2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (20...

By FabioLinderoff

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Uma das histórias mais famosas do Orkut está de volta em uma edição totalmente revisada. Fábio Linderoff é... More

Fábio Linderoff apresenta
Agradecimentos
Nota do autor
Prefácio
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
VERDADE ENTRE CUECAS
FÓRUM

Capítulo 12

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By FabioLinderoff


Parei diante de meus pais e disse:

- Sou gay.

Foi simples assim.

Meus pais estavam sentados no sofá de casa. Entreolharam-se e me olharam de volta.

- Como é que é? - Meu pai disse levantando e arrumando a calça na cintura.

- Sou gay mesmo. É o que é.

Minha mãe se levantou e foi segurar meu pai que já estava vindo para cima de mim.

- Ele está brincando, meu bem. - Minha mãe disse segurando meu pai e olhando pra mim, ordenou: - Pede desculpas pro seu pai, moleque. Mas o que é isso agora?

- Não era essa a dúvida de vocês? - Perguntei.

Meu pai passou a mão na cabeça. Minha mãe me olhava fixamente.

- Meu bem, isso é uma fase. Todos os adolescentes passam por isso. Logo ele vai ver que ele gosta mesmo é de menina. Ele sempre namorou menina, não é Fábio?

- Namorei, mas agora eu estou curtindo um cara aí.

- Quem é esse Paulo? - Meu pai perguntou diretamente.

- Ele é meu...na...namo...meu namorado. - Respondi fechando os olhos. Meu estômago estava um nó. Estava até com enjôo.

- Namorado na casa do caralho! - Meu pai berrou - Sua mãe não pariu uma menina. Eu pus um macho no mundo! Se você não respeita nem eu e nem sua mãe, honre pelo menos o que você carrega no meio das pernas!

Aquilo iria ficar gravado em minha memória para sempre.

- Calma, bem. - Minha mãe dizia - Fábio, porque você está fazendo isso com a gente? A gente sempre tentou dar tudo pra você, meu filho!

Eu não sabia mais o que falar.

- A gente vai dar um jeito nisso. Isso é falta de igreja, quantas vezes eu tenho que te falar que você precisa cuidar mais da sua parte espiritual, Fábio?

- Eu não acredito nessas parada, mãe.

Minha mãe abaixou a cabeça. Meu pai virou-se para mim revoltado.

- Some da minha frente, Fábio. Desaparece, vai!

Fechei os olhos e quando abri eu estava em um parque com o Paulo na minha frente.

- Falei, cara.

- E eles? - Paulo perguntou.

- Tão malzão.

- Mas porque você foi fazer isso antes de me falar, Cabeção?

- Sei lá, meu. Não sei o que me deu, caralho. - Eu disse - Mas e ae, você vai falar pros seus pais também?

- Eu!? - Ele perguntou rindo - Claro que não! Aliás, nem sei se é isso que eu quero, Fabinho. Amo minha namorada, cara. Nem sei o que me deu pra fazer aquilo contigo na praia. Acho melhor a gente não se vê mais, bele?

Abri os olhos, assustado. Foi um pesadelo do inferno. Aquele dia eu acho que dormi tão perturbado que esse foi o sonho mais real que eu já tive em toda a minha vida. Lembro até hoje disso.

Levantei e estava descoberto. Daniel ainda dormia ao meu lado. A gente apagou. Meu coração ainda estava disparado. Olhei pro Daniel, ele estava dormindo de barriga para cima, o peito e uma perna estavam descobertos. Eu tinha dormido abraçado com um cara. Mas que merda eu estava fazendo com a minha vida? Se meus pais suspeitassem disso...não queria nem imaginar. Eu não era gay. Não podia ser gay. Se falar que eu era gay em sonho já me deixava mal, imagine um dia isso saindo de verdade da minha boca. Nunca! Esse viados tinham mais é que sumir da face da Terra pra parar de ficar fazendo a gente pensar merda. Olhei para o Daniel novamente. Parecia um anjo dormindo. Quieto. Olhei seu rosto. O lado direito do rosto estava inchado e um machucado no canto da boca. Eu tinha feito aquilo. Tinha agredido uma pessoa. E por quê? Porque o cara foi falar que gostava de mim. O fato de uma pessoa do mesmo sexo gostar de mim me incomodava tanto assim? Amor gerando violência? Onde eu estava com a cabeça? Aquilo estava me fazendo pirar.

