Nele dizia " Eu te avisei. Isso foi pouco comparado ao que vai acontecer com você. "
Quem escreveu isso ? O que a Ally arrumou dessa vez ?
Guardei o bilhete no bolso e levantei mais ainda o meu sapato. Virei a direita e entrei na cozinha devagar. Ninguém aqui. Fui até o armário e peguei uma faca.
Coloquei meu sapato de volta e fui pro quarto da Ally pegar suas coisas.
Todas as roupas estavam jogadas no chão, o colchão estava fora da cama, as coisas da escrivaninha quebradas pelo chão.
Eu fui andando com cuidado pelo quarto e me agachei pra pegar algumas coisas. Às vezes eu olhava em volta pra ver se não tinha ninguém.
Peguei umas roupas e coloquei numa bolsa que eu encontrei jogada aqui. Peguei alguns dos poucos objetos que ainda estavam inteiros e coloquei dentro da bolsa também.
Sai do apartamento e tranquei a porta. Fui em direção ao elevador e enquanto eu esperava chegar no hall eu li e reli o bilhete várias vezes.
Como assim o que vai acontecer com ela ? NÃO VAI ACONTECER NADA COM ELA. EU...eu não vou deixar.
E por que fizeram isso ?
A porta se abriu e eu fui em direção ao porteiro.
- COMO VOCÊ PÔDE TER SIDO TÃO INCOMPETENTE ? O SEU SERVIÇO É VIGIAR A DROGA DESSE PORTÃO E NEM DISSO VOCÊ DÁ CONTA ? - Gritei apontando pro portão. - VOCÊ VAI PAGAR TUDO AQUILO ? QUEM FOI QUE FEZ AQUILO ? - Perguntei.
- S-Senhor... Eu não podia fazer nada. Eles estavam armados. Eu só sai daqui quando eles me liberaram. De uma coisa eu tenho certeza não era o apartamento que eles queriam, era ela. - Falou gaguejando.
-Armados ? - Perguntei confuso.
- Sim. Armados. - Respondeu balançando a cabeça.
Meu Deus Alison, o que você fez ?
- O que a Ally fez dessa vez ? Meu Deus. - Sussurrei a mim mesmo. - Que horas foi isso ?
- Hoje a tarde. Umas duas, não sei direito. - Falou.
Eu entrei no meu carro e fui direto pra clínica.
Já são sei lá umas seis horas, não faz tanto tempo assim.
Ally On.
Andrew me ajudou a descer da ambulância. Fomos andando até a entrada, vimos pessoas de várias idades no jardim e nos bancos que tem aqui fora, chegando na recepção eu me sentei junto as outras pessoas na sala de espera enquanto Andrew resolvia as coisas com a recepcionista.
Eu acho que eu deveria fazer isso... Sei lá, são os meus documentos, meus vícios, minha vida... Estou me sentindo tão estranha assim, todo mundo está fazendo o que eu quiser só por que eu estou nesse estado.
Mas eu estou sempre me sentindo estranha, quando foi que eu perdi o controle da situação ? Como eu deixei chegar a esse ponto ?
- Vamos ? Seu quarto é o 312. - Falou balançando as chaves.
- Ok. - Falei me levantando.
- Tá tudo bem ? - Andrew me perguntou.
- Tá sim. - Falei.
Entramos no elevador e esperamos.
- Você já falou com a Caroline ? - Perguntei sem jeito. Ela está tão estranha...
- Eu vou ligar pra ela. - Falou despreocupado.
Eu o encarei, ele disse aquilo como se não se importasse. As coisas que a Caroline falou estão começando a fazer sentido.
A porta do elevador se abriu no 6° andar e saímos andando pelo corredor em silêncio. Andrew parou em frente a uma porta e a abriu. Meu quarto.
Tem a minha cama ( Eu sei disso por que tinha uma ficha com o meu nome no final dela ), um... Vou chamar isso de guarda-roupa marrom... Estranho, pensei que sei lá...fosse ter um closet, mas ok. Tem uma mesa pequena e do outro lado tem mais uma cama. Mentira que eu vou ter que dividir o quarto.
Entramos e Andrew colocou minha bolsa em cima da cama.
- Anh... A recepcionista disse que o doutor deve vir daqui a pouco. - Falou se sentando no sofá que tem perto da janela.
- Doutor ? - Perguntei me sentando na beirada da cama.
- Sim, é alguma coisa assim, eu não sei te explicar. - Falou.
- Tá bom.
Andrew On.
