Alice [Completo]

By bethaniaI

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As aulas se passaram, entediantes como sempre, até o terceiro horário. Eu estava anotando qualquer coisa no c... More

PRÓLOGO
01 | T a t t o
02 | R o s e
03 | B o w l i n g
04 | D o o r
05 | P a r t y
06 | M a r k
07 | A n s w e r s
08 | S e a r c h
09 | C i g a r e t t e
11 | J a m e s
12 | P r i s o n
13 | C a r t h e r
14 | L i e s
15 | O r a n g e
16 | R e d
17 | D a d
18 | T r u e
19 | R u n
20 | D e c i s i o n
21 | R e a s o n
22 | B l u e
23 | P l a n
24 | B u r n
25 | Q u e e n s
26 | R e v o l u t i o n
27 | P e t e r
28 | F r i e n d
29 | S a v e
30 | G l a s s
31 | C r o w n
32 | E n d
Epílogo
Agradecimentos

10 | N i g h t

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By bethaniaI


Encarei-me no espelho e alternava o olhar para a porta trancada. Eu não estava segura em casa e talvez nem mesmo fora dela.

Depois do bilhete de Kelly tudo desmoronou rápido demais. Respirei fundo várias vezes. Se aquilo acontecia comigo, acontecia porque era capaz de sustentar.

Porque eu era forte.

Mas não hoje.

Coloquei uma calça jeans, um casaco e um tênis. Assim que o horário combinado chegou, eu saltei pela janela e fui em direção a sorveteria.

A brisa gelada tocava o meu rosto enquanto eu andava apressadamente.

O barulho e as luzes da cidade me lembravam de que o mundo ainda funcionava do mesmo jeito, mesmo que eu não.

Passei por bares movimentados, lotados de pessoas, histórias, decepções, mágoas e perdas. Era como se eu absorvesse toda a energia do trajeto, tentando não prestar atenção em mim mesma.

Corria nas minhas veias, sangue tão vermelho e vivo quanto uma chama que se enchia dessa energia, das pessoas e suas vibrações.

A cidade respirava e eu podia sentí-la.

Aquelas sensações atravessavam as minha células e chegavam à minha alma.

Eu sentia tudo.

Era como se algo quisesse explodir dentro de mim, a qualquer momento.

Cheguei à sorveteria, finalmente.

Sentei-me em um dos bancos disponíveis por perto e suspirei, aliviando-me daqueles sentimentos.

- Esperou demais? - Thomas. Sorri para ele.

- Acabei de chegar. - ele se sentou ao meu lado e tocou a minha mão. Mas logo a afastou.

- Nossa. Você está quente. - encarei-o. Eu sabia que estava. Estava fervendo por dentro. Mas não sabia o que exatamente estava acontecendo - O que rolou? Você quer conversar sobre algo?

- Muita coisa rolou. - disparei - Mas não quero falar sobre isso agora. - ele ficou confuso, mas não questionou. - Para onde você vai depois da escola?

- O que?

- Qual faculdade você quer fazer? - ele deu de ombros.

- Você sabe, quero música. Mas não sei para onde eu vou. Talvez não muito longe. - A mãe de Thomas o abandonou e ele vivia com a tia. Fazia sentido que ele não quisesse deixá-la sozinha.

- Você vai se dar muito bem. - sorri.

- E a Alice? Pra onde ela vai? - franzi as sobrancelhas. Pelo jeito que ele falou e por como eu não sabia mais responder essa pergunta.

Para onde ela vai?

- Eu não sei... - saiu como um sussurro.

- Deveria ter me dito que você não estava bem. Eu teria trazido um chocolate. - sorri e ele também. Thomas era o mais introvertido de nós mas era o mais observador e detalhista.
E ele estava cansado. Cansado de alguma coisa. Eu podia sentir quando toquei o seu ombro, a tensão perfurando a pele dele e a minha.

- Você também não está. Deveria ter me contado.

- São só alguns problemas em casa. - não sei se ele mentia. Mas se mentia, era porque não estava confortável e eu não iria insistir.

- Você tem um cigarro? - ele levantou as sobrancelhas.

