O Segredo do Príncipe | Showki

By ckyunbabie

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Em um reino comandado por um rei tirano, o príncipe Hyunwoo é forçado a um casamento arranjado. Contudo, ele... More

Novidades
1. Laços forjados
2. Acidente intencional
3. Só mais um nobre
4. Adeus, amiguinho
5. Mau gosto
6. Príncipe mimado
7. Limites
8. Promessas vazias
9. Duas condições
10. Cumplicidade
11. O segredo da princesa
12. Não se força o amor
13. Memórias perdidas
14. Noite ruim
15. Maldito soju
16. Péssima influência
17. Ingenuidade
18. A pureza do amor
19. Capaz de tudo
20. O garoto do jardim
21. Sonhos e pesadelos
22. Teatro matrimonial
23. Um singelo pedido
24. Ações e consequências
25. O criado curioso
26. Impasse fatal
27. Sem saída
28. Palavras não ditas
29. Tempo perdido
30. As últimas peças
32. Fragmentos do passado
33. Redescobertas

31. Cicatrizes internas

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By ckyunbabie

Não esqueça do voto! 💗

Mais um capítulo cheio de emoções pra vocês!!

Nos vemos lá embaixo :)

— 👑 —

— Você está dizendo que nem sequer viu quem te apagou?! — o rei gritou, a mão agarrando o guarda pelo colarinho.

— Perdão, majestade — ele disse em voz baixa.

— Desculpas não ajudam, seu filho da puta inútil! — retrucou, apertando-o com mais força. — Me dê um bom motivo para não te matar agora mesmo.

— E-eu... tenho pistas sobre quem pode ter sido.

— Vai se arrepender se isso for um blefe, Youngjin...

— Não é! — ele exclamou com a voz esganiçada. — Deve ter sido um criado, um homem. Era forte demais, já que me apagou com um golpe só. Eu posso não ter visto quem foi, mas é só descobrir quem estava por perto do canil àquela hora ou descobrir por eliminação. Quantos criados aqui são capazes de apagar um guarda com uma porrada só?

— Ainda me parece um blefe. Criados não têm toda essa força! Se tivessem, trabalhariam como guardas. Não sabe como são mesquinhos? Fariam qualquer coisa para ganhar mais dinheiro.

Seokjin respirou fundo, comprimindo os olhos marcados pela idade, e soltou o guarda empurrando-o com força para trás, fazendo-o cair sentado no chão.

— Se não descobrir quem foi que lhe nocauteou e me trouxer o imprestável, te jogarei junto da imundície lá embaixo. E, Youngjin... — Ele lançou um último olhar de desprezo para o guarda. — Saiba que farei questão de vender os seus pedaços para quem quer que deseje alimentar seus cães de guarda.

Seokjin saiu andando dali a passos firmes, consumido pelo ódio. A raiva queimava dentro dele, alimentando seu desejo por poder e controle.

Traçando um caminho com mais curvas e desvios do que o necessário, o Rei retirou de sua roupa um pesado molho de chaves ao se aproximar de uma das salas "vazias" do castelo — pelo menos era dessa maneira que eram conhecidas, apesar de não serem de fato vazias. Ele checou seus arredores, destrancou a porta e a trancou mais uma vez assim que adentrou o ambiente.

Havia um cheiro metálico sufocante no ar e estava muito escuro lá dentro. Um arfar assustado encheu a sala, ao que Seokjin suspirou, impaciente, virando-se para a origem do som.

— Já tomou uma decisão? — ele perguntou, seu tom e postura rígidos como diamantes.

— Alteza — a garota em frente a ele gaguejou, soltando um gemido de dor. Seus braços feridos estavam erguidos, presos por correntes que saíam do teto. — Por favor, me deixe viver.

— Responda a pergunta! — o rei berrou, chutando as pernas da garota com uma fúria descontrolada. — Morrer é a menor de suas preocupações. Há coisas muito piores do que morrer.

Ela deu um grito abafado pelas próprias mãos ao sentir o bico de aço das botas do rei acertar outros machucados de dias anteriores. Seokjin havia deixado bem claro que seria ainda pior se ela gritasse.

— Eu... Sim, majestade, eu tomei uma decisão.

