3 - Sobre Meninas e Escolhas

נכתב על ידי HeloisaHeidtman

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LIVRO 3 Sinopse: "Ao longo da história, nem sempre os personagens tiveram escolhas. De maneira direta ou ind... עוד

Dedicatória
Introdução
Prólogo
Parte 1 - Capítulo 1
Parte 1 - Capítulo 2
Parte 1 - Capítulo 3
Parte 1 - Capítulo 4
Parte 1 - Capítulo 5
Parte 1 - Capítulo 6
Parte 1 - Capítulo 7
Parte 1 - Capítulo 8
Parte 1 - Capítulo 9
Parte 1 - Capítulo 11
Parte 1 - Capítulo 12
Parte 1 - Capítulo 13
Parte 1 - Capítulo 14
Parte 1 - Capítulo 15
Parte 1 - Capítulo 16
Parte 1 - Capítulo 17
Parte 1 - Capítulo 18
Parte 1 - Capítulo 19
Parte 1 - Capítulo 20
Parte 1 - Capítulo 21
Parte 1 - Capítulo 22
Parte 1 - Capítulo 23
Parte 1 - Capítulo 24
Parte 1 - Capítulo 25
Parte 2 - Capítulo 1
Parte 2 - Capítulo 2
Parte 2 - Capítulo 3
Parte 2 - Capítulo 4
Parte 2 - Capítulo 5
Parte 2 - Capítulo 6
Parte 2 - Capítulo 7
Parte 2 - Capítulo 8
Parte 2 - Capítulo 9
Parte 2 - Capítulo 10
Parte 2 - Capítulo 11
Parte 2 - Capítulo 12
Agradecimentos, Curiosidade & Novidades
Textíneo

Parte 1 - Capítulo 10

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נכתב על ידי HeloisaHeidtman



– Tem certeza que não quer que eu vá? – Ruth pergunta pela milésima vez, e Anabel suspira. Estava quase aceitando, queria mesmo que sua avó fosse.

– Tenho. – Afirma Anabel, afastando os pensamentos. – Vovô está muito resfriado, é melhor você ficar com ele.

– Eu peço para Antonela ficar de olho nele, se você quiser.

– Você ficaria muito preocupada. – Diz Anabel. – Além disso, por que isso é tão importante? É só um vestido! Vou pegar o melhorzinho e dar o fora. Nem sei porque Paola insiste tanto em ir.

– É o seu casamento, Anabel. –Diz Ruth. – Não trate isso como uma coisa banal.

– Eu sei, só não quero algo muito grandioso.

Ruth assente.

– Ana, você já ta pronta? – Mau grita, do lado de fora.

– Sim, já devo sair? – Ela grita de volta.

– Eu vou só passar em casa pra tomar banho e volto pra te buscar. – Ele avisa.

– Ta bom! – Anabel responde. Ela se aproxima da panela, mexe o molho de carne e prova um pouco na mão. – Precisa de mais sal. – Ela mesmo acrescenta um pouco o sal.

– Mau vai com você ver o vestido? – Ruth pergunta, erguendo a sobrancelha.

– Não, nós só vamos contratar a organizadora e depois vamos esperar o Lúcio chegar. Acho que os dois vão sair depois.

– Ele está bem animado.

– Está mesmo. – Diz Anabel, sorrindo. – Eu sabia que Lúcio e Maurício eram amigos, mas só tive mesmo ideia do quanto quando Lúcio mandou a carta dizendo que vinha. Meu noivo ficou fora de si! Parecia uma criança de tão bobo.

Ruth sorri.

– Conseguiu falar com as meninas? – Ela pergunta, e o sorriso de Anabel desaparece.

– Catarina é a única que eu tenho certeza que vem. – Diz Anabel. – Christian prometeu que traria Sophia, mas...

– E o que acontece se as outras não vierem?

– Bem, vou me casar mesmo assim, não é? – Diz Anabel. – Não vai ser a mesma coisa, mas fazer o quê? – Ela arregala os olhos. – Esqueci! Tenho que falar com Eric antes de ir.

– Você está bem próxima de Eric. – Ruth diz, como quem não quer nada.

– Você também é contra isso? Porque Paola entorta a boca toda vez que eu cito o nome dele.

– Pelo contrário, acho que ele está fazendo bem pra você.

– Eu também acho. – Diz Anabel. – Sempre gostei um pouco dele, mas ultimamente Eric tem se tornado muito importante pra mim. Eu posso ser eu mesma quando estou com ele, completamente.

Ruth a encara de uma forma estranha, parece até confusa.

– Bem, vovó, eu preciso ir. – Ela diz, para não esticar conversa, e beija o rosto de Ruth.

– Boa sorte! – Ela grita quando Anabel já estava chegando na porta

– Vou precisar. – Anabel grita de volta.

•••

Mau esfrega as mãos, ansioso.

– Calma! – Anabel diz, sorrindo, e beija o rosto dele. Isso não parece ser suficiente para Mau, ele se vira e beija os lábios dela.

O carro de Lúcio para, e os dois se afastam.

Lúcio sai do carro. Ele usava de óculo, jaqueta de couro, calça jeans e camiseta branca. Uau! Ele era tão bonito assim? Toda vez que Anabel lembrava dele, era sempre com uma imagem bem ruim. Para ela, Lúcio era um homem todo carrancudo mas, naquele momento, ele estava sorridente.

Caminha até Mau, e os dois se abraçam. Lúcio dá umas batidinhas em suas costas dele, e Mau faz o mesmo. Anabel engole em seco, nunca tinha visto Lúcio assim tão... sorridente ou relaxado. Os dois se afastam.

– Acho que você cresceu. – Diz Lúcio e o encara com um olhar malicioso.

– Oi. – Anabel interrompe, um pouco tímida por conta da cena dos dois.

– Oi, Anabel. – Responde Lúcio com um sorriso.

– Por que Bella não veio? – O que mais iria falar com ele? Além de Mau, Bella era a única ligação entre os dois.

Entende, imediatamente, o que está acontecendo quando uma ruiva sai do carro. Odiava ruivas! Sabia que Lúcio e Bella estavam "brigados", mas ele tinha mesmo a cara de pau de chegar aqui com outra?

