Escolhida || Livro 2 da Trilo...

By gabsel_

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Em um futuro distante, Claire Roberts é forçada a enfrentar uma cidade apocalíptica em busca de uma vingança... More

Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Capítulo Quarenta e Quatro
Capítulo Quarenta e Cinco
Capítulo Quarenta e Sete
Capítulo Quarenta e Oito
Capítulo Quarenta e Nove
Capítulo Cinquenta
Capítulo Cinquenta e Um
Capítulo Cinquenta e Dois
Capítulo Cinquenta e Três
Capítulo Cinquenta e Quatro
Capítulo Cinquenta e Cinco
Capítulo Cinquenta e Seis
Capítulo Cinquenta e Sete
Capítulo Cinquenta e Oito - FINAL
Agradecimentos e Última Obra
ÚLTIMO LIVRO SAI HOJE

Capítulo Quarenta e Seis

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By gabsel_

*gente do céu, esse capitulo ficou enorme!!! Sei que vocês preferem capítulos pequenos, desculpa, foi sem querer!! É que esse capitulo é essencial para a história! Eu já tinha o escrito antes, mas não tinha percebido que tinha ficado tão grande, só percebi agora que tirei do notas e coloquei aqui e apareceu mais de 4000 palavras.*

Após a visita de Brenda, fui submetida há milhões de testes. Enfiaram tantas agulhas em mim que eu me sinto perfurada.

Eu estou quase dormindo enquanto meu corpo afunda cada vez mais no colchão da cela. Ah, uma cama. Tudo o que eu queria. Depois de todos aqueles testes e todo aquele sangue ser tirado do meu braço, estou me sentindo completamente cansada. Acho que nunca estive tão cansada como estou hoje. Estou tão dopada... tão cansada... parece que não durmo faz meses.

Minha mente já está quase entrando na escuridão completa...

Então, a porta se abre. Eu me levanto num segundo. É Max e meia dúzia de soldados.

— Me acompanhe — ele diz.

***

Caminho junto aos soldados da LPB. Não entendo o motivo deles. Max sabe que não vou fazer nada, pois ele está com meus amigos. Por que precisa de tantos soldados? Se eu quisesse, já tinha matado todos eles e atirado na cabeça de Max — ou talvez não, já que estou tão cansada que não consigo nem andar direito —, mas se eu fizer isso, sei que estarei matando meus amigos também.

Eles arranjaram um jeito de me pegar: pegando meus amigos. Talvez seja por isso que sobrevivemos até agora. Max não precisava de apenas eu viva. Ele precisava de todos vivos para que eu fizesse tudo o que ele pedisse.

Passamos por um corredor que talvez eu ainda não tenha passado — ou tenha, já que os corredores daqui são praticamente todos iguais. Andamos até o final do corredor, onde há uma porta de vidro. Consigo ver através dela, uma sala com paredes e pisos escuros.

Fico imaginando o motivo dele estar me levando para cá. Não é um laboratório ou alguma coisa parecida. É apenas uma sala escura vazia.

Quando chegamos perto, aos soldados param e dão passagem para que eu fique ao lado de Max. Assisto ele passar um cartão em um painel ao lado da porta e logo depois, aproximar o rosto. Um lazer verde passa por seus olhos.

O sensor fica completamente verde e a porta se abre automaticamente.

Bem-vinda ao futuro, Claire.

Apenas eu e ele entramos. E isso me deixa curiosa. Ficamos parados no centro da pequena sala que se parece mais com uma caixa preta. Olho para Max e o assisto apertar um botão em uma das paredes pretas.

Levo um susto ao ver as paredes se transformando em branco. Tudo ao redor fica branco. É como se estivéssemos em um infinito branco. Fico me perguntando se eu acabei desmaiando de tanto sono que estou e estou caída no chão preto daquela sala escura neste exato momento. Palavras aparecem na minha frente como uma imagem 3D.

Olá, Max.

Junto com as palavras em 3D, uma voz robótica fala junto. Diversos ícones passam ao redor de meu corpo e aparecem ao redor do infinito branco inteiro. Vejo Max tocar em um que se parece com uma filmadora. Nisso, os ícones somem e milhões de outros aparecem. São imagens que parecem ser de vídeos.

— Estamos em uma sala de vídeo. O que vou passar agora são vídeos de câmeras que filmavam uma imagem em 360º. — Max explica.

Tento analisar os vídeos que se encontram mais perto de mim e vejo corredores, laboratórios, lugares que parecem uma sala de aula...