— Desembuche, antes que eu perca a paciência com você, verme inútil.

— Eu irei lhe contar tudo, cada mínimo detalhe, se eu puder viver — ela implorou. Na verdade, era um blefe arriscado, mas era o máximo que podia fazer naquele momento.

— Quem decide se vive ou não sou eu, Dayoung. Por traição, você já deveria ter sido enforcada dias atrás, orquestrando esse plano estúpido com a minha mulher — Seokjin advertiu, cuspindo no chão ao lado da criada. — Do que mais você sabe?

— Eu não sei de mais nada, majestade... Só sei sobre os planos de fuga.

— Um dedo — Seokjin disse, deixando a garota confusa. Ela não respondeu, o que o fez soltar uma risada cínica e continuar falando. — Um dedo de Nari é o que cortarei a cada mentira que você contar.

Não, por favor — ela suplicou, sufocando um grito de desespero. Suas mãos tremiam sem parar, e ela já não sabia se era pela fome ou pela angústia. — Me perdoe, majestade. Eu irei lhe contar tudo, eu juro. Eu prometo. Contarei cada mínimo detalhe.

— Agora é a sua última chance, Dayoung. Comece.

Dayoung lutava para conter seu choro exaltado, os soluços sacudindo seu corpo enquanto gaguejava as palavras que tentava articular. Seu coração batia forte, a angústia se espalhando por cada fibra de seu ser enquanto despejava os segredos que guardara com tanto zelo. Contar tudo aquilo ao rei a fazia sentir-se o pior ser humano do mundo, uma pessoa desleal que traía a confiança daqueles que mais amava. No entanto, Dayoung sabia que não havia alternativa. Ela faria qualquer coisa para proteger Nari, mesmo que isso significasse sacrificar sua própria integridade.

Entre soluços e respirações entrecortadas, Dayoung descreveu em detalhes os planos da rainha e de Hyunwoo para fugir. Ela delineou cada passo do trajeto que pretendiam seguir, cada estratégia elaborada para escapar dos olhos atentos do rei. Cada palavra que escapava de seus lábios carregava o peso de uma traição, mas Dayoung não vacilou em revelar a verdade ao monarca.

Seokjin escutou em silêncio, seu rosto impassível escondendo as ondas de raiva e desconfiança que agitavam seu interior. Por mais que desejasse negar a realidade, ele reconhecia a gravidade da situação. A fuga de Hyunwoo e da rainha representava uma ameaça direta à sua autoridade e à estabilidade do reino, e ele não podia permitir que isso acontecesse.

Seokjin lançou um olhar frio para Dayoung, o desdém fervendo em seus olhos. Ele pegou um pedaço de pão velho de uma bandeja próxima e o atirou para ela sem cerimônia, como se estivesse alimentando um animal de rua. Era um gesto cruel, mas Seokjin não possuía disposição para demonstrar compaixão pela traidora.

Com um aceno de cabeça, ele deixou a sala, sua mente já trabalhando de maneira frenética para elaborar um plano para lidar com a traição que acabara de ser revelada. Enquanto caminhava pelos corredores do castelo, ele mantinha a calma exterior, mas por dentro sua mente era tomada por possibilidades do que poderia fazer para resolver essa situação.

***

Com movimentos circulares, Hyunwoo fazia massagem nos hematomas espalhados por todo o seu peito. Era dolorido, mas ele havia notado que fazer isso ajudava um pouco a diminuí-los, aumentando o fluxo sanguíneo no local.

Ele colocou sua camisa em cima de um móvel, observando o próprio corpo em um espelho. As marcas já estavam começando a se desfazer, após semanas em que elas o relembravam de tudo que havia acontecido. Estava ansioso para o momento em que se visse livre desses hematomas. Todos os dias, Hyunwoo acordava e pensava: "até sumirem todos, meu pai já estará morto".

Sem batidas para avisá-lo, a porta se abriu de repente, assustando-o. Ele se virou rapidamente para descobrir quem havia entrado em seu quarto, e logo sua expressão relaxou, permitindo-o soltar um suspiro de alívio.

