O Guardião

By JaqueBastos

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Quarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caix... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 34

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By JaqueBastos

Na quinta-feira de manhã, quando Julie chegou para trabalhar, encontrou Pete e Jennifer à sua espera. Pela expressão em seus rostos, soube imediatamente por que estavam lá.

- É Andrea, não é?

Mabel estava em pé atrás deles, os olhos vermelhos e inchados.

- Ah, querida - disse atravessado o salão e abraçando Julie. - Mike e Henry já estão a caminho... - Ela começou a chorar, tremendo incontrolavelmente.

- O que aconteceu?

- Ele bateu nela - soluçou. - Quase a matou... ela está em coma... Não sabem se vai sobreviver... Tiveram que levá-la de avião para Wilmington na noite passada...

Os joelhos de Julie pareceram fraquejar. Um momento depois, Mike e Henry entraram. Mike viu Julie e Mabel antes de encarar os dois policiais.

- O que ele fez com Andrea? - perguntou.

Jennifer hesitou. Como descrever uma agressão daquela? O sangue, os ossos quebrados...

- Foi feio - disse Pete por fim. - Nunca tinha visto uma coisa assim.

Mabel caiu em prantos de novo enquanto Julie lutava para conter seus soluços. Henry parecia incapaz de se mover, mas Mike encarou Jennifer.

- Vocês já prenderam Mike? - quis saber Mike.

- Não. - respondeu Jennifer.

- Por que não?

- Porque não sabemos se ele é o culpado.

- É claro que é! Quem mais faria algo assim?

Jennifer ergueu as mãos, tentando manter o controle da situação.

- Olhe, sei que vocês todos estão perturbados...

- É claro que estamos perturbados! - gritou Mike. - Como mais poderíamos estar? Ele ainda está nas ruas enquanto vocês dois perdem tempo aqui!

- Espere aí - disse Pete rapidamente e Mike se virou para ele.

- Esperar? Para início de conversa foi você quem causou tudo isso! Se não tivesse sido tão estúpido, nada disso teria acontecido! Eu lhe avisei que o cara era perigoso! Nós imploramos que  fizesse alguma coisa! Mas você estava ocupado demais bancando o policial durão para enxergar o que estava acontecendo.

- Acalme-se...

Mike foi na direção dele.

- Não me diga o que fazer! Isso é culpa sua!

A boca de Pete se esticou em uma linha e ele deu um passo na direção de Mike. Jennifer saltou e se pôs entre eles.

- Isso não está ajudando Andrea! - gritou. - Para trás, os dois!

Mike e Pete se encararam, seus corpos ainda tensos. Jennifer prosseguiu.

- Ouçam, nós não sabíamos sobre Richard - disse ela olhando para Mike e Julie. - Nenhum de vocês mencionou nada sobre Andrea estar saindo com ele, e a encontramos depois que deixamos a sua casa, na noite passada. Ela já estava em coma e não há como sabermos quem fez isso. Pete e eu ficamos na cena do crime até de madrugada  e viemos aqui esta manhã porque é onde ela trabalhava, não porque suspeitamos de alguma coisa. Mabel nos contou sobre ele e Andrea há cinco minutos. Entenderam?

Mike e Pete continuaram a se encarar até Mike enfim desviar os olhos. Ele deu um longo suspiro.

- Sim, entendi. Só estou perturbado. Sinto muito.

- Mabel disse que Emma viu Richard e Andrea juntos em Morehead City, certo?

- Sim - respondeu Julie. - Alguns dias atrás. No dia em que o vi no bosque.

- E nenhum de vocês sabiam que Richard e estava saindo com ela? Se eles estavam namorando?

- Não - respondeu Julie. - Andrea não me falou nada sobre isso. Só fiquei sabendo quando Emma telefonou.

- Mabel?

- Não. Para mim também não.

- E ela não veio ontem?

- Não.

- Vocês não acharam isso estranho? Quero dizer, sabendo que ela havia sido vista com Richard?

- É claro que ficamos preocupadas, mas você não conhece Andrea - disse Mabel. - Não foi a primeira vez que ela faltou ao trabalho. Ela é assim.

- Mas ela costumava telefonar?

- Às vezes. Nem sempre.

Jennifer se virou para Julie de novo.

- Por que você não me disse nada sobre Andrea e Richard ontem à noite quando fomos à sua casa?

