Bruxa! Feiticeiras! Traidores!
Queimem todos eles!
Isso era o que se ouvia do lado de fora do calabouço. Mesmo de longe, podia se ouvir os gritos da multidão enfurecida.
Acácia observava atentamente as pessoas se reunindo para a execução que ocorreria em pouco tempo, e só a ideia de que seu povo, as pessoas que uma vez a acolheu com tanto carinho, um dia, se voltaria para ela, e seus amigos. Tudo isso, só por que ela não conseguiu controlar seus poderes... Mais uma vez.
- Nosso tempo está se esgotando... – murmurou Pietra em um canto.
Pietra não tinha mais do que 16 anos, de cabelos loiros, levemente encaracolados, e olhos azulados. E vestia um vestido simples na cor vinho com mangas com estampa verde, e sandálias de couros um pouco desgastadas.
- Precisamos sair o mais rápido daqui... – dizia Théos, acorrentado na parede, pois dos três, ele fora o único que recusou ir por vontade própria, e por ter enfrentado os guardas – Acácia, você não pode falar com 'eles'? Quem sabe possam nos ajudar?
Théos tinha 18 anos, meio franzino, de cabelos loiros, um pouco desgrenhados, e olhos azuis, e vestia uma túnica bege um pouco suja, com um cinto de couro, calças marrons, e estava descalço.
Pietra e Théos eram órfãos, e moravam aos arredores do reino, na parte mais temida pelos outros moradores, e Théos era que sustentavam a família, trabalhando no campo, enquanto Pietra cuidava da casa. Eles foram os primeiros que abrigaram Acácia, sem pensarem em segundas intenções com há jovem um pouco misteriosa, que os ajudava com a casa, e trabalhava para eles, como forma de compensar a bondade dos irmãos.
Com o tempo, acabaram descobrindo que ela não era apenas uma viajante comum, e sim uma deusa menor, que havia renunciado um lugar no Olimpo, para que pudesse viajar pelo mundo dos mortais, descobrindo coisas novas. Zeus já havia a alertado sobre o quão estupido era a ideia de Acácia, mas a jovem não o ouviu e foi mesmo assim, por séculos, mas sempre que estava se acostumando a algo... Seus poderes apareciam e estragavam todos seus planos... E nessa época não foi diferente.
Durante um festival de outono, os três haviam ido até o reino para se divertirem. Todos os jovens do reino ficaram atrás de Acácia, por causa da beleza da jovem, até o próprio príncipe tentou investir na jovem, mas sem sucesso, pois ela havia ido apenas para se divertir e não ficar procurando rapazes.
Com raiva do desprezo dela, o príncipe Thomas V, a seguiu e a tentou tê-la a força, e nesse momento Acácia deixou que seus poderes escapassem e acabou matando o príncipe. O rei ordenou que a prendesse por bruxaria, e quando seus dois únicos amigos, tentaram defende-la, acabaram indo junto com ela, por complô.
- Não sei se eles irão fazer algo por mim. Já o reneguei várias vezes... – disse Acácia os encarando novamente, mas quando viu que eles contavam com ela, não conseguiu continuar negando eles -... Mas... Não custa tentar
Ela se ajoelha no chão, fechando os olhos, e tentando visualizar o conselho, e com um pouco de esforço, conseguiu vê apenas os grandes, Zeus, Hera e Hades, a encaravam inexpressivos.
- Ora, veja só quem deixou o orgulho de lado e resolveu vem pedir ajuda – ironizou Zeus, a encarando com desdém.
- Só... Estou aqui por causa dos meus amigos, não me importo em morrer, afinal não seria a primeira vez – encara a jovem deusa aos grandes, e Hades toma a palavras.
- Você já brincou demais com a morte Acácia, estou cansado de ficar te trazendo de volta TODAS ás vezes que você morreu – vocifera o deus do submundo se aproximando dela – Chega, dessa vez, não livrarei você dessa. Nem Hebe ou Esculápio irão mudar minha decisão.
- Hades está certo em alguns pontos, Acácia. Você já aproveitou tempo o bastante na terra. Deixamos você ir, por causa de nossa filha, mas avisamos para tomar cuidado – disse Hera calmamente, ma sua expressão mostrava o quão irritada estava com essa situação. Não era a primeira vez que sua neta vinha pedir ajuda para livra-la da morte, e apenas concedia o pedido por causa de Hebe, mas a cada vez que fazia isso, apenas alimentava a ira de Hades.
- Mas só estou pedindo que salvem meus amigos! Eles não merecem a morte – protesta a garota.
- A hora deles iria chegar, você apenas apressou a ida deles – ela olhou para trás e viu o deus Tânato, se aproximando da jovem, que com medo, se encolheu ao vê-lo. Por mais que ele fosse gentil com ela, Acácia não confia nele, ainda mais por ele ser o deus da morte – Tem certas coisa que devemos deixar rolarem.
- Não! Não pode fazer isso! Eles... Eles foram pessoas tão boas...
- Garanto que eles terão lugar nos campos Elísios – diz Tânato.
