Artur
Eu não entendo.
Sério,o que eu fiz de errado?O que eu fiz de tão errado para alguém entrar aqui e simplesmente me ameaçar? Até hoje eu não sei o que eu fiz de errado, o que eu fiz de tão grave para chegar a esse ponto. Agora eu tenho minhas suspeitas e talvez eu tenha a certeza de quem pode ser. Mas por quê? Por que chegar a esse ponto? Eu busco rapidamente na minha mente fatos sobre algo que eu fiz de terrível e que terminou acarretando uma vida péssima para alguém. Mas eu não sei. Simplesmente,não sei. O que eu fiz de errado?
Pode ser ela novamente.O meu pior prejuízo. Mas por quê? Ela não consegue aceitar que eu não estou mais ligando para a existência dela? Ou não consegue aceitar que um cara foi apaixonado por outra garota? Ou não consegue simplesmente aceitar que tudo aquilo aconteceu no passado e permenceu no passado? Ela simplesmente não consegue me deixar em paz?
—Senhor?—um dos meu segurança s me chama,fazendo com que meu olhar desviasse daquela parede.O dia já estava dando as caras e eu ainda permanecia exausto.Tentava o tempo todo resolver uma equação mas parecia que tudo não tinha uma solução.
—Wilton,quero que aumente a segurança. Contratar mais seguranças e quero que compre as melhores câmeras já indicadas. Providencie os alarmes. Mais alarme. E mais câmeras. Essa empresa vai ser a mais segura que já conheceu— ele assente a todo momento— Na questão das suspeitas,eu mesmo resolvo com a polícia. Avise que hoje a empresa estará fechada e voltaremos com nossos trabalhos normalmente amanhã. Vou pedir para minha secretária adiar todas as visitas de hoje.
—Sim,senhor—Wilton começa a agir,enquanto eu saio da empresa, observando todos os detalhes presentes,em busca de mais alguma pista.Nada. As únicas coisas que foram evidentes foi a minha parede riscada e um número para contato na parede sala da Clarie,com mais alguns xingamentos totalmente impróprios.
Eu guardei essas duas informações na minha cabeça e tenho certeza que nunca vão sair.Meu Deus,é tanta coisa em pouco tempo!Eu entro no meu carro e fecho a porta,me esquecendo completamente da Clarie e do Enzo ali.
—Enzo acabou de dormir—ela fala,baixo,mas meu baque na porta terminou acordando o bebê.Ela começa a balançá-lo.Ambos estavam no banco de trás—Sei que está com raiva.Mas se acalme.Vocês acharam alguma coisa?
—Sim—dou partida no carro.Meu corpo estava ali,mas eu estava em outro horizonte, totalmente diferente.
—E então?
—Não sabemos das suspeitas.Mas tiveram pistas.
—Quais?
—Algumas—meu tom é quase inaudível. Eu queria evitar de falar sobre isso ,especificamente para ela.
—Ok,mas quais?—ela pergunta.
—Você deixou seu carro na empresa,certo?
Ela bufa
—Artur, por favor. Você não pode ser o único a saber sobre o que aconteceu. Tenho esse direito também.
—Nós não sabemos quem foi. Eu tenho minhas suspeitas de acordo com as pistas que ela ...
—Ela?
— Pode ser ela ou ele. Não sei.
—Artur— ela se aproxima mais de mim— Você acha que é ela?
—Uma ela específica,você quer dizer?
—Sim... Você acha que...?
—Sinceramente,eu tenho quase certeza—eu digo.Queria acordar disso.Queria que tudo isso fosse apenas um pesadelo.
Clarie permanece em silêncio e vejo pelo visor do carro suas expressões faciais.
—E o que ela queria?
—Dinheiro.Somente— eu disse.Eu escondi o resto. Sei que dinheiro é a coisa mais importante nesse instante mas caso não tenha o dinheiro, as consequências serão terríveis.
Ela se cala. E assim é o restante do trajeto, até chegarmos em casa. Achei que o assunto estava cortado e que não iríamos tocar nele por um tempo, porém , dependendo da Clarie vamos falar sobre isso por um longo tempo.
—Mas por que ela queria isso?Ela ainda não se tocou?—eu ajudo ela sair do carro e solto um suspiro— Por que ela...