– Nossa. Rápido hein. – Anabel provoca, e o sorriso de Lúcio desaparece, ele perde completamente o humor.

O clima fica desconfortável, e Mau é o único que parece não notar porque continua sorrindo.

– Então você vai colocar aquele negócio que dá para escutar as pessoas? – Mau pergunta, e Lúcio ri do jeito atrapalhado do amigo.

– Se chama telefone e, sim, eu irei. Vai ser bem mais fácil para nos comunicarmos agora.

– Que ótimo! Então, eu sempre mantive sua casa arrumada, mas dessa vez fiz umas... – Mau começa a caminhar, deixando Anabel sozinha com a outra.

– Oi. – Diz a ruiva, e Anabel não responde. – Eu não tenho nada com Lúcio. – Esse não era o problema. – Eu tenho noivo. – Ela diz e levanta a mão para mostrar o anel.

– Ainda assim, eu não gosto de ruivas.


– Você sabe que seu cabelo é ru...

– Não se atreva a dizer "ruivo". – Anabel ordena, não tinha a menor ideia do porque as pessoas diziam isso. – Meu cabelo é castanho.

– Castanho claro avermelhado, no mínimo.

– Só no sol. – Ela diz, e Genevieve ri. – É sério, realmente não gosto de ruivas.

– Nem eu, mas nasci assim. O que posso fazer? – Ela pergunta retoricamente, e Anabel segura o riso. – Genevieve. – Diz, estendendo a mão.

– Olha... a esposa dele é minha melhor amiga. Bem, uma das.

– Eu não tenho nada com Lúcio e nem quero ter. – Afirma.

Anabel a avalia por um tempo, só então pega sua mão.

– Desculpa, é só que...

– Não tem problema. – Diz Genevieve. – Então você vai casar? Como está se sentindo?

– Nervosa, muito nervosa. Tenho tanta coisa para fazer.

– Quando vai ser?

– Daqui a três semanas. – Ela diz e suspira. – Eu tenho tanta coisa para pensar. Não vai ser uma festa grande, mas ainda necessita de muita organização.

– Você parece um pouco desanimada.

– Eu ainda não enviei os convites. – Anabel diz. – Só que eu tenho quatro melhores amigas e cada uma mora em um lugar diferente.

– E isso é um problema? – Genevieve pergunta.

– Eu não sei se vai dar para elas virem. – Ela explica, e Genevieve assente. – Catarina disse que virá; não consegui falar com Sophia, mas Christian disse que a trará.

– O problema então é com as outras duas?

– Sim, Aurora acabou de sair de um coma e está com medo de andar em qualquer coisa que não seja uma bicicleta. – Anabel continua explicando. – E Bella, como você deve saber, vive mudando de lugar e, agora que não está mais com Lúcio, não sei como ela virá. Acho que nem sabe como chegar aqui. Falei com Mau e ele disse que vai falar com Lúcio, mas eu não sei... não sei se ele faria isso.

– É mesmo importante para você que elas estejam aqui? – Pergunta, e Anabel assente.

Genevieve balança a cabeça como se estivesse vivendo um conflito interno.

– Me dê o endereço da Aurora, eu entregarei o convite pessoalmente.

– Por quê?

– Vou convencer ela a andar em algo que não seja uma bicicleta. – Genevieve explica, mas não tinha sido bem aquele o sentido da pergunta. – E quanto a Bella, eu acharei um jeito de encontrá-la e também vou entregar o convite. Lúcio a trará se isso for importante para ela.

– Como tem tanta certa?

– Ele é completamente devotado a ela e a felicidade dela, fará isso. E, se por acaso, ele não quiser, eu o convencerei. – Afirma, e Anabel fica perplexa.

– Espera, por que você faria isso? Ela mora em Nova Iorque e você é de Londres, e eu nem gosto de você. – Diz Anabel, o que era uma mentira porque, a cada segundo que passava, gostava mais dessa garota.

– Minha mãe costumava dizer que pequenas atitudes mudavam o mundo. – Genevieve responde. – Acho que, por muito tempo, eu distorci essa mensagem, mas agora entendo muito mais. Se eu posso ajudar, por que não? Além disso, meu noivo tem uma casa em Nova Iorque.

Anabel ainda não está satisfeita.

– Eu preciso ir, mas te entregarei o convite de Aurora. Obrigada. – Anabel diz, desconfiada.

Talvez Genevieve só quisesse ganhar a confiança dela. Mas isso não fazia sentido, por que Genevieve iria querer qualquer coisa dela? Anabel apressa o passo para alcançar Mau e Lúcio, os dois param de conversar assim que ela se aproxima. Anabel estranhou aquela atitude, Mau não era de esconder coisas dela.

– Onde está Eric, Maurício?

– Ele disse que te encontraria na loja. – Mau responde. – Tem certeza que não posso ir?

– Paola disse que você não deve ver o vestido.

– Isso é uma besteira. – Mau rebate.

– Eu sei, para mim também tanto faz.

– Então eu vou.

– Não. – Diz Lúcio, se metendo. Quem tinha chamado ele pra conversa? – Temos assuntos para resolver.

Mau suspira, abraça Anabel e beija seus lábios. Depois sussurra em seu ouvido:

– Você me mostra depois. – Mau morde a orelha dela antes de se afastar, fazendo todo o corpo de Anabel se arrepiar.

– Pode deixar. – Anabel pisca para ele.

– Vamos, Genevieve. – Diz Lúcio. – Até logo, Anabel.

– Até, Lúcio. – Diz Anabel. – E desculpa pelo que eu falei. – Lúcio apenas assente com um rastro de sorriso.

Anabel começa a caminhar pelas ruas que um dia indicavam o caminho de casa, mas hoje estava longe disso. Sua casa agora era na floresta e tinha a sensação de que sempre seria assim, isso não a deixava nem um pouco feliz.

•••

– O que ele faz aqui? – Pergunta Paola, olhando torto para Eric, assim que ela entra na loja.

Anabel suspira. Quando Paola deixaria de pegar no pé de Eric?

