1.
As luzes coloridas dos fresnéis presos nos trilhos chumbados no teto do Hello There se acenderam. Aproveitei para pegar um copo d'agua que estava estrategicamente posicionado próximo a bateria de Sasha. Olhei para ele e assim como eu, também já suava em bicas. Joguei um copo para ele e "delicadamente" ele meteu o dedo indicador na tampa de alumínio, bebeu um pouco e jogou o resto no rosto. Em seguida balançou a cabeça de um lado para o outro feito um cachorro molhado.
O show tinha o seu ritmo e a palavra chave era entreter a plateia fazendo com que ela participasse do show ativamente e não apenas como espectadora. Por isso, carregávamos uma parafernália conosco para deixar o show mais interativo.
Na maior parte do tempo eu mais cantava do que falava, eu não era um showman e não sabia o que falar para interagir com a plateia, exceto no Somnium é claro. Tinha receio de me perder e acabar falando mais merda do que algo útil ou pelo menos engraçado.
Me virei para a plateia procurando rostos conhecidos, mas a casa estava tão cheia que fazer isso me lembrava dos velhos livros de Martin Handford, onde caçava o personagem Wally no meio de ilustrações.
— Boa noite, Hello There! Boa noite, São Paulo! — A voz de Kai soou amplificada pelas potentes caixas de som suspensas, presas ao teto por cabos de aço, de ambos os lados do palco. — Nós somos a banda Labeless!
Aplausos. Gritos. Assovios.
No Hello There, ou seja, no mundo real, os meninos chamavam a banda de Labeless. Que significa "sem rótulo" em Inglês. No Somnium e no espetáculo que acontecia em uma realidade paralela, dentro da minha mente, as meninas chamavam a banda de "Sem Cuecas". No mundo real elas eram meninos que nasceram no corpo de meninas. No Somnium elas eram só meninas porque somente em um mundo imaginário não há divergências do que você considera ser o certo. Só no mundo que você inventa você consegue ter o controle do que os outros devem ou não ser ou fazer.
— Essa noite.. — Kai continuou — ...trouxemos muita coisa boa para compartilhar com vocês.
Mais aplausos. Mais gritos. Mais assovios.
Dani e Érica acenavam, batiam palmas e sopravam beijos para mim como se estivessem diante do David Bowie. Pisquei para elas e dei um joinha.
— Semana passada nós estávamos no Rio de Janeiro, nos apresentando numa casa de rock ali no Botafogo.
Vaias. O pessoal de um estado sempre vaia quando citávamos outro estado. Entre Rio e São Paulo então, nem se fala, sempre houve essa famosa rivalidade.
— O show foi maravilhoso! Mas sabe no que a gente pensava depois do show? A gente não via a hora de voltar para São Paulo e tocar aqui na rua Augusta, aqui no Hello There, tocar uma bem gostosa para cada um de vocês!
— Você diz, tocar música, Kai? — Adriel perguntou em um dos microfones fazendo um gesto obsceno com a mão como se tocasse uma punheta.
— Sim! Músicas bem gostosas, bem dançantes! Coisas novas e muitos clássicos.
— Que pena. — Adriel falou, piscando para uma menina na plateia.
Risos e "aah" foram ouvidos.
— São Paulo, o negócio é o seguinte. A casa está cheia. E eu quero saber, quem está com calor aqui?
Várias pessoas levantaram as mãos, inclusive Érica e Dani. Enquanto Kai conversava com a plateia, era a deixa para arrumarmos o palco. Eu fui até a nossa caixa de entretenimento e peguei dois baldes laranjas e deixei em frente ao bumbo da bateria. Sasha também foi até a caixa e pegou duas garrafas de quinhentos ml de água e entregou uma para Adriel e a outra para Alisson. Nesse meio tempo, Rael subiu ao palco e colocou atrás de Kai uma cadeira e um arco de metal com um suporte acima e uma corrente ao lado.
— Você! — Kai apontou para uma menina linda na frente do palco — Sobe aqui.
Adriel e Alisson ajudaram a menina subir no palco e ultrapassar as fileiras de retorno que estavam em frente aos microfones. Kai tirou o microfone do pedestal e perguntou:
— Qual o seu nome?
— Danielle. — Ela disse quando o Kai apontou o microfone para ela. Ela me olhou e sorriu.
— Você está com calor, Danielle?
— Demais. — Ela respondeu dando risada e olhando para Érica na plateia.
— Adriel, Alisson, a menina está com calor!
Eu peguei um dos baldes que havia posto em frente a bateria e me posicionei entre Adriel e Alisson. Ambos abriram as suas garrafinhas de água e despejaram o líquido no balde. Quando acabaram, fui da direita para a esquerda do palco molhando uma mão e jogando gotas de água na plateia.
— Você é solteira? — Adriel perguntou.
— Não. Minha namorada está ali ó. — Dani respondeu apontando para Érica.
A namorada fez um gesto de estou-de-olho-em-você para Dani e para Adriel.
— Uma pena realmente. Nosso amigo Linderoff está de olho em você faz tempo. — Kai brincou.
— Desde a faculdade. — Falei em um dos microfones.
Risos.
— Bom, agora você vai mostrar o quão sexy você consegue ser dançando para a sua namorada como se você fosse Alexandra Owens do filme Flashdance. Quando a música acabar, você vai sentar nessa cadeira e puxar a corrente e deixar o balde com água te molhar inteira. Entendeu a proposta? Algum problema?
Sem saber, Kai tinha pegado a menina certa. Muitas eram tímidas, mas não Dani. Aquela ali topava qualquer parada. Mesmo que fosse ficar totalmente molhada o resto da noite dentro de uma balada.
— Ok! Sem problemas. — Dani disse.
— Rael, solta o som!
As luzes se apagaram e Dani ficou iluminada por um facho de luz azul. Das caixas de som veio a You can leave your hat on do Joe Cocker. E feito uma garota de cabaré, Dani dançou. Sem timidez nenhuma. Ela rebolava, desabotoou a camisa que vestia. Pegou o chapéu de cowboy de Adriel e o vestiu. De costas para a plateia virou apenas a cabeça o máximo que pode, jogando os cabelos para o outro lado, fazendo cara de puta. A plateia foi a loucura. Segurou o pedestal do microfone e fez a dança mais sensual que eu já vi em toda a minha vida. Desceu, segurando o pedestal, lambeu o dedo e deu para namorada chupar. E assim ela o fez. Em seguida, se ergueu empinando a bunda na direção de Adriel, jogou o chapéu para ele e sentou na cadeira. Eu já tinha instalado o outro balde sem que ela e a plateia percebessem e no final da música ela jogou a cabeça para trás, seu cabelo desenhou um semicírculo no ar. Ela ergueu uma perna e na hora em que puxou a corrente, ao mesmo tempo as luzes se acenderam e a plateia pode vê-la levando um banho de papel picado colorido.
Palmas. Risos. E na caixa de som Christina Aguilera, Lil' Kim, Mya e Pink cantavam Lady Marmalade.
— Mais uma batizada, pessoal! Uma salva de palmas para Danielle!
Todos fomos a frente do palco, nos demos as mãos e erguemos os braços. Fui até o meu microfone e falei:
— Ouvi dizer que São Paulo é a cidade da diversidade. Isso é verdade, pessoal?
Um "sim" estrondoso veio da plateia e eu disse:
— Muito bom estar em um ambiente onde as pessoas se respeitam. Estamos em uma casa de rock and roll para mostrar que podemos gostar de qualquer estilo de música e podemos e temos o direito de frequentar qualquer lugar. Nós vamos ficar onde queremos ficar! E a próxima música fala justamente sobre isso. — Apontei para Danielle e Érica — Sobre sair do casulo, do armário, do escuro e poder ser e amar quem a gente quiser e ser respeitado por isso!
Aplausos.
Quando virei para trás, eu falei o nome da música para o pessoal. O palco já estava livre da cadeira, do arco e o pessoal estava arrumando os equipamentos para começar a tocar.
— Essa música eu dedico a você Danielle! — Falei antes do primeiro acorde soar.
