1- A Telepata_ Persuadidos

By JssikaSoares

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" No segundo que eu olhei para ele, eu sabia que não tinha mais volta." Sarah Rens é uma garota comum que... More

Ajuda dos leitores ;)
Sinopse
Capitulo 0 - Prólogo
Capítulo 2 - Lar das pessoas inconvenientes
Capítulo 3 - Intocável
Me da uma estrelinha? Nunca te pedi nada :)
Capítulo 4 - Pequeno milagre
Capítulo 5 - Cowboy
Capítulo 6 - Alguém perfeito
Capítulo 7 - Megafone
Capítulo 8 - Quebrando Muros
Capítulo 9 - Casamenteira
Capítulo 10 - Pessoas que nem existem
Capítulo 11 - Despretensiosamente
Capítulo 12 - Pensar com você
Capítulo 13 - Se eu pudesse fazer o que ele faz
Capítulo 14 - Rostos me encarando
Capítulo 15 - Conclusões sobre a vida alheia
Capítulo 16 - Uma versão do garoto de olhos cinzentos
Capítulo 17 - Algo que estava por vir
Capítulo 18 - Novas vizinhas
Capítulo 19 - Maldita telepatia
Capítulo 20 - Dependeria da sorte e do destino
Capítulo 21 - Seguindo em frente
Capítulo 22 - A leveza de Zac
Capítulo 23 - Do que você tem tanto medo?
Capítulo 24 - Se você pudesse ver
Capítulo 25 - Me deixando envolver
Capítulo 26 - Viajem de feriado.
Capítulo 27 - Ela esconde tantos segredos quanto eu.
Capítulo 28- Não importa o que você escolha, o destino não muda
Capítulo 29 - Acho que estou completamente apaixonado por você.
Capítulo 30 - O destino nunca se altera, sempre se modifica.
Capítulo 31 - Como seguir em frente depois de estar com ele?
Capítulo 32 - Lobo na pele de cordeiro
Capítulo 33 - Tantas coisas nele faziam sentido naquele instante.
Você de roteirista, que tal?
Capítulo 34 - Agora estou pronta!
Capítulo 35 - Fique de olhos bem abertos, tente não perder nada.
Capítulo 36- Perto o suficiente da verdade.
Capítulo 37- Tudo parecia querer me engolir outra vez.
Capítulo 38- Era estupido prolongar aquela situação.
Capítulo 39 - Dessa vez não vai ter enganos.
Capítulo 40 - O preço por não pensar direito.
Capítulo 41 - Não desista amor, lute por nós.
Capítulo 42 - Eu estive lá esperando você cometer o menor dos erros.
Capítulo 43 - Não queria só a minha alma, queria me enterrar no inferno.
Capítulo 44 - Volte e tente terminar o que precisa ser terminado.
Capítulo 45 - Vamos viver a nossa vida a partir de hoje.
Capítulo 46 - Parecia que só os verdadeiros permaneceriam em pé aquela semana.
Capítulo 47 - Aquela bala nunca conheceu o destino que ele esperava.
Capítulo 48 -Bem longe de terminar. (FINAL)
Novas histórias :)
Continuação começa hoje 25/12
14 coisas que você não sabia sobre "A Telepata_"
***** Lançamento *****

Capítulo 1 - Nada menos que estranho

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By JssikaSoares

Não lembro a primeira vez que tive aquele sonho.

Só sei dizer, que o tive muitas e muitas vezes, desde que sofrera aquele acidente quando eu era criança. Ele sempre acontecia da mesma forma, e sempre que eu acordava, tinha a mesma sensação de vazio.

Não lembrava de nada que acontecia nos sonhos, apenas que um belo par de olhos cinza me encarava todas às vezes. Apesar de ter certeza, que os sonhos tinham muito mais conteúdo do que me lembrava toda vez que acordava, eles permaneceram um mistério para mim por muitos anos.

Com o passar do tempo, comecei a ligar algumas peças e então as coisas começaram a fazer mais sentido. Às vezes eu até conseguia distinguir um cenário, que nunca havia presenciado, e pessoas que nem conhecia. Como se fosse um longo filme, que eu praticamente, assistia a todas as noites.

Mas nada daquilo me era familiar.

Eu particularmente adorava ter aqueles sonhos, e quando era pequena, até achava que aqueles olhos, tão marcantes, fossem de um garoto que um dia viria me buscar em um cavalo branco. Mas com o tempo, acabei por nunca tentar definir, o que aqueles olhos significavam.

Acabou apenas por ser tornar uma agradável rotina.

Até que um dia, os olhos não eram mais personagens de sonhos felizes, e sim de sonhos angustiantes. Tanto que praticamente rezava para que eles não acontecessem mais.

Porem, eles ainda insistiam em acontecer.

Abri meus olhos cedo de mais aquela manhã. O sol ainda nem havia nascido, e meu corpo já estava enjoado de estar deitado.

Olhei para a cabeceira da cama, onde havia um relógio em formato de sapo, que vovó tinha me dado no ultimo aniversário, e ele marcava 05h15min.

Era comum acordar cedo, depois de ter mais um sonho daqueles. Eu sempre via pela janela a cidade inteira dormir, enquanto eu simplesmente tentava ligar as coisas que aconteciam no sonho.

Daquela vez não foi diferente.

