O preço da Felicidade // DEGU...

By MihBrandao

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Capa por: Stephanie Santos ( @AutoraSSantos ) #-# Aos 18 anos, Alexia não pensa em se comprometer com nada ma... More

Aviso
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Bienal 2022

Capítulo 2

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By MihBrandao

Stefan

- Acorde, Stefan... - Vagamente ouvi Nanda me chamar. - Seu pai pediu para você ir à empresa hoje.

Soltei um grunhido e me encolhi sob as cobertas quando ela abriu as cortinas.

- Você não tem coisa mais interessante para fazer? - perguntei grogue de sono.

- Na verdade, até tenho, mas seu pai disse para eu não sair do quarto enquanto você não acordar. - Ela puxou as cobertas e eu bufei.

- Porra, Nanda. Você já foi mais agradável.

- O que eu posso fazer? Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Eu ri, porque a conhecendo como conheço, é claro que sua resposta seria algo nesse estilo.

Nanda está na minha família desde que eu consigo me lembrar. Sendo bem honesto, sou incapar de recordar um único dia em que ela não tenha estado comigo.

Uma década mais velha que minha mãe, a empregada - que agora é vários centímetros mais baixa do que eu - sempre teve mais tempo disponível para mim do que a médica bem sucedida e o empresário imponente que me colocaram no mundo. Não posso ignorar as pequenas rugas surgindo nos cantos de seus olhos escuros e nem os primeiros fios brancos se insinuando no meio de sua cabeleira negra - embora ela sempre mantenha o cabelo preso em um coque perfeitamente alinhado -, mas, ainda assim, imaginar que um dia ela irá se aposentar e partir me deixa em pânico. Ninguém sabe lidar comigo tão bem quanto Nanda. Ninguém sabe como me dar lições de moral sem me deixar possesso de raiva como ela. Por mais vezes do que consigo contar, eu vi na empregada a mãe de que eu precisava; um futuro sem ela é algo que eu certamente não consigo imaginar.

Exceto nos momentos em que ela me acorda.

- Você podia considerar vestir pelo menos uma bermuda para dormir. - Ela resmungou se dirigindo ao banheiro depois de me encontrar, não pela primeira vez, usando apenas uma cueca boxer sob as cobertas que ela pegou.

- Eu já disse, é desconfortável.

- Desconfortável devia ser a empregada chegar no seu quarto e te encontrar praticamente nu em cima da cama.

Eu ri e finalmente levantei-me, indo atrás dela.

- O que foi? Não vai me dizer que sente desejo por mim. - Agarrei-a pela cintura enquanto estava curvada experimentando com a mão a água da banheira.

- Claro. Sinto um desejo enorme de te dar uns tapas. Me respeita que eu tenho idade para ser sua mãe.

Soltei uma gargalhada enquanto me dirigia até a pia para escovar os dentes.

- Hoje isso é normal. Homens estão se casando com mulheres com até o triplo de idade.

Nanda tirou a mão da banheira em minha direção, me jogando água, o que me fez rir ainda mais.

- Ah, qual é! Imagine isso como manchete de algum jornal: Herdeiro da maior rede de empresas automobilísticas do país se casa com funcionária.

Nanda balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar o riso.

- Você não tem jeito, Stefan.

Mais tarde, depois do banho, me arrumei do jeito que meu pai gosta e encarei meu reflexo no espelho: terno preto sob medida, sapato social, cabelo alinhado - o estereótipo perfeito do riquinho se preparando para assumir as empresas da família e se tornar o eco do pai: poderoso, influente e infeliz.

Balancei a cabeça negativamente para mim mesmo e desci.

- Bom dia, Arthur - cumprimentei o guarda-costas ao encontrá-lo parado próximo à escadaria.

- Bom dia, senhor Stefan.

- Você já não devia estar na empresa com meu pai?

- Recebi ordens dele para vir buscá-lo, senhor.

Revirei os olhos.

- É claro que recebeu. Só espero que saiba que eu pretendo ir dirigindo, o que significa que você irá no banco do carona.

Pude notar seus lábios se inclinarem ligeiramente em um sorriso contido, embora sua postura firme permanecesse inalterável.

Me lembro que, quando era criança, tentava ficar nessa posição também ao lado do homem negro de cabeça raspada que, para mim, parecia tão assustador quanto gigantesco: postura reta, mãos juntas atrás do corpo, olhos focados em qualquer coisa que estivesse em sua frente... não conseguia passar de um minuto assim. Eu nunca fui bom em ficar parado.

