1- A Telepata_ Persuadidos

By JssikaSoares

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" No segundo que eu olhei para ele, eu sabia que não tinha mais volta." Sarah Rens é uma garota comum que... More

Ajuda dos leitores ;)
Sinopse
Capitulo 0 - Prólogo
Capítulo 1 - Nada menos que estranho
Capítulo 2 - Lar das pessoas inconvenientes
Capítulo 3 - Intocável
Me da uma estrelinha? Nunca te pedi nada :)
Capítulo 4 - Pequeno milagre
Capítulo 5 - Cowboy
Capítulo 6 - Alguém perfeito
Capítulo 7 - Megafone
Capítulo 8 - Quebrando Muros
Capítulo 9 - Casamenteira
Capítulo 10 - Pessoas que nem existem
Capítulo 11 - Despretensiosamente
Capítulo 12 - Pensar com você
Capítulo 13 - Se eu pudesse fazer o que ele faz
Capítulo 15 - Conclusões sobre a vida alheia
Capítulo 16 - Uma versão do garoto de olhos cinzentos
Capítulo 17 - Algo que estava por vir
Capítulo 18 - Novas vizinhas
Capítulo 19 - Maldita telepatia
Capítulo 20 - Dependeria da sorte e do destino
Capítulo 21 - Seguindo em frente
Capítulo 22 - A leveza de Zac
Capítulo 23 - Do que você tem tanto medo?
Capítulo 24 - Se você pudesse ver
Capítulo 25 - Me deixando envolver
Capítulo 26 - Viajem de feriado.
Capítulo 27 - Ela esconde tantos segredos quanto eu.
Capítulo 28- Não importa o que você escolha, o destino não muda
Capítulo 29 - Acho que estou completamente apaixonado por você.
Capítulo 30 - O destino nunca se altera, sempre se modifica.
Capítulo 31 - Como seguir em frente depois de estar com ele?
Capítulo 32 - Lobo na pele de cordeiro
Capítulo 33 - Tantas coisas nele faziam sentido naquele instante.
Você de roteirista, que tal?
Capítulo 34 - Agora estou pronta!
Capítulo 35 - Fique de olhos bem abertos, tente não perder nada.
Capítulo 36- Perto o suficiente da verdade.
Capítulo 37- Tudo parecia querer me engolir outra vez.
Capítulo 38- Era estupido prolongar aquela situação.
Capítulo 39 - Dessa vez não vai ter enganos.
Capítulo 40 - O preço por não pensar direito.
Capítulo 41 - Não desista amor, lute por nós.
Capítulo 42 - Eu estive lá esperando você cometer o menor dos erros.
Capítulo 43 - Não queria só a minha alma, queria me enterrar no inferno.
Capítulo 44 - Volte e tente terminar o que precisa ser terminado.
Capítulo 45 - Vamos viver a nossa vida a partir de hoje.
Capítulo 46 - Parecia que só os verdadeiros permaneceriam em pé aquela semana.
Capítulo 47 - Aquela bala nunca conheceu o destino que ele esperava.
Capítulo 48 -Bem longe de terminar. (FINAL)
Novas histórias :)
Continuação começa hoje 25/12
14 coisas que você não sabia sobre "A Telepata_"
***** Lançamento *****

Capítulo 14 - Rostos me encarando

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By JssikaSoares

Aquela semana seguiu bem.

Josh e eu passamos mais tempo juntos que o normal. Ele estava me ensinando como controlar meu dom melhor e fizemos progressos incríveis com o decorrer dos dias.

Eu havia entendido que meu dom devia ser expandido para que coisas novas pudessem ser feitas. Comecei a desenvolver pela primeira vez a minha habilidade de ver o passado somente com o toque nas pessoas. E quanto mais aprendia, mais me sentia perto de algo que não entendia.

Eu me sentia mais forte e ainda que a mente de Josh permanecesse um tumulo para mim era bom ter com quem dividir segredos, além de Suan é claro.