- Um cigarro, Alice?

- É. - ele fez uma cara engraçada enquanto tirava o maço do bolso, entregando-me uma unidade.

- O seu problema tem nome?

- O que? - ele me entregou o isqueiro - Não, não é uma pessoa. Não se preocupe.

- Espero que não estrague você. - acendi o cigarro.

Também esperava que tudo aquilo não me mudasse demais.

Tossi na minha primeira tragada e ele não escondeu o sorriso. Claro que ele achava engraçado. Eu não era acostumada com aquilo.

- Não ria. É só um experimento.

- Claro, claro. - balançou a cabeça.

- Obrigada por vir. - encarei seus olhos negros, brilhosos.

- Relaxa. - desviou os olhos para o chão - Amigos são para isso, não?

- Acho que são. - sorri, antes de tragar novamente.

Deitei minha cabeça em seu ombro.

Thomas era muito reservado, se ele tivesse um problema, nunca falaria. Se ele estava sentindo dor, sangrava em eterno silêncio.

E nquela noite, empurrou suas próprias dores para segurar as minhas.

Sorri.

Segurei sua mão em um gesto repentino. Era muito grata pelos meus amigos. Pela forma única que cada um deles tinha de expressar seus sentimentos ou de viver as suas vidas.

- Não se esqueça que eu estou aqui também quando você precisar. - sussurrei. O frio da quase madrugada nos abraçava.

E, de repente, eu senti meu braço arder. Mas segurei o grito e a dor. Apenas apertei a mão de Thomas um pouco mais.

- Está tudo bem? - perguntou. Não.

Não estava.

A rosa estava surgindo no meu braço para que todos pudessem vê-la.

Entretanto, meu casaco a cobria.

Escondia seu brilho.

Mas a dor, eu não esqueceria. Meus olhos lacrimejavam até o fim daquela tortura que eu tentei engolir.

- Alice? - encarou-me. A dor passou. Respirei fundo.

- É melhor irmos para casa. Está ficando muito frio... - ele concordou.

Nós nos levantamos e nos despedimos com um abraço.

Fiquei observando ele se afastar. Quando ele desapareceu na curva da esquina, tomei o meu caminho.

Coloquei as mãos nos bolsos, estava realmente frio. Apressei o passo para chegar mais rápido em casa.

Até que comecei a ouvir alguns sussurros.

Eu os ignorei, e só continuei andando depressa.

Foi quando duas figuras bem altas e masculinas me surpreenderam, ficando paradas bem na minha frente.

- Indo a algum lugar, senhorita? - a voz grave assombrou-me. Não conseguia ver o seu rosto com nitidez.

- Saiam da minha frente. - falei balbuciando. Meu corpo inteiro tremia, de frio e medo.

- Andando sozinha a essa hora... - a outra figura se pronunciou, soltando uma risada.

- Quem são vocês? - estreitei os olhos em vão, era impossível reconhecer seus rostos - Saiam logo da minha frente! - precisava fazer ou pensar em algo.

Ia empurrá-los e sair correndo o mais rápido que eu conseguia, mas um deles segurou o meu braço com força. Assim que sua mão aspera e dura o apertou, ele soltou no mesmo instante, fazendo com que eu caísse no chão.

Ele chacoalhou a mão, contorcendo seu rosto em uma expressão de dor. Encarou seu companheiro e disparou:

- Ela queima! - eu me arrastei no chão, em direção contraria a deles até que tivesse equilibrio suficiente para ficar de pé.

Sai correndo e ouvi os passos deles acelerando atrás de mim.

- É UMA HADRIA! - um deles gritou - AVISE OS OUTROS, HÁ SOBREVIVENTES AQUI. - engoli seco. Meu coração parecia que sairia pela boca.

Escondi-me num beco praticamente desprovido de qualquer iluminação e os dois homens passaram direto. Segurei a respiração até que tivesse certeza que eles não voltariam.

Que inferno.

Comecei a atravessar a rua desconhecida. Haviam alguns olhares de desconfiança e outros curiosos por lá. Mas continuei caminhando. Precisava chegar em casa.

- Ei. - estremeci. Virei-me lentamente, e não consegui me segurar.