– Ele é meu amigo. – Anabel olha para Eric, ele está sentado em uma poltrona com Amines agarrada no braço dele. – O que ela faz aqui?

Sempre gostou dela, mas, desde que Amines tinha se aproximado de Eric, a relação das duas tinha mudado muito. Amines agora olhava Anabel como uma rival, e não era bem assim. Os dois eram amigos. Anabel ficou um pouco triste no começo, mas agora já tinha superado aqueles olhares. O único problema é que não era bem o olhar torto que trazia preocupação, Anabel pouco se importava se ela não queria mais ser sua amiga, tinha mais medo era de Eric se afastar depois que ele e Amines estivessem em um relacionamento mais sério.

– Ela quis vir, achei que não teria problema. – Diz Paola.

– Não, não tem. – Anabel força um sorriso. – E então, o que faço agora?

– Bem, você escolhe um vestido. – Diz Paola e sorri. – Tem tantos lindos aqui. Qual você prefere?

Anabel olha em volta e não tem nada que lhe agrada.

– Quer mesmo saber?

– Não, nada disso. – Diz Paola e começa a escolher alguns modelos de vestidos.

Anabel gosta de um que tem manga longa e é coberto por renda. Paola faz uma careta, mas deixa ela experimentar. Ele ficava bem justo no corpo.

– Você sabe que eu mesma poderia fazer meu vestido. – Anabel diz, quando está dentro no mostrador. Ela faz questão de vesti-lo sozinha. – Prontos? – Pergunta, mas ninguém responde.

Anabel sai e poderia jurar que viu uma careta em Paola e em Amines. Tudo bem! Ela também não era tão fã daquele, mas foi o que mais – único – lhe agradou. Ela então olhou para Eric, ele tinha um sorriso nos lábios.

– Você está linda, Ana. – Ele diz, alargando ainda mais o sorriso.

– Obrigada, Eric. – Ela responde e olha para as outras duas. – E então?

– É... parece vestido de velha. – Diz Amines.

– Isso é verdade, te deixou parecendo velha.

– Ela está ótima. – Afirma Eric.

– Eu também não gostei tanto desse, mas nenhum outro me agradou. Que diferença faz? – Pergunta Anabel.

– Você só vai casar uma vez, tem que ser especial. – Rebate Paola.

– Se for com Maurício, vai ser especial.

– Se você gostou desse, então leve esse. – Paola se rende, erguendo os braços.

Anabel assente, entra no trocador e tira o vestido.

– Você já decidiu com quem vai entrar?

– Sei que tecnicamente deveria ser o Matheus, mas... – A voz dela trava. – Eu não vou ser hipócrita fingindo que o considero um pai. – Paola paga o vestido e a encara.

– Então?

Para começo de tudo, Anabel gostaria de entrar com a sua avó, mas não queria magoar Paola com isso. Sua segunda opção era Eduardo, mas também não queria magoar Matheus.

– Vou entrar sozinha. – Ele diz, por fim.

– Tem certeza?

– Absoluta.

Paola não parece gosta disso, mas não diz mais nada. Os quatro caminham de volta para a Sociedade do Lobo.

Durante o caminho de volta, ela fica um pouco chateada por Eric estar mais preocupado com sua conversa com Amines do que com ela. Sabia que era uma coisa boba, mas não podia evitar. Principalmente porque sabia que, quanto mais próximo ele ficasse de Amines, mais distante ficaria dela.

Ele até carregou Amines no colo. Anabel achou a cena um pouco ridícula e desnecessária, todos estavam caminhando juntos, sem precisar correr, por que ele tinha que carregar Amines no colo?

Anabel ignorou os dois o máximo que conseguiu e, assim que chegou, foi direto até a casa de Mau, ainda com a caixa com o vestido nos braços, mas ele não estava quando ela chegou. Entrou na casa de seus avos e tudo estava silencioso.

– Vovó? Vovô? – Ela chama e, quando não ouve resposta, caminha até o quarto deles. A porta estava semiaberta, então ela espiou na parte de dentro. Ruth estava dormindo agarrado a um Eduardo com cara de adoentado. Anabel abriu um sorriso ao ver a cena e resolveu não incomodá-los.

Pelo contrário, decidiu que daria uma folga aos dois. Preparou uma sopa já no final da tarde, faria bem a Eduardo, comeu um pouco e foi para o seu quarto pra esperar seu noivo voltar.

Anabel esperou a noite toda. Sabia que Mau iria até ela quando chegasse, mas ela ainda foi na casa dele algumas vezes para confirmar. Por fim, acabou adormecendo.

Quando acordou, era por volta das três da madrugada. Tentou voltar a dormir, mas não conseguiu. Ela então vestiu o vestido de noiva, mais uma vez, para experimentar. Começou a achá-lo um pouco feio, ela teria que fazer alguns ajustes. Quem sabe cortá-lo?

Resolveu que queria mostrar para Maurício, precisava saber qual era a opinião dele. O vestido era leve, daria para ir e voltar da casa que ele morava com Eric sem problemas. Levantou um pouco o vestido, para ele não tocar no chão, e saiu da casa.

Toda a aldeia estava escura e silenciosa. Não tinha mais nenhuma casa com lamparina acesa. Caminhou até a casa de Mau e entrou, devagar, indo até o quarto dele.

– Aonde você está até essa hora? – Ela pergunta para ninguém quando encontra o quarto vazio. Ele teria que se explicar amanhã porque não tinha dito nada a ela.

Estava saindo quando um pequeno barulho a fez parar. De onde veio isso? Parecia vir... do chão. Isso não fazia sentido! Ela ouviu de novo, dessa vez um pouco mais alto. E não vinha do chão, vinha de uma porta um pouco a afastada das outras. Já tinha visto aquela porta, mas nunca tinha se perguntado aonde levava.

Caminhou em direção a porta, e o barulho foi ficando mais forte. Era um grito? Anabel colocou a cabeça dentro da sala. Entendeu tudo que estava acontecendo em um milésimo de segundo: Mau com uma faca na mão, um homem amarrado a uma cadeira, Lúcio em pé ao seu lado com algum líquido branco.