2.
As luzes também se apagaram no teatro Somnium, exceto por um facho apontado na minha direção.
— Senhoras e senhores, ela está vindo!
O enorme telão no fundo do palco começou a se abrir, gelo seco tomou conta de tudo. Uma enorme estrutura redonda começou a entrar. Sobre ela vinha o fabuloso Lincoln Premiere 1957 vermelho e conversível da Dani. Ela ao volante, Érica ao lado no banco do passageiro e atrás um rapaz que eu conhecia bem, Roger.
Enquanto o carro vinha até a frente do palco, Dani dizia:
I'm coming out - Eu estou saindo
Uma chuva de aplausos choveu sobre ela.
I'm coming. - Eu estou indo
Enquanto o carro vinha para a frente do palco, o telão se fechou e nele projetou-se imagens do meu passado. Minha memória estava sendo exibida como se fosse um vídeo clip. No vídeo que era exibido, o carro vermelho seguia na via Anchieta com Dani na direção, Érica ao seu lado e eu e Roger no banco de trás. Estávamos seguindo rumo a praia.
I'm coming out - Eu estou saindo
No Hello There, ainda com Dani ao meu lado, eu cantava no microfone:
I'm coming out - Eu estou saindo
Eu dava espaço e ela cantava no meu microfone:
I'm coming out - Eu estou saindo
Dentro do Lincoln, descendo a serra, do som do carro vinha a voz da Diana Ross cantando um hit de 1980. Dani aumentou o volume do carro e nós quatro começamos a cantar:
I'm coming out - Eu estou saindo
Dani olhou para Érica e Roger olhou para mim e cantamos:
I'm coming out - Eu estou saindo
Não consegui ficar sentado. Eu me levantei e segurei no encosto do banco da Dani e comecei a cantar:
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
Got to let it show - Tenho de mostrar
Não demorou para que Roger fizesse o mesmo. Ele se levantou e se segurou no encosto do banco da Érica e cantou:
I'm coming out - Que estou saindo
I want the world to know - Quero que o mundo saiba
I got to let it show - Tenho que mostrar
Nós estávamos saindo do armário, do escuro e a gente queria que todos ficassem sabendo. Cantar aquilo era mais fácil do que vivenciar de fato. Mas pelo menos na canção eu podia me entregar. Coisa que pessoalmente levou um pouco mais de tempo. Mas a música representava aquela época que eu estava vivendo. Roger fechou os olhos e quando abriu era a voz dele que vinha no lugar da Diane Ross cantando:
There's a new me coming out - Tem um novo "eu" saindo
And I just had to live - E eu apenas tenho de viver
And I wanna give - E vou dar
No teatro Somnium, o carro parou na frente do palco e lentamente começou a ficar de lado para a plateia. No telão imagens da estrada se alternavam com imagens da gente zoando e cantando.
Roger cantava:
I'm completely positive - Eu sou completamente positivo
I think this time around - Eu acho que dessa vez
I am gonna do it - Eu vou fazer
O carro começou a virar na plataforma e ficou de frente para o telão que agora exibia a imagem de uma estrada, como se o carro estivesse literalmente lá. Na traseira do carro, eu e o Roger ficamos em pé no banco e ele cantou, de costas para o fundo do palco e de frente para a plateia:
Like you never do it - Como você nunca fez
Like you never knew it - Como você nunca soube
Ooh, I'll make it through - Ooh, farei pra valer
Dani e Érica desceram do carro e ganharam o palco. Dançavam cada uma de um lado do automóvel. Roger virou-se para mim e fez um gesto com a cabeça e eu cantei:
The time has come for me - A minha hora chegou
To break out of the shell - Para sair do casulo
I have to shout - Tenho de gritar
That I'm coming out - Que estou saindo
Dentro do Lincoln no mundo real, descendo a serra, a música já tinha entrado dentro de mim. Fiquei em pé no banco, tentando me equilibrar para não cair para fora do carro. Curvei meu corpo para frente e ao olhar para o lado, Roger estava fazendo a mesma coisa. Ele ficou em pé no banco, com o vento forte no rosto. Seguramos a mão um do outro e nós quatro cantamos:
I'm coming out - Eu estou saindo
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
Got to let it show – Tenho que mostrar
I'm coming out – Que eu estou saindo
Érica olhou para Dani ao volante e cantou:
I've got to show the world – Eu tenho que mostrar para o mundo
All that I wanna be – Tudo o que eu posso ser
And all my abillities – Todas as minhas habilidades
There's so much more to me – Há muito mais para mim
Dani, sem tirar os olhos da estrada cantou:
Somehow, I have to make them – De alguma forma eu tenho que fazê-los
Just understand – Apenas entender
I got it well in hand – Eu tenho tudo na minha mão
And, oh, how I've planned – E como eu planejei
No Somnium Roger fez um gesto para a plateia cantando:
I'm spreadin' love – Eu estou espalhando o amor
There's no need to fear – Não há nada a temer
And I just feel so glad – E eu fico tão satisfeito
Everytime I hear: - Todas as vezes que eu ouço
Começamos a bater palma e cantamos juntos:
I'm coming out – Eu estou saindo
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
Got to let it show – Eu tenho que mostrar
I'm coming out – Eu estou saindo
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
I got to let it show – Eu tenho que mostrar
Quando chegou ao solo de alguns instrumentos o carro começou a ser içado. A plateia do Somnium foi a loucura. A frente do carro começou a levantar ao mesmo tempo que o encosto do banco traseiro começou se deslocar. O banco transformou-se numa plataforma e o carro ficou erguido como se fosse um foguete, preso a estrutura que revelou-se um enorme telão redondo onde passava imagem de asfalto como se a plateia inteira estivesse nos vendo de cima para baixo. Na plataforma em que o encosto do banco traseiro se transformou, eu e Roger cantávamos:
I'm coming out – Eu estou saindo
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
Dois tablados vieram da coxia até a frente do palco. Kai e Adriel tocavam enquanto Dani dançava entre elas. Do outro lado do carro, no outro tablado Sasha na bateria e Alisson no baixo agitavam a galera também. Érica subiu no tablado e dançando cantou junto com todos nós:
Got to let it show – Eu tenho que mostrar
I'm coming out – Eu estou saindo
I want the world to know – Eu quero que o mundo saiba
I got to let it show – Eu tenho que mostrar
A música acabou com Dani gritando:
I'm coming out – Eu estou saindo
No mundo real, eu e Roger acabamos sentando no banco antes que algum policial rodoviário nos visse. O restante da viagem à praia continuou e aquela cena descendo a serra em alta velocidade em pé no banco traseiro de um carro conversível de mãos dadas com um cueca, com o vento batendo nos nossos rostos e cantando Diana Ross jamais se apagou da minha memória.
3.
O litoral sul de São Paulo não era o mais bonito do Brasil, mas com certeza era um dos mais agitados. Além disso, o fácil acesso permitia com que fizéssemos o famoso "bate e volta". A gente conseguia descer a serra, aproveitar algumas horas de praia e subir para casa no final do dia.
Para se livrar do trânsito local, acabamos pegando uns atalhos e quando me toquei estávamos em uma rua que me era muito familiar. Dani seguia lentamente desviando de buracos e valetas. Foi quando a minha esquerda surgiu a casa que me era muito familiar.
— Espere um pouco. — Falei para Dani.
Ela parou o carro no meio da rua. Eu me ergui e apoiei uma perna sobre o banco. Aquele portão de ferro, aquela casa e aquele quintal. Se a casa falasse ela teria muito o que dizer a meu respeito. Dani e Érica não falavam nada. Mas eu sabia que elas tinham reconhecido a casa também.