- Não pensei nisso. Estava perturbada demais com o medalhão e, depois do que Pete disse...

Jennifer assentiu com a cabeça, sabendo exatamente do que Julie estava falando.

- Seria possível Emma vir aqui? Gostaria de ouvir o que ela tem a dizer.

- Sem problemas - disse Henry. - Vou telefonar para ela.

Querendo ter certeza de que entendera tudo direito, Jennifer revisou a sequência dos acontecimentos e então passou para perguntas mais gerais: os lugares que Andrea gostava de frequentar, quem eram seus amigos e outras pessoas que pudessem estar envolvidas. Esse era o procedimento padrão, por que Jennifer sabia que, no tribunal, a defesa poderia usar a falta de investigação de outros possíveis suspeitos para alegar que a polícia estava sendo parcial.

Julie achou difícil se concentrar enquanto Jennifer fazia as perguntas. Por mais que estivesse perturbada com o que acontecera com Andrea, não podia evitar pensar que Richard a seguira durante semanas.  Que estivera em sua casa. E que ela poderia ser a próxima.

Emma finalmente chegou, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Jennifer lhe fez as mesmas perguntas.

Emma não sabia nada além do que Julie e Mabel tinham dito, embora tivesse mencionado onde os vira: do lado de fora de um bar chamado Mosquito Grove, logo depois do calçadão.

Após interrogar Emma, Jennifer olhou de relance para o lado.

- Importa-se se eu der uma olhada na área de trabalho de Andrea? - perguntou. - Talvez ela tenha deixado algo que nos dê uma ideia de quando começou a se encontrar com Richard ou se essa foi a primeira vez.

- Não, vá em frente. - respondeu Mabel.

Jennifer passou um minuto abrindo e examinando gavetas. Fechou-as e viu uma foto de Andrea presa ao espelho.

- Posso pegar isso?

- É claro - consentiu Mabel.

Jennifer estudou a foto de Andrea antes de erguer os olhos.

- O.k. - disse. - Por ora é só isso.

Todos pareceram concordar. Jennifer sabia que devia ir embora, mas em vez disso foi na direção de Mike e Julie. Depois das horas que havia passado na cozinha deles, começara a considerá-los quase amigos.

- Quero que vocês dois saibam que, se foi Richard quem fez isso, ele é capaz de qualquer coisa - falou. - Essa foi a pior agressão que já vi. É quase impossível descrevê-la em palavras. Ele é psicótico. Só queria ter a certeza de que vocês estão cientes disso.

Mike engoliu em seco, com a garganta apertada.

- Façam o que for preciso para permanecerem em segurança - disse Jennifer. - Vocês dois.


                                                                         ***

Na saída, Jennifer caminhou ao lado de Pete, sem que nenhum dos dois disse nada. Tinha de lhe dar crédito, não só por tê-la deixado lidar com o interrogatório lá dentro como pela nova determinação que notou em sua expressão séria.

Depois de entrar no carro, ele enfiou as chaves na ignição, mas se recostou o banco sem ligar o motor. Ficou olhando pelo para-brisa.

- Ela cortava meu cabelo - disse por fim.

- Andrea?

- Sim. Foi por isso que a reconheci na noite passada.

Jennifer permaneceu em silêncio, observando Pete fechar os olhos.

- Ela não merecia o que lhe aconteceu - disse ele. - Ninguém merece isso.

Jennifer pôs a mão no ombro dele.

- Sinto muito.

Pete fez um sinal afirmativo com a cabeça, como se tentasse esquecer o que vira na noite anterior. Ligou o motor.

- Acho que está na hora de fazermos uma visitinha a Richard Franklin no trabalho - disse em voz baixa. - Prefiro pegá-lo desprevenido, se puder. Não quero lhe dar tempo para inventar uma história. Se foi ele, quero que pague por isso. E pague caro.

Jennifer juntou as mãos no colo. Do lado de fora da janela, árvores e prédios se tornavam mais indistintos enquanto o carro ia na direção da ponte.

- Ele não vai estar lá - disse Jennifer. - Saiu do emprego há um mês.

Pete olhou para ela. Estava com olheiras, no interior escuro do carro, parecia tão cansado quanto Jennifer.

- Como você sabe disso?

- Telefonei para o departamento de pessoal da J.D. Blanchard.

Pete continuou a encarando.

- Você a investigou?

- Não oficialmente.