Peguei meu celular e disquei o número de Caroline enquanto Alison olhava ao redor do quarto. Ela me olhou por um instante quando ouviu o barulho do "teclado" do celular e depois foi caminhando até a cama da sua companheira de quarto, que por acaso não está aqui no momento, e olhou a ficha dela.
Coloquei o celular no ouvido e esperei Caroline atender. Fiquei observando a Alison que fazia cara feia enquanto lia a ficha até ouvir a voz da Carol.
- Alô. - Falou de mal humor.
- Oi. - Respondi. - Tá tudo bem ? - Perguntei.
- Sim. - Respondeu.
- Você tem certeza ? - Perguntei.
- Tenho. - Respondeu.
- Você já chegou em casa ?
- Já. - Respondeu.
Ela está me dando respostas curtas, nunca vi a Caroline tão nervosa, nem quando a gente discute ou quando eu falo da Samantha.
- Ele fez alguma coisa com você ou tentou ? - Perguntei.
Nessa hora a Alison voltou pra cama dela e me encarou como se me perguntasse alguma coisa.
Eu a ignorei. Acho que ela sabe que estou me referindo ao Jason.
- Não. - Respondeu. Curta e grossa novamente.
- Por que você saiu daquele jeito ? Estava preocupado com você. - Falei.
- Você estava ? - Perguntou com um tom mais doce. Finalmente. - Eu sai por que você está fazendo muita questão de ajudar a Alison. Por que isso Andrew ? Você está me escondendo alguma coisa ? - Perguntou.
Tantas...
- Claro que não Caroline. - Falei. - Eu só quero ajudar ela. Não precisa disso. Você sabe que eu... Eu te adoro e a minha namorada é você. - Falei.
- Tudo bem Andrew. Só volta logo. - Falou mais calma.
- Tudo bem. - Falei.
- Te amo. - Falou.
- Tchau Carol. - Falei e desliguei o telefone.
Alison me olhava e sorria. Por que ?
- O que foi ? - Perguntei.
- Nem parece o monstro que é. - Falou.
O que ?
- O que ? Por que você acha que eu sou um .... Um " Monstro " ? - Perguntei.
Escutamos uma batida na porta e nos encaramos, mas logo a Alison pediu pra que a pessoa entrasse.
Ally On.
A porta se abriu e uma doutora apareceu.
Anh... Eu achei que fosse o Jason.
- Boa noite. - Ela nos comprimentou com um sorisso simpático.
- Boa noite. - Respondemos.
- Posso me sentar ? - Perguntou.
- Ah, claro. Desculpa. - Falei tentando usar toda a educação possível.
Ela pegou uma cadeira da mesa e sentou na minha frente.
- Bom, eu sou a Doutora Blanca Godoy, sua doutora principal.
- Doutora principal ? - Perguntei. A interrompi na verdade.
- Sim, vou acompanhar todo o seu processo. Mas hoje eu estou aqui somente para te explicar como a clínica funciona.
- Tudo bem. - Falei.
- Eu vi na sua ficha que você está aqui por causa do vício em Cocaína. Aqui a doença é tratada a partir das causas biológicas, psíquicas e sociais que levaram a pessoa a desenvolvê-la. O paciente deve ser acolhido por uma equipe de psiquiatras, clínicos gerais, psicólogos, nutricionistas, terapeutas, conselheiros em dependência química e professores de educação física que atuam de forma interdisciplinar, cuidando do ser humano como um todo. O tratamento reúne etapas importantes, como a desintoxicação, a psicoterapia, e a ressocialização, na qual o paciente é preparado para o retorno ao lar. Tudo isso está inserido em um projeto terapêutico, uma metodologia de trabalho exclusiva, que determina como cada profissional deve atuar no processo de recuperação e de tratamento de drogados. - Falou.
Quanta coisa... Ela me chamou de drogada ?
- Ah ! Esqueci de te entregar. - Falou mexendo em alguns papéis que estavam em seu colo. - Pegue. - Falou me dando um folheto onde estavam todos os regulamentos.
- Está escrito na sua ficha que o seu tratamento é o interno e ....
- Interno ? - Perguntei.
- Abra na terceira página. - Pediu.
Fiz o que ela pediu e li o que estava escrito.
" Tratamento interno - o dependente recebe cuidados 24 horas por dia, sete dias por semana. A reabilitação interna pode ser de curto (normalmente 28 dias) ou longo prazo (seis meses ou mais). O tratamento interno de longo prazo costuma se dar após ordem judicial, além do tratamento, inclui ressociabilização, o processo no qual os pacientes aprendem a se comportar como um membro da sociedade, retomando um comportamento normal.