— O que é tudo isso? — pergunto.

— Você vai ver, Claire. — Ele fala.

Olho ao redor e vejo milhões de vídeos. Cada vez mais aparecem. É como se não estivéssemos dentro daquela caixa preta, mas dentro de um lugar onde tem milhões de telinhas voadoras com imagens congeladas e uma data pequena no canto inferior direito.

Max estica a mão e toca o dedo em um deles. Nisso, os vídeos somem e tudo ao redor começa a se transformar em uma sala branca com mesas, bancadas, tubos de ensaio... Enfim, um laboratório.

— Você precisa entender, Claire — ele fala. — Não me chame de louco. Não sou eu o louco da história.

De repente, vejo a porta do laboratório se abrir. Um homem que aparenta ter uns vinte anos entra. Ao ver seu rosto, me lembro de Max imediatamente. Ele é igualzinho Max, mas sei que não é ele.

Vejo o homem ir até a bancada e apoiar as duas mãos nela. Ele parece um pouco bravo. É tudo tão real. É como se o vídeo estivesse sendo passado pelas quatro paredes, pelo teto e pelo chão, dando a ilusão de estarmos no vídeo. Me sinto como se estivesse dentro do laboratório, mas sei que não estou. Tenho medo de andar para frente e acabar batendo contra aquelas paredes da sala pequena em que estamos de verdade, por isso, permaneço firme onde estou.

O homem empurra vários tubos de ensaio e os joga no chão. Vejo lágrimas nos seus olhos e ele solta um berro.

A porta se abre e uma mulher de cabelos curtos e ruivos, pequena e com olhos bem escuros entra. Ela corre em direção ao homem.

— Jorge — ela fala. —, você não pode continuar com isso. Isso só está te matando.

— Não posso parar aqui. — ele fala. — Eu estou tão perto... A imortalidade...

— Você tem 59 anos e tem a aparência de 20 — fala ela. — Não chegou na imortalidade. Você apenas conseguiu tirar suas rugas e trocar sua aparência.

— Não é só por fora — ele fala, balançando a cabeça negativamente. — Eu sinto por dentro também, Daiana. Eu me sinto bem.

— Seus testes mostram, Jorge — ela fala. — Você precisa parar. Está morrendo.

Agora que percebo. Como não reparei antes? Talvez esteja tão cansada que não tenha nem imaginado. Aquele era Jorge. Pai de Max. O que buscava a vida eterna.

Olho para Max. Olho para ele.

— Não posso parar de pesquisar — ele fala. — Preciso que alguém continue por mim. Preciso ter um filho. Preciso que ele continue isso por mim.

A mulher olha para ele sem dizer nada. Ela parece um pouco assustada. E então eu percebo que ela é a vice-presidente que foi fertilizada para ter Max.

São os pais de Max.

— Eu preciso que você faça isso por mim — fala ele, olhando para ela. — Tenha um filho meu. Eduque-o, ensine-o... ame-o...

Vejo lágrimas preencherem os olhos dela.

— Ela não ia aceitar — fala Max. — Aceitou só depois da morte de meu pai.

Então, a imagem muda. Estamos em outro laboratório. Neste, há milhões de tubos de ensaios com líquidos de diversas cores pendurados em diversas prateleiras nas paredes.

Vejo Jorge de costas. Ele está fazendo algo que não consigo ver o que é. Então, ele grita e seu corpo cai duro no chão. Uma seringa com um líquido verde cai ao seu lado junto com sangue e eu vejo seus olhos sem vida abertos.

Daiana entra e então começa a gritar por médicos. Mas daqui, eu já percebo que Jorge está morto e não irá voltar.

Sua ideia da imortalidade o matou. Seus próprios experimentos o mataram. Ele se usou de cobaia.

— Eu nasci nove meses depois no mesmo ano. — fala Max enquanto a imagem de Daiana gritando continua passando. — Por fertilização, é claro. Meu pai era o único maluco que deixava seus espermatozoides guardados para alguém ter um filho dele.

Ela chora desesperadamente. Vários cientistas chegam para levar o corpo sem vida de Jorge para um outro lugar.

Então, a imagem se substitui novamente. Somos levados de um laboratório, para uma sala de aula. As paredes e o chão completamente brancos e nos refletem de tão limpos que são.

Há um aluno. Uma criança. Ele está sentado em uma das cadeiras da frente. Não há janelas. Com a porta aberta, vejo vários homens e mulheres de jaleco branco passarem o tempo todo.