Em pouco tempo eu era capaz de controlar muito melhor meus limites e a facilidade de ver o passado se tornou algo singelo para mim.

Desde o dia na ponte do lago ele nunca mais tinha me beijado. A distração de aprender e ensinar não tinha nos dado um tempo para pensar em outra coisa que não fosse expandir minha mente.

A proximidade de Josh havia me trazido mais sonhos. Não só com coisas estranhas e pessoas que eu não conhecia como também com o garoto de olhos cinzentos. Ele estava cada vez mais presente, a cada sono e cada cochilo. Como se precisasse desesperadamente me mostrar que ele ainda estava ali. E que meu coração ainda lhe pertencia.

Tudo parte de uma loucura que parecia nunca ter fim.

Todos começaram a desconfiar da forma que eu estava sempre grudada em Josh. Aquilo nem precisava de telepatia para ser previsível.

-Então, o que vocês fazem todos os dias à noite?- perguntou Suan.

Mirian me olhava tão curiosa quanto Suan.

-Nada.

As duas se cutucaram e depois voltaram a me encarar. Elas sabiam o quanto aquilo me irritava. Aquele tipo de pressão deixaria qualquer pessoa desconfortável.

-O que vocês querem que eu diga?- me sentei no meu lugar de sempre no refeitório, já arrependida por ter decidido almoçar.

-A verdade.- disse Suan com as mãos na cintura.- Sou a sua amiga desde que te conheço por gente. Tenho o direito de saber!

Mirian sentou do meu lado e logo depois Bruce chegou com Caleb para a minha total felicidade. Geralmente Suan esquecia qualquer assunto quando meu irmão estava por perto.

Então o assunto seria esquecido com facilidade.

Olhei para o lado e vi Zac entrando no refeitório sozinho. Ele não parecia muito bem, e quando seu olhar cruzou com o meu, algo me disse que eu era a culpada por ele estar tão cabisbaixo.

Não gostava de ver ele daquele jeito e me sentia mal por só imaginar que a culpa fosse minha. Quando estava prestes a me levantar e ir até ele minha melhor amiga malvada me segurou.

-Então, não vai me contar?- ela insistiu.

Meu irmão olhou para mim e depois para os demais.

-Contar o quê?-perguntou ele.

-Se ela está saindo com o Josh ou não.- disse Mirian com uma curiosidade além do normal. Eu diria que era anos de convivência com Suan que a tinha deixado daquele jeito.

-Então é verdade?- disse Caleb.

-Como assim é verdade Caleb?- disse eu. Aquele assunto já estava começando a me dar nos nervos. Era muita gente sabendo de coisas que nem estavam acontecendo.

-É só uma coisa que eu ouvi.- disse ele despreocupado.

-Ah é? E ouviu de quem precisamente?- eu disse já completamente incomodada por ser o centro das atenções.

-Ah Sarah, somos espertos. Todo mundo já sacou o que está acontecendo entre vocês.- Bruce disse com um sorriso malicioso. Depois inclinou o rosto na direção em que Zac estava parado com sua bandeja de almoço.- E nem todo mundo ficou feliz em saber disso.

No momento que meus olhos seguiram a direção que Bruce apontava Zac me encarou com olhos cansados.

Uma agonia cresceu dentro de mim e quase que por vontade própria do meu corpo eu levantei para ir até ele.

-Vou resolver isso.- disse assim que Suan me perguntou onde eu ia.

Zac ficou me encarando enquanto eu caminhava pelo corredor sem nem uma ideia do que dizer. Ele ficou parado esperando que eu me aproximasse e só pelos seus pensamentos eu podia ver o quanto Bruce estava certo.

Eu sabia sobre as intenções de Zac. Ler mentes me dava acesso a coisas que nem todo mundo podia ver. E mesmo que quisesse vasculhar mais a mente de Zac, só para saber quem estava espalhando aquele boato, eu tinha medo de perder o controle. Um surto de vozes na frente da escola inteira não ia me ajudar em nada.