Eu levantei com a sonolência de sempre ,e fui até a janela olhar para o céu, que ainda era negro lá fora. E quanto mais tentava lembrar, menos conseguia. Então tentei relaxar e segui rumo a cozinha. Arrastando os pés eu segui pelo longo corredor que levava até as escadas, sem parar nenhum segundo de piscar os olhos e bocejar. Desci as escadas de maneira silenciosa, e segui até o armário de copos na cozinha, para me servir. A torneira moderna, que Peter havia instalado, não fazia nenhum ruído enquanto a água descia, de modo que tinha que ficar o tempo todo me certificando que o objeto metálico estava mesmo funcionando.

Depois de beber, o que parecia meio oceano, segui o mesmo caminho pelo qual havia ido.

Enquanto andava pelo mesmo corredor, que separava os quartos da casa, ouvia os barulhos ensurdecedores que vinham do quarto na última porta.

Era engraçado como eu ainda ria, sempre que ouvia, os roncos barulhentos do meu padrasto. Ás vezes ficava tentando imaginar, como minha mãe conseguia dormir com tanto barulho, porem nunca havia ela reclamar.

Abafei a boca com a mão, quando uma pequena risada surgiu, logo após um engasgo do coitado. E nem pensei duas vezes em apressar o passo, antes que eu acabasse caindo na gargalhada, acordando todos na casa.

Entrei no meu quarto e fechei a porta com cuidado. Depois me sentei na cama e tentei lembrar do sonho mais uma vez.

Nada.

Desisti depois da décima quarta tentativa, e fui tomar uma chuveirada, já que dormir novamente, estava fora de cogitação, se queria chegar a escola a tempo.

A água estava quente e relaxante, e não demorou muito para que eu esquecesse tudo sobre aquele sonho esquisito, e voltasse a pensar no ocorrido da noite anterior.

Sai do chuveiro, enrolada na toalha, parando em frente ao espelho, e fiquei me olhando no reflexo embaçado.

Meus cabelos estavam emaranhados, devido a água quente e o shampoo, apesar de serem completamente lisos escorridos quando secos. Já meus olhos, que ficavam ainda mais azuis com a luz do banheiro, pareciam inchados.

Eles me entregavam, da longa noite de choro.

Penteei os cabelos, enquanto pensava nas mil desculpas para não ter que dar longas explicações para minha atitude, mas nada realmente bom, se formava na minha cabeça.

Então acabei desistindo de pensar.

Enquanto colocava a roupa, meu corpo parecia responder, ao mesmo cansaço, que meus olhos expressavam. Mas não me deixei abalar.

Depois de terminar de me arrumar, fui ajeitar os livros da escola e a porção de anotações que havia espalhado na escrivaninha. E enquanto organiza todos os papeis por matérias e os colocava nos lugares corretos, fiquei pensando nas coisas idiotas que Dave havia me dito no dia anterior.

Ele era estúpido em acreditar que podia me convencer de que estava certo.

Mal podia esperar para contar as coisas absurdas que tinha ouvido para Suan, só para ter certeza que ela também achava ele um idiota.

Suan Mcfild era a minha amiga desde os meus seis anos de idade. Ela e eu éramos vizinhas de janela, há muitos anos. Basicamente há uns onze anos.

A gente havia se conhecido num dia qualquer, feito aqueles filmes engraçados envolvendo crianças e suas brincadeiras medíocres. Eu e meu irmão estávamos brincando com aquelas armas de pressão, que soltam bolinhas de chumbo do tamanho de uma ervilha, quando por descuido meu uma das pequenas esferas acertou em cheio a janela do quarto dela.

Não sei se ela gostou de mim logo de cara ou se foi o lindo par de olhos verdes do meu irmão. Só sei dizer, que desde aquele dia, nunca mais nos separamos.

Eu sempre soube do amor incondicional que ela escondia pelo meu irmão e sempre me perguntei porquê ela nunca disse nada para ele. Afinal eles se conheciam a muito tempo, e meu irmão sempre foi seu amigo.

Meu irmão e eu éramos gêmeos, mas pela graça do santo Deus, não éramos nem um pouco idênticos. Muito menos usávamos roupas semelhantes.

Ele parecia aqueles atletas populares dos filmes juvenis, do tipo que joga no time principal de futebol da escola. Na verdade ele era o zagueiro do time da Nepean, então tinha todo o direito de agir da mesma forma. Gostava de chamar atenção e estar sempre rodeado de mulheres. Totalmente ao contrário de mim, que apesar de ser líder de torcida, contra a minha vontade, não gostava nada de ser o centro das atenções. Muito menos, viver rodeada de garotos, na qual jamais poderia ter algo realmente verdadeiro.

As vezes ninguém acreditava que éramos realmente irmãos, ainda mais gêmeos, porque nossa única semelhança era os cabelos lisos e castanhos.

Os olhos dele eram verdes, enquanto os meus eram azuis iguais aos do meu pai. Ele era bastante forte e alto, e eu uma magricela de um metro e sessenta e dois.

Nada se encaixava.

Ele havia nascido dois minutos antes de mim. Então se jurava o mais velho, e sempre conseguiu convencer todos a nossa volta com essa superioridade sobre mim, inclusive nossa própria mãe, o que não fazia sentindo algum. Mas nunca dei bola para isso. Sempre achei que os homens tinham mesmo esse lance de super proteção pra cima das mulheres, independente da relação em que viviam.