Seu primeiro impulso foi voltar, sabia que não iria querer ver o que quer que fosse aquilo, mas ficou parada, sem conseguir se mexer.

– Você vai me matar de qualquer jeito. – Diz o homem. – Não tem por que eu falar.

Anabel nunca tinha visto aquele homem na vida, mas, pelas roupas brancas, deduziu que fosse um Teca.

– Você está certo, eu vou, mas sua morte pode ser rápida e fácil ou demorada e dolorosa. – Diz Mau. Tinha algo diferente em sua voz, algo que Anabel nunca ouvido antes. – Vou te perguntar de novo: Por que ela pôde espantar os lobos?

– Eu sei que você sabe. – Diz ele.

– Lúcio. – Mau diz.

Lúcio se aproxima, aperta no gatilho e o líquido branco jorra do lança perfumes, indo parar no rosto do homem que imediatamente começa a queimar. Mau enfia um pano na boca dele para conter os gritos e só tira quando o homem parou de gemer.

– Eduardo sabe que está fazendo isso? – Ele pergunta e, em resposta, Mau dá um tapa no rosto dele.

– Você está começando a me irritar. – Mau rosna. – Por que ela pôde espantar os lobos? Por quê? Por que Anabel teve poder sobre todos os lobos Tecas? – Ele pergunta, e Anabel estremece ao ouvir seu nome. Nem lembrava a última vez que ele tinha chamado ela assim e muito menos naquele tom.

O homem, de repente, começa a cantar:

– No alto da montanha onde a grama é sempre verde e o céu sempre azul. No alto da montanha onde na primavera as luzes tocam o chão. – Mau fica completamente paralisado. – No alto da montanha onde o lobo se apaixonou pela águia e onde ela o amou de volta...

– Esse amor, esse amor é como uma rocha no leito de um rio... – Mau continua em um ritmo mais acelerado. – Que suporta, que suporta tudo sem se queixar. Esse amor, esse amor foi sonhado por Deus, mas como pode um lobo com uma águia se casar?

– No alto da montanha onde o lobo partiu doente com a promessa de nunca mais voltar. – O homem volta a cantar no mesmo ritmo do começo.

– Onde a águia partiu seu coração e prometeu jamais se casar. – Completa Mau. – No alto da montanha onde a águia esperava todos os dias seu lobo voltar.

– Foi quando um leão apareceu para consolar. Ele tinha o pelo dourado e resplandecia como o sol, mas dessa união nada de bom poderia ser gerado. Nada de bom foi gerado.

– Esse amor, esse amor tudo pode suportar até mesmo um leão que com a águia queria se casar... – Mau volta com o ritmo acelerado. – O leão, o leão, não venceu, não venceu, mas para a águia deixou um presente que ela jamais esqueceu.

Os dois se encaram por algum tempo e então o homem sorri.

– Que droga de música ridícula é essa? – Pergunta Lúcio. – O que significa? Eles sabem?

– Não tenho certeza, mas acho que sim. – Diz Mau. – Eric cantava para mim quando eu era criança. É uma canção do povo Teca.

– Eric? Seu irmão? – Pergunta Lúcio. – Pensei que ele não soubesse.

– Eu também pensei, mas estou confuso.

– Acho que seu irmão mentiu para você. – Diz o homem, e Anabel serra os dentes por ele querer colocar Mau contra Eric.

– Cala a boca. – Grita Mau.

– Ele é perigoso? – Pergunta Lúcio.

– Não sei se confio nele. Eric é muito leal, e eu não tenho certeza se sua lealdade está aqui. – Diz Mau, e isso pega Anabel de surpresa.

Sempre achou que Mau tivesse sido um dos primeiros a confiar em Eric, mas agora aquela confiança se mostrava ser um fingimento. Isso explicava a reação dele quando Anabel e Eric sumiram. Não era só por preocupação, ele achava que Eric tinha feito algo a ela. O que mais ele tinha escondido? Sempre achou que Mau fosse completamente aberto com ela, até se sentia culpada por esconder tantos sentimentos e medos e pensamentos dele, mas agora percebia que ele também tinha seus segredos. E, mais que isso, ele tinha um lado sombrio, esse que ela tinha acabado de ver. Isso não a fez se sentir melhor, pelo contrário, ela só ficou mais aflita com toda aquela situação.

– Mas quando se tratar de Anabel, ele não é perigoso.

– Por que diz isso? – Pergunta Lúcio.

– Ele se importa com ela. – Diz Mau, e Lúcio ergue a sobrancelha.

– Se importa com ela? Em que quantidade? – Pergunta, desconfiado, e os dois parecem ter uma conversa silenciosa.

– Muito. – É tudo que Mau diz.

– Você é bem frio com relação a isso. – Diz Lúcio, sorrindo. – Eu não conseguiria.

O homem entala, interrompendo os dois.

– Já tem sua resposta, acabe logo com isso.

Anabel está perplexa demais, ela não tinha entendido nada. Essa música parecia uma canção de criança. O que poderia significar? E, se Mau tinha descoberto que eles sabiam de seja lá o que fosse aquilo, por que iria matá-lo antes de obter a resposta?

Anabel estava tão distraída que nem percebeu que os olhos de Lúcio estavam cravados nela.

– Tudo bem. – Diz Mau e levanta o facão, mas Lúcio segura sua mão.

– Eu faço isso.

– Não, eu faço. – Diz Mau e, em um movimento rápido, arranca a cabeça do homem que cai no chão como um bola dura, fazendo um barulho assustador.

Sangue respinga em Mau; no seu rosto, nos seus pés, no seu corpo. Anabel fica horrorizada e, pela primeira vez desde que estava morando naquele lugar, ela entendeu o que as pessoas falavam de Mau. Sobre a crueldade dele, sobre ser impulsivo e matar sem pensar duas vezes. Pela primeira vez, ela o viu como os outros sempre viram. Antes que Mau possa vê-la, ela sai dali. Sabia que Lúcio iria contar, mas não queria encará-lo naquele momento.