— Ah, me desculpe — Kihyun murmurou, cobrindo os olhos com as mãos e virando o rosto para a parede. — Eu deveria ter batido antes de entrar, mas fiquei com medo de alguém me ver parado em frente a sua porta...

— Tudo bem — Hyunwoo respondeu, divertindo-se um pouco com o constrangimento do mais novo.

O príncipe se aproximou, segurando as mãos de Kihyun entre as suas e puxando seu corpo de maneira gentil para que se virasse para ele. O criado encarou-o com um brilho de curiosidade no olhar, se esforçando para não permitir que o olhar não descesse.

Hyunwoo depositou um beijo suave em suas mãos, sorrindo.

— Senti sua falta durante o dia.

— Eu também — Kihyun admitiu, por mais que se sentisse constrangido em dizer aquilo em voz alta.

Estavam separados apenas há algumas horas, porém havia sido um dia muito intenso para ambos, então tudo o que queriam era a companhia um do outro e aproveitar ao máximo, agora que já estavam cientes dos sentimentos recíprocos.

— Aliás, perdão pela falta de roupa, eu estava massageando os hematomas — ele explicou, notando o rubor suave que tomou as bochechas de Kihyun.

— Não tem problema, fui eu quem entrou sem bater. Mas os hematomas já estão bem melhores — o criado comentou, dessa vez se permitindo observar o tronco nu de Hyunwoo. Agora era bem mais fácil focar em seus músculos bem definidos e na pele bronzeada, que estava se tornando livre das marcas de violência. — Ainda doem?

— Um pouco, mas não como antes.

— Fico feliz que tenha se recuperado bem. Eu estava me corroendo de preocupação todos os dias... — Kihyun disse em voz baixa, voltando a encarar o príncipe, que tinha uma expressão serena em seu rosto.

— Eu sou sortudo por ter encontrado você, Kihyun — Hyunwoo murmurou, sem desviar o olhar nem por um segundo. — Mesmo de longe, você estava cuidando de mim.

— Você percebeu?

— É claro. Eu não sentia vontade de me alimentar, mas você fazia Jooheon trazer bandejas de refeições tão cheirosas e bem feitas... Isso aumentava o meu apetite e eu ficava feliz pela consideração que tem por mim.

— Que bom que você sabe disso. — Kihyun deu um sorriso delicado.

— Sabia que fica muito bonito quando sorri?

— Sim, eu te falei que o sorriso é um dos meus charmes, não falei? — ele brincou, fazendo uma careta de convencido. Hyunwoo riu e sacudiu a cabeça, envolvendo-o com os braços.

A pele dele estava quente e cheirosa — era provável que tivesse acabado de sair do banho. Kihyun o abraçou de volta, com os braços em volta da cintura de Hyunwoo, descansando a cabeça em seu pescoço. Ele inspirou para sentir seu perfume, causando um arrepio no mais velho.

— Ei — Hyunwoo reclamou em voz baixa, apertando-o um pouco mais no abraço.

Kihyun soltou uma risada pelo nariz, depositando um beijo suave na clavícula do outro, acariciando-a com os lábios por alguns segundos, em seguida voltando ao pescoço dele para deixar mais alguns beijos por toda a sua extensão de maneira lenta.

Seu corpo foi virado para o lado e empurrado para trás com gentileza, fazendo suas costas encostarem na parede gelada. Hyunwoo o encarava com um olhar diferente, o que o fez se sentir desestabilizado no mesmo instante. Mesmo que parecesse feroz, ele aproximou-se ao rosto de Kihyun com calma, colando as suas testas.

— Eu sinto um desejo enorme de proteger você, e isso me deixa confuso — ele murmurou, sua respiração quente se misturando a de Kihyun.

— Por que confuso? — Kihyun perguntou, quase sussurrando.

— Porque eu também sinto vontade de fazer coisas inimagináveis com você. Parece contraditório te ver como algo a ser protegido e, ao mesmo tempo, desejar te despir, beijá-lo por inteiro, te tocar...

Kihyun pensou que se sentiria mal assim que ouviu tais palavras, mas essa resposta fez seu corpo inteiro se arrepiar. Ele tentou não demonstrar que seu coração havia se acelerado no mesmo instante, controlando a respiração. Hyunwoo notou sua reação mesmo assim, dando um sorriso ladino.