Resolvi me concentrar no que ia dizer no decorrer de passos que me levaram até ele. E por fim acabei por não pensar em nada.

Não que eu não gostasse da ideia de realmente estar com Josh. Sempre tinha sentido por ele um sentimento sincero e platônico. Éramos crianças quando alimentei aquela ilusão e naquele momento que estávamos tão ligados seria ainda mais loucura negar.

Mas depois que ele me beijou eu me sentia diferente em relação a ele. Naquela noite fomos embora para casa de mãos dadas e eu nunca tinha feito aquilo antes. Era uma demonstração além do normal para mim, e para ser sincera me incomodava bastante.

E quando ele se despediu de mim eu me senti nas nuvens por alguns segundos, só para saber que no outro dia ele trataria tudo como algo comum. Ou quem sabe até, algo que nem havia acontecido. Mas ele não havia quebrado meu coração, eu simplesmente decidi ignorar o ocorrido como ele fez. E tudo estava indo bem, ainda passávamos um tempo juntos e nenhum coração estava em risco.

Mas eu me importava com o que Zac pensava, gostava dele de mais para o ver andando por ai com aquela cara. Porque aquela necessidade de tê-lo por perto ainda era berrante dentro de mim.

-Tudo bem com você?- perguntei assim que me aproximei dele.

Ele me deu um sorriso fraco, daquele que é forçado para agradar alguém.

-Claro. E com você?

Uma súbita vontade de sair dali e levá-lo junto me corroeu. Não queria metade da escola nos encarando cheios de expectativas. Porque se meu irmão já estava sabendo a probabilidade da escola inteira achar que eu estava saindo com um cara e estar jogando charme para outro era muito grande.

-Você quer sair daqui?- eu segurei seu antebraço livre.

-Na verdade, quero sim.- ele colocou sua bandeja na primeira mesa vazia que viu e depois pegou a minha mão enquanto saia porta a fora.

Caminhamos pelos corredores em silencio. Passamos pelo prédio de ciências e depois o de línguas estrangeiras. Ninguém falou uma só palavra no percurso, só andamos lado a lado rumo a um lugar que os dois pareciam já saber.

Minha cabeça estava a mil e mesmo assim decidi dar toda a privacidade que ele merecia ficando bem longe de seus pensamentos.

Zac era o tipo de cara legal pela qual todas as garotas esperam. Aquele que te compra um boque e te pega na hora exata do baile. Que escuta e tem a capacidade de fazer amizade com qualquer tipo de pessoa.

O tipo de genro que toda mãe gostaria de ter.

Aquele que faz os seus melhores sorrisos aparecerem.

Mas por algum motivo ele não era visto assim por mim. Sentia um carinho enorme por ele, e sempre que podia eu lhe contava as coisas do meu dia.
No início todo mundo achava que eu o estava usando para causar ciúmes em Dave. Alguns até arriscavam dizendo que eu sentia medo de perdê-lo para Lexi. Mas, o que aqueles que andavam comigo falavam, é que eu e Zac nunca ficaríamos juntos por causa de Josh.

Eu não gostava de tanta gente se intrometendo na minha vida, me incomodava de mais com aquilo na verdade. Só que eram meus amigos, não podia simplesmente mandar todo mundo longe. Sem contar, que boa parte, eles só faziam para me irritar.

O que devo dizer. Dava certo.

Eu não tinha nada com Josh e nem queria ter com Zac. Tudo na minha vida já era complicado de mais para que adicionasse mais alguém. E depois do que Dave tinha me feito era ainda menos provável que eu deixasse alguém entrar tão facilmente.

Sentamos no longo galho da arvore que eu tanto gostava e só depois de um tempo é que olhamos um para o outro. Ele apertava os olhos por causa do sol, de um jeito que o deixava bastante atraente.

-Então, vai me contar o porquê dessa cara?- eu disse primeiro.

Ele sorriu e depois desviou o olhar do meu quando fiz o mesmo.