Correu de volta para a sua casa e começou a tirar o vestido antes mesmo de entrar no quarto. Percebeu que ele estava sujo de lama e... sangue? Como? Ela nem estava próxima deles, devia ter sangue no chão quando entrou. Ela não iria casar com aquele vestido. Casar? Ela ainda iria casar depois do que viu?

Alguém bate, de leve, na porta. Não, não podia lidar com Mau agora.

– Por favor, só me dá um tempo. – Anabel pede.

– Sou eu. – Lúcio diz, e ela suspira. Se ele estava ali, era porque não tinha contado ao Maurício.

– Um segundo. – Ela pega sua camisola e a veste. – Entra.

Lúcio entra no quarto e fecha a porta. Ela logo percebeu que ele esfregava as mãos na calça, claramente inquieto. 

– O que você quer? – Anabel pergunta, e Lúcio suspira.

– Bem, acredito que não seja nenhuma novidade que nós dois... – Ele faz uma pausa e passa o dedo indicador no lábio inferior. Seu rosto ainda tem alguns respingos de sangue, e Anabel nem arriscou olhar para a sua roupa. – não gostamos um do outro.

Anabel queria dizer que não tinha nada contra ele, mas, mesmo depois de descobrir que ele só obrigou Bella para protegê-la, ela não conseguia gostar dele. Não gostava de sua amizade com Mau, não gostava do seu jeito arrogante.

– Eu poderia citar uma lista de mulheres que eu preferia que estivesse casando com Mau. Aurora é uma moça realmente gentil e educada. Sophia é uma monga, mas Mau gostava dela. – Mau gostava de Sophia? Anabel sente uma onda de ciúmes percorrendo seu corpo. – Oh, não, não assim. – Lúcio acrescenta, imediatamente. – Ele tinha apenas um carinho especial por Sophia, mas ele sempre gostou mesmo foi de Clarisse. Gosto de Clarisse. – Anabel pensou que agora tinha mais um motivo para não gostar de Lúcio. – Ela só é muito falsa e forçada, e eu nunca gostei da forma que ela o tratava, mas eu preferia qualquer uma dessas a você, muito enxerida, gosta de bisbilhotar e depois daquele seu comentário desnecessário sobre a minha vida... garota, você perdeu até a simpatia que eu nem tinha.

– Você poderia ir direto ao assunto? – Pergunta Anabel, irritada. – Porque, sinceramente, pouco me importa o que pensa de mim.

– Sei que também não gosta de mim pelo que fiz a Bella e entendo isso. – Diz Lúcio. – Não gosto de você e nem você de mim. Então, vamos esclarecer as coisas.

– Que coisas?

– O que acabou de ver... foi culpa minha. Eu comecei aquilo. – Anabel sabia que era mentira, mas sua simpatia por ele aumentou um pouco por vê-lo tentando encobrir Mau. – Não cancele o casamento. – Ele diz, olhando para o vestido dela no chão.

– O quê? – Pergunta Anabel. Cancelar? Ela não tinha parado para pensar nisso. Nem tinha tido tempo para pensar. Ela ainda queria casar depois de ter visto aquilo? – Lúcio, eu não vou cancelar o casamento. – Diz, por fim, e Lúcio fica claramente surpreso. – Por que está tão surpreso? Eu conheço o Mau. Sempre soube que ele tinha esse lado, claro que é diferente de ver, mas eu já sabia.

– Você ainda quer se casar com ele depois do que viu? – Lúcio pergunta, erguendo a sobrancelha.

– Não só quero como vou. – Ela responde. – O mais insano é que eu não me importo com o fato de ele ser assim. Só fiquei assustada porque nunca vi ninguém ser decapitado.

– Você não... se importa?

– Eu sei onde estou me metendo, Lúcio. – Diz Anabel, e ele sorri.

– Acho que ele estava certo sobre você, no final das contas. – Diz Lúcio. – Bem, era só isso. Com licença. – Ele se vira para a porta.

– Sei o que fez para Bella, sei que a levou daqui para protegê-la. – Anabel confessa, e Lúcio fica paralisado.

– Como descobriu? – Ele pergunta.

Anabel não pode deixar de notar que ele nem cogitou a hipótese de Mau ter contado para ela.

– Eu li uma carta que você mandou para o Maurício. Escondida, claro. – Anabel responde. – Enfim, obrigada.

– Não agradeça, não fiz por você. – Ele diz e abre a porta.

– Isso não muda o fato de que você protegeu a minha amiga. – Rebate Anabel, mas Lúcio não responde. – Você vai dizer a Mau o que eu vi?

– Eu guardo seu segredo e você o meu. – Ele diz e vai embora.

Anabel não queria ter que esconder esse segredo de Bella; Ela merecia saber e, se não fosse através de Anabel, talvez ela nunca soubesse. Mas também não queria que Mau soubesse o que ela viu. Ele nunca tinha mostrado aquele lado para ela, não totalmente. Quando fizesse isso teria que ser escolha dele.

E também... não queria ter que dizer que o quanto ficou assustada. Não queria ter que falar sobre o medo. Mau ficaria triste se soubesse que, por alguns segundos, ela ficou assustada com ele. Por fim, chegou à conclusão de que teria que manter esse acordo com Lúcio, pelo menos por enquanto. Olhou para o vestido no chão e suspirou. Ainda assim não queria usá-lo. Além de feio, ele agora trazia lembranças ruins. Ela faria seu próprio vestido.

•••

Levantou um pouco mais tarde que o normal, não tinha dormido bem. Sua noite foi repleta de pesadelos e ela se lembrava de ter acordado umas três vezes. Sua avó apareceu para acalmá-la em todas elas já que Maurício não aparecia para fazer isso. Pensou em pedir desculpas por incomodar o sono dela, mas já tinha pedido tantas desculpas por esses gritos nas madrugadas que desistiu de fazer isso.

Foi para a cozinha depois de tomar um banho e escovar os dentes e encontrou seu avô e sua avó lá. Ruth arrumava a mesa, e Eduardo a abraçava por trás.

– Você não vai deixar eu terminar de arrumar essa mesa, não é? – Ruth pergunta, rindo, enquanto ele beija seus cabelos.