Do corredor lateral surgiu um rapaz moreno que eu conhecia muito bem. Era Paulo, o neto da dona da casa. Casa onde eu e ele ficamos e transamos pela primeira vez, transa essa que foi a minha primeira experiência com outro cueca. Atrás dele surgiu um outro rapaz que eu reconheci na hora. Era o Daniel, um dos caras que morou comigo numa república quando eu tinha vinte anos. Eu e ele moramos juntos e tivemos um lance muito intenso. Ele era afim de mim, eu era afim do Paulo e Paulo não sabia o que queria porque tinha uma namorada chamada Tati, mas vivia pulando a cerca comigo. Quando eu me afastei para decidir se era a vida gay mesmo que eu queria (como se fosse opcional) assumir, acabei namorando a Tábata e como Paulo e Daniel trabalhavam juntos não demorou muito para que um caísse nas graças do outro. Embora tivéssemos transado uns com os outros, isso nunca aconteceu a três no estilo "ménage à troi", exceto em meus devaneios pecaminosos.
Daniel apoiou o queixo no ombro de Paulo e segurou sua cintura enquanto me olhava. Paulo deu uma mordida em uma maçã vermelha e suculenta que segurava na mão esquerda. Ele também mantinha os olhos presos aos meus. Ambos me olhavam fixamente, seus olhares eram hipnóticos, me chamavam. Ouvi guizos de cascavéis. Eram serpentes me tentando, seus olhares clamavam por sexo.
Foi nesse momento que eu senti algo em minha perna. Baixei a cabeça senti as mãos de Roger em mim. Mãos grandes e quentes. Ele se aproximou ainda mais e eu pude ver seu rosto próximo ao meu. Segui seu olhar e ele tentava entender o meu interesse pela casa fechada e vazia. Não havia ninguém lá. Pela primeira vez pensei na possibilidade remota de me sentir atraído por outro(s) cara(s) além de Roger. Será que isso podia acontecer mesmo quando você está em um relacionamento e está tudo bem? Será que namorar sério era para mim? Esse sentimento machucou minha alma e eu o afastei imediatamente.
— O que foi? — Ele me perguntou.
— Lembranças. — Respondi sentando junto com ele — Vamos embora, Dani.
O carro voltou a andar e eu dei uma última olhada na casa. Ela permaneceu fechada, solitária, com o meu passado trancado nos cômodos de sua história.
Um dos melhores lugares para se relaxar no litoral sul, era indo ao Quiosque da Cris. O famoso 'Quiosque da Cris', ficava na praia de Itararé e ficou conhecido no Brasil inteiro por ser um ponto de encontro do público LGBT. Com o passar do tempo, passou a atrair turistas de outros países também.
A Praia do Gonzaguinha ou Praia de São Vicente era considerada por muitos a praia mais animada de São Vicente, com vários quiosques, bares, restaurantes e lojas. Muito utilizada por pessoas que praticavam esportes como iatismo, jet-ski, wakeboard e wind surf. Estava próxima ao Centro da cidade e de atrações turísticas. Era palco, todos os anos, da Encenação da Chegada de Martim Afonso de Souza. Possuía oitocentos metros de extensão, em uma baía de águas calmas, entre o Marco Padrão e a Praia dos Milionários. Haviam bancos e decks de madeira para acesso à areia, espaço verde, quiosques com cobertura de piaçava ao longo de um calçadão, além de um píer particular que fazia passeios diários pela baía e imediações.
Dani estacionou o carro em uma vaga em frente ao quiosque. Ele parecia na verdade uma enorme oca, com a cobertura alta feita de piaçava ostentando duas bandeiras, uma do arco-íris – símbolo do público GLS e outra do estado de São Paulo. A área sob a cobertura era grande e bem decorada. Havia um balcão redondo que circundava uma pequena cozinha ao centro feito de madeira envernizada e espalhadas ao redor haviam bancos feitos de vime com estofados brancos, mesas e cadeiras feitas de bambu. Vasos enormes com plantas e flores decoravam o local. Era confortável e bem arejado. Atravessando todo espaço do bar havia uma escada de madeira que levava até a areia. Nela haviam espreguiçadeiras, futons sobre pallets e pufes coloridos. Acima disso tudo, pendendo de uma fiação haviam várias lanternas redondas feitas de papel que eram acesas todos os dias a noite e também velas no formato de quadrados altos de cera criavam um caminho na areia direto para o mar e davam um certo ar de sofisticação depois que o sol ia embora. Para completar, caixas de som espalhadas pelo quiosque tocavam músicas pop de sucesso e hinos do público LGBT.
— Eu amo sair de São Paulo. — Falei.
— Ainda mais para vir para a praia. Esse mormaço, essa brisa, esse cheiro de mar. Tem coisa melhor? — Roger complementou.
— Eu também. — Érica concordou — Ainda mais que venho do interior e vir para a praia demanda um bom planejamento.
— Mas em Tupã tem muita coisa legal para fazer também. Eu amo andar a cavalo. — Dani disse — Lembro de uma vez que o céu escureceu e parecia que as nuvens todas se juntaram em um enorme redemoinho. Aquele dia eu achei que um enorme tornado destruiria a cidade inteira. Antes de ir para os Estados Unidos, nunca tinha sequer visto ou ouvido falar de coisas desse tipo.
— Você está descrevendo uma supercélula. - Roger disse tirando a jaqueta de moletom e jogando sobre o ombro.
Fui olhar o peitoral dele e levei um tropeção que me fez ficar para trás. Ninguém reparou.
— Oi? — Dani perguntou sem entender do que se tratava.
— Supercélula. É um tipo de tempestade. Uma corrente de ar ascendente gira no interior de uma nuvem gigantesca e isso se chama mesociclone. São chamadas de tempestades girantes. As supercélulas são menos comuns, mas também são as mais severas. Podem dominar o clima local por mais de 30 km de distância. Além de causarem chuvas muito volumosas, produzem muitos raios e ventania. Mas o mais perigoso é quando ocorre a formação desses tornados, como você descreveu. Podia ser um F5!
Quando Roger terminou de falar, todos estávamos parados prestando atenção. Eu já tinha os alcançado. Era como se tivéssemos acabado de ouvir uma aula de Ciências. E dessa aula eu só lembro que o nome da nuvem de tempestade é Cumulus nimbus. Mas pensando melhor, eu não sabia se tinha aprendido isso na escola ou com a moça do tempo no Jornal Nacional. Não importa. O que era de assustar era estar diante de um cara lindo, gay e que agora aparentemente também se mostrava inteligente. E a primeira pergunta que me veio a cabeça não tinha nada haver com nuvens e sim comigo mesmo. O que será que ele tinha visto em mim? Eu mal conseguia fazer uma conta de cabeça quando eu recebia o troco de alguma coisa e ele ali dando uma aula sobre supercélula e o caralho a quatro.
— O que foi, gente? Nunca assistiram Twister? — Ele perguntou.
Érica e Dani riram. Eu fiquei pensando merda e comparando a minha inteligência com a dele.
— Twister é um dos meus filmes favoritos! Quando a vaquinha voa, que dó! — Dani disse se pendurando no braço esquerdo de Roger. Érica seguia do seu lado direito. Ele no meio das duas, virou a cabeça e me deu um sorriso. Lhe devolvi o meu sorriso "pois é". Se o plano dele era cair nas graça da minha melhor amiga, tinha conseguido.
Segui atrás dos três pensando se ele não era muita areia para o meu caminhãozinho.
O local não estava cheio, mas já estava atendendo bastante gente. Alugamos duas espreguiçadeiras e um guarda sol quadrado também feito de madeira. Entre as espreguiçadeiras havia uma mesinha de madeira com o tampo de vidro para colocar copos, celulares e protetor solar.
Dani tirou o vestido e tirou da bolsa uma saída de banho de crochê e o vestiu. Tinha sido dela a ideia de irmos para à praia. Se tivesse me avisado com antecedência, teria colocado uma sunga pelo menos. Érica ficou do jeito que estava mesmo. Roger ficou com o peito nu, de bermuda e descalço já que o par de chinelos ele jogou debaixo de uma das espreguiçadeiras. Eu fiquei parado observando todos os detalhes do corpo dele. Ainda era difícil de acreditar que ele estava ali conosco, quer dizer, comigo.
As meninas começaram a passar protetor solar uma na outra. Roger virou e pediu:
— E aí, Ferinha, passa protetor nas minhas costas? Por favor?