Mas entre nós dois existia uma coisa que ninguém podia ver. Algo que substituía qualquer tipo de semelhança física. Éramos cúmplices, e estávamos igualmente dispostos, a fazer tudo um pelo outro.

Sem sombra de duvidas, meu irmão era meu melhor amigo.

Não éramos como os irmãos de série de TV, que vivem brigando, a gente se dava bem, fazíamos coisas juntos, e o carinho que ambos nos tratávamos era puro.

Eram raras as ocasiões em que brigávamos. Elas se resumiam as brincadeiras do meu irmão em sala de aula e a forma como ele jogava com os sentimentos da minha melhor amiga.

Mas Bruce era um bom irmão, sem duvidas, as vezes um pouco infantil, mas o melhor que se podia encontrar por ai.

Ele e eu havíamos saído na noite anterior, acho que ele havia notado que meu humor não estava dos melhores. Fomos comer pizza e jogar um pouco de conversa fora. Coisa que fazíamos praticamente toda semana.

Ele sabia que havia algo de errado comigo há muito tempo, era praticamente impossível mentir para ele. Eu fazia coisas estranhas o tempo todo, sem nenhum motivo visível, e ele sempre me questionava o que eu talvez nunca pudesse contar.

A verdade é que ensaiei por muito tempo, contar meu segredo ao meu irmão. Pensei em muitos jeitos de abordá-lo, mas nunca tive coragem suficiente.

Como diria minha avó; segredos só são segredos quando uma só pessoa sabe sobre eles.

Bruce me perguntou inúmeras coisas, na tentativa de sinalizar que ele estava ali para dividir qualquer coisa que fosse, mas eu não falei nada naquela noite, a não ser meu desentendimento com Dave.

Dave era um namorado que tive basicamente três semanas. Ele morava a uma quadra da nossa casa, e jogava no mesmo time que meu irmão. Era bonito e bem relacionado com as pessoas mais populares da escola, porém, era um tremendo sem noção. Ele tinha aquele ar de superioridade rivalista, e achava que tudo e todos, poderiam ser comprados com o dinheiro de seus pais multimilionários.

Claro que no inicio da nossa relação, porque na minha opinião três semanas não podem ser definidas como um namoro, ele era um cara muito bacana. Mas com o passar do tempo, ele mostrou seu verdadeiro lado, e toda a mediocridade que era capaz de expressar com um olhar.

Ele me disse coisas absurdas quando o deixei, coisas que nem tive coragem de contar ao meu irmão, mas que me fizeram chorar por horas a fio. Não chorei por nosso rompimento, na verdade só estava com ele porque me sentia bem com o fato de um garoto gostar de mim, e não porque sentia algo verdadeiramente grande por ele. Chorei pelas palavras que ele me disse e por como tentou me fazer achar que ele tinha razão em dizê-las.

E mesmo que não tivesse terminado nosso relacionamento oficialmente, pretendia fazê-lo no dia seguinte.

E aquele assunto foi tudo que Bruce teve de mim aquela noite.

O tempo havia passado desde que acordara e ficara pensando na noite anterior. Tanto que a casa inteira acordou e eu já estava praticamente ficando sem tempo.

Segui para a cozinha mais uma vez naquela manhã, porem daquela vez, embalada pelo perfume de torradas com geleia de morango.

-Bom dia mãe.- disse sentando-me a mesa.

Como costume de todos os dias, a minha família estava sentada a mesa, fazendo o desejum em grupo. Peter a minha frente, bem ao lado de minha mãe, e Bruce ao meu lado. Era praticamente o único horário do dia em que conseguíamos ficar unidos, uma vez que cada um tinha uma atividade, que nos impedia de fazer mais refeições juntos, além do café da manhã e os almoços no domingo.

Bruce me cutucou com a colher, enquanto eu mordia a torrada que Peter havia feito para mim. E quando olhei em sua direção, ele fez questão de rir com a boca aberta, só para me mostrar toda a comida que seus dentes processavam.

Coisa que meu irmão sabia que eu odiava, mas que ele fazia só por implicância.

-Bruce!- minha mãe lhe deu um pequeno tapa na mão, a mesma que segurava o garfo que espetava uma torrada toda mordida.- Olhe os modos na mesa garoto.- depois de adverti-lo com um olhar sério, levou os lábios a sua xícara de café, e me respondeu sem olhar.- Bom dia Sarah.

Como sempre, sua indiferença estava lá aquela manhã.

-Bom dia Peter.- cumprimentei meu padrasto, após engolir o pedaço da torrada.

-Bom dia Sarinha.- ele me disse, com um sorriso coberto de farelos de pão torrado.

Apesar de parecer, aos olhos de todos, forçado o jeito como Peter me tratava, ele era realmente uma pessoa amável. Sempre me tratara pelo diminutivo, e sempre foi uma pessoa muito boa, tanto para mim quanto para meu irmão. Acho que era todo aquele lance de não poder ter filhos, que o tornava tão bondoso.

E acredite, ninguém melhor do que eu para ter certeza, de que suas atitudes eram feitas de boas intenções.

-Come de uma vez, se não vai perder a carona.- disse-me Bruce ao sair da mesa, alisando a barriga, como se ali existisse uma protuberância, igual aqueles homens que bebem litros de cerveja por semana. Por sorte, eu já havia comido quase toda minha torrada.

-Eu já terminei.- disse, após dar o ultimo gole no suco.- Só vou escovar os dentes.