— Estamos no Centro? — pergunto. — Por que tem uma criança no Centro? Por que tem uma sala de aula no Centro?

Nisso, Daiana, um pouco mais velha do que o último vídeo passado, entra na sala e fecha a porta. Ela vai até à frente da lousa que está cheia de fórmulas e nomes estranhos. Vejo um desenho de genes se estender pela lousa toda e embaixo vejo nomes como "anticorpos" ou "enzimas"...

Isso é biologia. Biologia de ensino médio. Mas há uma criança aprendendo isso. Uma criança que parece ter menos de dez anos.

— Vamos voltar... — fala ela.

— Eu já disse, mãe! — o garotinho fala. — Eu não quero estudar isso! É muito chato!

Mãe?

Olho para Max. Ele me encara.

— É você — sussurro.

Não sei por que sussurrei. Não sei por que estou me importando com isso. Não sei nem como estou absorvendo tudo isso com o cansaço que estou sentindo nesse momento.

A única coisa que eu queria era minha cama. Não, eu queria meus amigos soltos. Não, eu queria destruir a LPB. Ah... Não sei. Não sei. Estou muito cansada para pensar no que eu quero.

— Bom, sabe que era o que seu pai queria antes dele morrer em um trágico acidente de carro — ela fala.

Acidente de carro. Sempre essa mentira para contar para suas crianças quando elas não podem saber o motivo que causou a trágica morte de algum parente que você nem chegou a conhecer.

— Mas eu não quero — Max criança fofinha fala. Não o Max monstro que está ao meu lado. — Eu quero jogar bola... Ou vôlei, ou tênis... Qualquer esporte!

Daiana fica em silêncio por alguns instantes. Então, ela ri. E se aproxima da criança. Se aproxima cada vez mais. Ela se agacha ao lado da mesa dele e então fala:

— Seu pai também queria uma coisa. Ele queria muito uma coisa... Mas sabe o que aconteceu? Ele não conseguiu. Ele morreu.

Max versão criança engole o seco. Vejo o medo em seus olhos. Até eu tenho um pouco de medo de Daiana nesse momento.

— Max, você precisa terminar o que seu pai criou... Ou ele vai se decepcionar com você. Ele está te observando e não está gostando das suas atitudes. — Ela fala. — Você quer seu pai chateado mesmo após a morte?

Vejo Max se afastar um pouco dela, mas ela se aproxima ainda mais.

— Você quer?! — ela pergunta, quase gritando.

Max balança a cabeça, negando rapidamente. Percebo que Max adulto e cruel faz a mesma coisa.

— Ótimo — fala Daiana.

Que horror. Max não era louco. Max foi transformado em louco quando criança. Ele poderia estar fazendo o que gosta e nada disso teria acontecido. As pessoas continuariam vivas, eu não seria a Escolhida e poderia estar dormindo em minha cama neste exato momento.

Estou realizando um enorme esforço para me manter de pé e continuar prestando atenção nas imagens que passam ao nosso redor. Somos levados para outro lugar. Um lugar bem diferente agora. Vejo o chão se transformar em madeira junto com as paredes. Uma mesa aparece com duas cadeiras e duas pessoas sentadas nelas. Max e Daiana. Os dois estão mais velhos. Max já está quase da altura que é hoje em dia e parece ter a minha idade. Daiana criou rugas no rosto e encurtou bastante seu cabelo, de uma maneira em que ele fique na altura do queixo.

Os dois estão comendo algum tipo de carne com salada e com um copo com algum líquido roxo escuro dentro.

— Eu tinha 16 anos — ele fala. — Esse vídeo eu mostrei para poucas pessoas, só as que eu confio.

Solto uma risada.

— Você confia em mim? — pergunto.

— Não, mas sei que se você contar para alguém, ninguém vai acreditar em você. — Ele fala. — Os únicos que irão acreditar serão seus amigos, mas não fará diferença eles saberem.

O que será que ele esconde da LPB? Por que ele está me mostrando tudo isso? Mesmo que a vida dele tenha sido horrível, ele não poderia ter feito o que fez. Não faz sentido ele me mostrar isso tudo.

— Eu saí pouquíssimas vezes do Centro. — ele explica. — Moro em um dos quatros que temos aqui. Nesse dia, estávamos no meu quarto.

Após Daiana engolir o pedaço de carne que estava em sua boca, eu acabo percebendo que também estou com fome e ela aponta para Max com o garfo.