Virei de lado e com a ponta dos dedos toquei levemente o rosto do Daniel. No lugar em que eu o tinha machucado. Ele abriu os olhos e me deu um sorriso. Fodi o rosto do cara e ele ainda sorria pra mim. Como pode?

- Ce ronca hein, véi. - Brinquei com ele.

- Vai se fude, Mané. - Ele respondeu com voz de sono.

- Isso foi o de menos. - Continuei zoando - Ce peidou a noite inteira, cara! Nem te deram educação não?

Ele ergueu os braços bocejando e espreguiçando-se. Deu risada e me empurrou.

- Cala a boca, trouxa. - Ele disse ainda rindo.

O assunto acabou. Ficamos mudos. Olhando um pro outro. Os dois deitados na mesma cama de solteiro. Meu sorriso murchou e de repente me bateu uma tristeza de ver o rosto do moleque estropiado daquele jeito.

- Foi mal, véi.

Ele baixou o olhar. Não sabia se tinha aceitado minhas desculpas.

Pra mim já era tão difícil estar ali. Pedir desculpas então nem se fala. Passei por cima de todo o meu orgulho. Ele sentou na cama. Não falou nenhuma palavra. Foi até o guarda-roupas e abriu a gaveta. Vestiu uma berma.

- Por que ce foi abrir o bico pra Dani, véi? - Perguntei.

- Fui falar de mim. Já te falei isso.

- E o que ce foi falar de você pra ela? - Perguntei.

- Fui me abrir, véi. Precisava desabafar, caralho. - Ele respondeu irritado.

- E como ela sabia do lance entre eu e Paulo?

- Ela viu vocês na balada. - Ele respondeu vestindo uma camiseta.

Fiquei mudo. Olhos arregalados.

- Ela te falou isso? Ela falou?

- É. Falou que quando foi se despedir de vocês, você e o Paulo estavam no amasso e ela não quis atrapalhar.

Meu Deus do céu, onde isso estava indo parar. Fiquei estático. Não sabia se sentia vergonha ou raiva do Paulo. Culpa dele. Só dele.

- E depois teve o lance da praia e tal. Que vocês dormiram juntos. Ela sacou vocês. - Daniel falou - Ela me perguntou se eu sabia de algo e eu disse que era pra ela perguntar pra você. Ela disse que nem precisava perguntar, que ela conhecia de longe, só de olhar, quando uma pessoa é...é...

- É uma porra. - Respondi - A mina está viajando, Daniel. Viu as paradas, não entendeu direito e está pensando merda.

Daniel pegou uma outra bermuda dele na gaveta e jogou pra mim. Me levantei e vesti.

- Cara, minha cabeça está desse tamanho, se você soubesse. - Eu disse.

Ele veio para perto e disse olhando pra mim:

- Relaxa, Mané. - Colocou a mão no meu ombro e me olhou com um sorriso. Achei aquilo muito viado.

Saí andando pra tirar a mão dele do meu ombro. Destranquei e abri a porta. Fui para o banheiro.

Última semana de aula. Acabei ficando com 7 na média da matéria do professor Marcelo. Será que aquela era a nota que ele dava pro meu desempenho na cama também? Foda-se. O que importava era passar pro próximo semestre sem DP. Zeraria tudo pra recomeçar a tortura novamente só no ano seguinte. Fim do ano já estava chegando. Época das pessoas renovarem votos de que vão emagrecer, que vão voltar a malhar, que vão comprar isso e aquilo. Tempo de calor também. Tinha sempre o costume de passar o Natal com meus pais e o Ano Novo com a galera. Quase sempre ia pra praia. Só teve um ano que eu não passei o Natal com meus pais. Foi quando consegui fazer intercâmbio e passei as férias nos Estados Unidos para conseguir aperfeiçoar o Inglês. E consegui. Mas ao contrário do que minha mãe pensava, não consegui voltar para o Brasil e ter o cargo de diretor de uma multinacional. Mãe só pensa merda. Estava trampando no shopping também porque era cômodo. Conseguia tirar uma grana legal de comissão, além do salário fixo. E como a loja que eu trampava vendia uns panos caros o nosso salário era bem legal. Mas quando eu me formasse, tudo mudaria. Apesar que com tudo o que estava acontecendo, nem sabia se estava no curso certo mais.