-É tão nítido assim?- ele perguntou.

-Para ser sincera é.- eu o cutuquei com o indicador, o obrigando a olhar para mim.- Eu fiz alguma coisa que você não gostou?

Ele me olhou de relance e depois soprou alguns fio de cabelo do olhos.

-Acho que só estou com um pouco de ciúmes por você estar passando tanto tempo com Josh e comigo não.- para ser sincera não esperava que ele fosse tão direto daquele jeito.

-AH! Você também.- eu revirei os olhos.- Não vai me dizer que acha que estamos juntos também?

-E não estão?- agora ele me olhava com certa curiosidade.

Como algo tão ridículo, como minha vida amorosa, tinha virado o assunto daquele dia? Odiava aquilo.

-Não.- falei firme e direto.- A gente anda passando bastante tempo juntos porque estamos num projeto do qual não posso falar. Mas que não tem nada ver com o que todo mundo está pensando.

Ele inspirou e expirou profundamente, fazendo um drama proposital. Não tinha como não rir com ele daquele jeito, tão relaxado novamente.

Ficamos conversando por todo o almoço e depois da aula também. Ele me acompanhou até em casa enquanto todo mundo para variar ficava nos encarando.

Ele não dava bola e eu muito menos. A escola sempre seria assim afinal.

Quando chegamos em casa as luzes estavam apagadas e ninguém parecia estar lá. Bruce disse que ia sair com Suan, então tínhamos a casa inteira só para nós.

Convidei Zac para entrar e ele ficou feliz com o convite. Servi suco para nós e depois ele quis conhecer o meu quarto. Fiquei um pouco intrigada com o pedido dele, mas depois de dar uma boa averiguada em seus pensamentos permiti que ele entrasse.

Me sentei na cama enquanto ele passava os dedos pelos meus livros e sorria com os títulos bobos. Ele não falava nada para me agradar, o que só tornava tudo mais tranquilo.

Era apenas um amigo e uma amiga conversando e passando um dia normal juntos.

-Porque você só lê coisas com capas estranhas?- disse ele para me provocar.

-Deve ser porque eu sou estranha.- eu disse sorrindo.

Ele revirou os olhos e voltou sua inspeção pelas coisas a sua volta. Meu quarto parecia um parque de diversão que ele estava gostando de visitar.

Então ele passou por um desenho, pendurado no meu mural de recados, e depois passou os dedos pelos traços firmes. Era um desenho feito a mão com lápis de carvão.

-Esses olhos ficaram bons.- ele analisava de perto meu pequeno tesouro. Era o que eu tinha de mais parecido com uma foto do garoto dos meus sonhos. Era a representação exata do jeito que ele me olhava toda a noite.- Quem é o modelo?

-Como você sabe que é "o" modelo?- eu me sentia nervosa com o rumo que a conversa estava levando.

-Porque os traços são firmes demais para ser de uma mulher.- disse ele como se fosse uma coisa muito simples.- É que eu desenho também.

-Você nunca tinha me contado que era um artista.- eu sorri.

-Não te contei porque não sou.- ele riu.- Só faço uns rabisco mesmo. Qualquer dia desses te mostro.

-Eu ia adorar ver. Gosto de desenhos feitos a mão.

Ele voltou a sua atenção ao desenho.

-Então, quem é?

Eu me levantei da cama e fui na sua direção. Tirei o alfinete que mantinha o desenho grudado no painel e depois olhei para os traços por um bom tempo. Era ótima a sensação que dava ter aquele papel em minhas mãos. Era quase como se de alguma maneira me conectasse a ele.

Na minha vida sempre pareceu faltar algo que eu nunca subi muito bem explicar.

E por um bom tempo desconfiei que fosse a chegada do garoto dos meus sonhos. Ele era a peça que faltava para tudo fazer sentindo.

-É apenas os olhos de alguém com quem eu sonho.- disse dobrando o papel e guardando no bolso do casaco.

