Passei o resto do dia evitando o contato com Gerry. Na verdade, estava evitando o contato com qualquer pessoa. Por mais que tivesse me acalmado ainda estava me sentindo rabugenta, então evitar o contato era uma ideia inteligente. Me enfiei no quarto em que estava hospedada e como não consegui que minha cabeça parasse de me perturbar, tomei um remédio para dormir e apaguei pelo resto da tarde.
Eu não gostava desses medicamentos, mas eu precisava que minha mente sossegasse e eu junto com ela. Acordei com a Flávia quase derrubando a porta de tanto que batia e me gritava. Assustada em meio a toda aquela barulheira, ainda meio zonza de sono levantei para abrir a porta.
– Não me assuste mais deste jeito!
Apesar de ter aberto a porta, Flávia ainda mantinha seu tom de voz bem alto para alguém que estava tão perto. Me agarrou em um súbito abraço quase esmagador. Ao ver que eu não entendia toda aquela expressão de preocupação explicou:
– Gerry disse que você teve um surto na casa de shows mais cedo e que saiu de lá às pressas, ficamos preocupados. Ele não para de me ligar pra saber onde você está.
– Ele só deve estar com medo da estrelinha dele não aparecer para o show. - comentei sarcasticamente.
– Olha, você sabe que o Gerry não é a minha pessoa favorita no mundo, mas não pode negar que ele se importa com você. Sim, do jeito torto dele, mas ele se importa. Ele veio aqui e bateu várias vezes. Está dando um gelo nele?
– Na verdade eu não o ouvi bater. E mesmo se tivesse escutado... não preciso de mais ladainha agora, Flávia.
– Você tomou um daqueles, não foi? Já tínhamos combinado que você iria jogar eles fora. Você praticamente desmaia quando os toma. Pode ser perigoso!
– Não tive outra saída. Eu não estava aguentando... - respirei fundo. -Mas foi bom porque consegui dormir e acordei me sentindo melhor. Afinal de contas, que horas são? - não fazia ideia há quanto tempo estava dormindo.
– Mais do que atrasada! Já estão todos te esperando pra arrumarem você. Vamos!
Entre cabelo, maquiagem e troca de roupa eu consegui desligar um pouco a minha mente sobre o que tinha acontecido e me concentrar no fato de estar novamente em Tulsa depois de tantos anos. Eu me lembrei da primeira vez que subi no palco e como tanta coisa havia mudado desde então.
Aquela menina que sonhava em ser uma cantora famosa e viver de música havia conseguido realizar seu sonho. Ela só não imaginava que o sabor seria cada vez mais agridoce. Aquela Danny tinha um mundo de sonhos e a certeza de que chegaria lá a ponto de viver sonhando acordada.
Sinto orgulho de mim por ter conseguido realizar meu maior sonho. Não estou sendo ingrata com a vida. Sei o que eu passei e tudo o que enfrentei para chegar até aqui. Só queria ter sabido antes que teria um outro lado da moeda e o quanto eu teria que abrir mão em nome deste sonho.
O show foi extasiante! Pelas lembranças, pela emoção de estar novamente na cidade que eu sempre amei e que me ensinou tanto. Não me sentia tão conectada assim com o público fazia tempos. Eles conheciam todas as canções e cantaram todas as músicas a plenos pulmões.
Ao final do show, saindo do palco não conseguia conter minha agitação tamanha euforia que tomou conta de mim. Com esta sensação tomei um banho rápido para tirar a maquiagem, e trocar de roupa para a sessão de "meet and greet" que teríamos logo a seguir. Alguns fãs foram sorteados para me conhecerem e poderem tirar uma foto comigo. Meu maquiador fez uma make mais natural e eu escolhi uma calça jeans escura flare de cintura alta e um body justo preto com um corte oval que deixava meus ombros de fora apesar de ser de manga cumprida. Usava no pescoço uma gargantilha preta com um pequeno pingente de âncora.
Todos à postos, fomos recebendo em pequenos grupos de quatro ou cinco fãs. Conseguíamos trocar algumas palavras, o que era muito bom. Alguns disseram que quando souberam que eu havia morado em Tulsa e o quanto aquilo significou pra mim, se sentiram orgulhosos por morarem ali, apesar de volta e meia ainda serem chamados de gente do interior.
Eu estava me divertindo conversando com os fãs e tirando fotos, quando entrou o grupo seguinte e eu não pude tirar os olhos de uma das meninas que entravam. Me surpreendi completamente! Só podia ser ela!