Tratamento externo - ocorre com visitas. Nesse cenário, o paciente vai à instituição de reabilitação para participar dos grupos de apoio e recebe medicamentos e acompanhamento psicológico. No tratamento externo, o paciente geralmente segue sua vida normalmente e dorme em casa.
Internação parcial - uma combinação dos tratamentos interno e externo. O dependente recebe tratamento durante o dia e vai para casa à noite. "
- Por que eu não posso fazer o tratamento externo ? - Perguntei.
- Você teve uma quase overdose muito recentemente, agora que você saiu do hospital você vai sentir muito mais falta da cocaína do que você sentia quando estava lá dentro. O recomendado pra você é o tratamento interno de curto prazo. Só para termos certeza de que você pode voltar para a sua vida normal. - Explicou.
- Ok.
- Tem perguntas que você queira fazer ? - Ela me Perguntou.
- Ah... Por que essa Meghan Parker dorme aqui ? - Perguntei.
A doutora riu.
- Por que ela é a sua companheira de quarto. - Falou.
- Sim, disso eu sei. Mas por que que eu não posso ter um quarto só pra mim ? - Perguntei.
- Aqui nós incentivamos a interação entre os moradores. - Explicou.
- Af. - Sussurrei. - E onde ela está ? - Perguntei.
- Provavelmente no jardim. Ela gosta das flores. - Falou.
- Ah... - Falei.
Andrew estava calado, prestando atenção, mas quando eu terminei de falar fez uma pergunta.
- E as visitas ? Como funciona ? - Andrew Perguntou.
Como assim as visitas ? Eles vão ficar aqui comigo.
- Abra na quinta página por favor Senhorita Mitchell.
Fiz o que ela pediu.
- Olhe. No art. 14 diz. - Falou e começou a ler. - As instituições devem possuir os seguintes ambientes:
I- Alojamento
a) Quarto coletivo com acomodações individuais e espaço para guarda roupas e de pertences com dimensionamento compatível com o número de residentes e com área que permita livre circulação; e
b) Banheiro para residentes dotado de bacia, lavatório e chuveiro com dimensionamento compatível com o número de residentes;
II - REGULAMENTO INTERNO DAS VISITAS
•A Visita da Família é realizada sempre no 2º Domingo do mês das 9 am às 5 pm.
•É proibida entrada de visitantes nos dormitórios.
•É proibido afastar-se dos limites da Comunidade (os namorados, casais devem abster-se de trocar carícias na presença de internos). - Falou.
- Você está querendo dizer que eu vou ficar duas semanas sem ver eles ? - Perguntei.
- Sim. Você precisa aprender por si própria. Você precisa encontrar a sua força. Essa é a sua luta para resistir ao vício Alison. Só sua. - Respondeu.
- Mas... Eu...
- Vai ficar tudo bem Alison. Você não está sozinha. - Me interrompeu.
- Nós não fazemos mau a ela. - Andrew Falou
- Não se trata de fazer mau, se trata dela conseguir controlar a si própria. Ela precisa disso. E para isso ela precisa se concentrar e meditar internamente. Ela precisa se encontrar de verdade. - Falou.
- Tudo bem doutora. - Falei num suspiro.
- Boa noite. O seu namorado pode ficar até o toque de recolher. - Falou indo em direção à porta.
- Ele não é meu namorado. - Falei quase que imediatamente. - Toque de recolher ? - Perguntei.
- Oh ! Desculpe. -Falou. - Sim, o toque de recolher é às dez. - Falou e fechou a porta.
- Que horas são ? - Perguntei ao Andrew.
- Já são quase sete. - Falou.
- O Jason tá demorando. - Falei. - Como a Caroline está ? - Perguntei.
- Ela está bem e menos irritada. - Falou sorrindo.
- Que bom que se acertaram. - Falei.
Peguei meu celular dentro da minha bolsa e quando eu ia discar o número do Jason bateram na porta.
- Entra. - Falei.
- Que merda é essa que eu só posso ficar até o toque de recolher ? - Jason perguntou irritado fechando a porta.
- São as regras. - Falei. - Você demorou.
- Ah. Alison que você fez ? - Perguntou irritado colocando a bolsa grande que segurava no chão.
- Como assim ? - Perguntei confusa.
- O que é isso Alison ? - Perguntou jogando um papel em cima de mim.