A semana passou e eu evitava de conversar muito. Comecei a investir em olhares para as bucetudas da facul. Eu tinha que namorar uma mina. Quem sabe se eu pegasse uma mina e ela me pirasse eu não parasse de pensar em Paulo, em gay e nessas porras todas. Eu tinha que na-mo-rar. Passei a tratar o Daniel bem melhor do que eu tratava antes. Mas evitava conversar sobre assuntos que levassem para o "lado negro da força". Claro que tivemos que explicar a briga. Pros caras de casa dissemos que era por causa da Tábata. Bati no Daniel porque ele estava pegando a mina que eu estava ficando. Pra Tábata ele disse que foi uma brincadeira de mãos com os caras de casa. Ela acreditou. No mínimo pensava que a nossa goma era um ringue. Tudo estava indo.

Meus pensamentos as vezes buscava uma lembrança do Paulo. Mas comecei a achar que talvez fosse melhor assim. O sonho que eu tive tinha mexido muito com a minha cabeça. E se eu começasse a gostar muito do Paulo? Gostar a ponto de querer algo mais sério? Não sei se o meu coração e minha cabeça aguentariam. Será que para os outros era fácil? Será que eram tão desencanados a ponto de não ligar para o que estão prestes a receber do mundo caso assumam uma orientação sexual? Mas aquilo também não era um botão. Se fosse eu já tinha desligado esse meu "lado" e viveria muito bem obrigado comendo buceta que era algo mais fácil de se aceitar.

Sábado levantei um pouco mais animado. Seria o dia da festa de despedida do Negão. Levantei e não tinha ninguém em casa. Quem não estava ajudando na festa do Negão devia estar se prostituindo, sei lá. Liguei a TV, fiquei só escutando e fui para a cozinha. Peguei um copo, enchi de leite, coloquei três colheres de Nescau, coloquei no micro pra esquentar. Peguei um pão, cortei, enchi de manteiga e fiquei esperando o microondas apitar. Não tive paciência. Tirei o leite antes. Se tivesse na casa do meu pai já gritar: Abrir a porta com ele funcionando quebra! Como velho é chato, né? Se comer e tomar banho, fica com a cara torta...Quando pequeno tinha medo de tomar banho quando chovia porque minha mãe dizia que eu ia ficar grudado no registro caso relampeasse e eu estivesse segurando-o. Bom, mas isso é fichinha, não é? Pra quem vem de uma geração que cantava uma música infantil sádica que começava com "atirei o pau no gato". Espera-se o que? Poxa, coitado do gato...

Eu estava tomando café da manhã, mas já eram quase meio-dia.

- E ae, Mané. - Cumprimentou Daniel entrando na cozinha.

- Opa, e ae véi, firmeza?

- Firme.

- Tá chegando ou está saindo? - Perguntei pegando o pão, o leite e indo pra sala.

Daniel encheu um copo com água e veio atrás.

- To chegando. Dormi na casa da Tábata.

- Tá assim agora, é? - Perguntei.

- Por quê? Está com ciúmes, Mané? - Ele perguntou.

Virei pra ele meio puto já. Pra que fazer uma brincadeira de viado com uma pessoa que estava em uma crise tão foda. Ele não tinha o senso mesmo.

- Eu sou cueca, Daniel. - Disse pra ele.

Ele entrou na cozinha, bebeu água e voltou pra sala. Sentou no outro sofá.

- Ae Mané, to precisando de um favorzão ae.

- Falae. Pagando bem que mal tem. - Eu disse mastigando o pão.

- Vai se foder, troxão. É sério a parada. Minha sobrinha faz aniversário amanhã. E meus parentes de Campinas vão vir pra cá.

- Por que não faz a porra da festa em Campinas? Não é mais fácil.?

- Não porque a minha irmã, mãe da minha sobrinha, mora em São Paulo. Na verdade o pai dela é dono de um Buffet infantil, mas ele está fazendo evento. Me pediu pra eu levar umas parada de isopor que vai por na mesa do bolo, uns enfeites e uns Cds de músicas pra lá. Fora uma porrada de caixas de cerveja. Ce não está afim de me ajudar, não?

- Porra, claro Dan. Conta comigo, é "nóis" irmão.

- Valeu, véi. - Ele disse trocando cumprimentos de mãos comigo.

- Daniel! - Chamei.