Ele pareceu não entender o que eu estava dizendo e esperei que não me pedisse explicações mais detalhadas. E foi o que ele fez.

Fazia poucos dias que tinha feito aquele desenho. Ninguém o havia visto ainda e desejava que continuasse daquele jeito.

Depois de finalizarmos o assunto desenho, ficamos lá de bobeira, ouvindo algumas músicas no Itunes. Zac me mostrou uma porção de bandas que eu não conhecia. Coisas que ia de todos os estilos musicais. Ele era o tipo de pessoa que era capaz de ouvir qualquer coisa. Tinha sua preferência pelo bom e velho rock in roll.

Foi bom passar aquele tempo com ele, sempre me divertia quando ele estava por perto. Ainda mais quando conseguia controlar a tempestade de pensamentos dentro da sua cabeça.

Já era perto do horários dos treinos de Josh quando Zac decidiu ir embora. Ele estava sentado no parapeito da minha janela e olhava para o dia que estava querendo ir embora.

Seu olhar era fixo em algo lá fora que eu não podia ver. E sua franja tapava quase todo aquele olhar misterioso. E apesar de estar em uma posição relaxada era nítido que ele já não se sentia tão bem quanto antes.

-Acho que já vou nessa.- disse ele com seu dialeto californiano.

Ele se levantou e eu o acompanhei até a porta de saída. Foi uma despedida meio sem jeito, e ao mesmo tempo engraçada. Coisa que nós dois sabíamos fazer muito bem.

-A gente devia fazer mais isso.- gritei assim que ele cruzou o gramado.

-E vamos.- ele respondeu com um sorriso.

Fiquei observando enquanto ele caminhava. Imaginando o que fazia de Zac um cara tão diferente para mim. A forma como ele havia aparecido e o que me fez sentir no dia em que o vi pela primeira vez não fazia sentido.

Me sentia confortável perto dele, até mesmo quando havíamos falado sobre o desenho do garoto dos meus sonhos eu me mantive serena. Ele sabia exatamente como ter as respostas que queria sem ser inconveniente. O que me mostrava o quanto era esperto.

Certa vez conheci um cara como ele. O irmão mais velho de Suan, era exatamente daquele jeito, só que bem menos atraente. Mas ele tinha aquela coisa de ser sempre agradável, sem contar que não havia segredo que você pedisse que ele não fosse capaz de guardar.

Quando ele foi embora com o pai senti uma falta enorme dele. Bruce que estava acostumado com ele e Josh não demorou muito para deixar Caleb entrar no seu círculo de confiança assim que ele se foi.

Apesar de todos compreenderem quando ele partiu sua ausência foi percebida sem sombra de dúvidas.

Assim que Zac sumiu do meu campo de visão eu fechei a porta e subi para o meu quarto deixando minhas lembranças de Madson no passado.

Me deitei sobre a cama e olhei algumas vezes para o relógio de cabeceira. Não era comum Josh se atrasar para nosso treinamento. Ele adorava todo o exibicionismo que aquilo podia lhe trazer. Mostrar seu dom abertamente e o quanto ele conseguia controlar lhe trazia muito prazer. Porém, era Josh e ele não era do tipo de pessoa pontual.

Mas depois de duas horas eu acabei por desistir de esperar que Josh aparecesse. Olhei algumas vezes para a tela do meu celular e nenhuma ligação tinha sido perdida.

Com o passar das horas comecei a refletir sobre o que as pessoas estavam achando. Lembrei do beijo que Josh havia me dado na ponte, dos detalhes daquele dia memorável. E aquela sensação que me encheu fez meu coração acelerar.

Não é que eu quisesse negar que aquele momento tivesse existido, mas tinha tanto medo que ele me negasse mais uma vez que era infinitamente melhor imaginar que não existia nada entre nós. Não queria partir meu coração com ele de novo.

Mas tinha a nítida sensação que somente ele poderia me fazer esquecer o garoto de olhos cinzentos e todo aquele sentimento que eu tinha por ele.