- Acácia, seu tempo na terra já acabou. Você tem que decidir-se de uma vez... Ou irá voltar para o Olimpo, para aprender a controlar seus poderes, ou morrera junto com eles – diz Zeus autoritário encarando a neta, que o encara incrédulo – Hades tem razão... Por incrível que pareça...
- Mas... Não podem fazer isso!
- Podemos e faremos –ameaça Hades.
A garota fica muda, pois ela não espera que seus avós fossem tão radicais a esse ponto, mas ela não iria desistir de seus amigos... Não, e se fosse para morrer, que morresse. Pois ela não aguentava mais a indiferença dos outros deuses a vida humana. Eles eram um bem tão precioso para Acácia, que se fosse para morrer com eles, ela faria.
- Então, qual sua decisão? – diz Hera.
- Odeio vocês! Não passam de divindades arrogantes, que não se importam com vida humana, e me recuso a continuar fazendo parte de vocês! - esbraveja a jovem, surpreendendo a todos os presentes ali, e se levantado chão – Um dia... Vocês se arrependerão de serem tão ignorantes com eles. E terão que abaixarem as cabeças aos humanos!
- Há! Não seja tola. Nunca faríamos isso – diz Hades com desdém se retirando – Já que quer morrer com a escoria, que assim seja! Irei te esperar no tártaro.
Com um gesto ele e Tânato desparecem no ar, sobrando Zeus, que a encava com raiva, e Hera, com pena da decisão dela.
- Que assim seja – diz Zeus encarrando a conversa, e a garota acaba retornando ao calabouço, onde seus amigos ainda a encaravam com um pingo de esperança, e Acácia abaixa a cabeça, não os olhando de volta, e continuaram em silêncio até que os guardas fossem busca-los.
★☆★
Eles foram em direção à parte mais alta montanha, onde tinha vista para o oceano, e quando passavam pela multidão, eles os vaiavam, e os chamavam dos piores nomes possíveis. Com medo Pietra abraça seu irmão fortemente, enquanto chorava. Théos continuava indiferente, mas por dentro estava com medo. Acácia se sentiu muito mal por ter colocados eles nessa enrascada e tentava de todos os jeitos fazerem mudar de ideia sobre a execução dos irmãos.
No Olimpo, os deuses acabaram sabendo sobre a execução de Acácia e sobre ela renega-los, e por ordem de Zeus, ninguém interromperia a execução, e para a tristeza de Hebe, ela apenas teve que ficar ali assistindo. No mundo inferior, Hades esperava ansiosamente a garota, mas não para tortura-la, com muitos pensavam, mas ele pensava em outros planos para ela. A única que não ficou para assistir no Olimpo foi Hécate, que se disfarçou como uma camponesa com um enorme manto negro cobrindo seu rosto, e ficou ali esperando a hora. Hécate era contra a ideia da execução de Acácia, e iria salva-la, mesmo que fosse contra as regras.
Quando todos foram devidamente amarrados, e pedras bem pesadas foram amarradas aos seus pés, na ordem do rei, eles foram empurrados do penhasco, com um pouco mais de 10 metros de altitude.
Com as pedras amarradas aos seus pés, os corpos deles foram afundando bem rápido, e chegou o momento que nem Pietra ou Théos aguentou segurar o ar, e acabam morrendo, Acácia lutou um pouco mais, mas já quase perdendo as forças.
- αθώες ψυχές κρίθηκαν χωρίς καμία ενοχή. Ή υπόγεια, ή ταρτάρ ανήκουν ... ότι τα αποστάγματα τους περνούν από γενιά σε γενιά... – recitava Hécate em seu língua nativa.
Quando Hades estava quase alcançando os corpos inertes dos três, algo impediu de que ele prosseguisse, e os corpos deles começaram a emanar luzes. O de Pietra e Théos, era uma luz azul claro, e o de Acácia era um alaranjado, como a cor de fogo, e em de repente começou a enfraquecer.
- NÃO ACREDITO QUE FIZERAM ISSO! – vocifera Hades em seu trono, ao perceber que haviam ressuscitado novamente Acácia, e com muita raiva, descontou em todos seus lacaios – ACÁCIA! VOCÊ AINDA VIRÁ PARA O MUNDO INFERIOR!
Foi uma surpresa e tanto quando viram que o energia da deusa sumiu. Ninguém nunca mais conseguiu rastrear ela, ou os irmãos que estavam com ela, como se tivessem desaparecido misteriosamente. Por muito tempo, Zeus tentou procurar o responsável por isso, mas nunca encontrou. Hécate sempre se fez de desentendida, mas ela sabia onde eles estavam, acabaram reencarnando em novos corpos, e nem mesmo eles sabiam quem eles eram, ou do passado deles, e cada vez que morriam, reencarnavam novamente, atravessando gerações.
Mas a cada reencarnação, a 'nova' Acácia de algum modo sabia que não pertencia a tal época, e os deuses acabaram esquecendo-se de sua existência, dando ela por morta, e também por que eles tinham outras coisas para tratarem do que uma deusa desaparecida.
Mas... Aonde eles se escondem?