Ele voltou a olhar para a estrada e parou o carro à sombra de uma grande magnólia.

- Por que não começa do início e me conta o que andou fazendo? - Ele estendeu a mão para pegar o copo de café que trouxera mais cedo naquela manhã. - E não se preocupe com a possibilidade de se meter em encrencas. Isso ficará apenas entre nós.

Jennifer respirou fundo e começou.


                               ***

No salão, Henry tinha o olhar distante, Mike estava pálido e Mabel enxugava as lágrimas. Emma parecia fragilizada, sentada enroscada sob o braço de Henry. Julie cruzou os braços e ficou se balançando para a frente e para trás no sofá.

- Não posso acreditar - sussurrou Emma. - Simplesmente não posso acreditar. Como ele teve coragem de fazer isso com ela?

Ninguém disse nada; Mabel baixou os olhos.

- Acho que vou visitá-la hoje. Não sei o que mais posso fazer.

- A culpa foi minha - disse Julie. - Eu devera tê-la avisado para ficar longe de Richard, quando cortou o cabelo dele. Dava para perceber que Andrea estava atraída por ele.

- A culpa não foi sua - protestou Mike. - Você não poderia ter feito nada para impedir isso. Se não fosse ela, seria outra pessoa.

Como eu.

Mike se aproximou de Julie.

- Ela ficará bem.

Julie balançou a cabeça.

- Você não sabe disso, Mike. Não pode prometer algo assim.

Ela pareceu mais impaciente do que pretendia e Mike desviou o olhar. Não, pensou, não posso.

- Só não consigo entender - disse Julie. - Por que aqui? Por que, de todos os lugares do mundo, ele tinha que vir para cá? E por que Andrea? Ela não fez nada.

- Ele é louco - disse Mabel. - Quando o pegarem, espero que o deixem preso por muito, muito tempo.

Se o pegarem, pensou Julie.

No silêncio, Henry relanceou os olhos para a janela e depois de volta para Julie.

- A polícia está certa sobre o que você tem que fazer - disse ele. - Não pode ficar aqui. - Julie ergueu os olhos. - Não depois do que aconteceu com Andrea - continuou Henry. - Não depois de ele ter estado em sua casa. Aqui não é mais seguro, para nenhum de vocês.

- Para onde deveríamos ir?

- Qualquer lugar. Saíam da cidade. Desapareçam até a polícia pegar esse cara. - Ele fez uma pausa. - Se quiserem, podem usar a casa de praia. Ele não os encontrará lá.

- Henry tem razão - acrescentou Emma. - Vocês têm que sair daqui.

- E se vocês estiverem errados? - perguntou Julie. - E se ele me encontrar?

- Não encontrará. A casa nem está registrada em nosso nome. Nós a utilizamos em usofruto e Richard não tem como descobrir que é nossa. Ninguém vai lá há meses, por isso não tem como ele saber que o imóvel existe. Ele não saberia nem onde procurar.

- A ideia de ir para lá me dá arrepios - disse Julie. - É quieto demais.

- Prefere ficar na minha casa? - propôs Mike.

- Não - respondeu Julie. - Tenho certeza de que ele também sabe onde você mora.

- Vão - disse Mabel. - Henry está certo. Aqui é muito perigoso.

- E se ele nos seguir? E se estiver me observando agora?

Cinco pares de olhos se dirigiram instintivamente para a janela.

- Levem meu carro - disse Henry. - Não, levem o de Emma. E vão logo. Mike e eu daremos uma olhada lá fora para ver se ele está por perto. Se não estiver, peguem a rodovia e permaneçam nela. É uma linha reta e saberão se alguém os estiver seguindo. Quando chegarem a Jacksonville, deem muitas voltas para se certificarem de que não há ninguém atrás de vocês. O importante é saírem daqui antes que Richard perceba que vocês fugiram.

- E quanto à polícia? Eu não deveria avisá-los?

- Eu me encarregarei disso. Apenas vão. E, não importa o que fizerem, não vão direto para casa.

Momentos depois, Mike e Julie tinham ido embora.


                                                ***

Jennifer levou uns dez minutos para contar tudo o que descobrira: a estranha história de crédito, a nova empresa em Ohio para substituir  a do Colorado, o aparente desejo em ser discreto, os comentários de Jake Blansem sobre Richard ser perigoso e o fato de que ele não trabalhava mais para a J.D. Blanchard. Quando terminou, Pete estava dando tapinhas no volante e assentindo com a cabeça, como se tudo fizesse total sentido.