Era loucura amar alguém da qual nunca se viu.

Ao pensar naquilo peguei o papel que estava no bolso do meu casaco e admirei os traços bem delineados daquele desenho. A familiaridade com que me sentia ao olhar para aquele papel era tão grande que a imagem quase parecia nítida na minha cabeça.

Queria desesperadamente conhecer aquele garoto, encontrá-lo, sentir seu cheiro e presenciar seu sorriso de perto.

E toda vez que pensava que por alguns metros estivemos perto eu me contorcia por dentro. Não era justo ter de esquecê-lo. Não fazia sentido a grande ameaça que ele trazia para a minha vida. Não parecia possível esperar tanto por alguém que não se deve achar.

Adormeci com a luz da lua iluminando o papel e aquele desenho foi a última coisa que vi antes de finalmente sonhar.

Era eu sentada no sofá da sala de estar da minha casa. Os móveis estavam exatamente na mesma ordem da qual eu estava acostumada.

As luzes estavam apagadas e havia iluminação somente no corredor que ligava o porão com a cozinha. O que não era normal vindo de mim, a pessoa com mais medo do escuro que eu conheço.

Eu parecia aflita com algo que não sabia explicar ainda.

Minhas pernas estavam flexionadas, meus cotovelos apoiavam-se sobre minhas cochas e minhas mãos sustentavam a minha cabeça que estava direcionada para baixo. Era a mesma posição em que ficava quando estava pensando algo muito importante. Estava completamente imóvel e minha cabeça parecia prestes a explodir.

Podia jurar que muito tempo se passou enquanto fiquei ali parada pensando em algo da qual meus sonhos não me davam acesso.

Então me levantei de supetão e caminhei em direção a porta de entrada. Peguei o casaco do cabide e o vesti com rispidez, depois peguei as chaves do carro de Bruce e sai pela porta com o coração batendo forte.

Em seguida entrei no carro e dirigi em alta velocidade por um caminho que não lembrava um dia ter passado. Eu dirigia bem, não deixava o carro apagar e trocava as marchas sem errar. Nunca na vida real aquilo seria possível.

Trajei um percurso de vinte minutos até chegar a um bairro chique que eu nem sabia existir na cidade. A maioria das casas naquela rua eram mansões enormes do tipo que se em clipes de rap.

Parei o carro em frente a uma casa com vigas modernas. Tinha o que aparentava três andares e as paredes eram de um branco gelo impecável. Definitivamente eu não conhecia aquele lugar.

Desci do carro e caminhei para a porta de entrada. A casa estava lotada e uma música vinha de dentro juntamente com o som de diversas vozes diferentes.

A porta estava aberta e não esperei que ninguém se desse ao trabalho de me convidar para entrar. Simplesmente entrei como se tivesse todo o direito, ainda que nem soubesse quem era o dono daquela mansão.

Os cômodos estavam lotados de pessoas, mas ninguém ali me parecia familiar. E devido ao acumulo de gente o lugar parecia uma sauna. Andei pelo corredor estreito sem esbarrar em ninguém e entrei na cozinha. As paredes eram todas brancas e toda a mobília era extravagante. Mas não foi isso que me chamou atenção, nem estava percebendo os eletrônicos de aço ou as bancadas de madrepérola. O que chamou minha atenção foi ver uma garota sentada sobre a bancada com as pernas em um laço perfeito ao redor do corpo do meu irmão.

Fiquei tão revoltada por ver a promiscuidade com que se beijavam que caminhei em sua direção somente para lembrá-lo que Suan existia. E quando dei uns passos à frente foi que pude ver que escorada na parede oposta a porta por onde tinha entrado, um lugar que não era visível a menos que estivesse no centro do recinto, estava Suan com uma aspecto estranho encarando toda a cena. Ela parecia um tipo de fantasma olhando para os dois, tinha uma coloração apagada e completamente desanexa do resto ao seu redor. Era como se ela não fizesse parte daquilo. Não fizesse parte do mundo.

