostra com a numeração bem pequena, que deixa meus peitos quase pulando para fora, sem contar com a parte de trás que quase não á tecido cobrindo minhas cotas com sardas.
Aquela não é eu definitivamente. A Camila que eu conheço nunca vestiria roupas assim, não consigo me reconhecer mais, nunca havia feito nada por vingança antes e agora olha para mim, estou prestes a entrar na casa de um desconhecido e tentar fazer a vida da pessoa que eu gosto um inferno.
— Cams, lembre-se que tudo isso é necessário.
— Eu sei, eu só... estou me sentindo sufocada — passo as mãos pela a roupa sentindo o textura do tecido.
— Isso passa — Victor me assegura e se levanta da cama — Agora você precisa se maquiar logo.
Meu cabelo já havia alisado, passei chapinha pela primeira vez, ficou sedoso e brilhoso parecendo liso natural, e no comprimento que esta minha vontade é de tirar uma foto, embora eu tenha queimado meu dedo e quase meu rosto para obter esse resultado. Tiro o telefone do gancho, que tem no meu quarto para se comunicar com os funcionários e peço para Taylor subir, a mulher da qual minha mãe havia contratado para cuidar de qualquer necessidade minha e por sorte ela fez curso de maquiagem quando era jovem.
Confesso que a maquiagem foi o pior de todas as mudanças que já fiz. E tudo pareceu uma eternidade, me sinto estranha fazendo aquilo com a minha própria pele. Já havia me maquiado uma vez por brincadeira, quando era uma pré-adolescente, mas nem chegou aos pés da maquiagem que Taylor fez, a que eu tinha feito era só um batom e sombra colorida nos olhos, mas a dela é de uma verdadeira profissional.
E quando olhei para Victor após ela ter terminado ele esta de boca aberta. Olho no espelho para ver o resultado e ele não foi o único a ter essa reação no quarto. Alguém pode me beliscar nesse momento para ver se é verdade isso que eu vejo. Parece ser uma das fotografias que vi Lauren e soltei "perfeita" varias vezes, mas não eu, essa não pode ser eu. Cadê a garota doce a amável que tentava ser feliz com as mínimas coisas?
E eu pude ver o quanto eu e Lauren tem a aparência idêntica, quando vi as fotos bati o pé dizendo que não somos tão parecidas assim. Me sinto simplesmente linda, exatamente quando eu vi as fotos da minha irmã e não achei defeito. Nunca a minha alto estima esteve tão alta.
A maquiagem fico bem carregada, e eu não evitei de passar um batom vermelho escuro, por cima do rosa nude que Taylor havia passado. Já que é para ficar igual Lauren, não posso ter nenhuma frescura, já basta a roupa indecente que eu estou.
— Eu estou tão... tão... — continuo encarando meu reflexo no espelho, tentando encontrar uma planta que me descreva.
— Você tá idêntica a ela — ele diz como se Lauren fosse o sinônimo da beleza e de fato ela era, mas não eu.
— Falta as lentes azuis — lembro pegando o estojo plástico para lente de contato em cima da cama.
Não entendo porque ela não gostava da cor dos nossos olhos, sempre achei eles a parte mais bonita do meu corpo.
— Só queria saber onde o colar de Lauren tá — Victor comenta pensativo.
Eu sei onde esta e vou pegar de volta, mas por hora não quero arrumar mais confusão entre ele e Mason. Os dois são primos a cima de tudo, são uma família, e essa briga é minha e da minha família.
— O plano já foi repassado duas vezes — Victor me lembra e eu continuo ensaiando mentalmente — Você sabe exatamente o que fazer.
— Tem certeza que meus pais não vão brigar? — pergunto mais uma vez sentindo uma pontada de peso por ter saído praticamente escondida no meio da noite.
— Tenho. Você só precisa ser rápida e não deixar muita gente te encarar. Alguém pode te reconhecer.
Concordo com cabeça.
Estou muito ansiosa, minhas mãos tremem levemente e eu mal consigo ficar em pé com esses saltos enormes e a minha ansiedade me correndo. Fico até com medo de precisar ir ao banheiro antes e acabar estragando tudo.
— Neal chegou — Victor cochicha no meu ouvido encarando um lugar específico da sala.
Respiro fundo.
— Boa sorte, gata — ele brinca me beijando no canto da boca enquanto me entrega um copo na mão.
Assisto Victor se aproximar de Neal e cumprimentá-lo, os dois sorriem um para o outro, de longe a amizade deles parece forte. Continuo ali parada em um dos cantos mais afastados de todo mundo esperando ansiosamente para o momento certo da minha vingança começar.
Não demora muito para Victor me mandar uma mensagem avisando, já havia ruído todas minhas unhas e estava prestes a arrancar minha cutícula.
Olho em direção da porta de entrada e sorrio.
Arrumo o vestido puxando mais para baixo, por pouco não esqueço do copo que Victor me entregou em cima da mesinha de vidro cheia dê objetos de enfeite em cima do meu lado.
Ando rápido por aquela multidão com pessoas dançando e quase perco ele de vista. Confesso que Mason esta muito bem vestido para uma simples comemoração entre amigos, para falar a verdade suas roupas sempre caem bem para seu corpo, como se fosse feitas sob medida, mas especificamente hoje ele esta uma verdadeira obra de arte, — com sua camisa de manga e sua calça jeans — da qual eu terei o prazer de destruir.
Tem muitas pessoas dançando na pista de dança e quando do uma olhada na direção dele que tenta passar por todos, um arrependimento bate e eu sinto que talvez não precisasse, porque ele já havia sofrido demais. Entretanto, respiro fundo e ignoro, me forço a trancar meu coração meus sentimentos a sete chaves para não fraquejar.
Me escondo atrás de um grupo de garotas que dançam em conjunto, e me disfarço me mexendo no ritmo da música quando ele esta prestes a passar do meu lado.
E foi quando ele passa, que entro com tudo na sua frente colidindo o copo com bebida nele.
E ali quase no meio da pista de dança improvisada na sala, próximo a várias pessoas que não tem ideia do que estou tramando e sendo observada de longe pela único que sabe.