— Eu? — Perguntei olhando para os lados. Aquilo soou muito idiota. Olhei para Dani e ela colocou a embalagem na minha mão e fez sinal com a cabeça para eu ir logo.
Fiquei em pé, coloquei um pouco do líquido branco e viscoso já quente por causa da temperatura do sol na palma da minha mão. Levei a palma da mão até suas costas e espalhei o protetor sentindo sua pele macia nas pontas dos meus dedos. Observei as imperfeições de sua pele, seus poros, suas pintas, senti seus músculos. Meu pau deu sinal de vida. Fiquei sem graça e olhei para Dani. Ela e Érica estavam com um sorriso de orelha a orelha. Olhei para o outro lado e observei dois caras mal-encarados passando perto da gente e prestando atenção no que eu estava fazendo, na lentidão com que eu passava o protetor para sentir cada centímetro do corpo do cueca nas minhas mãos e aquilo me deixou muito sem graça.
— Pronto. — Falei imediatamente.
Os dois caras mal-encarados continuaram andando.
— Mas e aqui embaixo? — Roger perguntou se referindo a lombar.
— Aí você consegue alcançar. — Falei ainda observando os dois homofóbicos curiosos se distanciando e vez ou outra olhando para trás e meneando negativamente a cabeça.
Me surpreendi com o fato dos dois ficarem encarando a gente, sendo que estávamos no "nosso ambiente". Terrível ter que colocar uma bandeira gigantesca no alto de um quiosque para chamar a atenção dos gays. Era como ter uma placa escrita "Gays, venham para cá. Aqui vocês estão seguros. Aqui vocês podem ficar mais a vontade". Mas segurança não existia em lugar nenhum. Vez ou outra víamos tipos como aqueles dois. Eram lobos caminhando disfarçadamente entre as ovelhas a procura de confusão.
Depois que o Roger terminou de passar o protetor em si mesmo rapidamente, ele me perguntou:
— Quer que eu passe nas suas costas?
— Não precisa, a Dani passa para mim.
Olhei para ela, ela olhou para mim e para Roger e respondeu hesitantemente:
— Senta aqui, bi.
Érica esfregou as mãos com protetor e as passou pelo rosto de Roger e ele terminou de espalhar o líquido no resto do seu corpo.
— Vamos dar uma caminhada? — Roger perguntou olhando para mim.
— Eu não estou muito afim não. — Respondi com os olhos quase fechados por causa do sol, cruzando os braços.
— Eu aceito o convite. — Érica se adiantou.
Roger abriu um sorriso enorme, arrumou o boné na cabeça e me avisou:
— A gente já volta!
E depois disso, ele e Érica se distanciaram.
Assim que eles deram as costas, Dani parou de passar protetor nas minhas costas.
Olhei para ela e ela me olhava com uma fechada. Sentei na outra espreguiçadeira, de frente para ela e perguntei:
— O que foi?
— O que há de errado com você? — Ela perguntou cerrando o cenho.
— Do que está falando?
— Odeio quando você se faz de idiota. Estou falando do Roger, claro! O cara está caidinho por você e você se fazendo de difícil.
— Eu me fazendo de difícil? — Não entendi o que ela queria dizer com isso.
— Ele está querendo ficar perto de você e a todo momento você empurra ele para trás.
— Vai se foder! Você não sabe de nada! Está viajando! — Explodi — Se eu não quisesse que ele viesse, teria dado um perdido nele e vindo sozinho. De onde você tirou essa ideia?
— É o que parece, gato. Eu, no lugar dele, ficaria muito puto. Parece que está evitando ele.
— Puto porquê? A gente veio de mãos dadas pelo caminho!
— A impressão que dá é que você tem vergonha dele.
— Eu não tenho vergonha dele. O cara é gato pra porra! Olha lá! — Respirei fundo e desabafei — Às vezes me pergunto o que foi que ele viu em mim.
— Também não sei. — Ela disse ainda nervosa.
Puta!
Como minha melhor amiga, ela tinha que me por pra cima e não concordar comigo. Ficamos mudos. Ambos olhando para o mar.
— Você ama ele?
— Não! Não sei. — Respondi sinceramente — Nunca amei ninguém. Como vou saber se o que sinto é amor?
— Você simplesmente sabe.
Ficamos mudos novamente.
— Quantas vezes vocês já transaram? — Ela perguntou.
Olhei para ela e respondi:
— Nenhuma.
Ela virou a cabeça lentamente na minha direção e tapou a boca com a mão.
— Isso é estranho. Você sempre meteu a piroca e depois perguntou o nome. Achei que o seu desinteresse estivesse vindo de já ter tirado o lacre de mais um cueca.
— Eu não estou desinteressado, Dani. Rogério é um cara muito gente fina, mas ainda estamos nos conhecendo, tá ligado? Você se esqueceu que ele namorou a Tábata, que a gente se conheceu, que eu investi nele e ele me bateu, depois se mudou para o interior e ficou conversando comigo sem dizer quem era, quando surgiu a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, ele estava todo mascarado. Enquanto isso minha amizade com o Fernando foi crescendo cada vez mais.
— O Fernando é hétero, Fábio! Será que você só gosta do que não dá pra ter?
— Eu sei que o Fernando é hétero e você pode não acreditar, mas eu gosto ainda mais de saber que ele e Tábata estão juntos. — Dani me lançou aquele olhar mente-que-eu-gosto e eu rapidamente continuei: — Sério! A Tábata merecia conhecer um cara gente boa depois de tudo que passou namorando três gays enrustidos. E eu não conheço cara mais gente boa que o Fernando. Eu achava que o cara com quem eu conversava, o Fera, o tal do mascarado, fosse o Fernando. Mas já me conformei que ele é hétero e será muito feliz ao lado da Tábata. No dia da parada gay Roger surgiu do além assumindo que era ele o tempo todo no computador, ele era o Fera. Do nada ele veio com um par de alianças e achou que seria assim — estalei o dedo — pra gente ficar juntos? Lidar com sentimentos já não é fácil, com os meus então...
— Você quer dizer que você não sabe se quer ficar com ele. É isso?
Eu e Dani nos prendemos no olhar um do outro buscando respostas.
— Eu quero. — Baixei a cabeça e admiti com sinceridade: — O pior é que eu quero...muito.
— Então demonstre isso, gato. — Ela disse segurando minhas mãos.
— Eu não sei namorar, Dani. Me diz qual o segredo que une você e a Érica até hoje.
— O segredo é que não há segredo algum. Não existe uma fórmula pronta. Cada ser humano é diferente um do outro! Cada relacionamento é um relacionamento.
— Eu tenho medo de estragar o que eu já conquistei até aqui com ele, sabe? Fico sem saber o que é certo e o que é errado.
— Você não vai estragar. Seja você mesmo.
— Esse é o problema. — Eu disse sério.
Por um momento ficamos mudos. Foi ela quem quebrou o gelo dizendo:
— Permita-se, amigo.
Levantei e fiquei olhando para o mar, pensando no que Dani dissera. Senti a presença dela ao meu lado também em pé.
— O fato é que o tempo voa e a gente tem que se arrepender das coisas que a gente fez. — Ela disse — Se errar, volte e comece de novo. Qual o problema nisso? Agora, se você se privar de tentar, pode ser que um dia você se arrependa e queira voltar atrás e talvez seja tarde demais. Roger é um cara gostoso, bonito, educado e inteligente. Se você não entrar na frente dele e deixar ele focar em você, outra pessoa o fará. Deixe ele ver a pessoa amorosa que existe debaixo dessa marra toda.
Olhei sério para Dani e algo me chamou atenção atrás dela. Era Érica vindo apoiada com o braço ao redor do pescoço do Roger, ela mancava. Dani percebeu meu olhar, virou-se e perguntou quando viu a cena:
— O que aconteceu?
— Torci o tornozelo em um buraco na areia. — Érica respondeu.
— Buraco? — Perguntei.
— Alguma criança deve ter cavado para fazer castelo de areia e a gente estava conversando e ela pisou de mal jeito. Mas eu já dei uma olhada e não deve ser nada. Se tivesse quebrado, ela não conseguiria nem encostar o pé no chão. Só ficar descansando um pouco que passa. — Roger informou.