Passei por ele e entrei na cozinha, sentando-me na bancada onde Nanda já havia posto meu café. Observei a quantidade de alimentos e fiz uma careta ao notar que não conseguiria comer nem metade do que ela havia servido.

- Bom dia, Stefan - A governanta entrou e não esperou minha resposta. -Wendel estava tirando seu carro do estacionamento, mas eu o mandei guardá-lo novamente. Arthur já está preparado para te levar até a empresa.

Revirei meus olhos sabendo que escutar aquela voz logo no começo da manhã significava apenas uma coisa: eu teria um péssimo dia.

- Eu sei dirigir, Ester. Arthur já está ciente de que eu vou com meu carro.

- Estamos recebendo ordens do seu pai.

- Bem, agora estão recebendo minha. - Lancei a ela meu olhar não-teste-a-porra-da-minha-paciência e ergui uma sobrancelha. - Eu dirijo.

Ela suspirou, então virou as costas e saiu sem responder.

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Alexia

- Você vai me buscar na quéche hoje, mamãe? - Alice perguntou ao se sentar na frente de sua mesinha, depois de guardar seu lanche na mochila.

Apesar de que muitas vezes parecia ter a mente mais madura e desenvolvida do que a maioria das crianças de sua idade, minha irmã ainda apresentava dificuldades ao pronunciar algumas palavras - o que não me causava preocupação, visto que ela acabara de completar três anos. Aliás, seu jeito de falar era, com certeza, uma de suas características que mais me cativava. Eu tinha plena ciência de que, cedo ou tarde, sua língua iria se desenvolver e ela apresentaria domínio sobre as palavras em geral, mas, por hora, preferia sustentar a ideia de que minha irmãzinha seria minha bebê por tanto tempo quanto fosse possível.

Alice tinha um terço da minha altura e grandes olhos azuis como os meus. Seu cabelo, no entanto, se assemelhava ao da minha mãe: um loiro intenso, levemente encaracolado nas pontas. Todos que a conhecessem diriam que éramos parecidas em vários aspectos, mas mesmo se não fôssemos, eu não me importaria. Alice era, de longe, a coisa mais valiosa que existia em minha vida; meu coração pulsando fora do peito, minha alma materializada em um pequeno ser vivo. Eu não sabia se poderia comparar o amor que sentia por ela ao amor que uma mãe pode sentir, mas, sinceramente, eu não acreditava que algum dia seria capaz de amar alguém com tamanha intensidade. Isso parecia impossível para mim.

- Não, meu amor. Hoje eu tenho que dar monitoria - Coloquei um pedaço do bolo de banana que fizéramos no dia anterior em seu pratinho rosa e um pedaço no meu. - Hoje tia Lili vai buscar você e amanhã eu vou, está bem?

- Me acóda condo você chegar - pediu levando o bolo à boca.

- Pode deixar. Termine logo, senão vamos nos atrasar.

Como de costume, saímos de casa às 06h20min, e depois de deixar Alice na creche onde ela ficava até às 16h00min, eu fui direto para a lanchonete onde trabalhava servindo mesas em período integral.

Assim que entrei pela porta atraí a atenção do moreno de olhos escuros como jabuticabas que acabava de passar um pano úmido pelo balcão.

- Bem na hora, Lexy - Ele pronunciu com um sorriso.

- Eu sempre chego na hora, Rafa - brinquei, sorrindo de volta.

Quem não conhecia aquele homem de cinquenta e poucos anos - embora bem conservado para sua idade -, podia facilmente confundir sua expressão de poucos amigos com arrogância, mas eu o conhecia bem. Quando cheguei à cidade quase dois anos atrás com nada além de uma bebê e uma bolsa com poucas roupas, a primeira coisa que fiz foi procurar um emprego. Dezenas de pessoas me disseram "não" antes de eu entrar naquela lanchonete no fim de uma tarde. Eu estava beirando ao desespero. Não havia ninguém a quem pudesse recorrer pedindo apoio financeiro, então eu precisava trabalhar. Pelo bem da minha irmã, eu precisava.