– Megan!? - eu perguntei à medida que ela vinha em minha direção.
– Sou eu, Danny! Lembra de mim? - ela perguntou na mesma euforia que eu havia perguntado primeiro.
– Mas é claro! - corri para abraçá-la. – Como eu poderia esquecer? Nossa, quanto tempo !
Segurei-a pelas mãos para olhá-la. Não havia mudado nada, mesmo após tantos anos. O rosto e mesma cor de cabelo claro, o tempo parecia não ter passado para ela. A única diferença é que antes era cacheado e agora estava liso. Não me esqueceria da primeira amiga que fiz ao chegar em Tulsa. Ela morava ao lado da minha casa quando me mudei.
– Uns 11 anos, talvez? - ela riu. – Caramba, Danny! Eu não podia perder o seu show. Ver que você conseguiu o que você sempre quis! Me orgulho tanto de você, de ver em quem você se transformou! - ela me olhou com os olhos marejados. – E ser sorteada pra poder falar com você, foi a minha chance de te dar um abraço depois de todos esses anos. - suas palavras e sua sinceridade fizeram com que eu me emocionasse também e esquecesse os outros fãs que estavam ali me esperando.
Pedi que Megan me esperasse um pouco enquanto eu terminava de atendê-los que concordou prontamente.
– Cara, não acredito que te encontrei! Tanta coisa passou pela minha cabeça desde que cheguei aqui. Essa cidade pra mim é... - não existiam palavras que pudessem expressar como eu me sentia feliz por respirar aqueles ares de novo. – Ah, como é bom estar aqui! - não conseguia parar de sorrir por tudo que Tulsa e Megan representavam para mim. Éramos muito amigas na infância.
– Eu sei o quanto você sempre amou morar aqui. Acho que foi com você que eu aprendi a amar mais essa cidade. Antes eu achava que as coisas legais não vinham pra Tulsa.
Começamos a conversar sobre como era nossa vida naquela época e em como éramos felizes, como nos divertíamos.
– Com licença, não quero atrapalhar mas... foi um longo show e a Danny precisa descansar para o show de amanhã. - Gerry se dirigiu à Megan como se eu não estivesse ali.
– Além de você querer determinar tudo, vai começar a falar por mim também? - eu estava me sentindo feliz. Não queria que Gerry arruinasse tudo.
– Danny, não me trate assim. Você sabe que eu... - disse enquanto sorria para não parecer para Megan que era um assunto tenso para nós. Mas eu não estava disposta a fingir como ele e o interrompi.
– Eu sei que você diz que só está pensando em mim, mas parece que a cada vez que você repete isso, eu acredito menos. - disse com tranquilidade. –Megan, você vai fazer alguma coisa agora? - ao virar para Megan me permiti sorrir.
– Sim! Aliás, estou com uns amigos lá fora e daqui íamos pra um pub bem famoso aqui em Tulsa.
– Olha só! - sorri ironicamente para Gerry. Sim, tinha a intenção de atingí-lo e mostrar quem realmente estava no controle da situação. – Um pub em Tulsa! É tudo o que eu preciso neste momento.
– Será uma honra tê-la conosco, senhorita Keisting. - Megan entrou no sarcasmo comigo e neste momento decidi que depois disso, tinha que ser amiga dela de novo.
– Então vamos! - me aproximei de Flávia e falei com ela. Perguntei se ela queria ir comigo, mas ela estava exausta e só queria voltar pra o hotel.
– Você sabe o que está fazendo. - Flávia com perguntas disfarçadas de afirmações atacando novamente.
– Sim, sei o que estou fazendo.
– Então divirta-se. - me deu um rápido abraço.
– Danny, aonde você pensa que vai? Você nem faz ideia pra onde eles estão indo. Você não pode sair assim, ainda mais sem um segurança. Você sabe disso! - disse me puxando delicadamente pelo braço enquanto eu cruzava a porta com Megan.
– O que eu sei, é que estou farta de você controlar a minha vida. E sim, eu posso fazer a merda que eu quiser. - me soltei de sua mão puxando o meu braço de uma vez só e saí do camarim com Megan.
– Namorado? - perguntou enquanto saímos da casa de shows.
– Pior, empresário.
– Pelo menos é gato.
– Sinceramente? Não compensa tudo o que eu passo... - nos olhamos rindo, enquanto de braços dados chegávamos ao estacionamento.
Apresento a vocês o empresário da Danny, Gerry.
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Até sexta :*