— Vamos lá no bar ver se a gente encontra gelo. — Disse Dani, abraçando a namorada e deixando ela se apoiar nela com o braço ao redor de seu pescoço.
As duas foram para o bar e eu e Roger ficamos sozinhos. Respirei fundo. A conversa que eu tive com Dani me deixou sem graça e eu não sabia como me comportar com o Roger.
— Que merda. Acabou estragando a sua caminhada. — Falei sentando em uma espreguiçadeira.
— Não seja por isso. Vamos comigo. — Roger disse e ergueu a mão em minha direção.
Olhei para a mão dele e a vontade de agarrá-la era enorme, mas a vergonha era maior ainda.
— A gente não pode deixar todas as coisas das meninas aqui e tal. — Falei.
Roger olhou em volta e ao lado de onde estávamos um grupo de amigos conversava, um deles tocava violão.
— Ei! Parceiro! — Roger chamou. O rapaz do violão olhou para ele e ele disse — Tem como dar uma olhada nas nossas coisas enquanto a gente molha os pés um pouco?
— Fica tranquilo. Podem ir lá. — O rapaz de cavanhaque respondeu e voltou a beber sua cerveja e a trocar ideia com seus amigos. Explicava alguma coisa com relação ao violão que tinha em mãos.
Olhei para Roger, ele se aproximou, ergueu a mão novamente na minha direção e falou:
— E agora, vamos?
— De mãos dadas? — Perguntei.
— Qual o problema?
— Todo mundo vai ver. — Falei ficando sem graça.
— Vem comigo, vai. Vai ser muito bom andar de mãos dadas, como dois namorados. Confie em mim.
Olhei para mão dele e na minha mente veio a voz da Dani dizendo "Permita-se, amigo". Segurei na mão de Roger, me levantei e saí debaixo do guarda sol. Ele abriu o seu sorriso de mata-princesa e entrelaçou seus dedos nos meus. Senti um gelo no estômago como se eu estivesse na quinta série. Começamos a caminhar pela areia de mãos dadas, agitando o braço pra lá e pra cá levemente. Como um casal. Um casal apaixonado. A brisa vindo do mar e o sol esquentando nossa pele. De repente eu senti uma felicidade e uma paz interior que eu nunca tinha sentido antes.
— Você disse como dois namorados? — Perguntei.
— Sim. — Ele disse enfaticamente.
— Mas eu não lembro de ter dado uma resposta para o seu pedido.
Ele me olhou, mordeu os lábios e tentou me beijar. Desviei dando risada. Ele achou que eu estava brincando, mas o fato é que andar de mãos dadas já era muito para mim. Andar de mãos dadas e trocando beijos com outro cueca no meio da praia já era demais. Eu já estava me permitindo, mas calma lá, uma coisa de cada vez.
Era estranho segurar uma mão que não fosse feminina daquele jeito. Sentir a mão dele na minha, seus dedos grandes entrelaçados aos meus, sentir o seu polegar acariciar o meu sutilmente em uma despretensiosa caminhada pela praia era uma das sensações mais prazerosas que eu já tinha sentido desde que eu me assumira gay. Como pode isso não ser normal? Como pode alguém condenar ou se sentir incomodado ao ver duas pessoas apaixonadas e felizes? Independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
— Não é tão ruim quanto imaginava, é? — Roger perguntou.
Olhei para os nossos pés fazendo pressão na areia encharcada e deixando pegadas. Demorei para responder, mas no fim admiti:
— Não é ruim não. Estou sentindo a mesma coisa que eu senti quando ganhei um beijo na bochecha de uma menina chamada Camila na sétima série.
Fechei um dos olhos por conta da luminosidade e ele estava sorrindo para mim.
— Eu também sinto isso. Como se eu estivesse vivendo um daqueles sonhos de adolescente, saca? Quando a gente conseguia ficar com a pessoa que a gente estava afim? Só que nesses sonhos eu sempre pegava uma mina. — Dei um sorriso de lado para ele e ele retribuiu. Continuou: — Sabe, nunca pensei que eu estaria um dia andando de mãos dadas na praia com outro cara.
Parecia que ele estava lendo meus pensamentos. Eu também jamais imaginei que algum dia eu poderia caminhar pela praia de mãos dadas com outro cueca. Logo eu! Fabio Linderoff, o cara mais comedor de bucetas do colégio. O cara que foi pra faculdade esperando entrar na linha e no final acabou saindo da linha por completo. Pelo menos da linha que eu achava que era a certa na época. Se há dois anos atrás, naquele primeiro dia de aula da faculdade, dia que eu queria pegar a Dani, que acabou virando minha melhor amiga, alguém me dissesse que eu ia acabar em São Vicente de mãozinha dada com outro cueca teria levado uma porrada bem no olho. E ali estava eu. Do jeito que eu sempre temi estar.
— Não deve ter sido fácil para você se assumir, né? — Roger me perguntou.
— Não.
— Ainda sofre com isso?
Uma brisa mais forte bateu em nossos corpos aliviando o calor e soprando nossos cabelos para trás.
— Não. — Respondi ainda olhando para os nossos pés. Ele tinha um dos pés mais lindos que eu já tinha visto em toda a minha vida.
— Tem vergonha de ser gay?
Demorei para responder.
— Vergonha talvez não seja a palavra certa.
— Tem vergonha de mim?
Ele perguntou e paramos de andar e ficamos de frente um para o outro. A mão que ele não segurava eu ergui para proteger meus olhos do sol e poder enxergá-lo melhor.
— Olhe para você, cara! Você é alto, moreno, musculoso, tem todos os dentes da frente, não precisa usar photoshop nas fotos que deve ter no Orkut. Como alguém vai ter vergonha de você?
Ele abriu aquele sorriso lindo e voltamos a caminhar. Lá na frente dois caras vinham em nossa direção. Estavam próximos, mas não de mãos dadas como nós.
— E você? Tem vergonha de ser gay?
— Não tenho vergonha, as vezes tenho receio das consequências que isso pode acarretar. Mas tento não pensar muito nisso.
— Eu só penso nisso, eu acho. E na maioria das vezes só vem coisas ruins na minha cabeça.
Quando os dois rapazes chegaram mais perto, pude ver que eram os mesmos que me observaram passando protetor nas costas de Roger há pouco tempo atrás.
— Essa praia tá infestada de viado. — Um deles falou passando por mim e me dando uma ombrada.
Larguei a mão de Roger e sem pensar virei e falei:
— Qual é a tua, palhaço?
Os dois pararam e viraram pra gente. O que me deu a ombrada era careca e tinha um bigodinho fino. Seguia a risca as características do estereotipo que temos de ladrão. O outro mais gordinho era todo tatuado, tatuagens horríveis, como essas que a gente sabe que são feitas em cadeias sem o mínimo de talento e qualidade.
— Me chamou de quê aí, parceiro? — O careca disse entregando os óculos escuros para o amigo e fazendo cara de desentendido. No peito ele carregava uma enorme corrente de prata, dessas que rapper americano gosta de ostentar. A diferença era que a daquele idiota tinha sido comprada por menos de vinte reais na rua Vinte e cinco de março.
Ele se aproximou e eu fechei o punho. Estava pronto para o combate. Ia morrer sem ter transado com o Roger. Sem ter comido a bunda dele. Que merda. Mas o imbecil ia levar um murro meu.
— Chamei de p...
Roger interveio me calando e me empurrando para trás com o braço e dizendo:
— Ele não disse nada, cara. Relaxa. A gente tá de boa dando um role na praia igual você e o teu namorado.
— Tá me tirando, seu comédia? — O gordinho disse — Que porra de namorado?
— A gente não é viado não, falou? — O gordinho se manifestou.
— Foi mal é que eu vi vocês lá no Quiosque da Cris e agora estão voltando. E todo mundo sabe que essa praia... — Ele olhou para mim e apontando para nós dois ele completou — ... Só tem viado.
— A praia é pública, meu velho. — O careca falou — A gente tem o direito de andar onde a gente quiser, tá ligado?