— Você não é nada tímido, não é? — Kihyun brincou, ainda tentando manter a compostura.

— Esse é o efeito de Yoo Kihyun sobre mim, na verdade.

Kihyun umedeceu os lábios, segurando Hyunwoo pela cintura desnuda. Sua boca parecia tão convidativa naquele momento que era difícil para o criado se concentrar na conversa, ainda mais quando Hyunwoo se aproximou mais e colou seus corpos um ao outro, os lábios raspando de leve nos dele.

O criado avançou para beijá-lo, cedendo a provocação despretensiosa. Ele pressionou seus lábios ao dele, sentindo cada milímetro de sua boca, apreciando cada segundo do toque simplório que compartilhavam.

Devagar, Hyunwoo passou a língua pelo seu lábio inferior, em seguida adentrando a boca do mais baixo, sem pressa. Não havia desespero. Eles sentiam que tinham todo o tempo do mundo naquele instante.

Os dedos de Kihyun se perderam entre seus cabelos escuros, puxando-o pela nuca para ainda mais perto enquanto se beijavam. Queria Hyunwoo tão, mas tão perto, que nem saberia definir como isso seria possível.

Aprofundando o beijo, o príncipe segurava Kihyun com firmeza, com as duas mãos postas em seus quadris. Eles se separavam apenas por breves momentos onde podiam respirar e encarar os olhos um do outro, cheios de desejo.

— Eu posso... tocar você? Apenas tocar — Kihyun pediu, quase não se fazendo ouvir.

— Claro — Hyunwoo sussurrou, se perdendo na curva do pescoço do outro, enchendo-o de beijos molhados que fizeram o mais novo soltar alguns sons tímidos.

As mãos do mais novo exploraram todo o tronco dele, aproveitando cada milímetro de sua pele quente. Ele traçou linhas com os dedos pelo seu peitoral, sentindo os músculos bem definidos de seu abdômen, e passeou até mesmo pelas suas costas, sentindo as marcas das violências que sofrera.

Hyunwoo se afastou para observá-lo, com curiosidade no olhar.

— Desculpe, isso te incomodou? — Kihyun perguntou, nervoso.

— Não. — Hyunwoo sacudiu a cabeça, voltando a se aproximar. — Mas eu pensava que... essas marcas me tornariam menos atraente. Talvez até mesmo repulsivo.

— Nunca. Nunca mesmo, Hyunwoo. Elas são apenas uma parte de você, jamais o tornariam repulsivo.

O príncipe deu um sorriso, deixando um singelo beijo em seus lábios e sentindo o corpo do mais novo pressionado ao seu.

Parecia tão surreal estarem daquela forma naquele momento, finalmente podendo externar tudo o que sentiam um pelo outro e terem a proximidade que tanto desejaram por semanas. Kihyun diria que era como um sonho, mas ele não costumava ter sonhos bons.

— Eu quero que também saiba das minhas cicatrizes, Hyunwoo — Kihyun sussurrou enquanto o abraçava. — E espero que nunca mais tenhamos mal-entendidos por conta delas.

— Você tem cicatrizes também?

Kihyun assentiu, sem se soltar do abraço.

— Mas as minhas são internas.

— Você quer se abrir comigo?

Ele assentiu mais uma vez. Hyunwoo se afastou, deixando o outro com saudade do toque prolongado no mesmo instante, mas logo o príncipe pegou-o pela mão e o levou até a cama, sentando-se e dando um tapinha ao seu lado para que Kihyun se sentasse também.

— Podemos... ficar deitados e no escuro? Essa conversa vai me fazer chorar e fico um pouco envergonhado com isso — Kihyun pediu, hesitante.

— E por que deitados?

— Não sei, preciso desse conforto. Para poder falar sobre as minhas cicatrizes, quero estar te abraçando e embaixo das cobertas, onde eu sentiria que nada pode me machucar mais.

Hyunwoo não fez mais perguntas. Ele se levantou, apagou todas as fontes de luz, aproximando-se da cama enquanto ouvia os sons dos cobertores quando Kihyun se ajeitou abaixo deles. Juntando-se ao criado, ele o envolveu com os braços, fazendo com que ele deitasse em seu peito e pudesse receber carinho em seus cabelos.

