KIRA• -9ºC
Lembro-me de estar deitada na neve, onde até um raio de sol esfriaria, cercada por lobos. Eles me lambiam, me mordiam, me torturavam, me sufocavam. Seus corpos bloqueavam o calor do sol. O gelo cintilava em seus pelos brancos as suas respirações criavan formas opacas que flutuavam ao nosso redor. O cheiro de seus pelos me lembrava cachorro molhado e folhas em chamas, e ao mesmo tempo agradável e aterrorizante. Seus dentes rudes rasgavam as mangas da minha blusa e me arrancavam os cabelos, avançavam para minha clavícula, para a veia em meu pescoço.
Eu poderia ter gritado,mais não gritei. Poderia ter lutado, mais não lutei. Só fiquei deitada com meu corpo paralisado, observando o céu branco de inverno se tornar cinza acima de mim.
Um lobo cutucou minha mão com o focinho, projetando uma sombra sobre meu rosto. Seus olhos amarelos penetraram nos meus.
Me apaixonei por aqueles olhos, amarelos e, mais de perto, salpicados de brilhos com todas as nuances de ouro e castanho-claro. Eu não queria que ele desviasse o olhar, e ele não desviou. Eu queria esticar o braço e agarrar o pelo em volta do seu pescoço,
Mas minhas mãos nao se mexiam, meus braços pedrificados junto ao corpo.
Eu não conseguia me lembrar de como erra a sensação de estar aquecida.
Então ele se foi, e, sem ele, os outros lobos se aproximaram, perto demais. Não havia sol, não havia luz. Eu estava morrendo. Não conseguia me lembrar de como erra a cor do céu.
Mais eu não morri. Eu estava perdida num mar de frio, e depois renasci num mundo de calor.
Me lembro apenas disso: seus olhos amarelhos.