Enquanto eu subia até meu quarto, para escovar os dentes e pegar a mochila da escola, a campainha ressoava aos berros, no andar de baixo. Já imaginava ser Suan, com sua linda sai xadrez e blusa branca, sua roupa favorita para as segundas.

Por algum motivo, Suan tinha mania de usar roupas conforme os dias da semana, e sempre tentou me fazer ir na mesma onda que ela, mas nem por um milagre divino, eu andaria igual a ela, pelos corredores da escola.

-Bom dia Sra. Rens. Como vai?- eu podia ouvir a voz de Suan, enquanto passava as alças da mochila nos braços. A voz dela era tão alta quanto a sua necessidade de me fazer descer as escadas de uma vez, juntamente ao meu irmão. Só para que ela pudesse ficar olhando ele sem jeito, enquanto seu rosto ficava vermelho e ele ria com certo charme.

O pior é que todas as manhãs eram do mesmo jeito.

-Muito bem e você?- disse mamãe tentando ser simpática.

-Ótima. Como estão as coisas no hospital?- continuou ela.

No exato momento Bruce parou na porta do meu quarto, me olhando de cara feia. Eu revirei os olhos, enquanto ele cruzava os braços e ficava batendo o pé de pura impaciência.

-Normais como sempre. A mesma rotina.- a voz de minha mãe foi se tornando mais baixa. Ela devia estar caminhando enquanto falava.- Sinto muito não poder ficar para conversarmos mais, é que estou atrasada.

-Sem problemas.

-Eles já devem estar descendo.- disse ela dando fim a conversa curta.

Cansado de me esperar procurar pelos fones de ouvido do IPOD, Bruce saiu na minha frente, me obrigando a segui-lo. Passei por ele com pressa, batendo meu ombro no seu só para provocar. Depois parei bem em na frente, e comecei a andar devagar. Aquele tipo certo de comportamente entre irmãos.

Quando chegamos as escadas, ele pousou as mãos em cima dos meus ombros, me dando pequenos empurrões, mas mantendo o cuidado para que eu não acabasse caindo escada abaixo.

-Vamos sua molenga.- ele dizia, enquanto me balançava suavemente para frente e para trás.

-Não estou com pressa.- disse sorrindo para irritá-lo.

Ficamos naquele jogo, de implicância fraternal, até chegarmos ao pé da escada, onde Suan me esperava com o olhar de uma criança feliz por um bolo de chocolate.

-Oi minha querida Suan.- disse Bruce, cheio de sorrisos para cima da minha amiga.

O rosto dela simplesmente pareceu ter muito mais blush do que ela deveria ter posto. A atitude exata que meu irmão esperava buscar.

-Oi.- disse ela sem jeito.

Olhei para Bruce, com a cara mais carrancuda que consegui, e prometi mentalmente uma bronca a ele quando estivéssemos sozinhos. Não sei qual reação ele gostou mais de ver, Suan caindo no seu jogo, ou eu aceitando suas provocações bestas.

Revirei os olhos e enganchei o braço no de Suan.

-Vamos Su. Já estamos atrasadas.

Minha melhor amiga, não gostou muito de nossa saída de emergência, porem, não disse nada que me ofendesse. O que era novidade para mim.

Passamos pela porta em silencio, e no minuto seguinte, Bruce já havia nos alcançado sem nem fazer muito esforço.

Contornamos o quintal e fomos até a garagem dos fundos, onde Bruce guardava seu tão precioso carro. Suan foi a primeira a entrar no veículo, e quando estava prestes a fazer o mesmo, ouvi uma voz familiar chamar pelo nome do meu irmão.

-Ei Bruce! Espere por mim.- Dave acenava para que ele esperasse.

Naquele segundo não sabia bem o que fazer. Olhei para Dave e depois para meu irmão, que já se encolhia esperando pela bronca que estava por vir.

Não houve nada que eu pudesse fazer, quando dei por mim, Dave já estava com a mão na maçaneta e eu fazia papel de boba, parada do lado de fora do carro.

-Vai ficar ai princesa?- disse Dave pra mim.

"Espero que não seja por minha causa."

Não conseguia acreditar, em como Dave era sem noção, e conseguia ser totalmente dissimulado. Entrei no carro depois de direcionar um sorriso bastante irônico na direção dele. Acomodei-me no banco do carona traseiro, enquanto Dave falava de suas inúmeras aventuras na ultima viajem com seus pais.

Quase não conseguia conter a raiva, toda vez que ele me chamava de princesa, e na ultima vez que ele fez aquilo, pressionei os joelhos contra o banco de meu irmão, na esperança que ele olhasse para mim. E assim que seu olhar cruzou com o meu através do retrovisor, o fuzilei com o olhar.

A viajem até a escola pareceu durar séculos, apesar da escola ficar a poucos quarteirões, e mesmo que Suan tivesse feito Dave parar de falar pelos cotovelos, e começasse um assunto que realmente me interessasse, o clima dentro do carro estava terrivelmente pesado. De modo que assim que o carro parou na vaga de sempre da escola, eu pulei para fora, antes mesmo que todos tivessem saído.

Bruce colocou as alças da mochila, enquanto Suan vinha para meu lado, com um sorriso que já estava começando a me dar nos nervos.