Queria perguntar pra ele porque ele foi falar pra Dani que me amava. Qual a necessidade dele compartilhar aquilo com alguém? Por que não guardou consigo ou veio falar diretamente para mim? Mas pensei melhor. Afinal de contas, quando fiquei mal por causa do Paulo eu me abri com ele. Tem horas que a gente precisa se abrir mesmo.

- Falae. - Ele disse tirando a camiseta e jogando-a por cima do outro.

- A Tábata vem pra festa, cara? - Disfarcei.

- Ah meu, mulher você sabe né...enrola pra caralho. Fez cu doce. Não sei se vem não. Vamos vê.

Nesse dia eu troquei de turno com uma mina nova do trampo porque ela tinha uma festa pra ir a tarde e como a parada em casa ia até de madruga nem liguei. Trampei das 14 às 22. Fechei o caixa e saí voado. Quando cheguei na minha rua pensei: Meu Deus, os vizinhos vão chamar a polícia. Tinha muita gente. Uma porrada de carros estacionados na rua. Um monte de gente bebendo e conversando na rua e na calçada. Cumprimentei quem eu conhecia e entrei. Não dava pra andar direito. Só na sala tinham mais de 20 pessoas. Tive que andar desviando e forçando passagem. A Tv estava ligada, mas ninguém ouvia por causa do som alto. Muito alto. Fui pro meu quarto e abri meu guarda roupas. Escondi as cuecas zoadas dentro do bolso de uma calça. Vai que alguma mina fuçasse ali. Peguei uma cueca, uma calça e uma camisa e fui para o banheiro.

Depois de tomar uma ducha e me arrumar, saí do banheiro e logo de cara ganhei uma latinha de cerveja. Comecei a andar no meio da galera disputando lugar e fui para a cozinha. Estava com uma larica e queria encher o bucho. Tinha Doritos, pão de forma com patê de alho e de atum, tinha refri pra mulherada, breja e Ismirnoff Ice pros cuecas. O som rolava solto, estava vendo a hora que alguém ia reclamar. Nem vi a cara do Negão quando chegou e viu a surpresa. Só sei que ele estava felizão conversando com a galera da sala dele da faculdade e junto com o Alemão. Ele estava abraçado com uma negona que eu nunca tinha visto. Estava um inferno, mas estava gostoso.

Tinha gente da minha sala ali também e eu fui trocar idéia com os caras. Comecei a virar o caneco. Logo logo ia ficar virado no Jiraya...já estava prevendo. No meio daquela confusão, comecei a ver que vira e mexe casaizinhos iam de mãos dadas para os quartos. Na certa meter, né? Ainda bem que escondi minhas cuecas zoadas.

Não demorou muito pra eu ver o Daniel se aproximando. Estava com uma batida de côco nas mãos. Eu não curto côco, nem aceitei o gole que me ofereceu. Minha mãe enlouqueceria se visse aquele pandemônio.

As pessoas bebiam muito, fumavam muito cigarro e baseado, comiam muito. A casa virou um nojo. Era pedaço de pão pisado no chão. Copo de plástico em cima da TV, do rádio, nos cantos, amassados no chão. O chão em alguns pontos estava molhado. Tinha fila pra usar o banheiro. Um entra e sai de gente carregando cerveja pra lá e pra cá. As meninas gritavam de alegria, os caras se abraçavam, se esmurravam. Comecei a analisar meu alvo. A primeira mina que entrasse por aquela porta seria minha. E pra minha surpresa entrou uma mina: Tábata.

Olhei pra ela e ela me olhou e olhou pro Daniel que não estava longe. Era a primeira vez que nos víamos desde a Chácara. Embora vira e mexe ela aparecesse na porta da facul, eu e meus camaradas não ficávamos no mesmo ponto que ela, então nunca trocamos uma ideia firmeza. Ela era linda, morena dos olhos verdes. Cabelão preto, pele branca feito uma folha de sulfite. Tinha um piercing no nariz e estava usando coturno preto, saia jeans e uma blusinha branca. Estilosa.

- Oi Fábio. - Ela disse chegando perto e balançando os dedinhos da mão.

- Eae, Ta! - Disse dando um beijo nela.

Trocamos olhares de "senti saudades e você não me procurou" e ela foi com o Daniel. Se jogou nos braços dele dando um beijo em sua boca. Olhei aquilo e fiquei observando os dois. O carinho dele em abraçá-la, ao tirar o cabelo da frente dos olhos dela, beijando-a na boca. Meu sorriso sumiu. Dei meia volta sem que ninguém notasse minha ausência e fui para a cozinha. Precisava beber. Precisava beber até explodir!