— Obrigada por ter me convidado para vir jantar com você, Max — ela fala e começa a cortar outro pedaço de carne. — Isso está muito bom...

— Que bom que esteja gostando. — fala Max, indiferente.

Ele não parece estar nem um pouco animado com essa janta, ao contrário de Daiana que parece estar feliz.

— Eu estava pensando... — fala Daiana. — Acho que os testes com animais não surgem o mesmo efeito que surge com humanos...

Ela é interrompida pelo filho:

— Eu olhei os arquivos da LPB.

Daiana esbugalha os olhos, como se ficasse surpresa. Então, ela disfarça e mostra-se indiferente. Vejo ela começar a cortar outro pedaço de carne em seu prato, sendo que já tinha um pedaço cortado.

— E daí? — ela fala.

Vejo um sorriso se abrir no rosto de Max. Ele se inclina e apoia seus braços na mesa.

Isso está começando a se tornar um pouco mais interessante.

— Papai morreu em um acidente de carro ou ele se usou de cobaia em um de seus experimentos? — ele diz.

Ela encara Max. Então, fica clara a preocupação que ela está sentindo.

— Ele morreu tentando fazer aquilo que acreditava — ela explica.

— Você mentiu! Mentiu sobre ele! Mentiu sobre tudo! — Max parece um pouco bravo.

— Ok! Eu menti! — admite Daiana. — Mas eu menti para o seu próprio bem. Eu não queria que soubesse que seu pai ficou tão obcecado por seu projeto, que acabou morrendo.

Max ri. Uma risada que debocha da cara de sua mãe.

— Você nunca me contou que ele ia deixar a LPB para mim!

E então, não consigo evitar andar um passo para frente. Não sei direito o motivo de ter dado esse passo. Me lembro de que estou em uma caixa preta enquanto vídeos são reproduzidos dentro dela, produzindo uma ilusão de óptica fazendo com que eu acredite que estou no mesmo lugar que eles estão.

Daiana olha para Max. Ela está suando e vejo suas mãos tremerem. Além disso, lágrimas tentam escapar de seus olhos.

— Você não estava pronto para saber disso ainda — fala ela. — Você ia se tornar o presidente. Sempre foi o vice-presidente. Mas ainda não está pronto...

— Você poderia ter me contado! — ele cospe as palavras.

Então, Daiana pega o copo e começa a beber o líquido — que desconfio que seja vinho — desesperadamente. Ela vira o copo de uma vez e suas lágrimas começam a escorrer pelas bochechas.

Max encosta suas costas na cadeira. Vejo seus olhos brilharem com as lágrimas. Meu coração começa a bater mais rapidamente.

— Você não passa de uma mentirosa — ele fala, balançando a cabeça negativamente.

Daiana derruba o copo no chão e o mesmo se espatifa, se transformando em cacos de vidro. Sua tremedeira começa em alta velocidade.

— O que você fez? — ela pergunta, tentando puxar o ar para seus pulmões.

— Sarin — ele fala. — A mesma arma química que matou o papai.

— O... O... Quê? — ela vai de joelhos ao chão e começa a tremer descontroladamente.

Eu dou mais um passo para frente. Meu cansaço se vai por um instante e é substituído pela tensão.

— Eu sei que você trocou a substância da vida eterna do papai por sarin. — Ele fala. — Você o matou! Você queria presidir a LPB! Eu sei que você tem a substância do papai. Ele encontrou a vida eterna e você o matou.

Ela tenta se aproximar dele, mas acaba caindo e ficando de quatro no chão.

— Você não entende! — ela fala, ou tenta falar. — Ninguém pode... Alcançar a vida eterna... Seu pai estava brincando com a natureza! Eu tive que... Impedi-lo!

— Então por que me teve? Por que me criou? Eu era a pessoa encarregada para continuar o projeto dele! — Max está quase gritando. Lágrimas escorrem pelo seu rosto.

— Eu agi sem pensar — ela fala. — Me... Perdoe...

Sua voz sai totalmente falhada e as palavras quase não saem. Ela fica de joelhos novamente e coloca as mãos no pescoço.

Max se levanta de sua cadeira e se aproxima de Daiana e se agacha ao seu lado.

— Você acha que merece o meu perdão? — ele ri. — Você estava dominando a LPB. Estava mandando todos fazerem o que queria. Você tem sorte de eu te matar de uma maneira rápida, mãe.

Começo a dar mais passos para frente.

— Claire, pare de andar — fala Max adulto.