Por mais que ela não soubesse de nada, do que havia acontecido, esperava que ela tivesse percebido, pelas minhas caras e bocas, que eu não estava feliz com a companhia do meu ex caso de verão. Mas ela estava preocupada de mais, com os olhares que meu irmão estava dando a ela aquele dia, para prestar atenção em qualquer coisa que não fosse isso.

Mais uma vez, Dave agia como um completo sem noção. Ele saiu do carro, se espreguiçou e depois veio para o meu lado, como se esperasse que fossemos juntos até os armários, igual todos os dias.

Muitos caras do time de futebol, estavam nas escadas de entrada do edifício, esperando pelas duas estrelas do time da escola. O que era a coisa mais normal do mundo.

Todos os dias quando chegávamos, eu e Suan, ficávamos o máximo que nossos corpos podiam aguentar de hormônio masculino e depois íamos uma para cada sala.

Naquele ano não tivemos a sorte de frequentar alguma aula juntas, alem de educação física, o que aliás fez com que a nossa nota melhorasse bastante.

Então aproveitávamos cada momento que tínhamos juntas, como se não ficássemos praticamente o resto do tempo livre uma com a outra.

Antes que chegássemos perto, do resto dos caras do time, Dave pegou a minha mão e me puxou para um conversa particular, junto as arvores perto da porta de entrada. Aquilo não me surpreendeu, nem um pouco, porem esperava que Suan me salvasse daquela enrascada. Só que assim que o meu irmão colocou o braço por cima do ombro dela, eu soube que não teria como escapar, e que minha amiga estava em outra dimensão naquele momento.

Olhei para Dave e o acompanhei com pressa. Torcendo para que ele soltasse minha mão e aquilo tudo acabasse de uma vez.

"Espero que ela colabore."

-Você esta brava pelas coisas que eu disse ontem?- perguntou ele, quando chegamos perto da árvore mais distante.

Senti vontade de pular no seu pescoço por causa daquilo. Como ele poderia presumir que não?! Só podia ser mais louco do que eu imaginava ser.

-O que você acha?- perguntei olhando firme para ele.

"E agora? Como sair dessa?"

-Olha, eu sei que estamos alterados por causa de todo esse lance que aconteceu na festa do trabalho, mas Princesa já faz três semanas que isso aconteceu.- ele pegou minhas duas mãos.- Você precisa esquecer isso.

Olhei para ele incrédula. Como ele poderia esperar que eu ficasse numa boa quando o havia pego com outra garota?

-Você não pode estar falando sério.- disse formando uma ruga entre as sobrancelhas.

"Vamos Sarah. Seja boazinha."

-É claro que estou. Eu gosto um bocado de você.- ele disse enquanto levava minha mão aos lábios para beijá-la. Senti nojo assim que seus lábios tocaram a minha mão. Um desprezo tão grade que quase me fez vomitar.- Não quero ter que deixá-la por causa disso.

Assim que ele terminou de falar aquilo, comecei a rir sem parar. Exatamente como uma louca faria. Era cômico o que ele estava me dizendo.

"Boa menina."

Me recompus, antes de ficar séria, e fazer aquilo que deveria ter feito na noite anterior.

-Então não se preocupe Dave, porque você não vai ter que me deixar.

"Finalmente. Já estava me dando nos nervos ter que continuar insistindo."

-Que bom Princesa.- ele me puxou para perto de si, e estava prestes a me beijar, quando eu o afastei e o olhei com a minha melhor cara irônica.

Aquela que você olha nos filmes e sonha um dia ter a oportunidade de fazê-la.

-Porque eu vou te poupar do trabalho. Eu mesma estou caindo fora.- sorri sem mostrar os dentes.

Foi a vez dele de ficar surpreso.

-O quê?

-Acabou. Não gostei das coisas que me disse ontem. Não gostei do que você fez na festa do trabalho e muito menos estou gostando de todo esse seu ar convencido.- disse disposta a machucá-lo.- Se eu sou tão sem graça assim como você disse ontem, por que não foi ficar com aquela loira que te peguei de papo aquele dia?

Ele havia assumido uma postura diferente. De repente não era mais Dave o insuperável. Era apenas um cara qualquer que havia levado um fora da namorada.

-Não foi isso que eu quis dizer ontem.- ele procurava a minha mão.

-E o que quis dizer então?- disse me afastando.

"Como escapar dessa? Eu disse exatamente o que queria dizer."

"Não posso deixar que ela faça isso, não agora."

"Todo mundo iria ficar sabendo e a minha reputação ia por água abaixo."

"Preciso ficar longe da Lexi por alguns dias."

-Queria dizer que se você fosse mais minha companheira, eu não teria que conversar com outras garotas.

Eu estava tão enfurecida por perceber que a garota da noite da festa, não havia sido só um flerte qualquer, já que ele realmente mantinha um caso escondido com ela, que nem pensei duas vezes antes de fazer o que fiz.

-Como eu puder ser tão idiota de acreditar em você Dave?- eu o cutuquei com o indicador, o empurrando para trás.- Você disse que gostava de mim, e estava esse tempo todo com outra garota.

"Como ela descobriu?"

-Do que você esta falando?- ele gaguejou.

-Que você é muito pior do que eu pensava, e que merece mesmo essas garotas, que só se interessam pelo seu dinheiro.- me afastei ofendida de mais para continuar uma briga.- Pra mim chega e espero que nunca mais chegue perto de mim.