— Claro que eu to ligado. A gente só está fazendo o mesmo.
Nesse momento o salva vidas apitou quebrando o clima de tensão que havia se instaurado. O meu coração estava disparado e o meu punho fechado. Roger estava com muito trelele pro meu gosto. Eu já me imaginava afogando os dois e sendo caçado pela polícia até São Paulo.
— Vamos sair fora, vai. Deixa esses viadinhos pra lá. — O gordinho falou puxando o amigo dele. O careca encarou a gente, mas acabou pegando os óculos escuros, colocou no rosto e voltou a caminhar ao lado do seu colega para fora da praia.
Olhei para o mar, estava irritado.
— Não fique assim, lindão. — Roger disse passando a mão na minha nuca.
Meneei a cabeça me livrando de sua mão. Ele continuou:
— Não tem porque ficar irritado. Os caras são uns idiotas enrustidos.
— A gente não deveria ficar andando por aí de mãos dadas. — Falei.
— Não tem como a gente ir contra a nossa natureza, tem? — Ele disse calmamente, ficando do meu lado olhando o oceano.
— Até tem. — Respondi.
— Você seria feliz?
Fiquei mudo.
— Eu tenho certeza que não. — Ele falou — Não deixe esses babacas estragarem o nosso clima. Olhe para frente, veja tudo o que a gente tem pela frente!
Olhei para o mar vazio e o céu limpo e respondi:
— Não vejo nada.
— É isso mesmo! Não tem nada porque nós ainda vamos começar a escrever a nossa história. Entende? E cada um é responsável pela sua parte. Não deixe momentos desagradáveis influenciarem na sua história, na nossa história.
Olhei para o lado e Roger agachou e pegou uma conchinha. Lavou-a na água que chegou perto de nossos pés e a mostrou para mim na palma de sua mão.
— Sabia que elas são basicamente carapaças protetoras dos moluscos marinhos?
— Sério? — Ele tinha o dom de fazer minha raiva se dissipar.
— Uhum. Quando os moluscos nascem, forma-se ao seu redor deles um tipo de concha provisória, chamada protoconcha. Aí quando o molusco cresce e atinge a idade jovem, começa a se formar a concha definitiva, substituindo essa aqui.
— Como sabe disso?
Será que o puto era professor e eu não sabia ou era inteligente mesmo? Gente bonita, malhada e inteligente? Estranho.
— Não importa. O que importa é que a gente tem que deixar essa carapaça medrosa para trás e nos fortalecer sendo quem a gente é de verdade. Não adianta sentir vergonha e se esconder. Não é assim que vamos evoluir, entende?
— As vezes é melhor se esconder do que brigar. Você foi muito inteligente. Acabou com eles só com as palavras. Eu não tenho essa agilidade toda de pensamento.
— Você acha que eles não sabem brigar? Estavam só esperando a oportunidade. Quando topar com pessoas assim, mostre a elas o tamanho delas perto de você.
— Como?
— Fazendo elas enxergarem um pouco de si mesmas.
Roger me entregou a conchinha e eu a coloquei no bolso.
— Vamos voltar? — Ele perguntou estendendo a mão.
— Vamos. — Falei e continuei caminhando ao lado dele. Logo, ele se tocou que eu não queria mais andar de mãos dadas. Ele não se importou.
Assim que nos aproximamos do guarda-sol, Dani soltou:
— Os pombinhos voltaram! Foi boa a caminhada?
— Pombinhos? — Perguntei fazendo uma enorme cara de cu para que ela se tocasse do que havia dito.
— Pombinhos não. Gaviões! — Roger disse erguendo as mãos em forma de garra e mordendo os lábios — Vocês precisavam ver o jeito que esse aqui queria arrumar encrenca com dois antigays lá atrás.
As meninas sentaram perguntando detalhes. Eu queria ficar na minha. Não gostei de ter passado por uma situação como aquela. Eu não tinha dúvidas do que eu queria para mim. Sim, eu era gay. Sim, eu estava afim de um cueca. Entretanto, demonstrar isso em público eu já sabia que era arriscado. Naquela situação os caras eram babacas. Mas eu não era ignorante. Já havia lido muito sobre o que a ignorância e a homofobia juntas eram capazes de fazer com um gay.
— Graças a Deus eles foram embora e não aconteceu nada demais. — Érica concluiu.
— O que importa mesmo é que você não quebrou seu pé. — Dani disse fazendo carinho na perna da namorada — E aqueles dois lá, tenho certeza que eles queriam um gang-bang. Pena que chegaram no casal errado. É o que eu sempre digo "Mais vale um pau meia bomba na mão, do que dois "carimbando" o teu rabo."
— Carimbando? — Roger perguntou dando risada.
— Passando doenças. — Érica explicou — E esse não é o ditado certo, amor.
— É só uma piada, amor. — Dani disse — Eles entenderam.
Eu me levantei em silêncio e deixei eles lá e fui até o bar pegar algo para beber.
Subi as escadas e me deparei com vários casais de gays abraçados, uns conversando, outros se beijando, outros em grupos. Todos ali rindo e bebendo como se o mundo hétero e todo o seu preconceito opressor não existissem. Queria muito saber se eles simplesmente não ligavam para isso ou simplesmente ignoravam.
— Vai beber alguma coisa? — Roger perguntou, segurando minha cintura — Nem me chamou. Nem perguntou se eu queria algo.
Me desvencilhei sutilmente de sua mão e falei:
— É que eu estou afim de algo forte.
— Mais forte do que eu? — Ele falou me mostrando seu bíceps.
Não resisti. Abri um sorriso. Ele conseguia fazer isso comigo, me amolecer.
— Duas caipirinhas de vodka por favor. — Ele pediu ao barman.
— Como sabia que eu ia pedir caipirinha?
— É o que todo gay hétero normativo gosta de tomar, não é? Ou você ia preferir algum drink de frutinha?
Enquanto esperávamos o drink ficar pronto eu e ele ficamos calados um ao lado do outro. O clima começou a ficar estranho. Quando o barman nos entregou a caipirinha, ele puxou meu braço e falou:
— Olha só. Eu já saquei, ok? A gente pode ser só amigos se você quiser. Sem problemas.
— Do que você está falando? — Perguntei.
— Eu tenho a impressão que estamos em sintonias diferentes aqui.
— Não somos rádios, Roger. — Falei desviando dele e voltando para onde as meninas estavam. Fiquei nervoso em pensar que estava prestes a acabar algo que nem começou direito — E outra, eu não quero ser só seu amigo.
— Mas não é isso que parece. Você não se sente a vontade quando eu chego perto de você.
— O problema não é você, mano. E outra, eu te disse que eu não sabia namorar. Você falou que ia me ensinar, lembra?
— Lembro sim. Quando a gente realmente começar a namorar eu te ensino. — Ele falou dando um gole em sua caipirinha. Em seguida me deu as costas e seguiu para onde as meninas estavam.
Sério mesmo que eu estava tendo uma D.R. sem estar namorando oficialmente?
Primeira discussão de relacionamento: checked.
Quando cheguei ao guarda-sol, haviam mais pessoas do que eu esperava. Dani foi logo apresentando:
— Esse aí é o Roger e aquele vindo ali com cara de bunda é o Fábio.
— E ae, Cara-de-bunda? — O cara falou.
— Que isso, amor. — A menina que estava entre eles disse, lhe dando uma beijoca na boca.
Olhei bem pra ele e para a Dani. A vontade que eu tinha era de quebrar o copo de caipirinha na cabeça dele e empalá-lo com o cabo do guarda-sol. Mas ao invés disso eu disse:
— Falae, Capitão Presença. Tudo bem?
Todos riram. Exceto Roger que perguntou:
— Quem é esse Capitão Presença?
Érica explicou:
— É o irmão mais novo do Capitão Planeta, o Capitão Presença é o legendário herói da cannabis.
— Fábio, esse é o Natan, aquele é o Vinicius e aquela japa ali é a Lorena. Eles cederam um pouco do gelo da breja deles para por no tornozelo da Érica já que no bar tinha acabado e eles estavam esperando chegar.