- Eu tinha certeza de que havia algo estranho naquele sujeito - disse Pete. - Mesmo na academia, ele pareceu um pouco ardiloso, sabe?

Jennifer olhou para Pete, sem palavras. Apesar de seu alívio por ele enfim ter percebido a verdade e seu desapontamento por praticamente precisar que ela esfregasse na sua cara o que era óbvio, pelo menos agora ele estava doo seu lado.

- Sei - disse Jennifer.

Pete ignorou o sarcasmo no tom dela e deu outro tapinha no volante.

- Então, se Richard não está trabalhando, onde está? - perguntou.

- Não sei. Poderíamos tentar a casa dele.

Pete concordou.

- Vamos fazer isso.


                                    ***

Quinze minutos depois, Pete e Jennifer pararam na entrada em frente à casa vitoriana. Ao saírem do carro, ambos abriram seus coldres enquanto examinavam a área.

De perto, Jennifer achou que a casa parecia mais degradada do que vista da estrada. As cortinas estavam fechadas. Não havia nenhum sinal de carro, embora um caminho para automóveis coberto de ervas daninhas levasse aos fundos da propriedade.

O motor da viatura estalou ao esfriar. Um bando d pássaros debandou das árvores, trinando e piando alto. Um esquilo passou correndo, buscando segurança nos galhos mais altos de um pinheiro. Nada mais, nenhum outro som. Nenhum sinal de movimento do lado de dentro.

- Parece que nosso suspeito fugiu - sussurrou Pete.

Não, pensou Jennifer, com a súbita certeza, ele ainda está aqui.


                                     ***

Richard os observou por trás das árvores. Estava nos fundos, esfregando o interior do carro - já havia limpado a casa numa tentativa de eliminar os sinais mais óbvios do que acontecera na outra noite -, quando os ouviu vindo pelo caminho para automóveis.

É claro que os esperava, mas não tão cedo.

Pete e Jennifer andaram com cuidado até a porta da frente, a varanda rangendo sob seus pés. Em pé diante da porta descascada, entreolharam-se antes de Pete bater. Jennifer ficou de um lado, com a mão no coldre. Seus olhos se dirigiram para a janela, observando.

Então, instintivamente ela sacou a arma.


                                       ***

Richard observou os policiais.

Respirou longa e profundamente e depois foi mais para dentro do bosque, perguntando-se como eles haviam conseguido ligar Andrea a ele tão depressa.

DNA? Não, isso leva tempo. Uma semana pelo menos. Andrea devia ter falado alguma coisa para alguém, emborra ele tivesse lhe dito que mantivesse a boca fechada. Ou isso ou alguém os vira juntos. Talvez no bar. Ou em Morehead City.

Não importava. Ele já sabia que seu tempo como Richard Franklin chegara ao fim. A situação com Andrea só acelerara o inevitável. Apesar da limpeza mais cedo, sabia que seria impossível eliminar todas as evidências do que fizera com a mulher. A ciência forense evoluíra a ponto de os especialistas identificar minúsculos vestígios de sangue ou fios de cabelo de Andrea, e fora isso que ele não se deu o trabalho de esconder o corpo dela. Se de algum modo eles obtivessem um mandado de busca - o que realmente era apenas uma questão de tempo - descobririam o que precisavam para condená-lo.

Ainda assim, Richard desejou ter tido mais uma hora para juntar suas coisas. Suas câmeras e lentes estavam dentro da casa e ele lamentou se separar delas. E das fotografias também, principalmente as de Jessica. Sabia que era improvável que a polícia conseguisse usá-las para descobrir mais sobre ela - tivera o cuidado de destruir todas as imagens que sugeriam onde eles haviam morado -,  mas não conseguira substituí-las.

Também sentiria falta das de Julie, porém não estava tão preocupado com essas. Eles teriam o resto da vida para compensar as que deixara para trás.

Gostaria de saber se  ela já sabia sobre Andrea. Sim, provavelmente, pensou. 

Com certeza a polícia tinha acabado de falar com ela.  Então o que Julie faria?

Fugiria, concluiu. Como fugira da mãe. Tentaria se esconder e certamente levaria o idiota com ela. O mais provável é que já tivesse fugido.

Outro motivo para sair dali.