Me afastei dele com pressa. Temendo a cada segundo que uma crise de choro viesse à tona na frente de tanta gente, mas Dave estava decidido naquela manhã, a fazer o que fosse, para me tirar do sério.

"Ela não pode ir assim. O que os outros vão pensar?"

-Espera Sarah.- ele tentou mais uma vez alcançar minha mão, mas me esquivei dele no mesmo instante.

-Não temos mais nada para dizer um ao outro. Me deixe em paz.- disse andando sem olhar para trás.

-Você é louca garota. Muitas gostariam de estar ocupando o seu lugar e você faz isso. Não pense que depois irei te perdoar.

Sorri enquanto andava, e passava das arvores para um lugar seguro. Onde ele não poderia mais dar seu showzinho, sem chamar a atenção de todos ali.

Bruce e Suan não estavam mais junto aos garotos da escada, e eu nem me esforcei em descobrir onde estavam, já que a vontade de chorar vinha com tudo novamente. Passei pelo corredor com muita pressa, e depois peguei meus livros de inglês e historia, no armário.

Não parei para prestar atenção a uma única pessoa que fosse, no caminho até a sala de aula, e agradeci em silencio, por ter saído de casa bem mais cedo aquele dia. Cedo o suficiente para que todos estivem pelos corredores, rindo enquanto eu ficava sozinha naquela enorme sala sem vida.

Sentei no lugar de sempre. Terceira fileira na janela.

Fechei os olhos depois de colocar os livros em cima da mesa, e estender os braços sobre eles, deixando minha pele absorver todo o sol que conseguisse encontrar.

Apesar de saber que Dave nunca havia sido um cara legal, doeu de mais saber que ele não era fiel a mim. Era como vivenciar a vida do meu pai, só que por um ângulo mais infantil.

Por mais que não gostasse do cara, não queria ter sido feita de boba, como havia acontecido. Não conseguia parar de pensar o que todos falavam as minhas costas, e todas as lembranças das risadinhas de Lexi na educação física, pareceram me cortar ao meio.

Como aquilo havia acontecido com uma pessoa como eu? Como poderia ter acontecido, com uma pessoa, que podia fazer o que eu fazia? Eu não conseguia entender.

Abri os olhos novamente e olhei pela janela, tentando ao máximo parar de pensar naquilo, mas a primeira coisa que consegui ver foi Davi e Lexi presos um no outro.

Realmente não dava para acreditar. Dave já estava agarrado naquela garota, em menos de meia hora, após nosso termino. Ele era um total idiota.

Foi quando tudo começou a mudar na minha vida.

Um bando de garotas eufóricas gritavam pelos corredores, falando histericamente sobre alguém, que eu não sabia quem era. A maioria suspirava e dava gritinhos de felicidade, enquanto as outras, simplesmente sorteavam números.

De onde eu estava, não dava para ouvir muito bem o que elas diziam. E eu nem tinha interesse em saber sobre o que falavam, já que meu humor estava o pior de todos aquele dia.

Eu só as via passar pela porta, e depois voltarem com pressa. Então duas garotas, que faziam a mesma matéria comigo, entraram com pressa e foram direto para a janela, olhar alguma coisa lá fora.

Rezei mil vezes naquele segundo, para que não fosse Dave e suas demonstrações de orgia publica, o motivo de tanta empolgação. A ultima coisa que queria, era ser o assunto do dia.

-Olha.- disse a loira com os olhos grandes.

-Ele é um gato mesmo.- disse Sheila. Eu a conhecera de um trabalho que havíamos feito juntas, na segunda aula de inglês.- Como você sabia que ele começava hoje?

-Tenho meus contatos na diretoria.

Voltei a olhar pela janela, e Dave já não estava mais lá com a Lexi. O que foi um alivio. Mas apesar delas não pararem de apontar, eu não conseguia ver o que as deixavam tão extasiadas, a ponto de todo aquele escândalo.

Foi então que percebi do que estavam falando. Um óculos de sol virou em minha direção, e alguma coisa dentro de mim pareceu gritar. Ele era algo que eu jamais tinha visto. Tinha os cabelos loiros e lisos, a pele um pouco dourada do sol, e altura e curvas suficientes para ser um modelo da Calvin Klein. Mas não era nada físico, o que me chamou atenção. Olhar para aquele garoto, mesmo que de longe, me dava a impressão de familiaridade.

Como se o conhecesse.

Como se fosse urgente sua presença.

De repente, como se pudesse ler meus pensamentos, ele olhou para cima. Exatamente para a janela na qual estava sentada, tirou os óculos escuros e sorriu.

Meu corpo inteiro pareceu pegar fogo, mesmo que parecesse ridículo ele poder me enxergar àquela distancia. Aquele garoto parecia tão misterioso, que aquilo pareceu muito possível.

Então ele colocou os óculos novamente e sumiu da minha vista.

Nem preciso dizer, que passei as três aulas, pensando em quem ele era. Nada que os professores falavam, para mim parecia fazer o menor sentido, porque a minha cabeça estava em outro lugar.

Cogitei três vezes perguntar a Sheila, sobre o garoto, mas era arriscado de mais me expor daquele jeito depois do que havia acontecido com Dave. Não queria a escola inteira pensando que eu era uma qualquer como Lexi.