Caí nos braços de Jack.

- Os Cartheres. Eles estão aqui. Vieram me pegar. - sussurrei. Ele não me segurava, sequer me tocava. E por essa ou outra razão, eu sentia mais frio do que deveria.

- Porque você está na rua a essa hora? Sabendo da sua condição... - Apesar da repreensão sua voz era suave. - Não se preocupe... Ninguém vai encostar um dedo em você.

- Eu preciso ir para casa... Mas ao mesmo tempo... Eu estou com medo do meu pai... - choraminguei.

- Para onde você quer ir então? - sua voz saiu como um sussurro.

- Algum lugar bem longe de mim... - ele deixou escapar uma risada.

- Vem, vamos dar uma volta. - ele colocou as mãos brancas dentro dos bolsos da calça jeans e começou a andar na minha frente.

Limpei minhas bochechas e comecei a seguí-lo.

- Você está cheirando a cigarro. - falou.

- É, eu fumei.

- Fumou? - arqueou uma das sobrancelhas, olhando para mim de canto.

- É. Mas não foi nem um cigarro inteiro, não faça essa cara.

- Não deveria fazer isso.

- Mas você faz.

- Eu não sou exatamente um exemplo que você deve seguir, Alice.

- Mas está me salvando desde o dia em que apareceu aqui. - dei de ombros. - Por que será, hum? - balancei a cabeça - Calma, não diga. Deixa eu adivinhar... "Eu não posso dizer nada, agora" - imitei a sua voz

- Ela apareceu? - foi tudo o que ele perguntou. Ele se referia a rosa. Assenti. - Você sentiu dor dessa vez? - concordei novamente. - Não vai doer pra sempre, é só nas primeiras vezes. Na última você estava tão bêbada que nem sentiu - ele riu.

- Cale a boca. Falando nisso, eu nem agradeci por me tirar da festa aquele dia. E por... Ter apagado isso da memória dos meus amigos. - ele ficou em silêncio por um tempo. Era só uma suposição, mas sua reação confirmou que aquilo realmente aconteceu.

Saímos da rua estranha e sombria, em pouco tempo já estávamos no parque principal.

- Como é a sua vida lá? - perguntei. - Nunca me fala sobre você.

- Porque não tem nada de interessante para saber sobre mim.

- Eu duvido. Você deve saber de muita coisa. - os olhos cinzentos cobertos por uma sombra, brilharam. E eu não pude deixar de sorrir ao ver o que se parecia com uma brecha.

- Não, esqueça essa ideia. Loucura demais falar sobre a outra dimensão. - enfiei-me na sua frente.

- Loucura demais, Jack? Eu sou loucura demais. - suspirei. - Quer mesmo disputar comigo? - vi um sorriso surgindo nos labios dele - Eu sei que você é mais do que só um perdedor no boliche, por que não me deixa saber? - franzi as sobrancelhas, determinada depois de ver aquele sorriso que eu não decifrava.

- Você acha que sempre terá a sorte de principiante ao seu lado, é? - ele se aproximou de mim.

Eu ia dizer algo, mas esqueci quando os olhos brilhosos estavam tão perto dos meus.

Desviei meu olhar para os outros detalhes do seu rosto, e ele sorriu quando percebeu. Pisquei lento, deixando-me embriagar pelo cheiro que ele exalava. Era algo diferente, que eu não tinha sentido antes. Talvez esse fosse o odor da magia. Do que quer que fosse que Jack era feito.

Fui me afastando lentamente, mas minhas costas encontraram uma parede. Um muro. Minha respiração estava ofegante, enquanto a dele continuava no mesmo ritmo, tranquilo e indiferente.

Não sabia o que dizer ou mesmo se deveria dizer algo. Não sabia para onde olhar ou o que fazer, diante de uma expressão tão firme e séria que estava diante de mim.

Ele se aproximava cada vez mais.

Os seus olhos penetravam tão fundo a minha pele que eu a sentia queimar.

Fechei os olhos, percebendo que minha boca estava entre-aberta.

Nada aconteceu.

Quando eu os abri novamente, ele havia desaparecido.

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