Troquei idéia com outras pessoas, mas era incrível porque meu olhar sempre procurava o casalzinho idiota. E lá estavam eles no amasso, encostados na parede. Fui pra fora. Estava de boa lá e de repente os dois surgem de mãos dadas pra conversar com umas pessoas, não demorava muito e via Daniel abraçando a Tábata por trás. Ia pra cozinha e via eles na sala novamente. Eles não faziam de propósito, mas eu estava prestes a jogar uma lata de cerveja na cabeça dos dois pra pararem de atrair minha atenção. A única mina que me atraiu, além da Tábata, e que decidi investir, tinha namorado e tinha medo de traí-lo e ele ficar sabendo. Como que vinha a uma festa daquela sem namorado então, né? Fiquei puto e quase enterrei a cara dela no patê de atum. Filha da puta. Como tinha coragem de se recusar a ficar comigo? Já estava legal já. Tinha bebido, tinha fumado um com os caras da sala do Negão. Estava legalzão.

A festa estava ótima, mas bêbado é bêbado, né? Sempre arruma algum jeito de estragar a festa...dos outros. Sabendo disso comecei a ficar na minha. Não queria causar. Comecei a ficar mais na minha, mais quieto. Sentei no banquinho da varanda e lá fiquei. Comecei a me sentir muito sozinho. Pensei no que Paulo estaria fazendo naquele momento. No mínimo estava pedindo pra mina dele enfiar um nabo no cu dele, sei lá. Filha da puta de moleque. Mas eu estava melhorando. Aos poucos eu sentia que estava desencanando. Se eu pensasse que em breve eu nem lembraria que o Paulo existisse aí que eu ficava mal. Porque o que rolou entre eu e ele foi uma parada muito forte pra mim. Me deixava muito mal pensar que pra ele não significou porra nenhuma. Sim porque se tivesse significado o puto não teria sumido, teria? Via aquele mundo de gente feliz e pensava comigo: será que algum desses caras sequer tem um problema parecido com o meu?

Não demorou muito e alguém sentou ao meu lado.

- E ae Mané, está curtindo? - Daniel perguntou me dando um cutucão com o ombro.

- Ô. - Respondi quieto - Cadê a Tábata?

- No banheiro. - Ele respondeu - Não mente pra mim, leke. O que ce tem?

Olhei pra ele meio zarolho já por causa do álcool.

- Preciso namorar, véi. - Disse pra ele - Preciso ficar com uma mina urgente.

- Porra olha quanta "muié" tem aqui, Mané. - Ele apontou.

Olhei para a multidão e não vi ninguém que me agradasse.

- Não tem ninguém aqui que te agrada? Aponta ae uma que eu dou um jeito.

- Até tem uma, mas nem rola. - Eu disse.

- Quem é? Falae que a gente dá um jeito.

Olhei pra ele e respondi:

- A Tábata, véi. Queria dar uns catos na Tábata, tá ligado?

Daniel ficou quieto. Mudo. Cabisbaixo. Mas depois respondeu:

- A Tábata não tem como, véi. Eu to ficando com ela já faz mais de um mês já.

Eu estava tão bêbado que já tinha perdido a noção do que estava falando. Mas foda-se, não foi o próprio Daniel que veio me dizer que me amava? Então pronto. Ele que demonstrasse isso. Se ele me amasse ele deixaria eu ficar com a mina dele. E ele não chegou dizendo que daria um jeito? Pois é. Aquele era o momento certo pra provar isso.

- É, mas você está ligado que eu peguei ela primeiro né, véi? - Eu disse.

- Tem nada a vê, Mané...ce está chapado já. - Ele disse.

- Vai se foder então, Daniel. - Eu disse e saí de perto dele.

Ao entrar em casa trombei com a Tábata de frente. Olhei bem nos olhos dela e ela nos meus. Naquele momento eu senti que havia bem lá no fundo a vontade de matar saudades comigo. Talvez o álcool tivesse aberto esse meu sexto sentido. Saí da frente da mina e fui pra cozinha pegar outra breja.