É um bilhete. " Eu te avisei. Isso foi pouco comparado ao que vai acontecer com você. "
- Quem te deu isso ? - Perguntei assim que terminei de ler.
- Isso não é pra mim. É pra você.
- Pra mim ?
- Eu cheguei na sua casa e estava tudo revirado. Os móveis virados, os objetos quebrados e suas roupas no chão. Alison o que você fez ? - Perguntou. Ele estava realmente irritado.
Andrew só observava.
- Droga. - Sussurrei.
Eu não acredito. Eu não sabia que ele iria cumprir o que ele falou.
- DROGA O QUE ALISON ? - Jason perguntou alto demais.
- Jason... Eu...
- Você sabe quem fez isso ? - Perguntou.
- Jason... - Gaguejei. Eu não quero falar pra ele.
- Alison fala. - Andrew falou.
- É que... Eu ... Eu não consigo. - Falei colocando as mãos no rosto. Meus olhos encheram de lágrimas. Eu prefiro chorar na frente deles do que falar. Eu sei como eles vão me olhar.
- Ally. - Jason Falou se aproximando de mim.
- Jason, eu vou resolver... - Gaguejei de novo.
- Ally, fala. Você não precisa ter medo. - Jason Falou tirando minhas mãos do meu rosto.
- Eu... - Falei secando as lágrimas. - Quando eu estava... Quando eu fui comprar a cocaína... Pela sei lá sexta vez... Eu ... Eu... Ele disse que eu tinha dívidas com ele... Eu não... Eu não queria ir embora sem a droga. Ele... Ele... - Eu Falei todas as frases soluçando mas quando chegou essa parte eu desabei. Eu não quero falar.
- Continua... - Jason falou.
- Ele me deu a droga em troca de ... De... De sexo. - Falei colocando as mãos no rosto. Jason se levantou, se afastou na verdade. - No mesmo dia que vocês me encontraram ele... me ligou pra dizer que eu tinha dois dias pra ir lá ou... ele viria até mim.
Jason andava pela sala com a mão esfregando a testa. Ele estava muito nervoso.
- E por que ele não foi antes ? OU MELHOR POR QUE ELE QUERIA VER VOCÊ DE NOVO ? - Perguntou alto.
Andrew nos olhava apavorado.
- Jason... Ele falou que não iria quitar a divida se eu não fosse lá. Eu não sei por que ele não foi antes... - Falei.
- Qual é o seu problema Alison ? Sério, por que você fez isso ? Você perdeu a noção ? - Perguntou irritado.
- Jason, você... - Andrew Falou.
- CALA A BOCA. - Jason Falou alto. - Desculpa. Eu vou me acalmar. - Falou se virando pro Andrew.
- Jason... - Falei e ele sentou na cama com a cabeça baixa.
- Nós vamos resolver. - Falou ainda com a cabeça baixa.
- Como ? - Perguntei.
- Não sei eu...
- Eu pago ele. - Andrew falou sem jeito.
- Não. - Jason falou.
- De jeito nenhum Andrew. - Falei.
- Eu vou pagar ele. - Jason falou.
- Jason sério... Isso é assunto meu. - Falei.
- Ele só não veio atrás de você ainda por que ele não sabe que está aqui Ally. Eu vou lá e pago amanhã. Me dá o endereço. - Falou me dando uma caneta que ele encontrou na escrivaninha.
Eu o encarei mas depois peguei a caneta. Eu escrevi atrás do bilhete mesmo.
- Eu vou resolver, eu prometo. - Jaosn falou pra mim.
- Eu vou te devolver todo o dinheiro. - Falei.
Falando em devolver dinheiro... Eu devo dinheiro pro Max... Mas ele nem me cobrou.
Ficamos conversando sobre isso e sobre algumas outras coisas até o toque de recolher.
Alguém bateu na porta.
- Hora de ir. - A Doutora disse colocando a cabeça pra dentro do quarto.
- Eu te amo. - Jason falou e beijou a minha testa.
- Tchau Alison. - Andrew falou.
- Me chama de Ally. - Falei.
- Tchau Ally. - Falou sorrindo.
- Até daqui a duas semanas. - Falei dando Tchau pros dois.
Assim que eles saíram a doutora fechou a porta.
Eu deitei e fiquei mexendo no meu celular até qua ouvi a porta abrir de novo.
Olhei pra lá e me assustei.
Apareceu uma garota de sei lá uns 20 anos e muito magra, mais magra do que eu.
- Meghan Parker ? - Perguntei.