Eu me aproximei dela e somente quando estava prestes a tocá-la foi que ela direcionou o seu olhar para mim. Ela não disse nada, não se moveu em minha direção, apenas levou o dedo indicador aos lábios me mandando ficar em silencio. A cena toda era aterrorizante e quando ela me olhou com aqueles olhos assustadores não me contive em sair dali pelo mesmo lugar da qual tinha entrado.

Voltei para o corredor e fiquei analisando as pessoas a minha volta. Pareciam todos em um tipo de frenesi da qual eu havia sido excluída. Caminhei sem perceber para onde estava indo e quando uma garota me olhou com aquele olhar que Suan tinha me dado na cozinha entrei no primeiro cômodo que encontrei.

Esse novo lugar era um pequeno escritório, com caixas e caixas entulhadas para todos os lugares em que eu olhava. Papeis estavam espalhados pelo chão e uma pilha de livro estava desordenada em cima da mesa de escritório. O cômodo não era grande, mas conseguia estar muito bagunçado. Quase como se um vendaval tivesse passado por ali.

O jogo de lâmpadas que tinha no lustre piscava o tempo todo deixando um instante o lugar no escuro e o outro no claro. Quando a luz acendeu eu pude ver no fundo do pequeno escritório um homem de sobre tudo negro. Ele estava de costas para mim e sua pele tinha a mesma coloração que a de Suan, que era vista somente pela nuca que estava exposta.

Comecei a me mexer de puro nervosismo. Me sentia inquieta porque o eu do sonho sabia muito bem quem era aquele homem misterioso e correr para fora dali me provou o quanto essa pessoa me assustava.

Voltei para o corredor com urgência. Queria mais do que tudo sair daquele lugar onde aquele homem estranho estava.

Meus olhos estavam atentos, como se algo fosse pular em cima de mim a qualquer momento. Minhas mãos suavam, meu coração estava acelerado e minha respiração ofegante. Caminhei até o centro da sala, mas ninguém ali parecia conhecido. Eram tantas pessoas diferentes que parecia uma junção de raças e culturas.

Enquanto meus olhos analisavam as pessoas de cabelos e roupas estranhas meu foco se direcionou para o fundo da sala. Onde estava Josh sentado em um divã negro com tachinhas. O móvel ficava bem ao fundo da sala, ao lado de uma janela e um abajur que ia do chão até metade da altura da parede. Ele parecia completamente envolvido no que estava fazendo, tanto que nem notou a minha presença. A cena me dava ânsia de vomito, porque assim como Bruce Josh estava beijando obscenamente uma garota que estava sentada no seu colo. As pernas da garota estavam abertas, de modo que seus joelhes envolviam o quadril de Josh. O beijo era intenso e mesmo que a sala estivesse cheia de pessoas os dois pareciam estar prestes a partir para algo muito mais quente ali mesmo.

Eu não conseguia definir quem era a garota e meus olhos se encheram de lagrimas que eu jamais derramaria na frente de alguém. Então Josh puxou o cabelo da garota com força deixando a mostra uma pequena tatuagem que ela tinha na nuca. Era um desenho ornamental, parecido com uma clave de sol, que com alguns detalhes diferentes.

O meu eu do sonho pareceu ficar ainda mais revoltado quando reconheceu aquela tatuagem da garota de pele branca e cabelos castanhos. Ela parecia ser mais alta que eu e tinha curvas em todos os lugares certos. Não era de se admirar que ele estivesse tão hipnotizado por ela. Ainda que não pudesse ver seu rosto, que estava de costas para mim.

Desviei meu olhar assim que se tornou impossível observar o que eles estavam fazendo. E quando estava prestes a ir embora me deparei com outro rosto conhecido na grande janela de vidro que dava para a frente da casa.

Era Zac.