Ele considerou essa opção. Se eles dessem a volta para examinar os fundos da casa...

Um jogo, mas que escolha ele tinha? Em silêncio, começou a se mover na direção da viatura.


                                     ***

- Vamos dar a volta até os fundos - sussurrou Jennifer. A arma parecia incrivelmente leve em sua mão. - Estou com uma estranha sensação de que ele ainda está aqui.

Pete concordou com a cabeça e eles saíram da varanda. Ele foi na direção do caminho de cascalho, mas, quando viu Jennifer tomar outro caminho, hesitou apenas brevemente antes de segui-la. Desse lado, eles tinham que andar por entre árvores, com galhos estalando sob seus pés. A relva alta e as ervas daninhas roçavam em seus uniformes, produzindo um farfalhar. Eles pararam perto dos fundos da casa. Jennifer estava na frente e, encostando-se na parede, espiou pelo canto da residência.

O carro de Richard estava estacionado lá, com a porta do lado do passageiro aberta.

Jennifer segurou a arma na frente do peito, com o cano levantado, e fez um sinal com a cabeça naquela direção. Lentamente, Pete sacou sua arma.

Ela espiou de novo, examinando o quintal em busca dele, e depois fez um gesto para Pete segui-la. Eles se esgueiraram, tentando ser o mais silenciosos possível.

Passaram pelas janelas do canto.

Prestando atenção...

Jennifer notou que os pássaros tinham ficado em silêncio.

Passaram pela varanda. Viram que a porta dos fundos estava aberta. Jennifer fez um sinal e Pete assentiu antes de e mover na direção da casa.

Agora estavam perto do carro. Vindo do interior, Jennifer ouviu o som baixo do rádio, sintonizado numa estação de Jacksonville que tocava músicas antigas. 

Jennifer parou, olhando de um lado para o outro. Ele está lá fora, pensou. Está nos observando agora.

Como fez com Julie.

Em sua mente, viu o que restara do rosto de Andrea. Olhando por cima do ombro, viu Pete na varanda dos fundos, se aproximando da porta aberta.

Foi então que ouviram o grito.

Foi um grito lancinante, angustiante e agudo, e Jennifer quase puxou o gatilho. Hesitou apenas por um momento antes de trocar um olhar com Pete.

O grito viera da frente da casa.

Pete saiu da varanda e começou a correr pelo caminho por onde tinham vindo. Jennifer se virou para segui-lo. Eles deram a volta na casa e avançaram por entre os arbustos, fustigados por folhas e galhos enquanto se dirigiam de volta para a frente da propriedade.

Mas quando chegaram lá, não viram nada.

Tudo estava exatamente como antes.

Então eles se separaram, Pete se aproximando da frente da casa e Jennifer indo para o quintal.

Ela estava com a boca seca e a respiração ofegante, tentando permanecer calma. A uma curta distância, avistou um grupo de árvores de pequeno porte cercado de mato, lembrando um esconderijo camuflado de caçador.

Olhou para o outro lado e depois para trás. Sentiu a arma em sua mão escorregadia por causa do suor.

É lá que ele está, pensou. Escondido, e quer que eu vá até ele. Atrás dela, ouviu Pete andando no cascalho.

Jennifer ergueu a arma à sua frente, como seu pai lhe ensinara.

- Sr. Franklin, sou a policial Jennifer Romanello e estou com a minha arma em punho - disse devagar e em voz alta. - Identifique-se e saia com as mãos para o alto.

Pete se virou ao som da voz de Jennifer e, vendo o que ela estava fazendo, começou a ir em sua direção, atravessando a entrada para automóveis. Como ela, estava com a arma apontada.

Dos fundos da casa veio o som de um motor sendo ligado. Ouviu-se um ronco quando o acelerador foi pressionado até o fundo, os pneus fazendo as pedras saltarem. Vindo do outro lado da casa, o carro corria na direção deles.

Pete ficou paralisado no meio da entrada para automóveis; viu o automóvel um segundo antes de Jennifer.

Não diminuiu a velocidade.

Por um momento, Pete não se mexeu. Apontou a arma para o veículo, mas hesitou, e àquela altura até Jennifer pôde ver o que iria acontecer.

No último instante, Pete se lançou para fora do caminho enquanto o carro passava depressa por ele. Caiu de peito no chão, como um jogador de beisebol deslizando para a base, e a arma voou de sua mão.

