Uma dor aguda na coxa me despertou.
O sol estava começando a surgir pelas montanhas, consegui vê-lo pela janela em frente a minha cama.
— Quem é você? – esfreguei meu rosto com força ao notar uma garota ao pé da minha cama, fazendo um curativo no meu machucado
Já me sentia bem melhor, flashes da noite passada surgiam lentamente.
— Annabeth. – a menina de tranças se sentou na cadeira posta ao meu lado. — Coma um pouco disso, a dor deve passar. – ela me entregou um prato de algo que parecia mingau
— O que é isso? – questionei antes de comer algo que possivelmente poderia me matar
— Ambrosia, é uma comida usada como cura para quem fica ferido em missões. Semideuses podem consumi-lo, mas se comerem muito podem ser reduzidos a pó. – pensei bastante antes de pôr uma colher na boca, morrer não seria muito legal
Tudo se esvaiu quando engoli a primeira garfada, minhas pupilas chegaram a dilatar ao sentir o sabor dos bolos de morango feitos pela minha mãe em todo aniversário meu.
— Como... – já era minha terceira colherada e resolvi questionar Annabeth sobre esse sabor específico, nunca tinha comido algo com esse gosto a não ser os bolos da minha mãe.
Minha mãe.
Se a noite passada realmente aconteceu, então...
— Ambrosia tem o sabor da comida favorita de quem a consume. – sua explicação fez sentido, já que esse tipo de bolo era único
A dor física havia sumido, mas um buraco no meu coração parecia aumentar a cada segundo que respirava.
Eu deveria estar morta, não ela.
— Eu ouvi sobre sua mãe, sinto muito. – Annabeth abaixou a cabeça, nitidamente compadecendo da minha dor
Queria chorar.
Muito.
Mas não faria isso na frente de alguém que acabei de conhecer, não demonstraria uma dor tão profunda me deixando tão vulnerável ao seu lado.
Não sabia o quanto poderia pôr de confiança nela.
— Obrigada. – a quentura subindo minha garganta se conteve com dificuldade. — Vou tomar um banho, valeu pela ajuda.
Senti alívio quando ela se levantou sem insistir em falar sobre, saindo do lugar rapidamente.
Aguardei o som dos passos distantes de Annabeth e, então, desabei.
Sofrimento, aflição, agonia, angústia.
Tudo veio a tona.
Meu peito tremia de tanta dor.
Minha mente se confundia com meu corpo.
A sensação de impotência surgia novamente, queria voltar no tempo e matar aquela criatura antes que ela acabasse com a única pessoa que eu amava mais do que minha própria vida.
Queria poder salva-la.
Daria tudo para salva-la.
Mais do que tudo...
— Hydra... – estava completamente aos prantos, aceitando a dor que me consumia, quando a única voz que não gostaria de escutar surgiu
Abri meus olhos com dificuldade, escondendo o vermelhidão deles com as mãos, tapando meu rosto.
— O que você quer, Jackson? – perguntei de forma grossa, me virando para a direção oposta dele, agarrando a toalha que estava na cadeira para secar as lágrimas
— Eu... Hm... É... – escutei o garoto limpar a garganta, claramente nervoso
— Fala logo. – me levantei, agora olhando para ele
Ele tinha alguns machucados no rosto, imaginei serem da noite passada.
Depois de desmaiar lembro de ver poucas coisas, porém a mais... legal? Não, estranha. A mais estranha com certeza foi o momento em que abri meus olhos por um pequeno instante e enxerguei o garoto me carregando.
Não me recordo de todos detalhes mas sei que o loiro havia me carregado até em cima do morro, mesmo parecendo fisicamente exausto ele fez isso.
Era gentil e estranho da parte dele, mas fingi não me lembrar, seria mais esquisito ainda questionar sobre o ato de bondade.
— Foi mal. – ele parecia uma estátua parado na porta
— O quê? – esse garoto era realmente estranho
— Não, é... Foi mal pela sua mãe.
Foi de fato uma surpresa escutar votos de pesar vindo de Percy. Não
uma surpresa boa, não queria escutar vindo de ninguém.
— Mal pelo o quê? Não foi só a minha mãe quem morreu ontem Percy, não deveria estar mal por ninguém além de você. E nem tente fugir dos sentimentos. – logo surgiu um olhar espantado com o que disse. — Agora some.
Ele piscou algumas vezes antes de dar alguns passos pra trás, mas, antes de sair, se virou para mim novamente.
— Obrigado.
E então foi.
༒
Depois de me assimilar, consegui tomar um banho relaxante e trocar minhas vestes sujas.
Sair da enfermaria parecia aliviante, até sair. Nervosismo transitou de um pé para o outro enquanto caminhava lentamente, um local chamou minha atenção rapidamente, e fui até ele.