– Por favor? – Ele pergunta, dengoso. Nunca tinha visto seu avô dengoso, então sorriu.

–Tudo bem, mas não abusa! – Ruth se rende, e Eduardo comemora, beijando seu rosto e seus cabelos.

Ruth encontra Anabel parada e se livra dos braços do marido. Ela sempre tentava não ter aqueles momentos na frente da neta. Anabel não entendia o motivo, não via problema nenhum naquilo. Pelo contrário, achava até bonito ver que o amor deles permanecia firme e forte mesmo depois de tanto tempo. Mas sua avó sempre foi muito reservada e esse era, provavelmente, o motivo de não querer se "expor" para a neta.

– Bom dia. – Diz Anabel, beijando o rosto dos dois.

– Bom dia! – Eles respondem juntos, e Anabel se senta-se à mesa. Eduardo faz o mesmo, agora parecia bem mais disposto e animado por ter convencido Ruth.

– O que ta acontecendo? – Anabel pergunta.

Eduardo encara Ruth, esperando aprovação, e ela dá de ombros.

– Eu quero levá-la para um jantar romântico, só nós dois. – Explica Eduardo.

– Eu disse que não é necessário. – Diz Ruth.

– Será bom sairmos um pouco daqui, sei que ela sente falta do vale.

– Também acho uma ótima ideia. – Diz Anabel. – Todo casal precisa de um pouco de sossego.

– É e nós não tivemos muito. – Diz Eduardo.

Ruth finge nem ouvir a conversa deles, mas Anabel percebeu que ela também parecia feliz. Anabel logo tratou de ocupar sua mente, precisava de um modelo para o vestido e também pensar em como faria tudo sem que Paola ou qualquer outra pessoa soubesse. Talvez só contasse a Eric. Sim, isso mesmo, ele a ajudaria com os materiais.

– Algum problema, querida? – Ruth pergunta, colocando o prato na frente dela.

Anabel balança a cabeça, decidindo que "qualquer pessoa", definitivamente, não incluía sua avó.

– Estou pensando em um modelo para o vestido de noiva, eu mesma vou fazer o meu.

– Você não tinha ido comprar um ontem? – Eduardo é quem pergunta.

– Sim, mas eu não vi nada demais lá. – Anabel explica. – Decidi levar um, mas agora desisti dele. Você me ajuda a fazer o meu, vovó? E não conte a Paola, por favor, ela vai endoidar.

– Na verdade, eu tenho uma ideia melhor. – Diz Ruth.

– Qual?

– Depois do café eu te mostro.

– Tudo bem. – Diz Anabel, dando de ombros.

Ruth serve o café, e os três começam a comer.

– Parece estúpido? – Anabel pergunta, depois de um tempo, e os dois a encaram. – Casar no meio de tudo isso? Vocês acham que é... estúpido?

– Claro que não, Anabel. – Diz Eduardo. – Pelo contrário, é por levar uma vida dessas que você deve fazer tudo que quiser. Pode ser que não tenha outra chance.

– É verdade. – Diz Ruth. – Eu também me casei no meio dessa guerra e sei que foi o certo.

Eduardo segura a mão dela e abre um sorriso.

– Eu também sei que foi.

Anabel assente, embora ainda não concordasse e nem entendesse como poderia ser certo casar em um momento como aquele. Quer dizer, ela queria casar com Mau e aproveitar o tempo que tinha com ele, mas fazer uma festa parecia bem estúpido e se perguntava se alguém não tinha se ofendido com aquilo. Terminou de comer, pediu licença e foi para o quarto olhar a lista de convidados.

Ela também precisava pensar no vestido, não sabia qual a ideia de sua avó, mas era bom ser algo simples. Não queria nada muito enfeitado e nem que fosse longo demais.

Ruth passa pela porta aberta com uma caixa nas mãos.

– Aqui está minha ideia. – Ela diz, erguendo a caixa. – Essa é a lista dos convidados?

– Sim.

– Colocou a Clarisse?

– Coloquei, mas fiz porque a senhora insistiu. Não pelo Maurício que não entende nada das coisas. – Diz Anabel, e Ruth suspira. – Qual a sua ideia?

– Minha ideia é reformarmos o meu vestido para você usar. – Diz Ruth, e Anabel fica totalmente sem graça.

– Vovozinha, eu te amo e adoraria usar algo seu. Que tal me dá uma presilha?

Ruth ri.

– Ei, não sou sentimental a esse ponto. Se estou oferecendo é porque acho que você irá gostar.

– Sem ofensas, mas eu já achei o vestido de casamento da Paola bem cafona. Nem quero pensar em como era o seu. Não me importo tanto com isso, mas tudo nessa vida tem limites.

– Pra começo de tudo, Paola sempre foi muito cafona. Eu sempre tive bom gosto. – Diz Ruth e era verdade, Anabel ainda não se convenceu. – Por favor, só dê uma olhada. Acredite, sou eu quem estou fazendo um favor, não você.

– Nossa, você se acha mesmo, né? – Pergunta Anabel, rindo.

– Olhe e veja se estou certa.

– Eu não quero magoar você.

– Você não vai. Se não gostar, tudo bem pra mim. – Diz Ruth.

– Jura? – Anabel pergunta, incerta, e Ruth assente. – Me mostra.

– Fecha a porta. – Ruth pede, e Anabel obedece.

Quando volta para a cama, sua avó já tinha aberto a caixa branca. Ruth ajuda ela a vestir o vestido e depois as duas vão pra frente do espelho. O queixo dela cai.

– É perfeito! – Ela diz, ainda de queixo caído. Não sabia a descrição de vestido perfeito, mas, se tivesse alguma, era aquele. Ele era de crochê com alça grossa. Não era decotado na frente, mas tinha um pequeno V na parte de trás. O vestido tinha pequenas camadas da cintura pra baixo e era apertado na parte de cima. Era simples, delicado, mas... lindo.

– Eu passei 10 anos fazendo ele. Nem tinha certeza se o usaria, mas...

– É perfeito. Eu nunca vi nada tão bonito.