Eu paro. Não sei por que estou andando. Não sei por que meu coração está disparado. Não entendo como Max teve tanta coragem para matar a mulher que o criou. Talvez essa mesma mulher tenho o ensinado a ser frio e cruel. E isso criou o Max que vemos hoje.

— Socorro! — a mulher pede com sua voz extremamente baixa e quase impossível de se ouvir. — Socorro!

Max empurra deus ombros e a mãe que o criou cai contra a madeira fria do chão. Dou mais um passo para frente sem perceber.

Mentalmente, repasso tudo que eu vi até agora: Jorge estava obcecado para conseguir algo que o deixasse imortal. Ele conseguiu algo, mas Daiana trocou a substância por outra que leva a morte instantânea. Max foi fertilizado em Daiana. Ela deu aula para ele de como ser uma pessoa horrível e como mexer com a biologia de um modo que mate todos ao seu redor. Ele cresceu e descobriu o verdadeiro motivo da morte de seu pai, e então se vingou, colocando a mesma substância que matou seu pai no vinho que Daiana virou de uma só vez.

Agora, Daiana se debate no chão. Max chora e grita por socorros, para disfarçar seu homicídio.

Isso tudo é tanta coisa para absorver. Eu tento ir mais perto e quando dou mais um passo, bato contra algo transparente e me lembro que estou em uma pequena caixa preta com Max.

A imagem muda bem na hora e eu me afasto, andando de costas. A madeira que estava pisando se transforma em metal e nós somos levados para outro corredor do Centro.

Vejo Max. Ele está parado em frente a um retrato onde Daiana e Jorge estão abraçados e uma dúzia de cientistas estão atrás. Ao lado desse retrato, há outro com uma outra pessoa no centro e vários cientistas atrás. Percebo que um dos cientistas atrás é Jorge. Quando um homem chega apressadamente no corredor com um retrato na mão, ele se junta a Max e pendura o outro retrato ao lado dos demais. E então, eu vejo Max na frente de vários soldados e cientistas do Centro.

Analisando os três retratos, percebo que os três retratam os presidentes da LPB. Quando Max se vira para o homem que pendurou seu retrato, levo um susto com sua aparência de quem não dorme há semanas.

— Obrigado — ele fala ao homem.

O homem sorri e analisa os retratos com Max.

— O senhor é o novo presidente da LPB — diz o homem. — Por onde vai começar?

Max sorri. Eu me surpreendo, pois eu sei a resposta dessa pergunta. Foi aí onde ele começou. Foi aí onde seu plano de destruir o mundo começou.

— Eu não ia continuar o plano do meu pai. O plano dele acabou matando nossa família. — Max do presente fala. — Eu vi o que a sociedade fez. Vi o que fizemos para nós mesmos. Vi no que os humanos se tornaram. Eu saí poucas vezes do Centro e vi tantas coisas ruins... Tanta crueldade...

Acho hipócrita da parte dele falar da maldade do mundo. Afinal, foi ele quem matou a América do Sul inteira.

— Os humanos precisam de um recomeço, Claire. — ele fala. — Eu precisava fazer algo.

— Mandem parar com o projeto de meus pais. — Max do vídeo fala. — Não quero mais pesquisas sobre a imortalidade. Quero fazer o que esse laboratório fazia quando foi fundada. Quero voltar às origens. Nosso novo foco agora são as armas biológicas.

O vídeo muda. Somos teletransportados para outro lugar. Dessa vez, um corredor de um hospital.

Vejo um homem de jaleco branco vir com passos apressados em nossa direção. Quando meu corpo vai trombar com o do homem, eu o vejo desaparecer e reaparecer atrás de mim, como se tivesse me atravessado e eu nem tivesse percebido.

— Começamos o Projeto Escolhido com diversos bebês. Todos da cidade de São Paulo, já que é onde o Centro fica. — ele explica.

O homem entra em uma sala e o vídeo muda novamente. Somos levados para uma sala onde há uma mesa com um berço e um bebê deitado confortavelmente nele.

— Minha mãe escondeu a substância que meu pai criou, mas nós encontramos — ele continua. — A substância que carrega a imortalidade... Juntamos ela com as substâncias da Planta 23 e injetamos em um dos bebês. Sabíamos que algum desses bebês aceitaria alguma das substâncias dadas e teriam o anticorpos para o vírus. E esse era um dos pontos crucias da nossa missão, já que se liberássemos o vírus pelo mundo todo não sobraria ninguém para o recomeço da espécie humana. Por isso, precisávamos de algo que impedisse o vírus de tomar conta do mundo inteiro.