—Eu não sei,tá legal?—eu falo.Meu tom foi rude.Não queria que fosse assim—Eu tenho que ver.
Finalmente encaro seus olhos,que exalam cansaço. Desvio meu olhar para outro lugar. Eu não queria ser rude,não queria bancar o chato logo agora,mas ainda estou chateado pela situação que aconteceu mais cedo. Sei que ela queria ajudar,porém,Clarie estaria segura aqui. Muito mais segura.
—Ei—ela segura meu rosto para que possa voltar a olhar para ela—Eu te entendo. Você está cansado, com raiva e preocupado,mas relaxa. Vai dar certo. Eu tô contigo. Confia em mim.Se ela quer dinheiro,nós vamos dar dinheiro a ela.
Passo um tempo encarando seus olhos verdes que se destacavam ainda mais sem nenhum tipo de maquiagem e na luz natural do início da manhã.
Como alguém consegue ser minha maior tempestade e ao mesmo tempo,minha maior calmaria?
Relaxo meus músculos, fecho meus olhos e respiro fundo o ar da matina. Tudo vai dar certo. Preciso crer nisso.
Clarie caminha devagar até a casa.Fecho a porta do carro e entro dentro de casa. Mais tarde, iria me encontrar com a polícia novamente para falarmos a respeito,mas,até lá,eu tentaria dormir (caso eu conseguisse).Quando entramos,Márcia,que ficou encarregada de ficar com as crianças, estava na cozinha.
—Bom dia! Ainda não acordei os gêmeos para a escola,eu estava esperando por vocês dois.
—Tudo bem, Márcia—Clarie coloca o Enzo naquelas cadeirinha interativa—Vou acordar eles agora.
Ela sobe e eu me sento no sofá, observando o Enzo dormindo como um anjinho. Deixo meu corpo relaxar no sofá e tiro meus sapatos,me acomodando e quase cochilando. Eu iria dormir, porque o meu sono está grande demais para deixar para outra hora,mas certamente eu vou acordar a cada cinco minutos com meu coração acelerado. Aproximo-me do Enzo e acaricio seus cabelos,enquanto ele chupa sua chupeta como se fosse a coisa mais gostosa do mundo.
—Artur!—o grito da Clarie foi estridente e eu levanto meu rosto rapidamente,acabando com a minha paz interior— Eu não estou achando o Miguel.
Paro de respirar por um momento e me lembro da mensagem que estava na minha sala. Porra.
—Calma—eu me levanto,tentando transmitir a maior tranquilidade possível— Você viu em todos os cantos da casa?No nosso quarto?Quarto da Sofia?Aqui em baixo?Márcia,você viu se o Miguel acordou mais cedo?
Ela sai da cozinha.
—Não,eu teria visto ele aqui embaixo.Mas não o vi.
—Meu Deus—eu falo inaudivelmente e subo as escadas como um flash.
—Calma.Você viu em todos os lugares?—eu pergunto.Clarie estava nervosa e mal conseguia falar direito.
—Sim,eu acho.Eu acho.Eu...eu preciso ver de novo—ela diz. Eu tomo a frente e vou até o quarto do Miguel,ligando as luzes.A cama estava claramente desorganizada, mostrando que alguém dormiu lá. Vou até o seu pequeno closet e abro todas as portas possíveis e checo todos os buracos que ele poderia ter se enfiado. Nada.
—Miguel?—vejo a parte debaixo do closet que ficavam os sapatos—Filho?Cadê você?
—Miguel?—Clarie olhava o seu banheiro—Nada dele. Ele quase não sai do quarto dele,Artur. Normalmente eu o encontraria aqui jogando videogame.Mas ele não está.
—Você está se precipitando,meu bem.Quem sabe ele não teve um pesadelo e foi para o quarto da irmã ou para o nosso?Vamos ver nosso quarto primeiro.Ainda temos uma casa inteira para procurar—eu apresso o passo,mas,quando estou prestes a sair,me deparo com algo escrito perto do interruptor da luz. Era pequeno,porém muito legível. Engulo seco ao perceber que é a mesma caligrafia. A mesma tinta.
"Ficarei com ele até tiver o dinheiro vivo em minhas mãos até este final de semana. Senão,sintam o gosto amargo de perder alguém"
Isso é um pesadelo. O pior pesadelo que alguém poderia ter.