Era exatamente isso que Kihyun desejava naquele momento. O calor de seu corpo, seu carinho, sentir-se protegido. Ele respirou fundo, permitindo-se revelar um de seus maiores traumas.

— Você se lembra daquela ocasião na biblioteca, não muitos dias após termos nos beijado pela primeira vez? — Hyunwoo assentiu, lhe dedicando toda a sua atenção. — Sei que já esclarecemos isso, mas eu não estava te rejeitando. Eu disse que estava tendo um dia ruim, o que era verdade. Eu costumo ter vários dias ruins. Pesadelos horríveis invadem minha mente, e então eu acordo em pânico, gritando, chorando. Eu preciso que alguém me traga de volta a realidade quando isso acontece, porque tudo o que consigo sentir nesses momentos... é que serei machucado de novo.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, engolindo em seco.

Estava tudo bem.

Ali, deitado sobre Hyunwoo, estava tudo bem. Ele não precisava temer.

— Eu tenho certa dificuldade com contato físico. Não é sempre que isso acontece, porque às vezes eu consigo me manter no presente, mas em dias ruins, minha mente volta para aquela noite... — Kihyun já sentia as lágrimas se formando em seus olhos. — Kim Seojun.

— O príncipe?

Kihyun assentiu, abraçando Hyunwoo com mais força.

— Anos atrás, ele foi um convidado do castelo. Creio que o pai dele tinha algo a tratar com o rei Seokjin, e os dois foram nossos hóspedes por cerca de duas semanas. Eu estava apenas cuidando da minha própria vida, limpando o quarto de ambos às vezes, servindo jantares... Eu não percebi os olhares de Seojun.

A mera menção de seu nome fazia Kihyun se sentir sujo, mas ele tentou manter a compostura para continuar falando.

— Seojun estava sempre de olho em mim. Acho que deve ter decorado a minha rotina, porque... Eu já estava indo dormir. Estava a caminho do dormitório, mas cometi o erro de passar em frente ao quarto dele. Ele estava me esperando na porta.

Hyunwoo sentiu seu próprio rosto se contrair em desgosto pela suposição feita em sua mente. Seu estômago se revirou no mesmo instante, causando-lhe náuseas.

— Ele era bem mais forte e mais alto que eu. Seojun me agarrou, pressionando meus braços de forma que eu nem sequer conseguia lutar contra ele, e me jogou para dentro do quarto dele. De forma literal, ele de fato me atirou no chão. — Dessa vez, ao falar sobre isso, Kihyun sentia-se mais consumido pela raiva e pelo ressentimento do que triste. — Ele disse que ninguém se importaria se me usasse como quisesse, e assim ele o fez. Quando se deu por satisfeito, da mesma forma que me atirou para dentro do quarto, ele me atirou para fora como se fosse lixo. Eu vomitei no corredor, me arranhei tanto que ainda tenho algumas cicatrizes, que já não são muito perceptíveis agora, mas as piores cicatrizes são as que ficaram em meu interior. Ele feriu a minha alma mais do que ao meu corpo... E esse é um dos motivos para que eu odeie tanto os nobres. Eu tinha muito receio de você por conta disso, em especial por ser um príncipe também. Nada me garantia que você não pudesse fazer o mesmo comigo, me usando como um objeto, me descartando e usando de seus privilégios para não sofrer qualquer consequência por isso. Mas agora eu vejo o quanto era absurdo que eu pensasse isso de você.

— Não era absurdo — Hyunwoo enfim falou algo, tentando conter as próprias lágrimas que escorriam em silêncio pelo seu rosto. — Tudo faz muito sentido. Eu não me importo que tenha me julgado dessa forma, era apenas autopreservação, seu mecanismo de defesa. Nunca se sinta culpado por isso.

Kihyun assentiu, traçando círculos com o polegar na palma da mão do príncipe.