– Sabia que iria gostar. – Diz Ruth. – Vai usá-lo, então?

– Claro que vou. – Anabel responde sem hesitar.

– Teremos que fazer alguns ajustes. – Diz Ruth, medindo o corpo dela. – E mudar algumas coisas também. Você vai querer manter o decote V nas costas?

– Acho que, se eu tirar, vai sair um pouco do charme.

– Não, vai continuar lindo, só vai te deixar um pouco mais velha.

– Não, gosto dele assim. – Afirma Anabel.

– E o cumprimento?

Anabel tinha amando o vestido daquele jeito, era perfeito, mas podia ficar ainda mais a cara dela.

– O que achar de ser até o joelho? – Anabel pergunta.

– Hm, perfeito! – Diz Ruth. – E já sei até que tipo de sapato vou comprar pra você.

– Obrigada. – Anabel diz e a abraça. – Eu te amo.

– Não é pra mostrar pra ninguém. – Diz Ruth.

– Acredite, esse é o único que eu quero que seja surpresa.

•••

Decide procurar pelo seu noivo que tinha deixado ela completamente de lado desde a chegada de Lúcio. O encontrou de frente da casa dele, Anabel imediatamente afastou os pensamentos da noite anterior, não iria mais pensar naquilo.

Mau estava com Eric e Lúcio. Anabel estremece ao ver a cena e seu primeiro instinto é tirar Eric dali porque sabia bem o que Lúcio e Mau pensavam a respeito dele. Ela não tinha pensado muito no assunto, mas acreditava em Eric, já tinha duvidado dele uma vez e não faria de novo. Sabia onde a lealdade dele estava. Além disso, até Mau concordava que Eric se importava mesmo com ela.

Respirou fundo, caminhou até eles e sorriu.

– Bom dia. – Diz Anabel.

Lúcio e Eric apenas balançam a cabeça. Mau vai até ela e lhe dá um beijo caloroso. Ele tinha o mesmo gosto de chocolate e pasta de dente.

– Chocolate de manhã, Maurício, sério? – Ela pergunta, e ele apenas ri.

– Não consigo evitar, me desculpe. – Mau diz. – E o chocolate da Inglaterra parece ser melhor que o nosso. Lúcio trouxe uma caixa, você quer ver?

– Não, eu tenho muita coisa para fazer. Diga que você foi até o vale pegar os convites. – Pede Anabel, e Mau parece perdido. – Eu não acredito, Maurício. Nós temos que enviar hoje!

– Eu esqueci, desculpa.

– Eu peguei. – Diz Eric. – Ontem. Amines quis voltar ao vale para comprar um vestido e bem... achei que fosse melhor pegar logo.

– Que atencioso. – Diz Lúcio, e Eric fica constrangido.

– Obrigada, Eric. – Diz Anabel, e ele abre um sorriso, feliz por ter ajudado.

– Vou buscar. – Eric avisa e entra na casa.

– Você vai me ajudar? – Pergunta Anabel.

– Ah, Ana. Você sabe que minha letra é feia. – Responde Mau. – A de Eric é bonita, talvez ele aceite de ajudar.

– Não é com Eric que eu vou me casar. Além disso, eu posso fazer sozinha, mas seria bom se você, pelo menos, ficasse perto de mim. – Diz Anabel. – Você tem estado tão distante ultimamente.

– Eu sei, mas é que como Eduardo estava doente esses tempos, a Sociedade ficou meio que por minha conta. – Ele passa a mão pelos braços dela. – Mas você está certa, eu estou com saudades de ficar a sós com você.

– Tudo bem, pegue os convites com Eric. Estarei na minha casa. – Ela diz e beija os lábios dele.

Foi para o quarto preparar as coisas necessárias como caneta e tinta, mas seu noivo ainda demorou ainda mais 30 minutos para voltar. Anabel pensou em ficar emburrada com ele, mas Mau voltou sorrindo e ela simplesmente não conseguiu levar o plano adiante.

– Por que demorou tanto? – Pergunta Anabel, e Mau ri tanto que nem consegue falar.

Ele coloca a caixa na cama e se joga na parte vazia colocando a mão na barriga de tanto rir. Anabel não pode evitar o sorriso.

– O que aconteceu?

– Genevieve. Ela... – Ele não consegue parar, e Anabel ri como uma idiota também.

Quando ela consegue se controlar, começa a pensar em algo que o faça parar com aquilo. Ela se deita na cama, ao seu lado, e beija seu pescoço. Isso tem o efeito desejado, Mau para de rir imediatamente e o corpo dele fica tenso. Sim, ela amava o efeito que tinha sobre ele.

Anabel dá outro beijo, dessa vez com uma mordidinha leve no queixo. Ele então se inclina sobre ela e beija seus lábios, descendo para seu pescoço. Mau tem uma de suas mãos segurando o rosto dela e a outra em sua coxa, por cima do vestido, mas, mesmo assim, faz Anabel estremecer.

Ela coloca a mão por cima da dele, que está em uma coxa, e a move um pouco mais para cima. Mau a beija com muito mais desespero, mas, quando ela estava perto de arrancar as roupas dele, afasta os lábios e tira a mão de sua coxa. Mas ele ainda passa dedo indicador no decote do vestido dela.

– Menino ou menina. O que você acha?

– O quê? – Anabel pergunta, ofegando, ainda não conseguia pensar direito.

– Filhos. Qual você prefere? – Ele pergunta, e Anabel arregala os olhos.

– Mas já? Nós nem fizemos sexo ainda e você já está pensando em... filhos?

– Você não quer ter?

– Quero, claro que quero, mas não agora.

– Por que não?

– Não nessa guerra. – Diz Anabel.

– Mas, se não for assim, quando será?

Anabel sabia que ele estava certo. A batalha tinha cessado desde o último ataque em que ela expulsou os lobos, mas uma hora voltaria e aí ninguém poderia dizer o dia do seu fim.

Ela queria mesmo ter filhos, mas queria ser uma mãe melhor do que a que ela teve. Não queria morrer, de repente, deixando seu filho sozinho no mundo ou pior ainda: Ter que abandoná-lo para "protegê-lo", isso ela não suportaria. Nunca, mas sabia que, em uma guerra, tudo era possível. Não, filhos estavam fora de questão.