Então não fiz nada, além de prestar atenção a todos os comentários da garota loira e Sheila, até mesmo aqueles que elas não diziam em voz alta. Nada me fugia aos ouvidos, nem mesmo as coisas mais pervertidas que pretendiam fazer com o pobre rapaz.

As horas se arrastaram, enquanto eu escrevia coisas alheias no caderno, só para que a Sra. Lee não pensasse que eu estava a desafiando a começar um discurso sobre irresponsabilidade escolar.

E cada vez que o sinal soava, eu rezava para que a próxima aula passasse de uma vez.

Quando soou o alarme para o almoço, juntei as minhas coisas e corri para os armários. Guardei com dificuldade os livros, já que meu armário não era nada organizado. Prestei atenção em todas as pessoas que passavam a minha volta, enquanto girava o código do cadeado do armário para fechá-lo, mas o garoto não estava em lugar algum.

Me virei para a multidão a procura do garoto novo, mas não o vi. Então percebi, que ficar parada naquele lugar, não me ajudaria em nada e segui para o refeitório. Passei por Lexi a caminho de lá, e quando ela me deu um sorriso largo, ignorei todos os meus instintos de matá-la.

Apenas passei por ela empurrando com força as portas da cantina.

Boa parte das mesas estavam ocupadas, até mesmo aquela em que eu me sentava quase todos os dias. Bruce estava sentado no lugar de sempre e Suan ocupava o local a frente. Dave não estava lá como de costume, porem, um novo garoto ocupava o seu tão precioso lugar.

O meu lugar, aquele que eu sentava sempre, estava vazio, mas não parecia surpresa para ninguém que eu não estivesse ali.

Assim que tive certeza que o tal garoto também não estava lá, fiquei desanimada. Meus ombros cederam e soltei o ar, que até então não havia percebido estar segurando. Queria tanto ver o garoto, que me desanimou, o simples fato, dele não estar no único lugar onde esperava encontrá-lo.

Frustrada com a sua ausência dei as costas para o refeitório e empurrei a porta com a maior força que pude. Minha força, além do necessário, me fez bater com a porta em alguém. E quando estava prestes a pedir desculpas pela minha atitude, fui sugada para dentro daqueles olhos apertados que me analisavam.

O garoto segurava a ventarola da porta, que eu havia empurrado, enquanto me olhava como se procurasse algo além do que estava visível.

"Estranho."

-Oi.- disse ele, com uma voz doce e ao mesmo tempo grave.

Pisquei os olhos confusa, voltando a então prestar atenção novamente.

-Oi.- disse um pouco séria de mais.

Ele soltou a porta aos poucos, quando eu passei por ela, e parei na sua frente.

-Sinto muito pela porta. Não vi que você estava ai.- disse com um pequeno sorriso constrangido.

"Belo sorriso."

Ele sorriu, visivelmente tentando deixar as coisas menos tensas, enquanto meu rosto inteiro parecia queimar.

-Tudo bem. Eu não deveria estar parado aqui.- disse ele, não percebendo meu rubor, enquanto desamassava a folha que estava na sua mão, e que provavelmente se encontrava daquele jeito por causa do meu encontrão.- É que eu estava procurando a secretaria, mas esse mapa é muito confuso.- ele apontou para o papel.

Estendi a mão, para que ele me passasse o papel. Peguei a pequena folha com os dedos tremendo com o pavor de simplesmente tocá-lo. Mas só depois de passar ilesa por seu toque analisei o papel, percebendo que ele estava de cabeça para baixo.

-Talvez se você o virar de cabeça para baixo, ele tenha serventia.- lhe dei um pequeno sorriso.

Ele pegou novamente o papel das minhas mãos, e depois de perceber do que eu estava falando, sorriu sem jeito para mim.

O olhando de perto, eu podia ver um pequeno sinal que ele tinha bem abaixo, no canto inferior do olho esquerdo, daqueles olhos tão azuis. E cada vez que ele sorria o sinal movimentava-se com seu olhar.

-Acho que você tem razão.

Dei de ombros, encantada com aquela leveza que ele tinha consigo. Depois olhei ao nosso redor, e não havia ninguém no corredor, a exceção do homem que verificava as válvulas dos extintores de incêndio.

-Talvez eu possa mostrar onde fica a secretaria.- disse tentando não parecer desesperada, por sua companhia.

-Se não for atrapalhar seu almoço.

-Não. Hoje eu não estou com fome.- por mais que tentasse parecer casual, sentia que a cada palavra que dizia, eu parecia ainda mais idiota. Sem contar que tinha a impressão de estar parecendo aquelas garotas, que usavam pouca roupa e que ficavam mexendo nos cabelos o tempo todo perto do Dave.

-Obrigada.

"Tão simpática quanto bonita."

"Bom de mais para ser verdade."

"Lembre-se Zacary; nada de ficar pensando em garotas que só querem lhe usar."

"Caramba como eu sou pessimista."

"Só pareça normal! Só pareça normal e não fale besteiras!"

Lembro que aquilo havia me pego totalmente de surpresa. Não havia me concentrado em nada, e mesmo assim o garoto parecia um grito, no meio do deserto. Olhei para ele apavorada, sem nem me dar por conta da expressão que estava fazendo.

-Que foi?- disse ele.

Tentei relaxar e ser o máximo casual possível.

-Nada. Por que?

-Você pareceu assustada.- de repente ele desviou o olhar de mim para seu reflexo, no vidro do quadro de recados bem perto de nossas cabeças.- Não estou com a boca suja de leite não é?- disse ele tentando se ver melhor.