— Essa foi a pior das ocasiões, mas já fui muito maltratado por inúmeros nobres, todos me tratando como escória, como algo sem valor. Eles nem sequer me viam como uma pessoa, alguém com sentimentos, alguém que também se fere e sangra da mesma forma que eles o fazem. Tantas experiências ruins me moldaram e me tornaram o que sou... um criado desconfiado, corrompido por ódio, frustrações e muitas outras emoções ruins, com uma alma cheia de veneno.

— Você é muito mais do que isso. Não é assim que te enxergo — Hyunwoo rebateu, agora fazendo carinho nas costas do outro.

— Como é que me enxerga?

Hyunwoo se remexeu na cama, ajeitando-se para que ambos estivessem deitados e se encarando, seus narizes quase se tocando.

— Eu te enxergo como uma pessoa, não um criado, que tem um sorriso que ilumina qualquer ambiente e qualquer situação. Alguém que se importa profundamente com os outros, que cuida das pessoas, que é gentil. A sua alma é linda, Kihyun. Ela não é cheia de veneno, ela é o antídoto — Hyunwoo murmurou, segurando a face do outro como se fosse a coisa mais preciosa que ele já havia tocado.

Kihyun não conseguiu responder. Ele deu um sorriso choroso, comprimindo os lábios e encarando o príncipe.

— Sinto muito por tudo o que aconteceu com você. Sinto muito que tenha passado por tantas coisas horríveis, mas espero que saiba que nenhuma dessas coisas foi culpa sua. Você não merecia nada disso, porque você merece apenas tudo o que há de bom nesse mundo... — Ele acariciou a bochecha de Kihyun, secando as suas lágrimas. — Eu vou tentar te compensar pelo mal que os nobres já te fizeram. Sei que isso não vai apagar as memórias ruins, mas espero que possamos construir memórias boas o suficiente para ofuscar pelo menos um pouco as negativas.

— Isso já acontece, sabia? — Kihyun confessou, ainda sorrindo. Ele fungou, tirando da testa de Hyunwoo os cabelos que haviam caído sobre seus olhos. — Tive vários dias ótimos ao seu lado, e sua presença muitas vezes parece me deixar mais leve.

— É o mesmo para mim.

— Você estava chorando? — o mais novo perguntou, assim que reparou que o rosto dele estava um pouco úmido.

— Talvez.

— Por quê?

— Porque não consigo aceitar que uma pessoa tão boa quanto você tenha sofrido coisas assim... mas não se preocupe, eu estou bem. Isso só acende em mim ainda mais vontade de fazê-lo feliz.

— A minha dor doeu em você — Kihyun murmurou. — Você é repleto de empatia, sabia?

— Isso pode ser um problema às vezes, mas não com você.

— Que bom — o Yoo replicou, encarando-o com intensidade e uma explosão de sentimentos dentro de si. — Agora você me entende melhor, não é? Eu te desejo mais que tudo. Mas por conta dessas coisas que aconteceram comigo... eu fujo um pouco de algumas situações, ou posso me afastar de maneira súbita, mas saiba que nunca será culpa sua. Respeitando os meus limites, coisa que você não falhou em fazer, não terá qualquer problema. Um dia, conseguirei me entregar totalmente a você.

— Não se preocupe com isso. Tudo a seu tempo, certo? Eu não estou com pressa.

Kihyun depositou beijos gentis pelo rosto do mais velho, fungando mais uma vez. Hyunwoo observou-o com carinho, perdido em seus olhos cheios de ternura. Era um momento tão sincero, tão puro — ele desejava que nunca o esquecesse, gravando-o na memória com perfeição.

Não importava o que acontecesse, Hyunwoo sabia que havia encontrado aquilo que tanto desejava: alguém por quem sentia coisas genuínas e que lhe tirava o chão, e com quem poderia sempre contar, mesmo em tempos tão sombrios.

Eles trocaram mais alguns beijos e carícias inocentes antes de enfim caírem em um sono pesado e pacífico, livre de quaisquer pesadelos. O príncipe abraçava Kihyun por trás, segurando-o como um tesouro que jamais deveria ser roubado de seus braços.

— 👑 —

Ai gente, como corta meu coração tudo o que o Ki passou... mas ainda bem que agora ele tem o Nunu, né? E vice-versa também!

O que estão achando? Me contem tudo ♥ espero que estejam gostando!

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