Jennifer só teve uma fração de segundos para atirar, mas com o mergulho de Pete e a visão dificultada pelas árvores, optou por não fazer isso.

O carro seguiu ruidosamente pela rodovia, derrapou ao fazer a curva e sumiu de vista, deixando um rastro de cascalho espalhado.

Jennifer correu na direção de Pete. Quando o alcançou, ele já estava se levantando e começando a procurar sua arma.

Segundos depois a encontraram e correram para a radiopatrulha, sem dizer uma só palavra. Jennifer foi para o lado do passageiro e pulou para dentro. Eles bateram suas portas ao mesmo tempo. Instintivamente, Pete procurou as chaves na ignição.

Não estavam lá.

Foi então que Jennifer percebeu que os fios do rádio haviam sido arrancados do painel.

Já não se ouvia mais o som do carro de Richard.

- Droga! - gritou Pete, batendo com força no volante.

Jennifer pegou seu celular e telefonou para a delegacia. Como aquela era uma cidade pequena e só haviam uns poucos policiais de serviço, não teve muita esperança de que conseguissem alcançar Richard a tempo. Quando desligou, Pete olhou para ela.

- O que faremos agora?

- Vou entrar.

- Sem um mandado?

Jennifer abriu a porta e saiu.

- Richard tentou atropelá-lo e provavelmente está prestes a machucar outra pessoa. Acho que este é um motivo legítimo para entrar, não acha?

Um segundo depois, Pete Gandy estava atrás dela.

Mesmo cheio de adrenalina e frustração, ele não pôde deixar de notar que, no que dizia respeito a aprender as regras, Jennifer Romanello parecia ser bem rápida.


                                                          ***

Assim que entrou, Jennifer se surpreendeu com a normalidade do ambiente.

Aquela casa poderia ser de qualquer um, observou.

A cozinha estava impecavelmente limpa, com a pia brilhando à luz do sol e um pano de prato bem dobrado em cima. Não havia nenhuma panela no fogão ou louça suja no balcão. Se a fotografassem, ninguém notaria nada errado. Embora fosse obviamente antiga - a geladeira parecia um dos modelos anunciados no catálogo da Sears logo após a Segunda Guerra Mundial e não havia máquina de lavar louça ou micro-ondas -, a cozinha parecia quase aconchegante, do tipo que as crianças se lembram quando pensam em seus avós.

Jennifer seguiu em frente, passando pelo que um dia fora uma saleta para café da manhã. O cômodo era surpreendentemente claro, com o sol da manhã inclinado sobre o alto da  vidraça e enviando raios dourados para o chão. O papel de parede  com um discreto padrão floral amarelo-claro e o teto de carvalho lhe davam um ar suntuoso. A mesa era simples, com cadeiras bem arrumadas ao redor. 

Ela foi para a sala de estar, pensando novamente que ali não havia nada fora do comum.  A mobília era simples e tudo estava em seu lugar. Entretanto...

Jennifer demorou um momento para perceber o que estava errado.

Não há nada de pessoal aqui, pensou. Nada. Nenhuma fotografia ou quadro nas paredes, nenhuma revista, nenhum jornal na mesinha lateral, nenhuma planta. Nenhum som estéreo ou CD, nenhuma televisão.

Apenas um sofá, mesas de canto e luminárias.

Jennifer ergueu os olhos para as escadas. Pete vinha atrás, empunhando sua arma.

- Isto está um pouco vazio, não é? - observou.

- Vou subir - disse ela.

Pete a seguiu. No segundo andar, eles observaram o corredor antes de irem para a direita. Abrindo a porta, encontraram o quarto escuro e ligaram o interruptor. Banhada pela luz vermelha, Jennifer subitamente sentiu as pernas fracas ao perceber o que Richard estivera fazendo com seu tempo desde que deixara o trabalho.

- Que Deus nos ajude - foi tudo o que conseguiu dizer.


                                         ***

Sem querer chamar atenção para si mesmo, Richard desacelerou o carro quando chegou às estradas principais.

Seu coração batia depressa, mas ele estava livre! Livre! Tinha escapado quando a fuga parecia impossível. Deu uma gargalhada. Ainda podia ver as caras dos policiais quando passou pela entrada de automóveis; sentia-se nas nuvens.

Uma pena que Pete Gandy tivesse saído do caminho. Em sua cabeça, podia imaginar o delicioso plaft quando o carro o esmagasse, mas infelizmente Pete viveria para um novo dia.