Vinicius era o rapaz do violão, tinha cara de ser o viado maconheiro da turma, desses que adora viajar, encher o cu de cerveja e ficar falando incansavelmente dos lugares que já visitou ou que tem vontade de visitar, ele que me chamou de "cara-de-bunda", ao lado estava a namorada ou ficante, Lorena. Tinha cara de ser uma daquelas meninas curiosas que anda no meio LGBT mas que a gente nunca sabe se gosta ou não de chupar a manga cabeluda e não ligaria de ter um namorado bissexual. Por fim tinha o mais novo, Natan segurava um bongô entre as pernas, era o gay nerd da turma. Lorena segurava um ovo de percussão na mão.
Roger entregou sua bebida para Natan, ele passou para o Vinicius dizendo:
— Para a sua incredulidade, eu não bebo.
— Quer um pouco, amor?— Vinicius perguntou estendendo o copo para a garota.
Ela aceitou o gole e agradeceu a Vinicius lhe dando um selinho e se aconchegando nos braços de Natan. Quando o copo voltou para Roger, não me contive e perguntei:
— Vocês são namorados? Os três?
Roger, Érica e Dani me olharam com recriminação.
— Sim. — Lorena confirmou.
— Poliamor. — Natan disse. — Já ouviu falar?
— Todo mundo ama todo mundo? — Arrisquei.
— Exatamente. — Vinicius respondeu com os olhos vermelhos — E vocês dois? São o que?
Ele se referia a mim e ao Roger. Provavelmente Dani já havia dito que Érica era a sua namorada enquanto conversavam para poder ter acesso ao gelo dos caras.
Eu olhei bem para o Roger e ele deixou que eu respondesse a pergunta. Não o fiz. A resposta ficou no ar.
— Ele está zoando. — Natan disse. — A gente sabe que vocês são namorados. Vimos vocês de mãos dadas.
— Ok, ok. — Dani disse se levantando. Sabendo que aquele tipo de conversa era o estopim para eu perder a cabeça. — Chega de bla bla bla e vamos ver o que vocês sabem tocar.
Dani me conhecia como ninguém.
Érica também se levantou. Meus olhos ainda estavam presos nos de Roger. Ele me deixou sem graça. Mas com o efeito do álcool começando a afetar os meus sentidos, nem liguei.
Vinicius começou a tocar o violão e Érica cantou:
You think I'm pretty – Você acha que eu sou bonita
Without any makeup on – Sem nenhuma maquiagem
Natan no bongô e Lorena no ovinho também entraram na música. Dani começou a dançar com o dedo na boca, fazendo cara de inocente e cantou:
You think I'm funny – Você me acha engraçada
When I tell the punchline wrong – Quando eu conto uma piada errada
Roger levantou, colocou o copo sobre o cooler dos caras e se aproximou de mim cantando:
I know you get me – Eu sei que você me entende
So I let my walls come down, down – Então eu deixo minhas paredes caírem, caírem
Tomei o resto da minha caipirinha e cantei sem tirar os olhos de Roger:
Before you met me – Antes de você me conhecer
I was alright, but things – Eu estava bem, mas as coisas
Were kinda heavy – Estavam meio pesadas
You brought me to life – Você me trouxe de volta para a vida
Roger emendou segurando minha cintura e cantou:
Now every February – E agora em cada Fevereiro
You'll be my Valentine, Valentine – Você será o meu namorado, namorado
Eu, Roger, Dani e Érica lado a lado caminhamos até a água se paquerando e cantando:
Let's go all the way tonight – Vamos até o fim essa noite
No regrets, just love – Sem arrependimentos, só amor
We can dance, until we die – Nós podemos dançar, até a gente morrer
You and I, will be young forever – Você e eu seremos jovens para sempre
Molhamos nossos pés e viramos os quatro ao mesmo tempo. A praia sumiu e diante de nossos olhos estava o teatro Somnium. Estávamos no fundo do palco, próximo ao telão de LED onde estava sendo exibido um clip de minha memória na praia. Estávamos dentro de um reservatório raso com água. Chutamos a água e um efeito especial na borda do palco esguichou quatro leques de água na plateia. Caminhamos lado a lado com passos de modelo numa passarela. Chegamos próximo ao fosso onde a orquestra toda estava e nesse instante uma chuva de fagulhas subiu da borda do palco levando a plateia a loucura. Cantamos os quatro juntos:
You make me feel – Você me faz sentir
Like I'm livin' a – Como se eu estivesse vivendo um
Dani olhou para Érica e Roger olhou para mim e cantamos uns para os outros:
Teenage dream – Sonho adolescente
Nesse momento vários dançarinos e dançarinas entraram no palco vestindo roupas de praia, uns com boias, outros com pé de pato, outros com máscaras de mergulho e snorkel na boca. Todos dançando e nós cantando:
The way you turn me on – Do jeito que você me excita
I can't sleep – Eu não consigo dormir
Let's run away and – Vamos corer por aí e
Don't ever look back – Nunca olhar para trás
Don't ever look back – Nunca olhar para trás
Fiquei de frente para o Roger e cantei:
My heart stops – Meu coração para
When you look at me – Quando você me olha
Just one touch – Apenas um toque
Ergui a mão para tocar seu rosto e quando meu dedo indicador ia tocar sua pele tudo diluiu diante dos meus olhos e lá estava eu no palco do Hello There com a banda Labeless cantando:
Now, baby, I believe – Agora, meu bem, eu acredito
This is real – Isso é real
So take a chance and – Então dê uma chance e
Olhei para Dani ao lado da Érica no gargarejo do palco e ela cantava para mim:
Don't ever look back – Nunca olhe para trás
Don't ever look back – Nunca olhe para trás
Fechei os olhos e quando eu os abri estava na praia novamente com Roger segurando minhas mãos e a gente girando sem parar. Olhávamos um para o outro e por alguns segundos tudo ficou em câmera lenta. Ele estava feliz. Eu estava feliz.
Colei meu corpo no dele e cantei:
I'm a get your heart racing – Eu vou deixar o seu coração acelerado
In my skin-tight jeans – No meu jeans apertado
Be your teenage dream tonight – Serei seu sonho adolescente essa noite
Ele colou sua testa na minha e cantou:
Let you put your hands on me – Deixarei você por suas mãos em mim
In my skin-tight jeans – No meu jeans apertado
Be your teenage dream tonight – Serei seu sonho adolescente essa noite
O resto do dia pareceu ter voado. Já era noite. Todas as velas na areia e as lanternas estavam acesas. Todos dançavam e sorriam na areia e cantavam ao mesmo tempo:
You make me feel – Você me faz sentir
Like I'm livin' a – Como se eu estivesse vivendo um
Teenage dream – Sonho adolescente
The way you turn me on – Do jeito que você me excita
I can't sleep – Eu não consigo dormir
Let's run away and – Vamos correr por aí e
Don't ever look back – Nunca olhar para trás
Don't ever look back – Nunca olhar para trás
No teatro Somnium, nós quatro lado a lado ficamos em nossas posições. Um pedaço de palco sob os nossos pés começou a se mexer, a subir. Olhei para os lados e o mesmo acontecia com Roger, Érica e com Dani. Estávamos os quatro sobre um bloco com um telão de Led acoplado dos quatro lados e estávamos a dois metros de altura do chão. Daquela altura toda a plateia podia nos ver e nós tínhamos uma visão privilegiada de todos. Em uníssono e pela última vez cantamos:
My heart stops – Meu coração para
When you look at me – Quando você me olha
Just one touch – Apenas um toque
Now, baby, I believe – Agora, meu bem, eu acredito
This is real – Isso é real
So take a chance and – Então dê uma chance e
Don't ever look back – Nunca olhe para trás
Don't ever look back – Nunca olhe para trás
Nós quatro erguemos o braço direito e a os dançarinos frisaram em uma pose para foto quando a música acabou. As luzes apagaram e eu fechei os olhos para respirar. Quando eu os abri Roger e eu estávamos de peito colado, com a água do mar molhando nossos pés. Tão perto daquele jeito havia apenas uma coisa que eu queria fazer. Ele me abraçou e eu o enlacei com meus braços, fechei os olhos, inclinei a cabeça e me permiti sentir o sabor do seu beijo. Um beijo quente e apaixonado.