– Maurício, eu não sei. – Anabel admite.

– Tudo bem, tudo bem. Não precisamos conversar sobre isso agora. – Mau diz. – Mas fique sabendo que eu te convenci a casar, vou te convencer a isso também. – Fala e parece mesmo decidido. – Agora toma. – Ele entrega o papel com os convites.

Anabel pega a caneta e imediatamente começa a escrever o nome dos convidados nos envelopes enquanto Mau só a observa. Anabel lembra-se de outra coisa.

– O que Genevieve fez de tão engraçado? – Pergunta Anabel.

Mau ri só com a lembrança, mas começa a contar a história: Não era nada demais. Genevieve só tinha chegado e contado algumas histórias engraçadas sobre Lúcio. Anabel nem prestou muita atenção porque não se importava, mas ouviu algo sobre uma bicicleta.

– Ela já vai embora, vou sentir falta dela. Podemos convidá-la para o nosso casamento?

Anabel assente, já tinha até feito o convite dela, mas o deixaria pensar que foi ideia só dele. Ela lembra de outro detalhe da frase.

– Como assim já vai embora?

– Ela disse que tinha que resolver algo e falou que encontraria Lúcio em outro vale depois.

Anabel lembrou-se dos convites da suas amigas.

– Então quando ela vai?

– Já deve ter ido. – Diz Mau.

– O quê? – Pergunta Anabel, arregalando os olhos.

– Lúcio ficou não ficou muito feliz com isso, mas disse: "Tudo bem se quer ir vai. Vou levar você agora mesmo, vá pegar suas coisas" – Mau imita a voz brava de Lúcio, perfeitamente, e Anabel ri. Mas fica preocupada, nem entregou a ela os convites de Aurora e Bella. – Por quê?

– Preciso me despedir dela. – Anabel vai até a cama e pega os três convites.

Sai da casa e, para seu alivio, Genevieve está parada um pouco a frente com Lúcio e uma mala.

– Oi, desculpa. – Diz Anabel interrompe e dá um abraço em Genevieve. Era melhor ele pensar que elas eram amigas. – Uma pena você já estar indo, mas foi um prazer enorme conhecê-la. – Com o canto do olho vê Lúcio encarando as duas, perplexo. Ele se afasta para deixar as duas sozinhas, e Anabel para de abraçá-la. – Aqui está. Desculpa fazer você passar por isso.

– Não, vai ser uma boa oportunidade para me acertar com meu noivo, de qualquer forma. Ele disse até que iria cancelar o casamento. – Diz ela com um sorriso.

– E você está tão calma assim?

– Ele disse a mesma coisa quando fui procurar pelo Lúcio. – Diz Genevieve. – Os dois não se suportam e olha que nem se conhecem.

– Eu nem imagino por quê. – Diz Anabel com um nó na garganta.

– Lúcio não gosta de mim. Ele gostaria de gostar, mas não gosta. – Afirma Genevieve. – Só que é difícil para ele ter outro homem na minha vida e com meu noivo a mesma coisa. São só dois homens com o orgulho ferido.

– E você gosta dele? – Pergunta Anabel, e Genevieve arregala os olhos. – Digo, do seu noivo. – Mentira, não era do noivo que ela estava falando.

– Gosto do jeito que ele me ama. – Diz ela, friamente. – Não há nada melhor para uma mulher do que se sentir amada.

– É, eu sei bem disso. – Diz Anabel e só então Genevieve olha para os convites.

– Três? – Ela começa a olhar os nomes. – Um convite para mim? Não precisa fazer isso. – Diz ela enquanto guarda os outros dois na bolsa. Estende o convite de volta para Anabel. – Não estou fazendo isso para ganhar nada em troca.

– Sei que não e é por isso que quero que você venha. Mau também me pediu isso, ele gostou de você. – Diz Anabel. – Mesmo que não consiga trazer minhas duas amigas. – Lúcio se aproxima e olha para o envelope cor creme. – O seu está lá dentro. – Ela diz para ele.

– Convidou Genevieve? – Lúcio pergunta.

– Sim, algum problema? – Anabel pergunta de volta e, em resposta, ele abre um sorriso.

– Não, pelo menos terei uma acompanhante.

– Na verdade, ela convidou o meu noivo também. – Diz Genevieve, e Lúcio revira os olhos. – Não vou ser sua última opção. – Ela rebate seu olhar, e Lúcio suspira.

– Se não percebeu: Você foi minha primeira opção.

– Sabemos que não. – Diz ela e então olha para Anabel. – Obrigada pelo convite, tentarei vir.

– Ela virá. – Afirma Lúcio.

Mau se aproxima e entrega o de Lúcio.

– Ana, você não fez o da Bella. – Mau diz. – Lúcio poderia entregá-lo.

– Não, eu não poderia. – Diz Lúcio. – Lembra que, depois daqui, terei que ir ao Vale Fortaleza?

– Lúcio, por favor. – Pede Mau.

Anabel olha para Genevieve, desesperada, estava na cara que Lúcio não pretendia trazer Bella. Genevieve respondeu: "Calma" apenas mexendo os lábios.

– Tudo bem, descobrirei o endereço e mandarei para lá. Isso é tudo que eu farei. – Lúcio diz, e Mau suspira, triste.

– Bem, obrigado, né? – Diz Mau, ficando irritado.

– Onde está o convite dela? – Pergunta Lúcio.

– Na verdade, lembra aquela amostra que tivemos, Maurício? Eu mandei um em um endereço que ela ficaria uma semana. Tenho certeza que ela recebeu. – Diz Anabel.

– Ótimo, vamos? – Pergunta Lúcio.

Genevieve assente.

– Até logo, Ana. – Genevieve diz com um sorriso.

Anabel, definitivamente, gostava dela agora. Mau também vai com eles e uma grande alegria começa a encher o peito de Anabel. Mesmo que Genevieve não conseguisse, naquele momento, ela tinha pelo menos a esperança de se reencontrar com todas as suas amigas. 

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