Peguei outra breja, fechei os olhos e senti a casa girar. Meus lábios já estavam um pouco adormecidos. Foda-se. Aquele dia eu morreria de coma alcoólico. Parei na fila do banheiro pra poder usá-lo e logo começou a tocar bem alto um daqueles pagodes do Negão. Eeeeita pagode ruim da porra. Odiava pagode. Mas era pôr aquilo e logo vinha meia dúzia sambar no meio da sala. Umas até conseguiam, outras pareciam que estavam possuídas por um demônio, sei lá. Nem todo mundo nasceu pra dançar.

Mijei e quando saí do banheiro, Daniel estava vindo do quarto dele com um CD na mão. Enquanto ele esperava a música acabar pra trocar de CD a gente era contemplado com aquela visão do inferno. Um dos amigos do Negão ajoelhado fingindo tocar pandeiro perto da bunda de uma mina. Olhei aquilo e pensei: você é um merda, cara. Eu se fosse a menina teria peidado na cara dele pra ver se ele saía fora. Encostei na parede bem ao lado da Tábata.

- Você gostaria que uma pessoa tentasse conquistar a sua atenção assim? - Perguntei pra ela, apontando o camarada de joelhos.

- Nem fodendo. - Ela respondeu.

Hummm tinha falado um palavrão. Queria se enturmar. Mulher quando começa a falar palavrão em um ambiente só de cueca é porque ela quer se aproximar. Acho que se eu apertasse, ela ficava comigo. Com sorte comia ela dentro do banheiro. Daniel? Aff...ele era bicha, meu. Estava na cara que ele estava com a Tábata pra manter uma imagem. Acho que ele nem ligaria. Me apoiei na parede com um braço, como se a estivesse protegendo.

- Mas é romântico fazer uma declaração cantando, ce não acha? - Perguntei pra ela, me aproximando, mexendo em seus cabelos.

- Tem que ter coragem hein, Mané. - Disse o Daniel rindo, se intrometendo.

- Porra, ce uma mina igual você cantasse pra mim eu acho que casava na hora. - Eu disse.

Olhei pro Daniel e ele fez sinal negativo pra mim com a cabeça. Olhei de novo pra Tábata e ela olhou pro Daniel, olhou pra mim e abriu um sorriso sem graça e foi se abraçar ao Daniel.

Puta!

Quando a música acabou, Daniel trocou o Cd. Era alguma porcaria dos anos 80. Daniel era viciado em música trash. Apesar da moda ter voltado e um monte de baladas em São Paulo tocar Xuxa e o caralho, eu não curtia. Mas algumas coisas eram legais. Começou a tocar A Little Respect do Erasure. Fiquei na minha vendo o casalzinho dançar. Olhei pro Daniel e vi ele remexendo a cintura gostoso. Meu pau deu um leve sinal de assanhamento.

- Ai meu caralho, viu. - Eu disse saindo fora. Fui pra cozinha. Sentir tesão vendo um cara dançar já era demais.

Apoiei os braços na pia e comecei a respirar fundo. Estava tonto já. Fechei os olhos e a casa girou.

- Tá passando mal, viadinho? - Negão perguntou passando por mim, pegando um lanche pra ele.

Não respondi. "Viadinho" ele disse. Não, cara. Não podia ser. Eu não podia ser isso. Jamais aguentaria as pessoas dizendo isso de verdade, na real pra mim. Eu precisava encontrar meu eixo novamente. Ia pegar a Tábata. Com ou sem o consentimento do Daniel. Peguei uma breja na geladeira e voltei pra sala.

Cheguei com minha latinha, bem lentamente, só com um jogo de ombro assim, sabe. Sexy. Bom, eu estava achando sexy, quem visse um bêbado fazendo isso, sei lá, o que pensava. Fui bem devagar. Agora a cabeça. Pra lá e pra cá. Tinha que organizar os passos na minha cabeça. Tinha que impressionar. Ombrinho e cabecinha...estava legal. Estava dançando. A sala estava cheia de gente. No meio da sala entre os sofás estavam Daniel e Tábata dançando juntos. E pra lá eu fui. De ladinho, com minha latinha, balançando o ombro e a cabeça. É, meu amigo, aqui o dançarino é "profissa". Quem me visse ia me chamar pra fazer parte de algum grupo por aí. Mas quando eu cheguei perto tive que admitir que o Daniel dançava muito melhor que eu. Ele dançava de frente pra Tábata. Ele era sexy, o puto. Olhei aquilo e parei de mexer a cabeça. Só o ombrinho pra não perder a graça. Quando o Daniel beijou a mina na boca, afe Maria, aí não tinha como. Parei de dançar. Fiquei olhando. A música acabou. Eu tinha que fazer alguma coisa.