Coloquei a mão na boca, para tentar conter um riso, que veio mesmo assim.

-Não.- gaguejei.- Claro que não.- depois acabei sorrindo.

-Menos mal.- disse ele sem jeito.

"Meu Deus por que foi que eu falei isso?"

"Sou um completo idiota."

Mais uma vez ele me pegou de surpresa.

Não entendia como fazia aquilo.

-Venha. Vou lhe mostrar o caminho.

Andamos um ao lado do outro no corredor. Ele não parava de me fazer perguntas sobre a escola, e eu sentia que poderia passar o dia todo respondendo a suas perguntas, se ele quisesse.

Contei sobre o time da escola e todas as suas ultimas vitórias nas regionais. Falei sobre a biblioteca e todos os livros que ele poderia usar, para agradar, a maioria dos professores.

Ele ria a cada coisa estranha que eu dizia, enquanto eu rezava para que ele não parasse.

-Então, em que ano você está?- perguntou ele.

-No penúltimo e você?

-Ultimo.- disse ele parecendo convencido.

"Que pena. Gostaria de ser colega dela em alguma matéria."

"Não seria ruim conhecer alguém."

Revirei os olhos para sua atitude, ignorando o que não deveria ter ouvido.

Nem havia prestado atenção, que o corredor já estava repleto de pessoas, quando nos aproximamos da secretaria. O tempo ao lado dele havia passado tão rápido, que nem era capaz de lembrar, ter passado por dois prédios para estarmos onde estávamos.

-Você ainda não me disse seu nome.- disse ele, com mais um de seus lindos sorrisos.

-Você tem razão.- disse batendo de leve com a palma da mão na testa. E depois sem parar para pensar, estendi a mão para ele, em um comprimento.- Prazer. Me chamo Sarah Rens.

Ele nem excitou, segurou a minha mão com leveza ao me cumprimentar.

-O prazer é todo meu Sarah.- disse ele com a mão na minha.

Por um momento, pude ver aquele sorriso em meus pensamentos, e mais do que nunca tive a certeza de que aquele garoto, não era igual aos outros quatro mil que frequentavam aquela escola. Cenas de um passado alegre e cheios daquele mesmo sorriso, frequentava minhas ideias. E foi difícil sair da transe que ele me deixou.

Ele continuou segurando a minha mão, sem dizer nada, até que eu ergui as sobrancelhas a ele e dei um pequeno sorriso.

-E você se chama?- disse.

-Ah sim!- ele soltou minha mão.- Me chamo Zacary Becker, mas pode me chamar de Zac. Todo mundo me chama assim.

Eu fiquei repetindo seu nome em meus pensamento, até que olhei para além de Zacary, e percebi que Dave me encarava, com um olhar furioso e nada contente. Não que eu me sentisse mal por ele, nem nada. Eu apenas sabia como era Dave, e o quanto ele podia ser estúpido com quem não gostava, e não queria nem por um segundo, Zacary em sua lista de implicâncias.

-Bom Zac. Estamos bem na frente da secretaria.- gesticulei para que ele olhasse para trás, enquanto ignorava o olhar furioso de Dave.

Ele virou para a porta e viu a placa que dizia secretaria.

"Droga."

Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas ignorei o fato, e dei um passo para trás.

-Agora que você achou, o que procurava, eu vou indo.- disse o fazendo olhar novamente para mim.

-Obrigada mais uma vez.

-Sem problemas.- disse já me afastando.

-A gente se vê por ai?- ele falou um pouco alto de mais.

Só então percebi, que parte da escola, estava olhando para nós. As garotas me olhando com raiva, por quererem estar no meu lugar, e os garotos impressionados por eu estar conversando com outro garoto em pleno corredor. Então as pessoas olhavam de mim para Zac, e depois para Dave. Incluindo meu irmão e Suan, que também haviam aparecido como mágica.

Me amaldiçoei por namorar um garoto da escola, e jurei ficar longe de qualquer fofoca que aquele momento pudesse proporcionar.

-É claro.- disse a ele, com um largo sorriso, e depois praticamente corri para o fim do corredor, querendo desesperadamente me enfiar na aula de educação física.

"Assim espero."

Dei meio sorriso assim que olhei rápido em sua direção. Depois segui, como se minha coleção de livros favoritos, estivesse pegando fogo. Não olhei para trás outra vez, e mesmo assim, sabia que todos me olhavam, inclusive o próprio Zacary.

Segui o caminho inteiro até o ginásio com a cabeça lá na secretaria. E por mais que fosse bem mais importante, me preocupa com o que as outras pessoas estavam pensando, eu não conseguia esquecer o adorável garoto.

Entrei com urgência no vestiário, e coloquei as roupas de ginástica. Tirei a blusa por cima da cabeça e tive uma crise de riso quando lembrei dele falando do leite.

Além de parecer besta, me sentia exatamente do mesmo jeito, pensando em um garoto que mal havia conhecido.

Mas lá no fundo eu sabia que Zacary era diferente dos outros.

Diferente de tudo que eu conhecia, e mesmo sem saber o que estava por vir, eu podia sentir, que ele seria muito mais importante na minha história, do que a maioria das pessoas ao meu redor.

Nada na minha vida era menos do que estranho.

Com toda certeza não.    

Música tema: Mcfly - Falling in love 


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