Vejo o homem retirar uma enorme seringa do bolso com um líquido amarelado. Ele se aproxima do bebê e estica seu minúsculo braço. Vejo a agulha entrar em seu braço e o bebê fazer uma careta. Mas ele não grita. Ele não chora.

Sinto uma dor no braço. Uma pinicada. Em seguida, algo mais forte. É como se a agulha estivesse entrando em mim. Sei que é psicológico, mas me sinto na pele do bebê. É como se eu fosse...

— Sou eu — sussurro.

Max não fala nada. Sou eu e alguém espetou algo no meu braço quando eu era apenas um bebê.

Alguém injetou em mim uma mistura de imortalidade com a Planta 23. Alguém me transformou na Escolhida.

— Depois disso, você foi devolvida ao berçário e seus pais biológicos cuidaram de você sem saber que você era um fruto de um experimento científico. — Max fala. — Claro, com olheiros te vigiando. Após o dia que o vírus foi liberado, nós desviamos seu caminho para o condomínio.

— Quem eram meus olheiros? — falo.

Não sei bem o motivo de ter perguntado, talvez seja só para saber se há mais alguém que esteja me traindo.

— Seus vizinhos, professores... Ninguém que você conversava muito, mas que você era obrigada a conviver.

A minha vida nunca me pertenceu mesmo. Pertenceu a Max. Pertenceu a LPB. De um jeito ou de outro, eu acabaria em uma cela na LPB. Era para eu estar aqui. É o meu destino estar aqui.

— Você está tentando salvar a humanidade a destruindo? — falo. — Está matando todos para um novo começo?

— Sim — ele responde. — Eu sei o que tem além da cúpula. Não há outra maneira de salvar a humanidade além de um recomeço.

Eu não sei o que tem do outro lado da cúpula. Eu não faço a mínima ideia. Não sei nem se o céu é azul. Mas sei que qualquer lugar é melhor do que viver nessa destruição. Sei que além daqui, há esperança.

— Sempre tem outro jeito — digo.

— Dessa vez não — ele fala.

— Do que vai adiantar? Somos humanos. Mesmo que você recomece a humanidade, outra surgirá e pode ser pior do que a anterior. Você destrói tudo e quando reconstrói, continua a mesma coisa. As pessoas vão construir cidades, vão desenhar linhas nos mapas e dizer que uma parte dele pertence a alguém e isso causará guerras. Sempre foi assim e sempre será, mesmo que você reconstrua tudo.

— Não, dessa vez não! Eu estarei no comando de tudo, não acontecerá mais guerras, não haverá mais assaltos...

— Espera... — interrompo ele e me viro para encara-lo.

As paredes da caixa preta voltam ao normal porque Max apertou o botão. Voltamos para dentro da sala escura.

Encaro Max fixamente. Entendo o que ele fez. Entendo o porquê de ter feito. E entendo o que vai fazer.

— Você vai estar no comando? — pergunto.

Um silêncio predomina. Ele respira fundo.

— É por isso que fez tudo isso — falo. — Quando o mundo acabar e você tiver o seu "recomeço"... Você estará no comando. Estará no controle do mundo.

Ele abre a boca para falar, mas eu o interrompo:

— Você realmente é louco. Idêntico ao seu pai. Idêntico à sua mãe. Você a matou porque ela queria o controle da LPB e agora está matando pessoas para ter o controle do mundo. Você é maluco.

Ele não parece nada feliz. Na verdade, parece zangado. Não tenho medo dele. Não tenho medo dele pois sei que ele não pode me matar.

Mas ele pode matar meus amigos...

Max abre a porta da sala e então chama deus guardas.

— Quero que a levem para a Cela 301.

Então, dois soldados me seguram pelos braços. Meu sono é tanto que eu não consigo nem pensar em me defender. Eu só quero ir logo para essa cela para que eu possa dormir confortavelmente em uma cama qualquer.

Enquanto sou arrasta para fora da sala de vídeo, grito para deixar Max ainda mais irritado:

— Maníaco! Seus pais teriam muito orgulho de você!

***

Sou lançada no chão branco da minha cela branca com uma luz branca. A porta se fecha atrás de mim e eu percebo que a cela é um cubo branco com uma cama de um lado e um vaso sanitário do outro, além de uma câmera no centro do teto que deve filmar 360 graus da cela.

Sem pensar em mais nada, pulo na cama e fecho meus olhos.

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