Lembro-me de que cheguei até o caixa sem dizer uma palavra, e coloquei meu currículo amassado sobre ele, na frente do moreno alto que estava de cabeça baixa fazendo algumas anotações em um caderno; era evidente que estava apenas esperando os últimos clientes saírem para fechar o estabelecimento. Ele desviou a atenção de sua tarefa apenas para ver a folha que eu apresentava antes de resmungar numa voz grave e entediada: "Não estamos contratando"; sem nem sequer se dar ao trabalho de olhar para mim antes de voltar a fazer suas anotações.

Eu não fui embora. Percebendo que eu continuava de pé em sua frente, ele ergueu os olhos e me encarou... e então algo em minha expressão fez a sua mudar. Não me recordo se eu falei algo, talvez tenha implorado, mas não tenho certeza. Rafael chamou a esposa, e assim que ela surgiu de uma porta no canto, ele perguntou: "Podemos dar um emprego a essa garota?"

Foi o melhor "sim" que já ouvi na vida. Rafael e Mari me acolheram, e desde então, sinto que tenho tudo o que preciso.

Guardei minha bolsa com roupas e livros em um pequeno armário perto do caixa e peguei meu avental antes de entrar na cozinha, encontrando a mulher rechonchuda que acabara de tirar uma bandeija de peito de frango da geladeira.

- Bom dia, Mari.

- Bom dia, linda. - Covinhas surgiram em suas bochechas quando ela sorriu para mim. - Como foi o fim de semana?

- Interessante. Me envolvi com a polícia essa madrugada.

- Minha nossa, eu já estava me perguntando quando é que você faria alguma doideira adolescente! O que aprontou?

- Denunciei a festa do apartamento de cima. Estava me atrapalhando a estudar.

Mari cravou os olhos castanhos nos meus por um momento antes de soltar uma risadinha, balançando a cabeça para os lados.

- Por um momento esqueci quem era a pessoa com quem estou falando. Sério, Lexy, você precisa fazer coisas mais interessantes. Precisa aproveitar a juventude, menina.

- Acha que passar os dias com você já não é interessante o suficiente? - Terminei de prender o laço do avental atrás das minhas costas e me aproximei dela para judá-la a tirar algumas bandeijas de carne do congelador.

Mari estreitou os olhos para mim.

- Estou falando sério.

Sorri ao colocar as bandejas sobre a pia.

- Eu já tenho tudo o que preciso, Mari. Não sei como poderia tirar mais proveito da minha juventude.

- Lexy...

- Eu amo seus conselhos. - A interrompi antes de depositar um beijo rápido em sua bochecha. - Mas agora está na hora de trabalhar.

- Se quiser eu posso te ensinar a ser adolescente! - A ouvi dizer antes de passar por Rafael, o que me fez soltar uma gargalhada.

Não levou muito tempo até a lanchonete ficar agitada. O entra e sai de clientes me mantiveram ocupada durante todo o dia. Comi biscoitos na hora do almoço sem parar de servir, conversei com meus clientes amigos e com os que eu ainda não tinha feito amizade, servi mesas, limpei mesas, aperfeiçoei minha técnica de apoiar bandejas na cabeça, arrumei cadeiras, limpei lanches que derrubaram no chão, servi mais mesas... no final, minhas pernas latejavam como todos os dias. Já havia virado rotina.

- Rafa, deu meu horário - falei entrando na cozinha.

- Pode ir, Lexy. A gente termina aqui.

Tirei meu avental e peguei minha mochila, jogando um beijo para sua esposa.

- Até amanhã, Mari.

- Até amanhã, querida. Boa aula.

- Obrigada.

Suspirei quando senti o vento da tarde bater em meu rosto e repassei as próximas tarefas que eu ainda precisava concluir aquele dia: chegar à universidade, dar assistência a alguns alunos e apresentar um seminário.

A pior parte do meu dia tinha acabado... ou era isso o que eu pensava até aquele momento.

- Boa tarde, dona Teresa - cumprimentei a senhora negra corpulenta atrás do balcão quando entrei na área de monitoria da universidade, que tirou os olhos do monitor e me encarou por cima dos óculos meia-lua.

- Boa tarde, Lexy. Quase se atrasou, hein?

Na verdade, eu estava atrasada. Devia estar ali às 16h00min, mas olhando o relógio atrás de dona Teresa, vi os ponteiros marcarem 16h05min.

- Tive um dia cheio - Sorri. - Quantos alunos para hoje?

- Quatro - Ela respondeu conferindo a planilha sobre a mesa. - Dois do primeiro, um do terceiro e um do quinto.