Ele olhava pela janela com olhos de uma raposa apesar de não se ter nada fora. Ele vestia uma roupa casual e seu cabelo estava despenteado. Em uma mão ele segurava um copo de vidro e a outra ele entrelaçava a uma cópia exata de mim. Fiquei impressionada assim que a vi ali parada ao lado dele. Sem que me visse a observei. Vestia a mesma roupa que eu e seu rosto parecia uma máscara de monotonia.

Fiquei os encarando até que Zac olhou em minha direção e soltou a mão do meu outro eu. Ele ficou me encarando por um tempo e depois olhou para algo além de mim. Assim que seus olhos transmitiram pânico ele deixou o copo de vidro cair da sua mão, se estilhaçando em pequenos pedaços aos nossos pés.

Então, todos que não tinham percebido minha presença desde o início fixaram seus olhos enormes em mim. Havia outras pessoas como Suan na sala e quando parecia que não poderia ficar pior me deparei com outra imagem assustadora.

Era meu pai no chão, perdendo a vida como da última vez que o vira pessoalmente. Ele estava imóvel e uma pequena poça de sangue se formava ao seu redor. Minha mãe estava ajoelhada ao seu lado e me encarava com tano ódio que era impossível retribuir seu olhar. Ela parecia tão fora de contexto quanto Suan e seu olhar de.

A música que antes estava alta parou por completo e um silencio correu por todos naquele lugar. Minha intenção era ir até meu pai e tentar ajudá-lo, mas então gritos começaram a ecoar pelo que parecia ser todos os cantos da casa, de modo que cobri minhas orelhas com as palmas das mãos. Minha cabeça parecia prestes a explodir e tudo parecia girar.

Então mãos começaram a rasgar as minhas roupas e quando abri os olhos todas as lâmpadas do lugar estouraram uma por uma, em uma explosão de faíscas para todos os lados.

Assim que o local ficou completamente escuro me encolhi e esperei pelo pior. As vozes que gritavam estavam cada vez mais perto e unhas rasgavam a minha pele. Estava pronta para me entregar ao que quer que fosse que estava me atacando quando uma pequena luz surgiu bem diante dos meus olhos.

Era uma garota de feições delicadas, com o cabelo escorrido negro na altura do queixo. Ela tinha estatura pequena e usava roupas simples. Segurava uma lanterna bem na minha frente, a apontando para a saída.

-Vem, vou tirar você daqui.- ela me estendia a mão.

Não que eu a conhecesse, mas que alternativa seria melhor do que a que ela estava me oferecendo? Então segurei sua mão e juntas corremos para fora da casa. paramos quando chegamos ao jardim.

A grama que antes era visível estava coberta por neve e todas as luzes da rua estavam apagadas. Não havia mais carros e nem pessoas, as únicas ali eram eu e a garota que me salvou.

-Vai Sarah! Foge daqui.- disse a garota com urgência e ao mesmo tempo com ternura.

-Você não vem?- perguntei em pânico.

-Eu não posso, preciso ficar.- disse ela.

Os gritos começaram a alcançar a rua e meu desespero voltou. Então deixei a garota e corri para o carro com a maior velocidade que pude. parei quando entrei no veículo e vi que o garoto de olhos cinzentos estava sentado no banco do passageiro.

Ele me olhou em pânico e depois segurou meu rosto.

-Você está bem?- ele analisava meus ferimentos com olhos felinos.

-Agora estou. Onde estamos?- perguntei a ele.

-Longe. precisamos ir.- disse ele pressionados seus lábios nos meus.

Olhei para ele assim que se afastou e depois olhei mais uma vez para a casa. Foi então que o pânico retornou. Em todas as janelas haviam pessoas com rostos tão pálidos , exatamente como Suan e minha mãe. Todos me encaravam com ódio e desdém. E assim que abriram a boca que parecia não conter nada além de escuridão desviei o olhar e dei partida no carro.

Corri com a maior velocidade que pude e quando parei para olhar para o garoto ao meu lado ele não estava mais lá.

Mais uma vez euestava sozinha.    

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