Richard deu outra gargalhada, radiante, e começou a se concentrar em seu plano.

Tinha que se livrar do carro, mas queria se afastar o máximo possível de Swansboro. Entrou na rodovia que levava a Jacksonville. Estacionaria o carro em um lugar onde não pudesse facilmente ser visto e começaria sua busca por Julie.

Lembou-se de que uma vez Jessica também tentara fugir, achando que tinha sido cuidadosa. Pegou um ônibus que cruzou metade do país e esperou que ele simplesmente a deixasse ir. Mas ele a encontrara e, quando abriu a porta do motel decadente em que ela estava e a encontrou sentada na cama, Jessica não pareceu surpresa ao vê-lo. Ela já o aguardava e, no final, a espera a havia exaurido. Nem teve energia para gritar. Quando Richard lhe entregou o medalhão, ela o pôs no pescoço, como se soubesse que não tinha opção.

Ele a ajudou a se levantar da cama, ignorando a letargia dos seus movimentos, e a abraçou. Enterrou o rosto em seus cabelos, sentindo seu cheiro, enquanto os braços de Jessica pendiam nas laterais do corpo.

Você não pensou que eu a deixaria ir tão facilmente, pensou? sussurrou-lhe.

Por favor, murmurou ela.

Responda.

As palavras de Jessica saíram debilmente.

Não, você não me deixaria ir.

Você errou ao fugir, não foi?

Jessica começou a chorar, como se enfim percebesse o que estava por vir.

Ah... por favor... não me machuque... por favor, de novo não...

Mas você tentou fugir, disse ele. Isso me magoou, Jessica.

Ah... Deus... por favor... não...


                               ***

Em pé à porta do quarto escuro, Pete Gandy piscou algumas vezes, virando a cabeça de um lado para o outro enquanto tentava assimilar aquilo tudo.

Presa nas paredes havia centenas de fotografias de Julie: saindo do salão e entrando no carro; no bosque, levando Singer para passear; no bar; no supermercado; na varanda dos fundos; lendo o jornal; pegando a correspondência na caixa de correio. Julie na praia. Julie na rua. Julie no quarto.

Julie em todos os lugares onde estivera no último mês.

Jennifer teve uma sensação devastadora. Nem ela havia esperado por isso. Queria ficar ali por mais tempo, sabia que era importante vasculhar o resto da casa em busca de sinais óbvios de que Andrea estivera ali. Pete ainda estava paralisado no mesmo lugar.

- Não consigo acreditar que esse cara... - sussurrou, quando Jennifer esbarrou nele ao passar.

No segundo quarto, ela encontrou o equipamento de ginástica de Richard. Ele havia pendurado um espelho lá, cercado de mais fotos. Jennifer se dirigiu à última porta, que presumiu ser a do quarto do suspeito. Embora não estivesse certa de que estava agindo dentro da lei, decidiu dar uma olhada enquanto esperava a chegada de reforços.

Abriu a porta e viu uma cômoda antiga que parecia ter sido deixada para trás por quem morara lá antes. No armário, encontrou as roupas de Richard cuidadosamente penduradas. Viu o cesto encostado na parede e o telefone no chão perto da cabeceira da cama.

Mas foi a foto na mesa de cabeceira que chamou sua atenção.

No início, pensou que fosse Julie. Os cabelos eram iguais e os olhos, uma mistura de azul e verde. Um momento depois, porém, percebeu que não era Julie, apenas alguém que se parecia muito com ela. Segurando uma rosa junto ao rosto, a mulher na foto era alguns anos mais nova que Julie e tinha um sorriso quase infantil.

Quando Jennifer pegou o porta-retrato, notou o medalhão no pescoço da mulher. O mesmo que Julie mostrara na cozinha.

O mesmo...

Seu pé bateu em alguma coisa pesada, embora fácil de mover. Olhando para baixo, viu a ponta de uma pasta debaixo da cama.

Ela a pegou e pôs sobre o colchão.

Dentro, havia dúzias de fotos da mulher do porta-retrato, e Jennifer começou a olhá-las.

Pete foi para o lado dela.

- O que é isso? - perguntou.

Jennifer balançou a cabeça.

- Mais fotografias - disse.

- De Julie?

- Não - respondeu Jennifer, virando-se para ele. - Não tenho certeza, mas acho que são de Jessica.


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