Encontrei com um homem sentado em frente a uma mesa, óculos de sol estavam em seus olhos, parecia desleixado e preguiçoso.
Quase certeza de que ele dormia com uma Coca-Cola Diet na mão.
— Hum... – limpei a garganta, tentando chamar sua atenção. — Meu nome é Hydra, Hydra Emory, eu sou nova no acampamento e gostaria de saber como faço pra sair daqui. – fui bem direta, mesmo ainda achando que o homem com quem falava estava dormindo. — Me escutou?
Consegui enxergar ele revirando os olhos através das lentes dos óculos escuros.
— Vai ficar me ignorando, seu... – um grito me interrompeu bruscamente
— Esse é o Sr.D, Hydra! Ele... – Grover parecia sem fôlego. — O D é de... Dionísio. – ele sussurrou, olhei para o homem mais uma vez
— Esse folgado é o deus Dio... – ele tapou minha boca. — Não consigo acreditar nisso... – murmurei e me virei na sua direção novamente
Antes que o sátiro dissesse algo, o homem o interrompeu.
— Já entendi Grover, agora me deixem tirar um cochilo logo. – tive vontade de soca-lo
Você não tinha medo de um Deus?
Desse folgado? Não conseguia nem acreditar que ele fosse um Deus.
Tinha medo do que encontraria ao ver meu pai.
— Srta.Emory. – a voz do Sr.Brunner me fez virar de costas
— Sr.... – Cavalo?
— Quíron. – Grover assoprou a resposta na minha orelha
— Junte-se a nós. – estava concentrada demais com o fato dele ser um meio cavalo para notar Percy ao seu lado, tão impressionado quanto eu
༒
Estava possessa.
O idiota do meu pai não iria me assumir?
Preferia quando ele tinha morrido.
Agora ia ter que ficar no chalé de outro cara, pelo visto, muito mais simpático para ter um espaço pra mim.
— Ei. – arrumava minhas tralhas num colchão quando escutei Jackson
— O que você quer? – o questionei, ainda não acostumada com a camiseta laranja que ficava claramente ridícula com mim, odiava laranja
— Eu sei que você não gosta de mim... – ele iniciou
— Correto. – confirmei
— mas é melhor nos aproximarmos se quisermos sobreviver aqui, ninguém me pareceu muito simpático.
Era claro que ele estava certo, todos realmente tinham cara de que iam roubar nossas roupas e nos fazer andar pelados por aí.
— Tá com medo de te baterem, não é? – não deixei de lado a chance provoca-lo
— Você é muito chata. – ele bufou, revirando os olhos
— Se eu ficar com pena depois de ver alguém te socar eu penso sobre. – aceitei a proposta com meus próprios termos
— Você é bem marrenta, não é? Espero que te batam primeiro. – ele provocou
Um erro.
Soquei seu braço antes que conseguisse notar.
— Ei! – o garoto pôs a mão sobre o hematoma
— Bem, acho que te socaram primeiro. – respondi de forma atrevida
— Não era uma competição! – ele advertiu, tarde demais
Não gostava de perder.
— Melhor avisar da próxima. – o notifiquei, voltando minha atenção a arrumação das minhas coisas
O som de alguém limpando a garganta me fez virar, dando de cara com um garoto.
Ele era alto, moreno do cabelo cacheado, tinha uma cicatriz na bochecha, parecia simpático, não sabia sua idade porém era mais velho do que eu, com certeza.
— Prazer, eu sou Luke, sejam bem-vindos ao Chalé de Hermes. – ele estendeu sua mão, sorrindo levemente
— Hydra. – sorri de volta, aceitando o cumprimento
Várias pessoas estavam atrás dele, como se ele fosse o líder do lugar.
Sorri pensando em como tomaria seu lugar, ou talvez assumiria esse lugar ao seu lado.
— Prazer, – Jackson tossiu, interrompendo meus pensamentos. — Sou o Percy. – Luke o cumprimentou
— Eu ouvi sobre o que houve noite passada, sinto muito. – ele se referiu a elas. — Sei o que vocês estão passando, acreditem.
— Obrigada. – o loiro me olhou novamente, estava prestes a dar outro soco nele, dessa vez em seu rosto
— Espero que se acomodem bem aqui, se precisarem de alguma coisa, podem me procurar. – agradeci a ajuda e ele se afastou
— “ Obrigada ” ? – a voz fina ridícula de Percy quase me fez dar um chute entre suas pernas. — Você me fez repensar a minha existência e pra ele você falou: “ Obrigada ” ?
Não aguentei a vontade, chutei ele.
Calando sua boca rapidamente.
— Obrigada, Percy, me sinto muito melhor agora. – provoquei
Idiota.
— Ei! – a voz feminina que me chamou me fez levantar. — Vem, quero conversar com você. – segui Annabeth até fora do Chalé
Percy pareceu ainda mais chocado.
Não sei qual o problema desse garoto.