Franzi a testa e tentei ler o que estava escrito na prancheta.

- Quinto? Eu não dou monitoria para quinto período.

- Sim, eu sei, meu bem. Eu nem devia estar te pedindo isso, mas me deixe explicar. A monitora dele ligou mais cedo dizendo que não poderia vir por causa de uma enxaqueca. Eu sei o quanto isso é inconveniente, mas ele está sem monitor agora, então se você puder ajudar... - Ela encolheu os ombros como se pedindo desculpas.

- Tudo bem, eu entendo. Sinto muito por ele, dona Teresa, de verdade. Mas eu estou no terceiro período, mesmo se eu quisesse, como poderia conhecer matérias do quinto?

- Ah, você não vai dar aula para ele. Na verdade, ele é um rapaz muito inteligente até onde eu sei. O único problema é que tem certa dificuldade em estudar sozinho, parece que se distrai com facilidade, então... bem, você só precisa garantir que ele mantenha o foco.

Hesitei por um instante, então percebendo meu silêncio, dona Teresa completou:

- Mas você não é obrigada, Lexy. Caso se recuse a ajudá-lo, sua grade permanecerá intacta.

- Não tem outros monitores dessa matéria? - Me ocorreu perguntar.

- Sim, tem o Vitor, mas ele já está lotado. Seria impossível encaixar.

Suspirei. Tudo por causa daquela maldita festa no apartamento. Se eu soubesse, teria acabado com ela mais cedo.

- Apenas hoje?

- Apenas hoje.

- Tá, tudo bem. Quatro alunos para três horas - Olhei para o teto pensando rápido. - Três vezes sessenta, cento e oitenta; dividido por quatro... quarenta e cinco - Balancei a cabeça. - É isso, cada um tem quarenta e cinco minutos. Me dê os materiais de que vou precisar.

- Garota, você é uma máquina - Teresa riu me entregando alguns livros.

- Eu meio que preciso ser.

- A primeira já chegou. Está te esperando.

- Obrigada - Pisquei para ela e caminhei até minha mesa, onde uma garota ruiva estava sentada teclando distraidamente no celular. - Boa tarde, Allana.

Ela ergueu os olhos para mim e abriu um sorriso genuíno ao passo em que guardava o aparelho na mochila em seu colo.

- Oi, Lexy. Tudo bem?

- Estou ótima. O que vamos estudar hoje?

- Geometria analítica.

Abri o livro e os primeiros quarenta e cinco minutos passaram antes que a gente percebesse. Allana absorvia facilmente tudo o que era lhe passado, o que eu achava ótimo.

- Até mais - Ela disse depois que terminamos, colocando sua mochila no ombro.

- Boa sorte na prova - respondi com um aceno.

O próximo foi bem mais difícil. Bryner não era o tipo de garoto exemplar em uma sala de aula.

- Mas isso é matemática básica! - Eu insistia. - Você nunca estudou tabuada?

- Nunca fui obrigado.

- Então por que não faz a conta aqui no rascunho?

- Porque eu sei que você sabe a resposta - Ele deu de ombros.

Respirei fundo. Calma, Lexy... você precisa dessas monitorias...

- Doze vezes doze são cento e quarenta e quatro, Bryner. Pelo menos isso você devia gravar...

A próxima foi da minha turma, Carol. Ela não era exatamente a melhor da classe, mas era bastante esforçada, então progredimos o suficiente para ela conseguir terminar o trabalho que nos tinha sido passado.

- Te vejo mais tarde. - Ela se despediu.

- Até mais.

Guardei todos os livros que eu já havia utilizado e peguei o do quinto período. Enquanto o último aluno não chegava, folheei algumas páginas e fiz uma careta ao encontrar equações que, para mim, pareciam indecifráveis. Era bem lógico que se ele precisasse de qualquer ajuda além de apoio moral, estaria perdido comigo.

Levantei a cabeça quando alguém se aproximou da minha mesa, e de repente tudo ao meu redor pareceu perder o foco.

Não... dona Teresa só pode estar de brincadeira.

Na minha frente um sorriso de tirar o fôlego se abriu, revelando dentes perfeitos, alinhados. Olhos verdes, intensos e levemente estreitos me observavam com diversão e percebi quando ele inclinou a cabeça para um lado.

- Ora, ora, se não é a Marrentinha Destruidora de Festas...

Maravilha. Aparentemente, é aqui que começa a pior parte do meu dia.

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