- Sim e você quem é ? - Perguntou olhando pra mim.
- Alison Mitchell. - Falei. - Sua companheira de quarto.
- Ah. Ok. - Falou e se sentou na cama dela.
- Por que você tá aqui ? - Perguntei.
Acho que fui muito indiscreta, tipo nem conheço ela.
- Anh... Vício em heroína. - Falou. Eu me assustei e devo ter feito cara feia, por que ela percebeu.
Essa droga é muito forte e muda a pessoa completamente. Muito mais forte do que a cocaína ou que o crack.
- Eu sei o que você pensa. Eu tive os meus motivos. Eu não sou louca e nem vou machucar você. - Falou calma porém chateada.
- Desculpa. Eu não... Eu não quis te magoar é que .... eu só fiquei com medo.
- Tudo bem. E por que você tá aqui ? - Perguntou.
- Vício em Cocaína. - Falei.
- Depois fala de mim. - Falou rindo.
- Duas drogadas no mesmo quarto, o que eles pensam ? - Perguntei rindo.
- Eles não pensam. - Riu.
- Você parece ser legal - Falei.
- Você também. Amanhã a gente conversa mais. - Falou.
- Boa noite. - Falei desligando meu abajur.
- Boa noite. - Respondeu.
Pela manhã bem cedo um alarme tocou e ela se levantou.
- Você não vai levantar ? - Perguntou.
- Pra que ?
- Esse é alarme é tipo um despertador. Aqui o dia começa cedo. - Falou.
- Que ? - Perguntei.
- Eu vou descer e tomar meu café da manhã. Se arruma. - Falou fechando porta.
Levantei, peguei minha toalha e fui pro banheiro.
Soltei meu cabelo, tirei minhas roupas e entrei no chuveiro.
Eu não acredito que eu vou ter que levantar cedo até aqui. E pra que ?
Passei sabonete, enxaguei e me enrolei na toalha para sair do banheiro.
Procurei algumas roupas na bolsa e peguei uma blusa de manga longa vermelha e uma calça jeans.
Assim que terminei de me vestir eu sequei meu cabelo e o deixei solto.
Eu Fechei a porta do quarto e fui até o elevador, disquei o número um, que eu espero que seja o pátio e esperei.
Quando a porta se abriu eu vi muitas pessoas, de todas as idades. Quando vi a ... Eu esqueci o nome dela... É... Morghan... Não, Meghan, eu fui até ela.
- Oi. - Falei quando cheguei perto da mesa que ela estava.
- Oi. Já comeu ? - Perguntou.
- Não. - Falei.
- Aquela fila ali é pra pegar a comida. - Falou apontando pra fila.
- Tá bom. - Falei indo em direção a fila.
Ela estava pequena. Peguei meu prato e voltei pra mesa. O que é isso ? Aveia ?
Me sentei do lado da Meghan e comecei a comer.
- O que a gente faz depois ? - Perguntei.
- Você eu não sei. Eu vou ir para o jardim. Estou na terceira etapa. - Falou.
- Terceira... A quanto tempo você tá aqui ? - Perguntei.
- À quatro meses. - Falou.
- E você ficou sozinha ?
- No quarto ? Sim. Eles acharam melhor eu ficar sozinha porque o vício era muito recente, e você sabe heroína muda a pessoa, eu era capaz de fazer de tudo por ela. - Falou colocando a última colher de aveia na boca.
- Entendi, mas e depois ? - Perguntei.
- Não sei, não tive nenhuma outra companheira de quarto, só você. - Falou. - Tchau, eu vou indo. - Falou se levantando.
- Tchau. - Falei baixo.
Terminei de comer e voltei pro meu quarto. Não tem nada pra fazer lá embaixo.
Eu sentei na minha cama e fiquei mexendo no meu celular, até que alguém bateu na porta.
- Entra. - Falei.
- Bom dia. Com licença. - A Doutora Godoy falou entrando. - Eu estou aqui pro seu primeiro passo. - Disse verificando a minha ficha. - Ei, ei... Não admitimos celular aqui. Me dê isso. - Falou esticando a mão.
- Que ? Por que ? - Perguntei. Eles não podem tirar ele de mim.
- Você tem que se desligar do mundo lá fora. - Falou ainda com a mão esticada.
Encarei meu celular e o entreguei pra ela.
- Muito bem. Vamos ao seu tratamento. Hoje você começa a primeira etapa.
- Primeira etapa ? - Perguntei.
- Sim, a desintoxicação. - Falou.
Oi ? Como assim ?