Logo uma outra música começou. Aquela eu conhecia. Era um sucesso de 1985. Minha mãe cantava aquela merda de música. Se eu quisesse impressionar teria que ser aquela hora. Corri e aumentei o volume. O som tomou conta da casa inteira. Isso era quase uma e pouco da madruga.

A música começou. Batidas características dos anos 80. Tinha uma sonoplastia de fundo. Um som de telefone tocando. Toquei no ombro da Tábata fingindo com a mão que estava ao telefone. Ela me olhou e achou engraçado. Ergueu a mão e ficou com o dedão no ouvido e o dedinho na boca fingindo que estava no telefone também. Os diálogos que se seguiram era na verdade a letra da música:

- Alô? - Perguntei.

- Alô? Quem é que tá falando? - Ela disse rindo e olhando pro Daniel.

- É o amante profissional. - Respondi. Olhei pro Daniel e ele começou a rir.

- Como é que você é, hein? - Tábata perguntou.

Corri pra cima de um sofá e continuei:

- Moreno alto, bonito e sensual. Talvez eu seja a solução do seu problema - Desabotoando minha camisa, continuei dublando - Carinhoso, bom nível social...

A sala começou a encher de gente todo mundo começou a rir de me ver bêbado em cima do sofá. Tirei a minha camisa, passei pelas minhas pernas e fiquei montado nela, esfregando-a pra trás e pra frente. Depois joguei a camisa pro Daniel. Ele pegou no ar. Continuei:

- Inteligente... - Encostei meu dedo na cabeça indicando que era de fato inteligente - E à disposição...

Olhei pro Daniel e cantei:

- Pr'um relacionamento Íntimo e discreto. Realize seu sonho sexual...

Corri pro outro lado do sofá. Apoiei um pé no braço do sofá, virei o corpo e apontei o dedo indicador para a Tábata e cantei:

- Prá qualquer tipo de transação. Sem compromisso emocional. Só financeiro. E o endereço prá comunicação. Prá caixa postal. Do amante profissional...

Desci do sofá e berrei o refrão rebolando perto deles:

- Amor sem preconceito, Sigilo total! Sexo total! Amante profissional!

A galera começou a rir, mais gente entrou na sala e em pouco tempo estava todo mundo apertado tentando dançar. Tábata e Daniel dançavam também dando gargalhadas. Daniel me empurrou brincando, entrou na frente da Tábata e cantou:

- Moreno alto, bonito e sensual, Talvez eu seja a solução do seu problema. - Apontando pra si continuou - Carinhoso, bom nível social...

Filho da puta roubou minha idéia. Não parei de dançar. Estava locão. Precisava extravar.

- Inteligente e à disposição - Eu disse pra ela apontando pra mim.

Daniel foi atrás dela e cantou olhando pra mim:

- Pr'um relacionamento Íntimo e discreto. Realize seu sonho sexual...

Deu uma piscada pra mim. Olhei direito e ele estava rindo. Cara de puto ainda por cima. Ele piscou pra mim dançando com a própria namorada. Affe Maria. Entrei na dele pra ver até onde ele ia,

- Prá qualquer tipo de transação, sem compromisso emocional, só financeiro - Cantei olhando pra ele. Ele abraçou a Tábata por trás e beijou sua cabeça. Continuei: - E o endereço prá comunicação, prá caixa postal, do amante profissional...

De repente veio a multidão pro meio da sala, um empurra-empurra da porra e todo mundo berrou o refrão:

- Amor sem preconceito. Sigilo: total! Sexo: total! Amante profissional...

Todo mundo se abraçou e começou a pular juntos. Eu abracei a Tábata e ela abraçada em Daniel. Fiquei olhando pra ele e ele pra mim e berrávamos olhando um pro outro e pulando:

- Amor sem preconceito. - Ele dizia.

- Sigilo? - Eu perguntava.

- Total! - Ele respondia.

- Sexo? - Eu perguntava.

- Total! - Ele respondia e depois nós dois juntos cantávamos:

- Amante profissional.

Ninguém a nossa volta se tocou sobre nós dois. A música acabou e todo mundo gritou. Eu estava sem camisa e com sede.

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