— Espere, espere. — Eu disse caçando uma coisa no bolso. Achei a conchinha que ele tinha me dado. Olhamos para ela e a joguei no mar. Não precisava mais daquele casulo protetor. No outro bolso estava o que eu procurava. Sem que ele percebesse, antes de sair de casa lembrei de pegar algo importante. — Quer namorar comigo? — Perguntei mostrando as duas alianças prateadas brilhando sob a luz do luar na palma da minha mão.
Ele abriu o sorriso mais lindo do mundo e disse:
— Achei que nunca fosse pedir.
Segurei sua mão direita e coloquei pela primeira vez uma aliança de compromisso no dedo anelar de um cueca. Ele colocou a outra aliança no meu dedo.
— Agora você é meu. — Ele disse e me beijou novamente.
A praia parou para ver aquela cena sem que percebêssemos. Quando olhamos ao redor, Dani, Érica e atrás delas a praia inteira começou a aplaudir e a comemorar.
E foi assim que o meu namoro oficialmente começou.
***
Músicas que inspiraram esse capítulo:
Teenage Dream - Katy Perry
Lyric:
You think I'm pretty without any makeup on
You think I'm funny when I tell the punch line wrong
I know you get me, so I let my walls come down, down
Before you met me, I was alright
But things were kinda heavy, you brought me to life
Now every February, you'll be my Valentine, Valentine
Let's go all the way tonight
No regrets, just love
We can dance until we die
You and I, we'll be young forever
You make me feel like I'm living a teenage dream
The way you turn me on, I can't sleep
Let's run away and don't ever look back
Don't ever look back
My heart stops when you look at me
Just one touch, now baby, I believe this is real
So take a chance and don't ever look back
Don't ever look back
We drove to Cali and got drunk on the beach
Got a motel and built a fort out of sheets
I finally found you, my missing puzzle piece
I'm complete
Let's go all the way tonight
No regrets, just love
We can dance until we die
You and I, we'll be young forever
You make me feel like I'm living a teenage dream
The way you turn me on, I can't sleep
Let's run away and don't ever look back
Don't ever look back
My heart stops when you look at me
Just one touch, now baby, I believe this is real
So take a chance and don't ever look back
Don't ever look back
I'ma get your heart racing
In my skin-tight jeans
Be your teenage dream tonight
Let you put your hands on me
In my skin-tight jeans
Be your teenage dream tonight
You make me feel like I'm living a teenage dream
The way you turn me on, I can't sleep
Let's run away and don't ever look back
Don't ever look back
My heart stops when you look at me
Just one touch, now baby, I believe this is real
So take a chance and don't ever look back
Don't ever look back
I'ma get your heart racing
In my skin-tight jeans
Be your teenage dream tonight
Let you put your hands on me
In my skin-tight jeans
Be your teenage dream tonight
Tradução:
Você me acha bonita
Sem nenhuma maquiagem
Você me acha engraçada
Quando conto uma piada errada
Eu sei que você me entende
Então eu deixei as paredes caírem, caírem
Antes de você me conhecer
Eu estava bem mas as coisas
Estavam um pouco pesadas
Você me trouxe à vida
Agora em todos os fevereiros
Você será meu namorado, namorado
Vamos percorrer todo o caminho esta noite
Sem remorsos, apenas amor
Nós podemos dançar, até morrer
Você e eu, seremos jovens para sempre
Você me faz sentir
Como se eu estivesse vivendo um
Sonho de adolescente
O jeito que você me liga
Eu não consigo dormir
Vamos fugir daqui e
Nunca olhar para trás
Nunca olhar para trás
Meu coração para
Quando você olha para mim
Apenas um toque
Agora, baby, eu acredito
Isto é real
Então, dê uma chance e
Nunca olhe para trás
Nunca olhe para trás
Nós dirigimos para Califórnia
E ficamos bêbados na praia
Vamos a um motel e
Construímos um forte feito de lençóis
Eu finalmente encontrei você
Minha peça perdida do puzzle
Eu estou completa
Vamos percorrer todo o caminho esta noite
Sem remorsos, apenas amor
Nós podemos dançar, até morrer
Você e eu, seremos jovem para sempre
Você me faz sentir
Como se eu estivesse vivendo um
Sonho de adolescente
O jeito que você me excita
Eu não consigo dormir
Vamos fugir daqui e
Nunca olhar para trás
Nunca olhar para trás
Meu coração para
Quando você olha para mim
Apenas um toque
Agora, baby, eu acredito
Isto é real
Então, dê uma chance e
Nunca olhe para trás
Nunca olhe para trás
Eu vou deixar seu coração acelerado
Nas minhas jeans apertadas
Serei o seu sonho adolescente nesta noite
Deixar você por as mãos em mim
Nas minhas jeans apertadas
Serei o seu sonho adolescente nesta noite
Você
Você me faz sentir
Como se eu estivesse vivendo um
Sonho de adolescente
O jeito que você me liga
Eu não consigo dormir
Vamos fugir daqui e
Nunca olhar para trás
Nunca olhar para trás
Não
Meu coração para
Quando você olha para mim
Apenas um toque
Agora, baby, eu acredito
Isto é real
Então, dê uma chance e
Nunca olhe para trás
Nunca olhe para trás
Eu vou deixar seu coração acelerado
Nas minhas jeans apertadas
Serei o seu sonho adolescente essa noite
Deixar você por as mãos em mim
Nas minhas jeans apertadas
Serei o seu sonho adolescente hoje à noite
Coming out - Diana Ross
Lyric:
I'm Coming Out
I'm coming out
I'm coming
I'm coming out
I'm coming out
I'm coming out
I'm coming out
I'm coming out
I want the world to know
Got to let it show
I'm coming out
I want the world to know
I got to let it show
There's a new me coming out
And I just had to live
And I wanna give
I'm completely positive
I think this time around
I am gonna do it
Like you never do it
Like you never knew it
Ooh, I'll make it through
The time has come for me
To break out of the shell
I have to shout
That I'm coming out
I'm coming out
I want the world to know
Got to let it show
I'm coming out
I want the world to know
I got to let it show
I'm coming out
I want the world to know
Got to let it show
I'm coming out
I want the world to know
I got to let it show
I've got to show the world
All that I wanna be
And all my billities
Ther's so much more to me
Somehow, I have to make them
Just understand
I got it well in hand
And, oh, how I've planned
I'm spreadin' love
There's no need to fear
And I just feel so glad
Everytime I hear:
I'm coming out
I want the world to know
Got to let it show
I'm coming out
I want the world to know
I got to let it show
Eu Estou Chegando
Eu estou me revelando
Tradução:
Revelando
Eu estou me revelando
Eu estou me revelando
Eu estou me revelando
Eu estou me revelando
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Que estou chegando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Tem uma nova versão de mim se revelando
E eu apenas preciso viver
E eu quero entregar
Tenho certeza absoluta
Acho que dessa vez
Eu vou chegar lá
Como nunca cheguei
Como nunca imaginei
Eu vou conseguir!
Agora chegou a hora
Para eu sair do casulo
Tenho de gritar
Que estou chegando
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Preciso mostrar pro mundo
Tudo que eu quero ser
Todas as minhas possibilidades
Há muito mais para mim
Tenho que dar um jeito
De fazê-los entender
Eu tenho tudo em minha mão
E como eu planejei
Eu vou espalhar amor
Não há nada a temer
E eu me sinto tão feliz
Toda vez que ouço:
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
Eu estou me revelando
Quero que o mundo saiba
Tenho que deixar claro
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HOMOFOBIA É CRIME SIM. DENUNCIE.
Polícia Federal: denuncia.pf.gov.br
Direito Homoafetivo: www.direitohomoafetivo.com.br
ABGLT: www.abglt.org.br
CVV | Centro de Valorização da vida: https://www.cvv.org.br/
DISQUE 100
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